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Da Impugnação das Decisões Judiciais e do seu Recurso

2. Do Regime Jurídico da Arbitragem em matéria Tributária em Portugal

2.4. Do Procedimento arbitral

2.4.9. Da Impugnação das Decisões Judiciais e do seu Recurso

A Lei de autorização legislativa n.º 3-B/2010, de 28 de abril, prevê no seu artigo 124.º, n.º 4, alínea h), a irrecorribilidade da sentença proferida pelo tribunal arbitral, prevendo a possibilidade de recurso para o Tribunal Constitucional (TC), apenas nos casos e na parte em que a sentença arbitral recusasse a aplicação de qualquer norma

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com fundamento na sua inconstitucionalidade ou aplicasse norma cuja inconstitucionalidade tivesse sido suscitada84.

O artigo 24.º do RJAT dispõe no seu n.º 1 que a decisão arbitral sobre o mérito da questão da qual não caiba recurso 85ou impugnação vincula a administração tributária após o termo do prazo previsto para o recurso ou impugnação, praticar o ato tributário legalmente devido; restabelecer a situação que existiria caso não tivesse sido praticado o ato objeto da decisão arbitral; rever os atos tributários que se encontrem em relação de prejudicialidade ou dependência com o ato objeto de decisão; e/ou, por fim, a liquidar as prestações tributárias, ou a abster-se de fazê-lo, de acordo com o estabelecido na decisão arbitral. Prevê o n.º 2 do artigo supra citado que, sem prejuízo dos efeitos previstos no CPPT, a decisão arbitral sobre o mérito da pretensão da qual não caiba recurso ou impugnação preclude o direito de, com os mesmos fundamentos, reclamar, impugnar, requerer a revisão ou promover a revisão oficiosa, ou suscitar pronúncia arbitral sobre os atos objeto desses pedidos ou sobre os consequentes atos de liquidação. De notar ainda que, a decisão arbitral faz cessar o direito da AT praticar novo ato tributário relativamente ao mesmo sujeito passivo ou obrigado tributário e período de tributação, exceto caso se funde em factos novos.

No artigo 25.º do RJAT apenas se prevê a possibilidade de recurso de decisões finais sobre o mérito: para o TC na parte em que recuse a aplicação de qualquer norma com fundamento na sua inconstitucionalidade ou que aplique norma cuja inconstitucionalidade tenha sido suscitada; e para o Supremo Tribunal Administrativo (STA) quando esteja em oposição, quanto à mesma questão fundamental de Direito, com acórdão proferido pelo Tribunal Central Administrativo.

O artigo 25.º n.º 1 do RJAT apenas prevê a possibilidade de interposição de recurso para o Tribunal Constitucional de decisões de mérito. No entanto, o artigo 280.º, n.º 1, alínea a) da CRP, confere um âmbito mais alargado à possibilidade de interposição de recurso, permitindo-se a interposição de recurso relativamente a decisões que recusem a

84Idem, pág. 227 ss.

85 O RJAT admite o mecanismo do Reenvio Prejudicial para o Tribunal Judicial União Europeia

(TJUE), nos casos em que o Tribunal arbitral seja a última instância de decisão dos litígios Tributários, a decisão é susceptível de reenvio prejudicial. Vide, Trindade, Carla Castelo, Regime Jurídico… op cit.,

494 ss.

Veja, o acórdão proferido em 12 de junho de 2014, a 2ª secção do Tribunal de Justiça, no âmbito do processo C-377/13, que teve por objeto um pedido de decisão prejudicial apresentado, nos termos do artigo 267.° TFUE, pelo Tribunal Arbitral Tributário (CAAD), conhecido pelo acórdão Ascendi. (negrito nosso).

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aplicação de qualquer norma com fundamento na sua inconstitucionalidade ou ilegalidade por violação de Lei com valor reforçado.

Quanto ao recurso para o STA, apenas é admissível quando esteja em oposição, quanto à mesma questão fundamental de Direito, com acórdão proferido por um Tribunal Central Administrativo ou pelo Supremo Tribunal Administrativo. O recurso tem efeito suspensivo, no todo ou em parte, da decisão recorrida, nos termos do previsto no artigo 26.º, n.º 1, do RJAT, mas, se for interposto pela AT caduca a garantia que tenha sido prestada para suspender a execução fiscal, mantendo-se a sua suspensão. A decisão que julgue a existência da contradição invocada anula a sentença impugnada e substitui-a, decidindo a questão controvertida, nos termos do artigo 152.º, n.º 6, do RJAT. Caso o STA não tenha os elementos suficientes para proceder à substituição da sentença, decide a questão sobre a qual há oposição de julgados e manda decidir novamente o processo pelo tribunal recorrido. O recurso é interposto no prazo de 30 dias, a contar da notificação da decisão arbitral, nos termos do n.º 3 do artigo 25.º do RJAT86.

No artigo 27.º do RJAT estabelece-se a possibilidade de impugnação de todas as decisões, mesmo as que não sejam de mérito, com fundamento limitados. A decisão arbitral pode ser anulada pelo Tribunal Central Administrativo, nos termos do artigo supra citado. O prazo para apresentação do pedido de impugnação é de 15 (quinze) dias, contados da notificação da decisão arbitral ou da notificação de arquivamento, prevista no artigo 23.º do RJAT, no caso da decisão arbitral emitida por tribunal coletivo cuja intervenção tenha sido requerida com designação de árbitros pelo sujeito passivo, de acordo com o disposto no n.º 2 do artigo 27.º do RJAT. A impugnação da decisão arbitral tem efeitos suspensivo, de acordo com o disposto no artigo 28.º n.º 2 e no artigo 26.º nº 1 e 2 do RJAT. A procedência da impugnação implica a anulação da decisão arbitral e atos que dela dependam, nos termos do previsto no artigo 98.º, n.º 3, do CPPT. No artigo 28.º, n.º 1, do RJAT prevê-se os fundamentos de impugnação da decisão arbitral, designadamente a não especificação dos fundamentos de facto e de Direito que justificam a decisão; a oposição dos fundamentos com a decisão; a pronúncia indevida ou a omissão de pronúncia; e a violação dos princípios do contraditório e da igualdade das partes. No n.º 2 do artigo 27.º do RJAT estabelece-se que ao pedido de impugnação

86Idem ibidem

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da decisão arbitral é aplicável, com as necessárias adaptações, o regime do recurso de apelação definido no Código do Processo dos Tribunais Administrativos.

A restrição dos recursos justifica-se por razões de celeridade, dado que existe sempre possibilidade de impugnação da decisão arbitral.

A legitimidade para a interposição de recurso e impugnação é apurada à luz do disposto no artigo 280.º n.º 1 e 3 do CPPT, cabendo ao vencido, entendendo-se como tal, a parte processual que não obteve a plena satisfação dos seus interesses na causa.