• Nenhum resultado encontrado

Dos efeitos da Constituição do Tribunal Arbitral

2. Do Regime Jurídico da Arbitragem em matéria Tributária em Portugal

2.4. Do Procedimento arbitral

2.4.4. Dos efeitos da Constituição do Tribunal Arbitral

Após a entrega do requerimento inicial no sítio da internet do CAAD, deve o presidente do Centro de Arbitragem dar conhecimento deste facto, no prazo de 2 (dois) dias a contar da receção do pedido de constituição do tribunal arbitral, também por via eletrónica, à Administração Tributária, de acordo com o disposto no n.º 3 do artigo 10.º do RJAT.

Após tal tomada de conhecimento pela AT, terá a mesma 30 (trinta) dias para analisar e proceder à revogação, ratificação, reforma ou conversão do ato tributário cuja legalidade está a ser suscitada, praticando, quando necessário, o ato substitutivo, de acordo com o disposto no artigo 13.º do RJAT; ou para apresentar resposta e, caso queira, prova adicional, à luz do previsto no artigo 17.º do RJAT. Decorre ainda do artigo 13.º, que caso a Administração Tributária opte por apresentar resposta, não utilizando a faculdade prevista no artigo 13.º n.º 1, ficará impossibilitada de praticar novo ato tributário relativamente ao mesmo sujeito passivo ou obrigado tributário, sobre idêntico imposto e período de tributação, exceto com fundamento em factos novos.

Também, nesta sede, é necessário distinguir entre tribunais arbitrais comuns e tribunais arbitrais especiais.

O artigo 13.º, n.º 1, do RJAT refere que os pedidos de constituição dos tribunais arbitrais que tenham por objeto a apreciação da legalidade dos atos tributários previstos no artigo 2.º do mesmo diploma, o dirigente máximo do serviço da Administração Tributária pode, no prazo de 30 (trinta) dias a contar da data do conhecimento do pedido de constituição do tribunal arbitral, proceder à revogação, ratificação, reforma ou conversão do ato tributário cuja ilegalidade foi suscitada, praticando, se assim o entender, o ato tributário necessário. Esta faculdade traduz-se num "poder de correção" do ato tributário em questão. Neste caso, independentemente de se estar perante um tribunal arbitral especial ou comum, o "Direito ao arrependimento" da AT terá que ocorrer antes da constituição do tribunal arbitral.

Como já referimos acima, nos pedidos de constituição de tribunais arbitrais que tenham por objeto a apreciação da legalidade dos atos tributários previstos no artigo 2.º, o dirigente máximo da AT pode proceder, no prazo de 30 (trinta) dias, à revogação, ratificação, reforma ou conversão do ato tributário, praticando, caso necessário, um ato tributário substitutivo. Pode assim a AT, ao abrigo do disposto no artigo 13.º n.º 1, revogar, ratificar, reformar ou converter o ato tributário objeto de pronúncia arbitral,

46

devendo notificar o presidente do CAAD da sua decisão. Caso não o faça, omitindo o seu dever de pronúncia, entende-se que a AT optou por não revogar, ratificar, reformar ou converter o ato.

Daqui decorrem efeitos quer ao nível do procedimento e do processo arbitral em si mesmos, bem como ocorrem efeitos para o futuro quer para a Administração Tributária, quer para o requerente e ainda efeitos de carater externo.

No âmbito do n.º 2 do artigo 13.º do RJAT estatui-se que quando o ato tributário objeto de pronúncia arbitral seja, total ou parcialmente, alterado ou substituído por outro, a AT deve proceder à notificação do sujeito passivo para, no prazo de 10 (dez) dias, se pronunciar sobre a pretensão de prosseguir ou não com o procedimento arbitral. Em caso de omissão de pronúncia do sujeito passivo, entende-se que é sua vontade prosseguir com o procedimento seguindo-se a tramitação normal do mesmo, nos termos do artigo 11.º do RJAT. O procedimento considerar-se-á extinto, no caso do sujeito passivo declarar expressamente que não pretende prosseguir com o mesmo, sendo, no entanto, devidas custas nos termos do previsto do artigo 3.º-A do Regulamento de Custas do CAAD. Quando declare expressamente que pretende prosseguir com o procedimento arbitral, esta declaração deverá conter os elementos de facto e de Direito que julgue convenientes à adaptação do requerimento inicial de pedido de constituição do tribunal arbitral, quanto ao novo ato tributário em discussão. A existirem vícios ou irregularidades, estes devem ser sanados no decurso da reunião, prevista no artigo 18.º do RJAT, quando esta tenha lugar, ou até à prolação da decisão arbitral, por despacho, ao abrigo do previsto no artigo 19.º do RJAT, onde se acolhe o princípio da livre condução do processo. É ainda com vista ao princípio da economia processual, evitando a repetição dos atos procedimentais que são aproveitáveis, que se acolhe esta solução.

Como referimos supra, a apresentação do pedido de constituição do tribunal arbitral origina três tipos de efeitos.

Em primeiro lugar, efeitos na esfera da AT quando esta não disponha do seu "direito ao arrependimento", os quais estão previstos no n.º 3 do artigo 13.º. Nos termos do artigo atrás referido, findo o prazo de 30 (trinta) dias previsto no n.º 1, a AT fica impossibilitada de praticar novo ato tributário relativamente ao mesmo sujeito passivo ou obrigado tributário, imposto e período de tributação, exceto com fundamento em factos novos. Este direito encontra-se igualmente consagrado no artigo 24.º do RJAT.

Em segundo lugar, efeitos na esfera do sujeito passivo, previstos no n.º 4 do artigo 13.º do RJAT. A apresentação do pedido de constituição do tribunal arbitral preclude o

47

direito de, com os mesmos fundamentos, reclamar, impugnar, requerer a revisão, incluindo a da matéria coletável, ou a promoção de revisão oficiosa, ou suscitar pronúncia arbitral sobre os atos objeto desses pedidos, ou sobre os consequentes atos de liquidação, exceto quando o procedimentos arbitral terminar antes da data de constituição do tribunal arbitral, ou o processo termine sem uma pronúncia sobre o mérito da causa.

E por fim, efeitos para um eventual processo de execução fiscal que tenha sido instaurado, designadamente quanto aos prazos de caducidade e prescrição, referidos no âmbito do n.º 5 do artigo 13.º, e aos quais se atribui a designação de efeitos externos. A apresentação do pedido de constituição do tribunal arbitral tem os mesmos efeitos da apresentação de impugnação judicial quanto à suspensão e interrupção dos prazos de caducidade e de prescrição da prestação tributária, aplicando-se os regimes previstos designadamente nos artigos 46.º e 49.º da LGT.