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O balanço da experiência da Arbitragem Tributária

"As vantagens são inequívocas, o sucesso é inegável"90. As palavras do Prof. SÉRGIO VASQUES são mais contidas, todavia, na qualidade de impulsionador da aprovação do RJAT na Assembleia da República, investido à altura no cargo de Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, afirmando que ainda não são conhecidos todos os resultados, dado ainda nos encontramos numa fase latente sob a vigência da Lei, tendo decorrido aproximadamente 5 anos sob a mesma, ainda assim o Professor mostra-se otimista, afirmando que o propósito que esteve na sua origem encontra-se realizado. Vigora agora um sistema alternativo de resolução de litígios que permitiu desafogar os tribunais judiciais em questões relacionadas com matéria tributária, existiu um reforço na qualidade das decisões em matéria tributária, verificou-se uma maior

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celeridade na resposta às pretensões e solicitações dos contribuintes, prevenindo-se, desta forma, o acréscimo do número de litígios91.

Estas serão, certamente, razões mais que razoáveis e suficientes para adotar o Regime Jurídico da Arbitragem Tributária. Portugal deu um "passo de gigante nesta matéria, um passo ousado - mas não em falso, pode dizer-se agora"92. Portugal foi o país europeu pioneiro na introdução da Arbitragem tributária, e a nível mundial contam-se com escassos casos de adoção da mesma, contabilizando-se, entre eles, casos de fracasso, de sistemas aproximados mas que não se reportam a uma Arbitragem tributária

strictu sensu, tal como vigora em Portugal, com grau de jurisdição quanto a questões de

facto e a questões de Direito93.

As estatísticas demonstram uma transferência substancial da litigância dos tribunais judiciais para os tribunais arbitrais. O número de processos que dão entrada no CAAD tem crescido consideravelmente de ano para ano. No ano de 2012 deram entrada 150 processos no centro de Arbitragem, tendo sido concluídos no mesmo ano 111 processos; em 2013, deram entrada 311 processos de natureza tributária, tendo desses sido concluídos 204; em 2014, foram instaurados 850 processos no CAAD e concluídos 566 dos processos que deram entrada. No final do mês de Abril de 2015 contava-se já com 270 processos que deram entrada, e uma previsão de se aproximar no final do ano dos 1000 processos. Cumpre-se assim o papel da Arbitragem tributária enquanto mecanismo alternativo na resolução de litígios dando um contributo sério e considerável na redução das pendências nos tribunais estaduais.94 A duração média ou o prazo médio de decisão

91 Reforça-se esta ideia com a seguinte opinião do advogado Francisco de Sousa Câmara, " For some

taxpayers the fatigue of earlier encounters with the overloaded judicial system may simply create an appetite for a fresh approach and more informal proceedings which still offer independence, impartiality and may grant more detailed and specific expertise in substantive matters.", in Câmara, Francisco de Sousa da, «Tax arbitration courts or tax judicial courts, in The Portuguese Tax Arbitration…op cit.,

pág.181.

92 Trindade, Carla Castelo, Regime Jurídico da Arbitragem… op cit., pág.53.

93 Entre eles, conta-se o caso dos EUA, que tem um mecanismo de Arbitragem tributária

exclusivamente aplicável a questões de facto. Em Espanha e no Brasil as tentativas de introdução de um sistema de Arbitragem tributária foram infrutíferas e mal sucedidas. Em França e Itália, existem alguns mecanismos de conciliação, com semelhanças a uma Arbitragem para questões de facto, embora a Prof.a Carla Castelo Trindade considere assemelharem-se mais ao pedido de revisão em matéria colectável português. Por sua vez, nos países africanos de língua portuguesa, designadamente em Cabo-Verde e em Moçambique, e mais recentemente Angola, a Arbitragem em matéria tributária faz parte dos pacotes de reforma fiscal destes países. Só na Venezuela se aponta um caso de sucesso na introdução do sistema de Arbitragem em matéria tributária, em vigor desde 2001, mas em moldes bastante diferentes do sistema português.

94 No âmbito da análise dos dados estatísticos, remete-se para a consulta dos dados disponibilizados

no sítio da internet do CAAD e, ainda, para o artigo da autoria de Nuno Villa-Lobos "Avaliação sucessiva perfunctória da implementação da Arbitragem tributária em Portugal", in Desafios Tributários…op. cit.,191 e ss.

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dos processos no CAAD tem sofrido uma evolução considerável em sentido descendente, o que é de congratular, cumprindo, desta forma, com o objetivo de maior celeridade na obtenção de uma decisão garantido o reforço dos interesses legalmente protegidos dos cidadãos. No ano de 2011, 2012 e 2013 o tempo médio de decisão das questões entregues aos tribunais arbitrais foi de quatro meses e meio, tendo esta média caído para quatro meses e dois dias no ano de 2014, e o baixa mais abrupta verifica-se no ano de 2015 com um tempo médio de decisão de dois meses e nove dias a contar desde a constituição do tribunal arbitral até à decisão final. Desta forma, observa-se felizmente uma relação inversa entre o número dos processos entrados no CAAD e a duração média anual de resolução dos processos, pois, não obstante o aumento bastante significativo do número de processos que deu entrada no CAAD, verificou-se ao invés uma queda muito considerável do tempo médio de decisão das causas. Quanto à distribuição dos pedidos por imposto, verificou-se nos dois primeiros anos uma maior concentração dos pedidos nas causas relativas a IRC, com menor percentagem de casos em sede de IRS, tendo o ano de 2015 concentrado aproximadamente 40% das suas decisões em sede de Imposto de Selo, cerca de 14% relativas a IRC e 11,5% em sede de IRS e, por fim, 12,8% das decisões tomadas estão relacionadas com litígios em sede de IVA. Quanto à distribuição dos pedidos por contribuinte singular/coletivo, tem-se verificado uma maioria relativamente estável na média dos 70% para os processos interpostos por pessoas coletivas, contra 30% de pedidos interpostos por pessoas singulares. Relativamente à distribuição em função do valor do pedido, a maioria das causas e de forma crescente apresenta um valor inferior a € 60.000,00 (sessenta mil euros), representando, em 2015, 70% das causas em sede de Arbitragem tributária no CAAD, sendo o seguinte intervalo entre os € 60.000,00 e os € 275.000,00 (duzentos e setenta e cinco mil euros), o que abrange 16,2% dos litígios. Por fim, e ainda, quanto à distribuição dos pedidos por modo de designação do árbitro verifica-se que em 97,5% dos casos, o árbitro é designado pelo Presidente do Conselho Deontológico, sendo raros os casos em que é o próprio contribuinte ou a administração tributária a proceder à respetiva designação.

Fazendo um balanço final da experiência de implementação da Arbitragem tributária em Portugal, procedemos à indicação sumária e conclusiva dos aspetos positivos e negativos da mesma.

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Quanto aos efeitos ou aspetos negativos da Arbitragem tributária, podemos apontar como pontos principais os custos específicos da implementação da Arbitragem tributária e os respetivos custos de financiamento anual.

Relativamente aos efeitos positivos de implementação da Arbitragem tributária, que em muito superam os pontos negativos da mesma, e, que, dessa forma, nos permite concluir que terá sido uma experiência bem-sucedida e até este momento, ainda que nos encontremos numa fase latente, permite-nos fazer um balanço positivo, podemos indicar designadamente: a diminuição dos custos de litigância para o Estado e para os contribuintes por via da celeridade na resolução dos litígios fiscais; democratização do acesso à justiça arbitral tributária, acessível a todos os contribuintes; devolução aos contribuintes do valor integral da taxa de Arbitragem em caso de procedência total do pedido; redução do volume de processos nos tribunais tributários e, consequente, diminuição do tempo de resolução das causas entregues aos mesmos; antecipação da arrecadação definitiva da receita fiscal pelo Estado; ou no caso de procedência do pedido, redução dos custos no valor da indemnização a pagar em juros, mais encargos com a prestação de garantia e o patrocínio; redução dos custos financeiros dos contribuintes relacionados com a prestação de garantias bancárias para suspensão de execução fiscal; previsibilidade do tempo para a prolação da decisão final; prevenção da eclosão de litígios no sentido em que a celeridade assegura a tendencial contemporaneidade entre a Lei fiscal e a jurisprudência arbitral tributária; atração do investimento económico pela previsibilidade de custos e do tempo de decisão; garantia de uma qualidade bastante significativa nas decisões tomadas, devido ao nível de especialização dos árbitros.95

95 Idem,pág.212 e ss.

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CAPÍTULO III

DA ARBITRAGEM TRIBUTÁRIA EM CABO VERDE:

NOVOS DESAFIOS

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1. Arbitragem Tributária em Cabo Verde