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QUATRO HISTÓRIAS

1. Da Indonésia a Duque de Caxias A história de Mar

Mari fala pouco, baixo e pausadamente. Tem vinte e sete anos, mas seu corpo um pouco acima do peso e sua postura curvada fazem com que aparente ser mais velha. Mari tem duas filhas, Jacqueline de dez anos e Daniele de oito. É casada há dez, desde o nascimento de

Jacqueline. Mari é evangélica e mora em Caxias “perto de Gramacho, sabe?” com o marido e as filhas. Antes de casar Mari trabalhou em uma padaria e em uma sorveteria, mas depois do nascimento das filhas virou dona de casa. Ajudava nas despesas da casa vendendo produtos de catálogo para amigas e vizinhas. O marido de Mari é caldeireiro e encanador industrial, e trabalha em turnos alternados a cada semana. Seu marido a ajuda muito em casa. Sempre que pode leva as filhas à escola, mas não consegue buscá-las. Mari também não consegue, já que demora cerca de duas horas no trajeto entre seu trabalho e sua casa. Sendo assim, conta com a ajuda de uma vizinha que pega as meninas na escola todos os dias.

No tempo livre, quando o turno de seu marido permite, Mari gosta de ir ao shopping passear com a família. O Caxias Shopping oferece uma grande variedade de lojas de vestuário, calçados, artigos do lar, além de seis salas de cinema e praça de alimentação com diversas opções de restaurantes e redes de fast food. No shopping Mari gosta de ir ao cinema e ao Mc Donald’s. Mari também gosta muito de ir à praia, mas o esquema de turnos do trabalho atual de seu marido não tem permitido que eles conciliem trabalho com a ida à praia nos finais de semana.

Há dois anos Mari percorre diariamente cerca de trinta quilômetros para chegar a Botafogo, seu local de trabalho. Ela acorda pouco antes de seis horas da manhã. Enfrenta um ônibus lotado com dezenas de trabalhadores que diariamente, como ela, deixam seus locais de moradia na periferia do Rio de Janeiro e se dirigem à Zona Sul, onde trabalham. Na Zona Sul encontram-se as principais praias, atrações turísticas, hotéis e restaurantes do Rio de Janeiro, e é a região que tem o metro quadrado mais caro do Brasil. Diz-se, inclusive, que a cantora

Madonna e o estilista Valentino estariam em lista de espera para adquirir suas propriedades no Leblon, definitivamente o bairro mais exclusivo da cidade.

Uma vez em Botafogo, pouco antes de oito horas da manhã, Mari entra em um típico sobrado do final do século XIX ou início do século XX, onde fica seu trabalho. É uma

construção antiga, já um tanto descaracterizada devido às freqüentes e nem sempre cuidadosas reformas que sofreu, mas que ainda mantém seu imponente estilo clássico e ar nostálgico. Mari dá bom dia à recepcionista e se dirige aos fundos do sobrado, onde originalmente ficava a cozinha, a área de serviço e uma área descoberta. Hoje, depois de inúmeras reformas, está tudo coberto por telha de material transparente que deixa a luz do sol entrar. Lá Mari encontra Patrícia, sua colega de trabalho. Patrícia também trabalha no turno da manhã. Denise, Rosi e Andressa, as outras colegas de trabalho, só chegarão por volta do meio dia, quando começa o turno da tarde. Elas ficarão no trabalho até as dezenove horas, fim do expediente. Mari e Patrícia sairão às dezesseis horas.

Nos fundos do sobrado existe uma área comum, dois banheiros, uma mini cozinha e uma despensa que também serve como vestiário. Mari troca sua roupa e veste seu uniforme de trabalho. Enquanto isso, Patrícia está preparando café em uma pequena máquina na cozinha. O café é consumido junto com o pão que compraram na padaria próxima ao trabalho. O café da

manhã, assim como todas as refeições, é tomado na pequena mesa redonda que fica no centro desta área comum. Em um canto da sala há uma televisão pregada no alto da parede. A esta hora a televisão está ligada no programa Mais Você da apresentadora Ana Maria Braga, que começa às 8:15 da manhã. Mari e Patrícia assistem à televisão, tomam café e conversam enquanto esperam a campainha que irá tocar anunciando a chegada de uma cliente. A primeira a atender será Patrícia, pois chegou antes de Mari.

Após alguns minutos, novamente a campainha toca e é a vez de Mari. Mari se levanta, lava as mãos, escova os dentes, se olha no espelho, ajeita seu uniforme retirando eventuais migalhas de pão que possam ter caído em sua blusa e se dirige à recepção. Ao invés de entregar apenas uma ficha, a recepcionista lhe entrega duas fichas. Mari reconhece os nomes, se trata de mãe e filha que fazem questão de serem atendidas juntas. E dão preferência por serem atendidas por Mari. Já conhecem e confiam em seu trabalho. Mari gosta quando isso acontece, quando as clientes dão preferência ao seu serviço. Sente-se recompensada pelo bom serviço prestado. Se não tivessem gostado do seu trabalho, não voltariam ou escolheriam ser atendidas por uma de suas colegas de profissão. Além da gratificação de saber que realizou um bom trabalho, como seu salário é composto basicamente de comissão, quanto mais clientes derem preferência a ela, maior será seu salário.

Mari abre a porta da sala de espera, abre um sorriso no rosto e chama as clientes pelo nome. Elas prontamente se levantam e cumprimentam alegremente Mari. Mari as dirige à cabine, onde as três têm que se apertar. A cabine foi desenhada para acomodar confortavelmente uma pessoa deitada na maca e uma pessoa em pé. Mas estas clientes fazem questão de serem atendidas juntas. Mari sabe disso e não pode se opor. Com o tempo, ela passou até mesmo a gostar desta situação, já que as clientes são “divertidas”.

Dentro da cabine Mari confirma o serviço solicitado, e orienta que a primeira a receber o serviço deva se despir, deitar na maca e ficar “à vontade”, pois ela volta já. Ela sai da cabine para pegar seu material de trabalho nos fundos do sobrado, no mesmo local onde toma café e assiste à televisão enquanto espera suas clientes.

Quando Mari volta à cabine, a mãe já está deitada sobre a maca e a filha está espremida em um cantinho, procurando não atrapalhar. A mãe está com a parte de baixo do corpo nu. Mari orienta que ela abra as pernas e a mulher já sabe exatamente a posição em que tem que ficar. Já está acostumada, uma vez que repete este serviço todos os meses. A posição se assemelha a de um sapo, deitada de barriga para cima, com os joelhos abertos caídos para fora, e os pés unidos pelas solas. Mari começa espalhando a cera quente pelas partes íntimas da mulher. Espalha em mais de uma área, assim pode retirar a cera de uma área, enquanto espera que a outra esfrie. A fim de se certificar de que a cera está no ponto de arrancar, Mari bate nela com os dedos. Se grudar no dedo, deve esperar um pouco mais. Se não grudar, pode puxar. A cera é puxada

sempre no sentido contrário ao crescimento dos pelos, o que facilita sua saída. O puxão não deve ser violento, mas também não pode ser muito suave, ou a cera fica grudada na pele. Cada

arrancar de cera é acompanhado pela cara de dor e por um gemido da cliente. Em geral o gemido é baixo, mas às vezes ela grita. Mesmo assim, sofrendo de dor, a cliente não deixa de falar. Especialmente com essas duas clientes o papo na cabine é animado. Mari, que não é muito de falar, gosta especialmente de atender essas clientes. Elas falam bastante, contam muitas coisas, e Mari ouve muito mais do que fala.

Mari gosta muito delas, as acha “meio doidinhas”. Elas falam de assuntos muito distantes do dia a dia de Mari. Alguns assuntos que Mari gosta de ouvir são sobre “baladas”, bares e festas aonde foram. Também sobre namorados, quem está saindo com quem, quem deu beijo na boca

em quem. Mari também gosta muito quando falam sobre viagens. Aliás, este é um dos principais motivos pelo qual Mari gosta de seu trabalho. Ela gosta de conversar com suas clientes. Gosta de ouvir o que elas têm a dizer. E quando não conhece alguma coisa ou palavra que elas falam, (afinal, ela ouve muita coisa nova com elas), Mari pergunta sem medo de parecer ridícula ou ignorante. Sabe que elas responderão pacientemente.

Mãe e filha clientes contam sobre a viagem que acabaram de fazer a diversos países, entre eles Indonésia e Índia. Mari, que nunca foi à Indonésia ou à Índia, ouve muito interessada. Elas contam que compraram muitas coisas e que compraram especialmente muitas coisas dentro do avião. Explicam à Mari que quando se compra dentro do avião, não existe “aquele negócio de cota”. Ou seja, não existe limite de compras, e elas podem comprar muito mais do que se

tivessem comprado em outros países.

Terminada a depilação no corpo da mãe, é a vez da filha se deitar na maca. Este

procedimento de depilação do corpo é realizado mensalmente. A mãe tem quarenta e nove anos, e a filha, dezenove. Já explicaram à Mari que gostam de fazer tudo juntas e, como a filha sente muita dor na depilação, pede que a mãe a acompanhe para distraí-la e reconfortá-la. Na vez de depilar a filha, é a vez da mãe esperar em pé no canto da cabine. A conversa continua animada. Quando as duas já estão depiladas, se despedem de Mari lembrando-lhe de que em breve voltarão para depilar a sobrancelha como, de hábito, fazem a cada quinze dias.

Mari arruma a cabine, volta aos fundos do sobrado e, enquanto aguarda outras clientes, assiste à televisão. No horário de almoço, horário de maior movimento nos primeiros dias da semana, chega a cliente preferida de Mari. A recepcionista informa que Mari está em

profissional disponível. A cliente prefere aguardar. Senta-se na sala de espera e pega uma revista para folhear. Olha o relógio tentando estimar quanto tempo terá livre para almoçar, e procura em sua memória quais locais por perto oferecem a opção de um rápido almoço. O laboratório de análises clínicas onde trabalha é bem próximo do instituto de depilação, e certamente encontrará um lugar para comer. Apesar de ter que almoçar mais rápido do que gostaria, acha que vale a pena esperar e ser atendida por Mari. Não que não vá gostar do serviço da outra profissional, mas gosta de conversar com Mari e sabe que o sentimento é recíproco.

De fato, esta é a cliente preferida de Mari. A cliente mora perto de Mari, “três bairros depois de Caxias”. Fico na dúvida se este depois é se aproximando ou se afastando do centro da cidade. Mas não importa. O que importa é que Mari se sente próxima dela. Uma proximidade não só geográfica, mas também de modo de pensar. A cliente, assim como Mari, também é evangélica.

Depois que Mari termina o serviço que estava fazendo, se despede da cliente, arruma a cabine, e chama sua cliente preferida com um sorriso mais do que sincero nos lábios. Uma vez na cabine, o procedimento é como o das demais clientes. Mari confirma o serviço solicitado, pede que a cliente se dispa e fique “à vontade” enquanto pega a cera e o material. Quando volta à cabine, a cliente já está pronta e elas começam a conversar. O assunto, como de costume, é religião. A cliente fala muito e fala sobre Deus, e isso fortalece Mari.

O próximo e o distante

Mari lida com clientes próximas e distantes dela. E se sente, de formas diferentes, atraída por ambas. As clientes distantes as fazem sentir algo novo. Com elas, através delas, aprende coisas novas, entra em contato com um mundo ao qual não pertence. Se imagina numa festa cheia de pessoas jovens e bonitas, sente o frisson que um novo namorado causa, viaja a lugares exóticos, compra como quem não tem limitações financeiras.

Por outro lado, se sente acolhida por clientes que vivem realidades parecidas com a dela. Clientes que moram perto dela, que provavelmente conhecem Duque de Caxias e Gramacho. E não como eu, que conhecem Caxias apenas por ouvir falar. Clientes que falam o que ela quer ouvir, falam sobre coisas que ela vive em seu dia a dia como, por exemplo, o caminho de Deus que ela está trilhando. A não desigualdade fora do instituto entre Mari e suas clientes parece reverberar dentro do instituto de depilação. Lá elas são, acima de tudo, vizinhas que

compartilham da mesma opção religiosa.

O trabalho no instituto de depilação permite que as depiladoras atendam uma quantidade grande de mulheres. São cerca de dez a vinte clientes por dia, dependendo do dia da semana e do clima. São clientes que pertencem a níveis socioeconômicos distintos, e têm as mais variadas profissões, idades, cor de pele, estrutura familiar, jeito de falar etc. Como o serviço pode chegar a durar uma hora, dependendo da área a ser depilada, e como a freqüência é mensal, é comum que as depiladoras passem a conhecer suas clientes. Muitas vezes acabam conversando durante o serviço. É comum que algumas clientes dêem preferência para uma depiladora específica e isso estreita ainda mais os laços, pois acabam se encontrando todos os meses.

Como as clientes são variadas, é comum que as depiladoras sintam maior ou menor afinidade por elas. Como Mari nos conta, existe maior afinidade com a cliente que mora perto dela. Têm a mesma religião, conhecem os mesmos lugares e as duas conhecem mais e melhor uma a vida da outra. Por outro lado, Mari tem menor afinidade com as clientes que vivem na Zona Sul. Estas vão a festas e baladas, namoram, viajam para lugares exóticos e contam de poucas limitações financeiras. Isto não tem nada a ver com a vida de Mari, mas nem por isso impede que ela goste de ouvir sobre o que é diferente. Essas clientes são simpáticas, educadas, deixam Mari à vontade, explicam pacientemente tudo o que ela pergunta.

O trabalho da depiladora envolve estar em contato com realidades próximas e distantes das dela. Assim como quando conhecemos alguém, uma imagem da cliente é formada à primeira vista a partir de preconceitos que se têm sobre coisas. E, à medida que vai conhecendo as

clientes, vai gradativamente lapidando a imagem que criou delas.

Em meu primeiro dia de entrevistas fui à Tijuca vestindo minha tradicional roupa de pesquisa de campo: tênis All Star branco, calça jeans velha e camiseta de malha. Também troquei minha bolsa de couro por uma de lona. Quando comecei a fazer pesquisa de campo ou entrevistas de mercado com pessoas de baixa renda, acreditava que, me vestindo assim, meus entrevistados se sentiriam mais próximos de mim e, portanto, mais dispostos a falar. O mesmo faço quando entrevisto pessoas de nível socioeconômico alto ou empresários, por exemplo. Saio de casa como se fosse a um encontro de negócios ou trabalhasse em empresa. Verifico se minhas unhas estão feitas e meu cabelo arrumado. Ninguém jamais me ensinou nada disso, mas minha intuição me dizia que a entrevista seria mais proveitosa se pudesse me aproximar, mesmo que aparentemente das pessoas. Isto para que elas me identificassem como pertencendo ao seu mundo, ou pelo menos, não muito distante dele.

Minha primeira entrevistada foi Janaína, talvez a depiladora mais experiente e sensível de todas no lidar com as clientes. Ela passou por mim quando eu estava sentada na recepção

folheando uma revista. Fomos apresentadas pela gerente e tomamos um café juntas, em pé na recepção, antes de iniciarmos a entrevista. Terminando a entrevista, perguntei a ela como classificava suas clientes. Ela me disse que sabe que a cliente é da Zona Sul e de nível

socioeconômico mais alto pelo jeito como a mulher segura uma revista e folheia suas páginas, pelo jeito como cruza as pernas quando está sentada, e pela forma delicada como segura a alça da xícara de café com os dedos polegar e indicador. Ao listar símbolos de distinção (BOURDIEU, 2006), não preciso dizer que senti como se ela estivesse me descrevendo. Não foi naquele momento que deixei de acreditar em meu disfarce de pobre, mas este evento certamente contribuiu.

Percebi que as depiladoras, principalmente aquelas com menos experiência, procuram classificar suas clientes. É uma atitude natural e muitas vezes involuntária, e que tem o objetivo de saber com quem estão lidando. Clientes de nível socioeconômico mais alto, com certeza não necessariamente, podem ser mais difíceis de lidar do que clientes mais próximas e parecidas com elas.

O bairro de moradia e a profissão são sem dúvida alguma os maiores indicadores de nível socioeconômico. Muitas depiladoras perguntam sobre isso às clientes para classificá-las. Essas informações muitas vezes são utilizadas como categorias de classificação sócio-econômica. Carla é uma dessas depiladoras: sempre pergunta o bairro onde as clientes moram. E acha que suas clientes pertencem a uma classe social diferente da dela, afinal, muitas moram na Zona Sul.

Aqui a gente atende de faxineira a executiva da empresa x. (Patricia)

São todos os tipos de clientes, desde as que moram no Dona Marta, até as que trabalham na empresa x e têm uma posição maior. Você tem que se adequar, porque as conversas são diferentes. (Denise)

Mas como o conhecimento de profissões e bairros só acontece mediante alguma abertura da cliente para conversar, muitas vezes a classificação é feita a partir de elementos mais

imediatos. Luciana percebe pela roupa (salto alto, terninho) e também pelos hábitos (locais que frequenta): - “Tem umas que a gente percebe que têm um poder aquisitivo. Pela forma de se vestir... Tem umas que vêm muito arrumadas. De terninho ou tailleur, salto, escarpin. Não sei te explicar... Muitas vezes o celular toca e você vê pela conversa: ‘E vou pro restaurante tal, eu tenho um encontro não sei onde...’ Aí você diz: ‘Ahhh...’ Você pesca e fica na sua. Aí você fala, ah essa daí parece que tem um poder aquisitivo legal”.

A roupa muitas vezes é classificante por identificar a profissão da cliente, já que ela vai ao instituto em um dia de semana: - “A maioria das clientes vem chique. A maioria trabalha na empresa x, e quem trabalha em escritório se veste chique, é elegante, usa salto, esses cachecóis... acho legal, acho bonito”. (Rosi). Trabalhar em escritório foi muitas vezes descrito como

sinônimo de sucesso profissional: - “A maioria trabalha na empresa x. Elas falam bem do trabalho, quem vai reclamar de lá, né?” (Mari)

“Tem muitas mulheres que você olha e você fala: ‘Caramba! ’ Elas se cuidam em tudo. Eu tenho várias clientes elegantes. Que chegam e eu digo: ‘Nossa você está linda’. Super bem vestidas, cabelos bem cortados, roupa elegante... Tem muita gente que trabalha na empresa x, em escritório, e elas usam uma roupa social, um sapato mais alto, um cabelo sempre bonito, penteado, escovado, sem aparecer os brancos que nem o meu. A gente, às vezes, fica um dedo, dois dedos de raiz, aí prende pra dar uma disfarçadinha. E elas não, estão sempre bem arrumadas, maquiadas. Mas o trabalho pede isso.” (Denise)

Assim como Janaína captou meu gestual ao folhear a revista e tomar café, a forma de se comportar e falar também são informantes: - “Tem pessoas que tá escrito na cara que aquela pessoa não é pobre. Não sei o que é, é aquilo que bate. Muito bem arrumada, de uma educação impecável”. (Luciana)

Mas nem todas se contentam apenas com as aparências. Patrícia, por exemplo, aprendeu a não confiar apenas na primeira avaliação: “À primeira vista, nada indica. O papo revela. Às vezes a gente pergunta, às vezes pelo papo mesmo ela vai e diz: ‘Ah eu sou pediatra’, por exemplo! Não tem essa de eu olhar e ver. Eu não consigo identificar”. Até porque, às vezes as aparências enganam. Patrícia conta de uma cliente que, erroneamente, classificou como

“madame”: - “Tem uma menina que faz um trabalho pra um juiz, por que o juiz não tem tempo para examinar todas as causas, então tem umas pessoas que são pesquisadoras de juízes. Essa menina chegou aqui e sabe aquele sapato? Eu falei: ‘Caraca! Esse sapato é muito caro!!’ Um

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