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QUATRO HISTÓRIAS

3. Uma simples sobrancelha com carinho e com amor A história de Janaína

Janaína é uma profissional experiente não só na técnica da depilação, mas no lidar com as clientes. Trabalha com depilação há dez anos e já viu muita coisa acontecer dentro da cabine. Ela tem trinta e quatro anos, é casada há dois e não tem filhos. É evangélica e mora em Duque de Caxias. Diz ser uma pessoa simples. Quando não está trabalhando, Janaína está envolvida com projetos de canto da Igreja que freqüenta, ou visitando outras Igrejas nas redondezas do bairro onde mora. Também gosta de sair para comer pizza e de ir à praia em Macaé, onde mora seu irmão. Antes de trabalhar com depilação, Janaína trabalhou com telemarketing. Gostava da atividade, pois lidava com pessoas. Gosta que o trabalho proporcione o contato com outras pessoas, e decidiu trabalhar com depilação por vislumbrar a possibilidade de estreitar ainda mais este contato.

Um dos benefícios de se lidar com diversas pessoas é poder “conhecer outros mundos”. Janaína acredita que cada cabeça é um universo, e que quando conversa com uma pessoa, entra em um universo diferente do dela. Além de conhecer novos mundos, Janaína gosta de “fazer bem” às suas clientes, ou seja, gosta quando a cliente sai da cabine se sentindo melhor do que quando entrou. E isso não é difícil: há muitas clientes querendo ser acolhidas pelas depiladoras.

Por diversas vezes ela já atendeu clientes que a seu ver, aparentemente tinham poder aquisitivo alto, mas que internamente estavam “totalmente pobres”. E depois de fazer, por exemplo, uma “simples sobrancelha com carinho e com amor”, a cliente sair da cabine feliz, contente e realizada. Ela sabe que muitas vezes não é necessário muito esforço para dar à cliente um dia mais alegre.

Janaína já não se espanta mais com a mudança de humor das clientes após a depilação. Sabe que um serviço bem realizado, como uma perna lisinha ou uma sobrancelha bem

desenhada, faz com que a cliente se perceba mais bonita, mais segura e com a autoestima elevada. Mas além do resultado estético do serviço em si, ela também acredita que a atitude da depiladora é fundamental no bem estar da cliente. Ela procura não só ser sempre educada, mas também carinhosa no lidar. Até porque muitas vezes as clientes a pegam de surpresa, expondo intimidades durante a depilação. E nessas horas é muito importante que a cliente se sinta acolhida. Entre as diversas formas de lidar com clientes, a depilação é especial porque “o toque no corpo passa energia”. Se a energia da depiladora estiver ruim, pesada, se seu falar for

grosseiro, automaticamente a cliente irá recusá-la. “Clientes querem o amor, querem a positividade”.

Janaína sabe que existe um limite na sua relação com as clientes. E este limite não deve ser ultrapassado. As clientes não são suas amigas. Na maioria das vezes, a relação tem a duração do serviço, ou seja, acaba assim que a cliente sai da cabine. Janaína e suas clientes não se

telefonam para conversar, não saem à noite juntas ou se visitam para tomar um café. A partir do momento em que ela deixa de ser a depiladora, a relação está fadada a acabar. Alguns

esporádicos telefonemas em dias especiais podem ser feitos, em geral partindo da cliente, mas é só. Pelo fato de que inúmeras clientes já passaram por suas mãos, ela está cansada de saber como a relação funciona, e procura não se aprofundar nos problemas delas. Para ela, a relação também acaba no momento em que a cliente sai da cabine. Por outro lado, sabe que não pode ser

indiferente em relação ao seu sofrimento. E muito sofrimento é levado para dentro de sua cabine! A depilação parece instigar um desnudamento não só de corpo, mas também de alma. Janaína

encara o acolhimento do sofrimento da cliente, como parte do seu trabalho. Afinal, a cliente tem que sair se sentindo bem atendida, confortável e querendo voltar.

Muitas vezes a necessidade de um ouvido é a própria motivação para a visita ao instituto de depilação. Nesses casos, a cliente quer apenas ser ouvida. Há clientes que não têm sequer pelos para serem depilados, mas insistem no serviço apenas para poder conversar. E isso acontece porque o momento de cuidar da aparência envolve o bem estar emocional. Inúmeras são as histórias de problemas familiares, doenças incuráveis, filhos drogados e maridos infiéis. Algumas clientes chegam a pedir a opinião de Janaína: “O que você acha? O que você faria no meu lugar?” Já outras precisam apenas desabafar. Não pedem opinião, não estão interessadas em saber o que Janaína pensa. Nessas horas Janaína pensa que qualquer profissional poderia estar ali em seu lugar. Ela ou outra depiladora, não faria a menor diferença. A cliente quer e precisa desabafar, não importa quem está ouvindo. “Ela vai falar tudo o que quer falar, depois vai dizer muito obrigada, e ponto”.

Janaína já trabalhou em mais de uma rede de depilação expressa na Zona Sul do Rio de Janeiro, e no momento trabalha na Tijuca. A loja da Tijuca fica nos fundos de uma galeria e é belamente decorada. Os móveis simples e modernos, e a decoração feita sob medida para o espaço fazem com que o ambiente pareça maior do que de fato é.

Janaína chega às dez horas da manhã. Gosta de sempre chegar um pouco antes das dez horas para preparar com calma sua cabine, tomar um café e conversar com suas colegas. Em dias de pouco movimento, principalmente no início da semana, as depiladoras gostam de conversar com as colegas, com a recepcionista, e com a copeira na cozinha do instituto. Lá a cera é esquentada e o café está sempre fresco. É um momento em que todas estão à vontade.

Conversam, riem, tomam café e comem bolo que compram na padaria que fica há poucos metros da loja. É também na cozinha que almoçam a comida que trazem de casa e esquentam no

aparelho de microondas. Lá dividem a Coca Cola litro que compram todos os dias. É nesses momentos de descontração que as depiladoras se munem de energia, para enfrentar eventuais atendimentos mais emocionalmente cansativos.

Janaína já ouviu muitas histórias e já viu muitas mulheres tristes. Nunca vai se esquecer de uma antiga cliente, quando ainda trabalhava em Copacabana, que “tinha problema compulsivo de plástica. Era toda recortada, cheia de cicatriz. Chegava na depilação chorando. Seu filho, depois que recebeu da avó, a mãe dela, toda a herança, a havia posto na rua e também batia nela”. Janaína se lembra que uma vez ela chegou à cabine com uma marca roxa no pescoço porque o filho a tinha agredido. Era uma mulher “muito frustrada e buscava satisfação nas plásticas”.

O que faz com que algumas clientes se abram com suas depiladoras? Por que se expõem a uma pessoa que elas não conhecem e que não as conhece? A certeza de saberem que não sofrerão nenhum tipo de censura pelo que dizem e assim poderem se ouvir e organizar

mentalmente suas histórias? Janaína acha que, ao se abrir com a depiladora, a cliente vislumbra a possibilidade de ao receber um conselho de uma mulher que já viu e ouviu muita coisa,

simplesmente sair da sua realidade. Afinal, “mulher gosta de se abrir com outras mulheres”. “Mulheres sofrem igual, têm os mesmos sentimentos, também têm TPM...”. Por isso, acha que a cliente se sente à vontade para contar sobre seu problema emocional a ela. “Porque eu lido com diversas mulheres de outras condições, a cliente deve pensar: já que ela tem o conhecimento de outras pessoas, de várias áreas, ela pode passar para mim uma coisa que vai me fazer pensar

diferente, agir diferente. Naquele momento, na cabine, eu sou uma depiladora, mas as reticências vão surgir...”.

Clientes que gostam de falar durante a sessão evitam ir a institutos onde a conversa entre profissional e cliente é desestimulada. Elas se sentem como se estivessem em um “abatedouro, como um pedaço de carne”. Institutos que não permitem a conversa fazem com que as clientes se sintam desvalorizadas. “Elas querem ser amadas, queridas, bem recebidas e pagam por isso”. Afinal, o que conta é o atendimento.

Uma vez, há muito tempo, Janaína estava atendendo uma cliente de preferência e percebeu que algo não ia bem. Ela já era sua cliente há mais de um ano e Janaína, que conhecia seu jeito de ser, viu que a cliente parecia triste. Janaína não sabia muito de sua vida pessoal, mas sabia que era casada há dez anos e que vivia com o marido em uma cobertura em Ipanema. Neste dia, não foi preciso que Janaína dissesse nada. A cliente começou a se abrir. Contou que estava se separando do marido, pois este teria engravidado a secretária. Janaína foi pega de surpresa, não soube bem o que dizer, mas também não podia continuar o serviço como se nada estivesse acontecendo. A cliente contou que não queria ter filhos, pois estava investindo em sua carreira. Mas que o marido não soube esperar. Ele havia sido seu primeiro namorado. Ela chorou na sessão, precisava chorar. Janaína acredita que ela só precisava de um lugar acolhedor para desabafar e chorar. E este lugar foi a cabine de depilação. Janaína esperou que a cliente parasse de chorar e terminou como pôde o serviço. Neste dia, ela lhe desejou votos de superação e a cliente foi embora. Nos meses seguintes, a cliente voltou a se depilar. E foi colocando-a a par do andamento de sua vida: já estava saindo com outro rapaz, estava muito feliz, mas não pensava mais em se casar.

Em geral, os assuntos que as clientes trazem para dentro da cabine, sejam eles problemas ou não, são de ordem emocional. Problemas comuns são pais e filhos que não se falam,

familiares com doenças graves, filhos drogados, histórias de traição da parte do parceiro ou da própria cliente, amores não correspondidos etc. Raramente clientes falam sobre trabalho. Quando falam, geralmente o assunto diz respeito a algo muito pontual, um desafio ou um estresse

momentâneo, que não chega a se configurar em um lamento. Problemas familiares ou afetivos dominam as falas da maior parte das mulheres que usam a cabine da depiladora como um local de desabafo. Janaína tem uma teoria a este respeito: acha que as mulheres estão muito evoluídas financeiramente, porém estão retrocedendo na forma de lidar com o marido e os filhos. “Elas colocam o amor de mãe e de esposa acima delas próprias”. Por isso estariam havendo muitos casos de mulheres mortas e agredidas por filhos e maridos. “Mulheres estão sofrendo devido ao amor passional: dão mais amor do que recebem, e acabam sendo vítimas do próprio amor”.

Profissionalmente, Janaína vê suas clientes muito evoluídas e bem resolvidas. “As mulheres não estão chorando miséria por causa de dinheiro. Andam bem vestidas, arrumadas, têm suas carteiras, seus cartões, celulares de última geração”. Em relação ao poder aquisitivo, as mulheres estão melhores do que os homens. “Tem mulher aí dando banho em homem. Há oito anos, eu chegava a escutar clientes ligando para o marido, pedindo para ir ao instituto passar o cartão. Hoje, jamais! Hoje elas descem, pagam e vão embora felizes balançando o cabelo”.

Lidando com situações difíceis ou não, Janaína procura sempre fazer diferença na vida de suas clientes. Para uma específica cliente, Janaína sabe que isso foi muito importante. Essa cloente nunca havia trabalhado, morava com o marido no Flamengo e se sentia inútil, pois o marido lhe dava tudo. Um dia Janaína sugeriu que ela fizesse um curso de pintura. Ela fez o curso e hoje é profissional de decoração. “Tem o dinheiro dela e se sente útil para a sociedade.

Até o marido está gostando”. Janaína se lembra com clareza quando ela lhe disse: “Janaína, eu sou muito mais feliz depois do dia que eu conversei com você. Eu resolvi questões da minha vida que eu não conseguiria, se eu não tivesse falado e pedido sua opinião. E você falou e me

orientou. Hoje eu sou muito mais feliz, muito mais realizada.”

O desabafo

Janaína fala daquilo que toda mulher brasileira conhece: mulher adora falar em salão de beleza, e o mesmo acontece em institutos de depilação. O ambiente de cuidados corporais inspira o desabafo. Fala-se sobre tudo, de dificuldades com filhos e maridos, a doenças familiares. Ao menos aparentemente surpreendente é o fato das clientes se abrirem com profissionais que mal conhecem e que tampouco pertencem ao mesmo círculo social ou nível sócio econômico. Muitas vezes o problema em si é trazido para dentro da cabine. Como quando Luciana presenciou uma discussão dentro da cabine – “Já peguei discussão de namorado dentro da cabine. Você não sabe se você depila, se para e a pessoa lá, no maior bateboca com o namorado”.

A opinião das depiladoras com quem conversei é unânime: “a mulher está muito

carente”. A carência levá-la-ia a desabafar em qualquer lugar, assim que alguém lhe dá ouvidos. E o momento da depilação conjuga elementos propícios para o desabafo: Primeiro, a cliente está se sentindo só, sem ter com quem conversar; Depois, encontra uma mulher que ela acredita, se não entender, ao menos ser sensível aos problemas pelos quais está passando. Em terceiro lugar,

ela está pagando por aquele momento, ou seja, a princípio é dona da hora da profissional. E por último, sabe que tudo o que for dito não sairá da cabine, afinal a profissional não frequenta o mesmo meio social que ela. Perfeito!

As profissionais percebem que algumas clientes procuram o instituto mais com o intuito de conversar do que de se depilar. - “Ela olha e fala: ‘Ih, lá tem um instituto de depilação, deixa eu ir lá!’ Acho que tem umas que fazem isso, juro pra você. Já faz (depilação), mas naquele dia, mais do que nunca, ela precisa se depilar! (Luciana) Na visão das depiladoras, o que as clientes fazem ao procurarem o serviço de depilação para conversar, é usufruir de uma relação, como identificado por Baudrillard ao analisar a comunicação “personalizada” associada ao consumo cotidiano.

Trata-se do consumo da relação humana, de solidariedade, de reciprocidade, de calor e participação sociais estandardizadas sob forma de serviços – consumo permanente de solicitude, de sinceridade e de zelo (...) ainda mais vital para o indivíduo que a

alimentação biológica, num sistema em que a distância social e a atrocidade das relações sociais constituem a regra objetiva. (1991:170)

Nem toda profissional se interessa por oferecer algo a mais às suas clientes, além de apenas retirar seus pelos. Mas algumas depiladoras vão tirar vantagem desta situação. Elas vêem ali um momento propício para estabelecer ou fortalecer um vínculo com a cliente. Mesmo que momentâneo, que dure os minutos da depilação, a entrega da cliente à depiladora pode se tornar um momento de realização para esta. Muitas, como Janaína, sentem grande satisfação em oferecerem bem estar emocional às suas clientes.

O bem estar é proporcionado não apenas quando a cliente conta algum problema. Muitas vezes isso acontece simplesmente pelo fato da depiladora elevar sua auto-estima ao deixá-la mais bonita. - “Quando você depila, você não só arranca o pelo, você incentiva a cliente a se valorizar,

e acaba mexendo na auto-estima dela. A cliente, às vezes, vem tão murchinha pra cá, vem cheia de pelo, aqueles pelos enormes... aí, você vai e depila, e a cliente ela sai super grata. Isso é muito bom”. (Denise). Ao serem questionadas sobre o que lhes dava prazer no trabalho como

depiladora, ouvi de diversas delas que um dos maiores motivos de satisfação era notarem a mudança positiva no semblante da cliente após o serviço. A cliente “peluda” é “murchinha”, triste, e quem retira seus pelos tem a capacidade de transformar sua vida para melhor. Afinal, como observou Patrícia Bouzón em sua vasta etnografia sobre salões de beleza, “por meio de uma nova realidade corporal, dá-se sentido a uma nova realidade social”. (2010:198).

Contudo, meu objetivo neste capítulo é abordar o bem estar que resulta da fala da cliente, e da escuta da depiladora. Me interessa o ato da entrega, da exposição de intimidades da cliente para com a depiladora. Muitas vezes o bem estar da cliente requer que a depiladora apenas disponibilize seus ouvidos. Depiladoras sabem que muitas clientes necessitam apenas desabafar, não importa com quem. E serem ouvidas com atenção é tudo o que elas pedem. Patrícia gosta de ouvir. – “Você vê o jeito que a pessoa chega. Você vê a pessoa que está feliz, que está realizada, de bem com a vida, e você vê aquela pessoa que chega: ‘Pôxa...’. Você vai dando atenção pra aquela pessoa e ela vai falando. O que aquela pessoa precisa simplesmente? De ouvido. Eu posso falar muito, mas eu sei ouvir”.

Me chamou a atenção o fato de algumas clientes se despirem inteiramente, sem

necessidade para a área que vão depilar. “Se você fica nua é porque você vai fazer a virilha. Se você vai fazer meia perna, não precisa ficar nua. Teve uma menina que eu entrei dentro da cabine e ela estava pelada! Sem calcinha. Mas ela é assim mesmo, desprendida”. Patrícia interpreta seu comportamento como desprendimento, ou seja, não se importa em ficar nua na frente da depiladora, mesmo que não haja necessidade para tal. Levanto a hipótese de este

comportamento significar também uma entrega por parte da cliente. A cliente se sente tão à vontade na cabine, que fica nua, mesmo não sendo necessário para o serviço.

É comum profissionais de beleza, e não apenas depiladoras (BOUZÓN, 2004)

considerarem-se psicólogos. O fato de ouvirem os problemas das clientes faz com que se sintam desempenhando a função de terapeutas. Ouvem seus problemas e procuram ajudá-las, mas diferentemente do que fariam com amigas, isto é, dando conselhos e sugestões. “Às vezes, a gente tem que ser psicóloga, por que a gente tem que ouvir só e não pode dar palpite. Tem que ficar segurando a nossa língua na boca. Você não pode meter na vida das pessoas.” (Denise)

Se a cliente fala e se expõe, muitas vezes isso não é atribuído a uma relação especial que ela tenha com a depiladora. Muitas profissionais acreditam que as clientes desabafariam seus problemas com outras depiladoras e outras pessoas, assim como fazem com elas. Falar é natural da mulher. Além disso, sabem que não existe envolvimento suficiente com a cliente para que o desabafo seja feito apenas com elas. Muitas vezes, estão depilando aquela cliente pela primeira vez.

Não é só no instituto de depilação. As mulheres falam o tempo inteiro. Eu falo pra caramba! É em qualquer lugar, é do ser humano. E às vezes o ser humano se abre, e não quer nem saber quem é a pessoa. Chegou o momento dele. Desabafou comigo, vão desabafar na fila do banco. (Denise)

Um dos motivos pelos quais a depiladora acredita que a cliente desabafa com uma pessoa que ela mal conhece é justamente o fato de elas mal se conhecerem. Uma vez que a depiladora não pertence ou frequenta o mesmo círculo social que a cliente, ela tem certeza e segurança de que nada do que é dito sairá da cabine. – “Com uma pessoa conhecida, às vezes elas não falam o que falam pra gente. Por que a gente não conhece elas na sociedade. Então, a gente não vai

contar pra nenhuma amiga delas. O que acontece dentro da cabine você não pode falar pra ninguém. A cliente saiu, morreu ali o assunto”. (Rosi) Seguindo este raciocínio, o desabafo seria uma necessidade da cliente, que pouco ou nada tem a ver com a pessoa da depiladora. E, de fato, por um lado as depiladoras sentem-se assim, distantes dos problemas das clientes. Não se

consideram especiais, melhores ou piores profissionais por se tornarem suas confidentes. Por outro, algumas depiladoras se sentem merecedoras da atitude de entrega. Reconhecem e

ressaltam a importância do vínculo que propicia a troca de confidências. Acreditam que o fato de essas clientes serem atendidas pela mesma depiladora há algum tempo, faz com que se sintam seguras para falar e contar de si. Carla, por exemplo, que é depiladora há menos de um ano, acredita que poderá conversar mais intimamente com suas clientes quando tiver clientes que depile há, no mínimo, três anos. Patrícia diz que atende uma cliente há cinco anos e, para me mostrar como acompanha os acontecimentos de sua vida, me conta que nesse período “ela já até mesmo se casou”.

Além da satisfação com o vínculo estabelecido, também existe o benefício financeiro.

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