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3 O CONTRATO DE TRABALHO DO ATLETA PROFISSIONAL DE FUTEBOL. 27

3.7 APLICABILIDADE E PECULIARIDADES DA LEI 9.615/1998

3.7.1 Da jornada de trabalho

A jornada de trabalho desportiva é de 44 horas semanais, porém existe uma peculiaridade, pois o atleta ainda deve permanecer em concentrações, sempre que seja

conveniente à entidade de prática desportiva, normalmente ocorrendo no pré-jogo, e por período não superior a três dias consecutivos por semana, desde que esteja programada qualquer partida, prova ou equivalente, amistosa ou oficial (CAÚS e GÓES, 2013).

O tópico referente a este dispositivo especial do contrato de trabalho desportivo está presente nos incisos I e III do § 4º do artigo 28 da referida Lei que dispõem:

I - se conveniente à entidade de prática desportiva, a concentração não poderá ser superior a 3 (três) dias consecutivos por semana, desde que esteja programada qualquer partida, prova ou equivalente, amistosa ou oficial, devendo o atleta ficar à disposição do empregador por ocasião da realização de competição fora da localidade onde tenha sua sede; III - acréscimos remuneratórios em razão de períodos de concentração, viagens, pré-temporada e participação do atleta em partida, prova ou equivalente, conforme previsão contratual.

Remete Barros (2014, p. 15) acerca da concentração do atleta:

Entre as peculiaridades do contrato do atleta, temos o período de concentração, a que alude o art. 7º da Lei n. 6.354/76. Dispõe o citado preceito legal que o atleta será obrigado a concentrar-se, se convier ao empregador, por prazo não superior a três dias por semana, desde que esteja programada competição oficial ou amistosa, bem como ficar à disposição do empregador quando da realização de competição fora da localidade onde tenha sua sede. Este prazo poderá, excepcionalmente, ser ampliado, quando ele estiver à disposição da Federação ou Confederação.

Cáus e Góes (2013, p.81) ainda complementam que o “atleta também tem direito a repouso semanal remunerado de 24 horas ininterruptas, preferentemente em dia subsequente à competição, quando realizada no final de semana.”

Atualmente, estamos passando por uma situação atípica em todo globo, sendo esta causada por uma pandemia inicialmente descontrolada e adversa, de nomenclatura covid-19,e é interessante ressaltar até como este advento tornou complicado os intervalos de jornadas trabalhistas dos atletas. Devido aos grandes números de casos/óbitos pela pandemia, várias federações e organizações desportivas paralisaram seus respectivos campeonatos, resultando então em um grande atraso de jogos do calendário dos clubes. Em razão disto, houve vários debates entre as entidades desportivas e as próprias federações para a retomada dos campeonatos (GLOBOESPORTE, 2021).

Ao realizar a reintegração dos campeonatos, as federações, visando normalizar e colocar em dia todos os jogos que estavam em atraso no calendário, obrigaram os atletas a jogarem em um intervalo de menos 48 (quarenta e oito) horas entre as partidas oficiais, claro que as entidades desportivas não colocavam seus atletas para jogar todos os jogos, pois o risco de lesões musculares é maior, porém, é um dispositivo que não possui respaldo jurídico específico, e que por isso é apenas norteado pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) em seu Regulamento Geral das Competições/2021, no artigo 25 “Como regra geral, os clubes e atletas

profissionais não poderão, como regra geral, disputar partida em competições sem observar o intervalo mínimo de sessenta e seis (66) horas.”

Não seria absurdo pensar que nos anos seguintes a esta pandemia, algumas ações ou acordos envolvendo atleta e entidade desportiva serem noticiados, sendo um período atípico para o desporto e seus operadores.

3.7.1.1 Do adicional noturno

Este preceito advém da Consolidação de Leis Trabalhista e dos valores presentes na Constituição Federal, sempre buscando o tratamento devido ao trabalhador pelo período extra designado em sua jornada de trabalho (BRASIL, 1988).

No sentido desportivo, o dispositivo é bem controverso, e que por isso será discorrido ao todo neste trabalho monográfico.

As razões motivadoras de tanta polêmica são causadas pela obscuridade nas legislações desportivas e suas subsidiárias legislações, ou seja, no fim das contas, ela é desamparada pela sua maioria que ao invés de solucionarem e sanarem este dispositivo, deixam a deriva as conclusões necessárias (ZAINAGHI, 2020).

O contrato desportivo tem características especiais já estabelecidas que, de fato, não se enquadram nos moldes celetistas, e que por isso vigoram sob a figura primordial da Lei Geral do Desporto que irá reger a atividade do atleta profissional. Somente na hipótese de omissão/obscuridades mesmo assim, desde que não haja incompatibilidade com os princípios do desporto, é que a legislação trabalhista será aplicada, tendo em vista que é esta a interpretação que se extrai do art. 28, parágrafo 4º da Lei Pelé (VEIGA, 2021).

A definição pela Consolidação de Leis Trabalhistas se dá pelo artigo 73, qual induz que o adicional noturno ocorrerá “salvo nos casos de revezamento semanal ou quinzenal, o trabalho noturno terá remuneração superior à do diurno e, para esse efeito, sua remuneração terá um acréscimo de 20 % (vinte por cento), pelo menos, sobre a hora diurna” (BRASIL, 1943).

Sobre o adicional noturno de 20% estabelecido na CLT, alguns doutrinadores sustentam que não há previsão legal atinente ao atleta, pelas peculiaridades dessa função e também pelo fato de que suas atividades raramente adentram no horário noturno. Em consequência do horário tradicional televisivo, o usual seria então negar o direito ao adicional noturno a esses profissionais (BARROS 2014, p.15).

A Constituição Federal ainda prevê em seu artigo 7º, inciso IX, que são direitos dos trabalhadores urbanos e rurais a remuneração do trabalho noturno superior à do diurno (BRASIL, 1988).

Cristiano Caús e Marcelo Góes (2013, p.81) destacam alguns motivos para o não acatamento do adicional noturno em viés desportivo:

Não há previsão legal quanto ao pagamento da hora dobrada por trabalho aos domingos e adicional noturno, mas a jurisprudência tem se inclinado para não condenar os empregadores a esses pagamentos, por diversas razões. Primeiro, nesses horários e dias, os atletas têm maior visibilidade entre os torcedores, clubes e patrocinadores, assim, de certa forma, já estariam sendo beneficiados pela valorização da imagem de cada um, o que repercutiria, consequentemente, em ganhos financeiros. Segundo, o adicional noturno tem sua justificativa no excesso de jornada a qual o trabalhador comum é submetido. Estudos mostram que após as 22 horas, as tarefas demandam mais esforço do trabalhador para serem executadas. No caso do atleta, são usuais os jogos em período noturno e, em algumas modalidades, bastante incomuns as competições pela manhã, período de jornada regular aos demais trabalhadores. [...]

Como a previsão é constitucional, não há lei infraconstitucional que regule o tema e o costume, e, como fonte do Direito, têm pautado as decisões judiciais sobre os adicionais. Não há uma unicidade, porém, e a questão deve ser analisada caso a caso.

Entretanto, a entidade desportiva não vai querer que o atleta adentre seu horário pela jornada de trabalho, pois existe muitas vezes o perigo do próprio atleta se machucar, ou obter uma fadiga que desencadeie uma grave lesão.

De qualquer forma, é intrínseco que a modalidade futebolística possui alguns horários tradicionais para que o torcedor/telespectador possa acompanhar o espetáculo. Em decorrência deste fato, as empresas televisivas que transmitem os campeonatos se interessam por horários nobres, sempre buscando a maior audiência de seu público, ou seja, raramente os jogos oficiais são transmitidos atravessando madrugadas, pois nela a audiência é notoriamente mais fraca (VEIGA, 2021).

Dito isso, consegue-se fazer um paralelo negativo entre o atleta e a entidade desportiva referente ao adicional noturno.

3.7.1.2 Do período de trabalho nos dias de fim de semana

Neste quesito, mais uma vez o contrato de trabalho se faz diferenciado do visto como “normal”, onde a jornada é iniciada em meio aos treinamentos diários, desde a parte física até a parte técnica do atleta, ou seja, nos períodos de aprimoramento físico, por mais que o atleta ainda não tenha realizado uma partida oficial, ele já está exercendo sua função conforme designa o contrato especial.

Normalmente, as organizações/federações instituem alguns dias tidos como oficiais para a realização das partidas. Por exemplo, o “Brasileirão – Séria A”, dirigido pela Confederação Brasileira de Futebol, restringe os jogos nos dias de domingo, segunda-feira, quarta-feira, quinta-feira e sábado. Quando a partida for realizada no final de semana, os atletas geralmente exercem o seu direito ao repouso semanal no dia subsequente da competição (CÁUS e GÓES, 2013).

E os autores, Cristiano Cáus e Marcelo Góes (2013, p.81) ainda concluem sobre a omissão dos adicionais:

Mesma justificativa cabe ao não pagamento das horas dobradas aos domingos. As famílias se reúnem à frente dos televisores justamente aos domingos, dia que dedicam para assistir a seus ídolos, seus times do coração e suas competições desportivas prediletas. Como a previsão é constitucional, não há lei infraconstitucional que regule o tema e o costume, e, como fonte do Direito, têm pautado as decisões judiciais sobre os adicionais. Não há uma unicidade, porém, e a questão deve ser analisada caso a caso.

Por ser um dispositivo que está presente no contrato especial de trabalho, e que já é tradicionalmente sabido pelos torcedores, o atleta, no momento em que assina o seu contrato, já está ciente, e de acordo, que irá atuar em partidas disputadas de formas oficiais, em horários semanais normais, tanto como de segunda-feira à sexta-feira, e nos horários de fim de semana, sendo sábado ou domingo (VEIGA, 2021).

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