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A transversalidade da língua esteve presente nas diferentes reformas implementadas no sistema educativo, diz-nos Castro, Rui Vieira (1995), quando situados numa óptica

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histórica. No entanto, foi a partir de 1986 e, especialmente com a Lei nº 46/86 da Lei de Bases do Sistema Educativo (LBSE) de 14 de Outubro, no artigo 47º-7, quando refere que o ensino da língua deve ser organizado de forma a que todas as áreas curriculares possam cooperar para o desenvolvimento das competências do aluno na utilização do Português, tanto na compreensão como na produção de enunciados orais ou escritos. Também o Decreto- Lei nº 286/99, de 29 de Agosto define estes objectivos nos planos curriculares e afirma, como opção fundamental, a valorização da Língua Portuguesa e a perspectiva interdisciplinar para o currículo. Ambos se consideram normativos legais porque encaram todos os espaços curriculares como locais de desenvolvimento sistemático e orientado de competências no domínio da Língua Portuguesa. O artigo 9º, do mesmo Decreto-Lei, refere-nos que todas as componentes curriculares devem contribuir para o ensino e aprendizagem da língua materna, encarando este domínio como formação transdisciplinar.

O próprio Despacho Normativo nº 98-A/92 estabelece um novo sistema de avaliação dos alunos lendo-se no ponto 3:

“Nos três ciclos do Ensino Básico todos os professores devem, no âmbito da sua disciplina e no quadro da avaliação formativa, pronunciar-se quanto à competência evidenciada pelos alunos em relação ao domínio da Língua Portuguesa, nomeadamente quanto ao desenvolvimento da sua capacidade de comunicação oral e escrita.”

A reorganização curricular do ensino básico e a definição dos princípios orientadores da organização e gestão do currículo, consagrada no Decreto-Lei nº 6/2001, estabelece que

“a escola deve assumir-se como uma organização capaz de se preparar no sentido de se constituir como “uma escola para todos” e, que no seu artigo 6º, considera como formações

transdisciplinares:

• a educação para a cidadania;

• o domínio da língua materna;

• a valorização da dimensão humana do trabalho;

• a utilização das tecnologias de informação e comunicação.

Formações transdisciplinares, também denominadas temas transversais, no documento PCNs, e sobre os quais Yus (1998:17), os define como

“um conjunto de conteúdos educativos e eixos condutores da actividade escolar que, não estando ligados a nenhuma matéria particular, pode-se considerar que são comuns a todas, de forma que, mais do que criar novas disciplinas, acha-se

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global da escola.”

Em todas estas formações, a dimensão transversal é um aspecto inovador no currículo. Podemos concluir que a aprendizagem da língua de forma transversal é uma necessidade e um conceito-chave essencial para a compreensão da língua enquanto base fulcral do desenvolvimento do ser humano e da sua integração na sociedade.

Os temas devem perpassar transversalmente, por estarem mais vinculados ao quotidiano da sociedade e, em torno das áreas do conhecimento onde os conteúdos curriculares tradicionais compõem um eixo longitudinal do sistema educativo e os conteúdos das chamadas disciplinares tradicionais do currículo (como a Matemática, a Língua, o Estudo do Meio) se devem impregnar com os temas transversais.

Conceber a relação entre os conteúdos tradicionais e os transversais é integrá-la interdisciplinarmente nas diferentes áreas do conhecimento, mas sendo as disciplinas curriculares disciplinares o eixo principal será, assim contornado pelos eixos horizontais com o tratamento integrado e de forma inclusiva.

Sobre o exposto Busquets et al. (2000:37) comenta que

“Os temas transversais, que constituem o centro das actuais preocupações sociais devem ser o eixo em torno do qual devem girar a temática das áreas curriculares, que adquirem assim, tanto o corpo docente como os alunos, o valor de instrumentos necessários para a obtenção das finalidades desejadas.”

O papel de relevo é dado à Língua Portuguesa, pois permite a aquisição de múltiplos saberes através da transversalidade da língua e das práticas efectivas dos docentes, sobre o qual Neves (2005:60) cita que

“todo o ensino e aprendizagem se estruturam linguisticamente e a fala, a escrita e a leitura constituem factores fundamentais de desenvolvimento do processo intelectual. Donde a necessidade de que a língua seja entendida, na escola, como instrumento de globalização e de integração. Ela aprende-se em situação e em todas as situações; representa um percurso a efectuar em todas as áreas disciplinares.”

A Língua Portuguesa deve ser entendida e tratada como uma disciplina universal e transdisciplinar e o seu uso ser promovido de forma adequada às situações de comunicação

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criadas nas diversas áreas do saber, numa construção pessoal do conhecimento. Aqui surgem as áreas curriculares não disciplinares com um papel de extrema relevância no ensino e aprendizagem da língua, numa perspectiva transversal, como nos refere Bartolomeu e Sá (2008:18) e, focando que

“devido ao seu carácter aberto associado ao facto de nelas nada estar previamente programado, nem se prever a leccionação de conteúdos específicos no seu âmbito, as novas áreas curriculares não disciplinares apresentam-se como um espaço ideal para promover o contacto entre as diferentes áreas curriculares disciplinares. Temas ou conteúdos de qualquer disciplina podem ser abordados no âmbito destas áreas, onde tudo pode ser relacionado, questionado e desenvolvido, evidenciando-se, assim, o seu carácter interdisciplinar, multidisciplinar e transdisciplinar.”

A educação linguística está a ser orientada na promoção de diferentes tipos e géneros textuais entendidos como acções sócio-discursivas para agir sobre o mundo e dizer o mundo. Também as PCNs contribuem com a proposta dos temas transversais por tratarem de questões sociais, as quais fazem parte do espaço público e, pretendendo-se o atingir uma formação linguística interactiva e significativa.

A função dos agentes de educação é proporcionar ao aluno uma fácil compreensão textual fazendo com que os mesmos possam retirar desses textos conhecimentos que os levem a formar uma consciência social e cidadã. A própria família não se sentindo apta a tratar esses temas, espera que a escola os trabalhe sem nenhum constrangimento.

1. 4.2. Interdisciplinaridade e Transversalidade: clarificação de