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1 4.3 Interdisciplinaridade e Transversalidade: Metodologias e Práticas

1.5. Domínios

O novo Programa de Língua Portuguesa foi concebido em torno de áreas de aprendizagem, denominadas Domínios de Referência, conducentes à mobilização conjugada e estruturada de diferentes competências. Neste documento, em conformidade com as Competências Essenciais do Currículo Nacional, encontram-se reorganizadas, em domínios e subdomínios, organizadores de aprendizagem envolvendo e promovendo:

• o conhecimento cognitivo e linguístico;

• o desenvolvimento cognitivo e linguístico que sustentam o uso do oral e do escrito.

As competências específicas discriminadas no Currículo Nacional encontram-se incluídas nos domínios do modo oral, do modo escrito e do conhecimento explícito da língua. Todos eles subjacentes na enunciação de descritores de desempenho - o que o aluno deve ser capaz de fazer em função do seu desenvolvimento linguístico e do resultado de aprendizagens significativas. Não menos relevante é o propósito de não se trabalhar o programa apenas em torno dos conteúdos, mas articulá-los criativamente, com o desempenho esperado e agrupados por grandes linhas orientadoras.

Na organização do Programa da disciplina de Língua Portuguesa podemos encontrar os

Núcleos: Compreensão Oral, Expressão Oral, Leitura, Escrita e Conhecimento Explícito da

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1. 5.1. Compreensão Oral e Expressão Oral

A Compreensão Oral e Expressão Oral são referidas, em todos os níveis de ensino, nos programas de Língua Materna, começando logo no 1º ciclo. No entanto, estas competências eram denominadas os “parentes pobres” por não se encontrarem pré-definidos os limites do oral e como fazer a sua abordagem, em contexto de sala de aula. No ensino mais tradicional, a oralidade era verbalizada através da escrita, só existindo conhecimento de actividades relacionadas com a leitura oral de textos, a recitação de poemas, o “cantar da tabuada” ou mesmo a representação de pequenas peças teatrais ou dramatizações de textos lidos. Não existia o recurso a diálogos, debates, exposição de ideias, justificação de opiniões, comentários a situações sugeridas ou mesmo acontecimentos dignos de esclarecimento ou reflexão.

Posteriormente, o ouvir em silêncio deu lugar à intervenção activa, à discussão e à reflexão em voz alta. A oralidade passou a ter um papel fulcral no relacionamento do aluno com o professor e, o domínio do modo oral é expresso pela fala em múltiplas situações tanto de aprendizagem (ler, explicar, contar, …) como da expressão de sentimentos, emoções e afectos (rir, ralhar, emocionar-se, …). Mesmo com o incentivo à participação do aluno quando se questiona, responde ou justifica permanece uma abismal distância entre a expressão correcta e a comunicação eficaz por existir, por parte do professor, uma presença muito viva da escrita, corrigindo-se a frase pronunciada pelos alunos e exigindo-se a utilização de frases completas e correctas do ponto de vista gramatical. É importante ouvir o que o aluno fala, como fala e o que diz porque, por vezes, não utilizando um português padrão ou frases correctas, diz o essencial expresso numa palavra ou mesmo na intencionalidade do que fala. É importante que o professor, desde cedo, ensine os seus alunos a expressar-se, de forma explícita, através de guiões de discurso orientado. A oralidade surge de uma relação comunicação/expressão sendo importante descortinar o que se pretende que o aluno comunique, por que se expressa e o quê. Para isso, o aluno deverá compreender o que ouve, descodificar a mensagem, interpretar a informação recebida e discutir as diferentes hipóteses. Em relação às respostas deve ser capaz de exprimir a sua opinião e de a defender. Para tudo isto há a necessidade de criar uma interacção, já que e, de acordo com Azevedo (2006:57),

“cada falante revela e desenvolve capacidades de discutir, argumentar, convencer, assegurando actos de fala bem- sucedidos e mesmo decisões favoráveis de outrem. É a oralidade que permite a cada um de nós o controlo da nossa inserção social e do nosso desenvolvimento pessoal”

A aprendizagem do oral desenvolve nos alunos as competências do saber-fazer onde os conhecimentos linguísticos e cognitivos se relacionam em situação de comunicação e o

40 saber-ser ou a capacidade de se expressar. Para haver uma comunicação eficaz é necessário

existir compreensão e o ensino da linguagem ser um elemento mediador entre a comunicação com os outros e a descoberta do mundo que nos rodeia já que as situações de comunicação não são apenas as referentes a textos escritos. A existência de uma competência comunicativa será tanto mais valorizada e real quanto mais nos consciencializarmos da necessidade de proporcionar o desenvolvimento de acordo com as diferentes competências.

A compreensão oral prende-se com os parâmetros: saber ouvir, saber falar e consciência linguística. As competências do saber ouvir comportam vários subdomínios:

competência técnica – o desenvolvimento da consciência fonológica que segundo

Freitas (2007:10) “consciência fonológica, entendida como a capacidade de identificar as

unidades do oral. O sucesso na aprendizagem da leitura e escrita está correlacionado com os desempenhos do sujeito na oralidade”. Refere-nos ainda, que a simultaneidade do

reforço sobre a prática do oral (tanto na compreensão da fala como na sua produção) com a exercitação em diferentes actividades que desenvolvam e estimulem a oralidade e a consciência fonológica proporcionam uma metodologia que permite um maior e melhor desenvolvimento da criança sobre a sua própria língua, podendo o conceito ser genericamente definido como a capacidade para que conscientemente se combinem os elementos sonoros das palavras orais. Trabalhar a oralidade e a escrita separadamente pressupõe treinar competências distintas por se enfatizar o modo oral – que goza de autonomia – em relação ao escrito e desempenhando um papel fulcral e crucial na experiência linguística de cada indivíduo, muito particularmente na criança.

competência semântica – relacionada com o ensino explícito do vocabulário. Quanto

mais rico e diversificado for o vocabulário activo do aluno maior e mais correcta será a sua capacidade comunicativa e o uso funcional da língua independentemente do contexto ou da situação de comunicação.

competência pragmática – trata do ensino da descodificação da mensagem segundo o

contexto que envolve a recepção de uma mensagem e que implica o acesso à informação linguística registada na memória. Se o aluno não descodificou a mensagem transmitida não será capaz de participar em diálogos ou simples conversas ou opinar, pois não assimilou a informação nem ampliou os seus conhecimentos - objectivos para uma comunicação eficaz. O mesmo sucede em relação à escrita se não decifra uma mensagem oral também não o fará numa mensagem escrita daí a importância do trabalho na oralidade que permitirá maior sucesso em etapas superiores de decifração – aprender a dialogar consigo e com o Outro.

competência selectiva – a finalidade comunicativa. Para comunicar será necessário

que o aluno: se posicione criticamente em relação ao que ouve; seja capaz de formular questões e articular respostas nas diferentes situações; perceba que a comunicação é um acto da linguagem com finalidades sendo possível através dela manifestar desejos,

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informar, criticar, argumentar, divertir-se, … estas competências estão implícitas nos actos de falar, ouvir, ler e escrever. Não menos importante será o facto que os saberes do aluno são “recursos” para compreender, julgar, antecipar e agir com entendimento.

competência sintáctica e textual – referente ao ensino explícito da gramática. Esta

questão é hoje apresentada como inadiável necessidade pedagógica devido à valorização dada à dimensão comunicativa em prejuízo da normativa e da sua gramaticalidade. A evolução do aluno é mais rápida na fase de descriminação do que da articulação porque a compreensão lexical e semântica antecede a produção vocabular e a estruturação frásica. No entanto, o campo lexical é o mais sensível e passível de particular atenção por parte do professor, não permitindo a existência de diferenças, pois o conhecimento implícito da língua instala-se, o aluno irá consolidar e alargar o domínio e uso da língua que, posteriormente, o transformará no conhecimento explícito da língua. A aceitabilidade gramatical implica a capacidade para prestar atenção à língua e usar as estruturas da língua com finalidade comunicativa. Poderemos então falar em consciência lexical, sintáctica ou mesmo morfológica, campos estes que ocorrem após o conhecimento implícito. Cabe então à escola estimular o percurso de forma a obter falantes proficientes de acordo com os parâmetros do nível de mestria em língua materna.

Expressão Oral segundo Sim-Sim (1997:28) pode definir-se como

“a capacidade para produzir cadeias fónicas dotadas de significado e conformes à gramática de uma língua envolvendo o planeamento do que se pretende dizer, a formatação linguística do enunciado e a execução articulatória do mesmo”.

As competências do saber falar convergem com as do saber ouvir, se um aluno sabe ouvir, desenvolve a sua linguagem e processa a informação retirada a partir do estímulo – pergunta – processa a informação de acordo com as etapas – atenção, descriminação, categorização e memória – estará pronta para pronunciar a resposta. O aluno que está apto a dar uma resposta interiorizou as competências do “saber falar”. Nesta base podem-se ainda definir as competências:

• ideativa – a planificação do discurso a partir da recolha de informação retirando o essencial e confluindo o conteúdo à finalidade da comunicação;

• semântica – a utilização de um vocabulário explícito e adequado ao conteúdo; • sintáctica e textual – a fala utilizando frases onde se premei pela aplicação correcta de forma implícita e explícita de normas gramaticais no discurso;

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• pragmática – a mensagem adequada e ajustada à situação com respostas claras e precisas ao que se pretende;

• técnica – o uso de cadeias fónicas correctas.

A educação do falar está estreitamente relacionada com a educação de expressão escrita logo uma didactização assente na conversação, discussão, argumentação e opinião; o falar para narrar ou descrever e o falar para aprender estimulará um discurso plausível de sucesso, crescimento global, progressivo e equilibrado do aluno para os estádios superiores de aprendizagem. Fonseca (1990:99) refere que

“levar o aluno a usar melhor a sua língua – usar melhor não apenas como aperfeiçoamento de tipo estrutural, de correcção de estruturas e aquisição de estruturas novas, mas também e sobretudo como obtenção de plenitude na realização da adequação do acto verbal à situação de comunicação”.

Em contexto de sala de aula emergem como situações privilegiadas: o questionamento com funções pedagógicas; a narração e finalmente a discussão/argumentação. Quanto ao questionamento pode ser referido o facto de ser um momento de unificação do conhecimento linguístico do aluno em relação às vertentes interactivas e referencial do contexto; reforça o treino de atenção e a familiarização com a linguagem; exercita a capacidade lexical e a competência comunicativa. A narração com o recurso a histórias, contos, situações vividas, … o reconto, o resumo, …, a introdução de novos elementos à história existindo uma entrega do aluno à actividade aumenta a sua autoconfiança, a sua capacidade de interagir e partilhar com o grupo bem como a de compreender e relacionar o que ouviu/relatou com questões sociais. Além disso, permitem uma melhoria significativa do falar, inquirir, e grande à- vontade em expressar linguisticamente relações de causa e efeito. A argumentação e a justificação é que ficam mais limitadas neste nível etário - alunos do 1º ciclo - no entanto, devem ser preparados e a sua evolução ao nível da argumentação torna-se significativa e natural se existir entre o aluno/grupo turma e o professor um relacionamento interactivo onde as questões surjam normalmente, o aluno tem vontade própria para narrar factos da sua vida ou mesmo a capacidade e o gosto por imaginar e criar.

Todas as competências referidas funcionam como “a rampa de lançamento” para o melhor desempenho e sucesso da aprendizagem da leitura e da escrita.

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1. 5.2. Desenvolvimento Linguístico

A criança quando entra no 1º ciclo já tem adquiridas competências, já possui fluência da língua materna, que a torna capaz de compreender e produzir enunciados orais simples, ou seja, que conhece intuitivamente, como refere Duarte (2000:9), “o essencial da estrutura

gramatical, que lhes permite usá-la oralmente em contextos informais”, ou seja, possui

competência linguística suficiente para as suas necessidades comunicativas. No entanto, a experiência mostra-nos que uma criança só poderá adquirir um nível elevado de desempenho na leitura e na escrita se o seu conhecimento da língua for, em grande parte, explícito, visto que, ela não utiliza com a qualidade necessária e exigida na sua realização individual na sua vida futura em actos sociais em que participará e, consequentemente, aos quais será sujeita.

Uma das preocupações da escola é o factor de insucesso das crianças assente nesta realidade e, assim ela deve empenhar-se em trabalhar a capacidade comunicativa. A interligação existente entre o pensamento e a palavra, pois o pensamento não existe fora do mundo nem fora das palavras, o ambiente familiar e social da criança que interferem directamente com o uso que ela faz da linguagem, culminam no seu sucesso.

Falar de sucesso, é dizê-lo, neste caso, a longo prazo, desde logo até à sua vida adulta no dia-a-dia, na escola, emprego e por conseguinte fonte de dificuldades: frustrações, inadaptações, integração, limitações, por isso a competência comunicativa deve ser desenvolvida e incentivada desde cedo. É ao professor a quem cabe a tarefa de criar condições e aplicar estratégias conducentes à interacção verbal com vista à sua melhor participação no processo aprendizagem.

A designação de “análise linguística” refere-se às possibilidades do uso da língua e à aprendizagem da escrita e da leitura, sendo que, o trabalho realizado e continuado, na sala de aula, proporcionando, aos alunos, a faculdade de experimentar e explorar funcional e ludicamente: várias formas de dizer a mesma coisa, utilizar os erros ou inadaptações para a descoberta de regularidades e irregularidades da língua e, ainda ampliar o seu campo lexical e vocabulário activo.

O desenvolvimento linguístico assenta em objectivos apropriados, tal como as aprendizagens da leitura e da escrita, para uma evolução e alargamento do conhecimento intuitivo e explícito da língua.

Passamos a enumerar os objectivos essenciais do conhecimento linguístico: