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3.2 A RESPONSABILIDADE CIVIL DO EMPREGADOR EM CASO DE ACIDENTE DE

3.2.3 Da responsabilização do empregador

A responsabilidade civil do empregador pela segurança e os danos sofridos pelo trabalhador no ambiente de trabalho, especialmente no acidente de trabalho, merece uma análise uma pouco mais aprofundada já que ainda encontra divergência doutrinária.

De um lado, o entendimento de que a responsabilidade do empregador será sempre subjetiva, devendo ser plenamente comprovada a culpa e, principalmente, o nexo- causal. De outro norte, há quem defenda que a responsabilidade do empregador em caso de acidente de trabalho é objetiva, tendo por sustentáculo as teorias do risco.

Para o presente estudo, importante abordar os diferentes pontos de vista.

Sobre a corrente que patrocina a responsabilidade subjetiva, tem-se como principal argumento a literalidade do art. 7º da CF/88, inciso XXVIII:

Art. 7º. São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social:

[...]

XXVIII – seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa. (BRASIL, 1988, grifo nosso).

Na compreensão de Coelho (2009, p. 334) “a responsabilidade do empregador pelos danos advindos de acidente de trabalho é subjetiva. Ele só está obrigado a indenizar os acidentes se causados por sua culpa ou dolo na adoção das medidas de segurança do trabalho.”.

Maria Helena Diniz traz como excludentes da responsabilidade subjetiva, na relação trabalhista as seguintes hipóteses:

- se o acidente de trabalho foi causado culposa ou dolosamente pelo empregado ou por desobediência deste às ordens do patrão;

- se o dano provier de força maior;

- se o prejuízo ocorrer na ida do empregado para o serviço ou na volta ao lar; - se o fato lesivo advier de doença endêmica adquirida pelo empregado que mora em regiões onde ela se desenvolve. (DINIZ, 2008, p. 511).

De forma complementar, Silvio Rodrigues explica que, uma vez caracterizada a culpa, o grau de gravidade não interfere no dever de indenizar: “qualquer que seja, portanto, o grau de culpa, terá o empregador de suportar o dever indenizatório, segundo as regras do Direito Civil, sem qualquer compensação com a reparação concedida pela Previdência Social.”. (RODRIGUES, 2003, p. 309).

No entendimento de Maria Helena Diniz (2008), para a responsabilização do empregador na indenização acidentária, não há a necessidade de culpa grave. Outrossim, com

o advento da CF/88, não mais teria razão a aceitação da teoria da responsabilidade civil objetiva por acidente do trabalho, apesar de a empresa ser responsável pela adoção e uso de medias coletivas e individuais de proteção à segurança e saúde do trabalhador. Para ela, o parágrafo único do art. 927, do CC/2002, não se aplica na seara trabalhista, visto que a responsabilidade objetiva por acidente de trabalho é do órgão da previdência, em razão de seguro contra acidente de trabalho feito pelo empregador, sem prejuízo da sua responsabilidade na hipótese de ato culposo ou doloso. Apesar de seu posicionamento dar-se pela aplicação da teoria subjetiva, a autora admite a aplicação objetiva da responsabilidade se o acidente de trabalho advier no meio ambiente de trabalho, violar direito coletivo ou difuso, visto que um dos reflexos do dano ambiental trabalhista é o risco potencial de ofensa ao trabalho.

Já para aqueles que entendem que tal responsabilidade será objetiva, independente da culpa do empregador, os argumentos trazidos encontram guarida, precipuamente, nas teorias do risco, ou seja, que o empregador deverá assumir todos os riscos do negócio e o que ele possa vir a causar, independente de sua culpa. O embasamento normativo também é interpretado de modo a concluir-se pela responsabilização objetiva do empregador, conforme transcrições que se faz.

Para aqueles que defendem a responsabilização do empregador, independente de sua culpa, o amparo ocorre no art. 7º da CF/88, e ainda, art. 157, incisos I, II, III e IV, da CLT.

Acerca do tema, cabe aqui colacionar o que prevê os incisos do art. 157 da CLT:

Art. 157. Cabe às empresas:

I – cumprir e fazer cumprir as normas de segurança e medicina do trabalho;

II – instruir os empregados, através de ordens de serviço, quanto às precauções a tomar no sentido de evitar acidentes do trabalho ou doenças ocupacionais;

III – adotar as medidas que lhe sejam determinadas pelo órgão regional competente; IV – facilitar o exercício da fiscalização pela autoridade competente. (BRASIL, 1943).

Dispõe o art. 932 do CC/02 em sentido amplo: “são também responsáveis pela reparação civil: III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele.”. (BRASIL, 2002).

No mesmo contexto, destaca-se o pensamento trazido por Washington de Barros Monteiro ao afirmar que a teoria objetiva “obteve entre nós vitória parcial em matéria de infortunística. O operário vítima de acidente de trabalho tem sempre direito a indenização, haja ou não culpa do patrão, ou do próprio acidentado. O empregador está assim adstrito a ressarcir independente da ideia de culpa.”. (MONTEIRO, 2012, p. 588). Ainda segundo o

autor, atualmente, é possível perceber uma gradual substituição da responsabilidade subjetiva pela responsabilidade legal ou objetiva, já que o patrão indeniza não porque tenha culpa, mas porque é dono da maquinaria ou dos instrumentos de trabalho que provocaram o infortúnio.

Para Rizzardo (2013, p. 492) “na ótica que iniciou a tomar corpo, todo e qualquer dano verificado no desempenho da relação empregatícia importa em se conceder a indenização paralelamente à reparação infortunística. Não importam as precauções do empregador [...]”.

Nas atividades de risco, o centro das atenções deixa de ser o autor do dano, o ofensor, para ser a vítima, o ofendido, numa visão alargada da coletividade, mudando-se os paradigmas da responsabilidade civil. As atividades de risco passam a incomodar a coletividade e não somente a pessoa do trabalhador submetido ao risco. Atinente às atividades insalubres e perigosas, há a submissão do trabalhador a riscos acima do limite de tolerância normal. Além do adicional legal e, se for o caso da estabilidade decorrente de lei, terá o trabalhador direito à reparação material dos demais danos patrimoniais diretos e indiretos, bem como dos morais daí decorrentes. (CASSAR, 2010).

Acerca da interpretação do parágrafo único do art. 927, do CC/2002, Washington de Barros Monteiro faz a seguinte análise:

[...] enquanto antes do Código Civil de 2002 era, a rigor, necessária previsão legal expressa para a adoção da teoria objetiva, com a atual codificação a sua aplicação pode ocorrer não só nos casos especificados em lei, mas também quando a atividade normalmente desenvolvida pelo agente implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outra pessoa. O Código Civil atual, assim, possibilita ao Poder Judiciário uma ampliação dos casos de dano indenizável sem a necessidade de prova de culpa do agente. (MONTEIRO, 2012, p. 596).

Diante de todo o exposto, infere-se que a divergência doutrinária entre a aplicação da responsabilidade civil subjetiva ou objetiva, concernente ao acidente de trabalho, reside na interpretação de dois diplomas normativos, o art. 7º da CF/88, inciso XXVIII, principalmente, quanto à expressão “quando incorrer em dolo ou culpa”, e ainda, no que tange ao parágrafo único do art. 927 do CC/2002.

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