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Meio ambiente de trabalho saudável: o banimento do amianto crisotila (asbesto branco) no Brasil e a responsabilidade civil do empregador por acidente de trabalho

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA GABRIELA THOMAS COUTINHO

MEIO AMBIENTE DE TRABALHO SAUDÁVEL: O BANIMENTO DO AMIANTO CRISOTILA (ASBESTO BRANCO) NO BRASIL E A RESPONSABILIDADE CIVIL

DO EMPREGADOR POR ACIDENTE DE TRABALHO

Florianópolis 2018

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GABRIELA THOMAS COUTINHO

MEIO AMBIENTE DE TRABALHO SAUDÁVEL: O BANIMENTO DO AMIANTO CRISOTILA (ASBESTO BRANCO) NO BRASIL E A RESPONSABILIDADE CIVIL

DO EMPREGADOR POR ACIDENTE DE TRABALHO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Direito, da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Direito.

Orientador: Prof. Elvis Daniel Müller, Ms.

Florianópolis 2018

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Ao meu dedicado esposo Hélio, ao meu amado filho João Gabriel e à minha querida mãe Olga.

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AGRADECIMENTOS

Gratidão! Não existe outra palavra que descreva melhor o que sinto neste momento. Foram muitas horas e dias de dedicação, um misto de sentimentos e de grandes desafios.

Quando decidi cursar minha segunda graduação tive o apoio incondicional de meu esposo Hélio, que resumiu tudo em um forte abraço e uma frase: “tamo junto amor! ”. Hoje, só tenho a agradecer por toda a força e suporte que me destes durante todos esses anos, és meu porto seguro! Gratidão!

Minha mãe Olga, o que dizer sobre você? Meu exemplo! Mulher guerreira e determinada, sempre torceu pelo meu sucesso e me acompanha a vida toda. Sempre feliz e realizada quando eu dizia que estava indo bem nas matérias. És minha amiga e confidente! Gratidão!

Meu filho João Gabriel, meu pequeno! Você é luz! Trouxe-me vida e renovou minhas energias para o último e derradeiro ano de graduação! Esteve em meu ventre acompanhando minha rotina de estudos. És meu orgulho e meu coração! Gratidão!

Foram tantas pessoas que contribuíram para tornar minha jornada mais agradável e sólida, que só me resta agradecer! Aos meus irmãos e meu sobrinho, aos meus amigos e amigas, aos colegas de aula, aos professores e professoras e a todos os profissionais da Unisul. Em especial, ao meu orientador professor Elvis sempre muito atencioso.

A todos, minha eterna gratidão! Obrigada senhor!

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“Só engrandecemos o nosso direito à vida cumprindo o nosso dever de cidadãos do mundo” (Gandhi).

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RESUMO

A exposição do trabalhador a substâncias altamente cancerígenas tem se demonstrado um desafio mundial. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, estima-se que 125 milhões de trabalhadores em todo o mundo estão expostos ao amianto em seus locais de trabalho. Diante dos altos índices de doenças e mortes relacionadas ao composto, muito países já proibiram o seu uso. No Brasil, percebe-se uma verdadeira inércia estatal quanto ao assunto. Apesar de ser signatário da Convenção n. 162/OIT que trata da substituição gradativa do amianto, as medidas assumidas não foram concretizadas. Levando o judiciário a posicionar-se a respeito. De outro norte, também inertes quanto aos malefícios do amianto, os empregadores continuam a expor seus empregados nas linhas de produção, visando, tão somente, os lucros provenientes desse composto polivalente e de baixo custo. Diante deste contexto, a pesquisadora busca, em seu trabalho, verificar o banimento do amianto crisotila (asbesto branco) no Brasil e a Responsabilidade Civil do empregador por acidente de trabalho. Utilizando o procedimento monográfico, com técnicas de pesquisa bibliográfica e documental, a pesquisadora apresenta e conceitua os princípios da dignidade da pessoa humana e da proteção do trabalhador, e ainda, o meio ambiente de trabalho. Da mesma forma, identifica a reponsabilidade civil do empregador em caso de acidente de trabalho e a divergência doutrinária acerca do tema. Ao fim da pesquisa, apesar da decisão pelo banimento do amianto crisotila no Brasil ser recente e ainda estar com seus efeitos suspensos, a pesquisadora verificou que há fundamentos plausíveis para a declaração da inconstitucionalidade do art. 2º da Lei n. 9.055/95 (lei do amianto), bem como identificou que a responsabilidade do empregador por acidente de trabalho, segundo corrente majoritária, ainda é subjetiva, dependendo da comprovação da culpa.

Palavras-chave: Meio ambiente de trabalho. Banimento do amianto. Responsabilidade civil do empregador.

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ABSTRACT

Exposure of the worker to highly carcinogenic substances has proven to be a major challenge worldwide. According to data from the World Health Organization, it is estimated that 125 million workers worldwide are exposed to asbestos in their workplace. Faced with high rates of compound-related diseases and deaths, many countries have already banned its use. In Brazil, there is a real state inertia on the subject. Although it is a signatory to Convention no. 162 / ILO dealing with the gradual replacement of asbestos in the world, the measures taken were not implemented. Taking the judiciary to position itself on it. On the other hand, also inert as to the harm of asbestos, employers continue to expose their employees to the production lines, chasing at only the profits from this polyvalent compound and low cost. In this context, the researcher seeks, in her work, to verify the banishment of chrysotile asbestos (white asbestos) in Brazil and the Civil Liability of the employer for work accident. Using the monographic procedure, with bibliographical and documentary research techniques, the researcher presents and conceptualizes the principles of the dignity of the human person and the protection of the worker, as well as the working environment. Likewise, it identifies the civil liability of the employer in case of an accident at work and the doctrinal divergence on the subject. At the end of the research, although the decision to ban chrysotile asbestos in Brazil is recent and still has its effects suspended, the researcher found that there are plausible grounds for the declaration of unconstitutionality of art. 2 of Law n. 9.055/95 (asbestos law), as well as identifying that the employer's liability for an occupational accident, according to mainstream, is still subjective, depending on the evidence of the fault.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 11

2 O DIREITO DO TRABALHADOR A UM MEIO AMBIENTE DE TRABALHO SAUDÁVEL ... 13

2.1 A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA NO DIREITO DO TRABALHO ... 13

2.1.1 O princípio da proteção do trabalhador ... 16

2.2 MEIO AMBIENTE DO TRABALHO ... 19

2.2.1 Conceito de meio ambiente do trabalho ... 20

3 A RESPONSABILIDADE DO EMPREGADOR PELA SEGURANÇA DO TRABALHO ... 30

3.1 RESPONSABILIDADE CIVIL ... 30

3.1.1 Pressupostos da responsabilidade civil ... 31

3.1.2 Espécies de responsabilidade civil: subjetiva e objetiva ... 33

3.2 A RESPONSABILIDADE CIVIL DO EMPREGADOR EM CASO DE ACIDENTE DE TRABALHO ... 35

3.2.1 Considerações sobre atividade de risco na esfera trabalhista ... 36

3.2.2 Conceito de acidente do trabalho ... 38

3.2.3 Da responsabilização do empregador ... 40

3.2.4 O dever de fiscalizar do empregador... 42

4 AMIANTO CRISOTILA (ASBESTO BRANCO) E SUA NOCIVIDADE ... 45

4.1 ASPECTOS DO COMPOSTO AMIANTO CRISOSTILA (ASBESTO BRANCO) – ORIGEM E CARACTERÍSTICAS ... 45

4.1.1 Da utilização industrial ... 47

4.1.2 Doenças relacionadas ao amianto ... 49

4.2 A CONVENÇÃO Nº 162 DA ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO – OIT E A SUBSTITUIÇÃO GRADATIVA DO AMIANTO ... 51

4.3 O BANIMENTO DO AMIANTO NO BRASIL CONFORME RECENTE DECISÃO DO STF ... 53

4.3.1 Das leis estaduais restritivas ao amianto ... 53

4.3.2 A ADI 4.066/DF e suas pretensões ... 55

4.3.3 A inconstitucionalidade do art. 2º da Lei Federal n. 9.055/95 ... 58

4.3.4 Alguns julgados atuais atinentes ao tema (amostragem) ... 60

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1 INTRODUÇÃO

Garantir um meio ambiente de trabalho saudável para o trabalhador tem se tornado uma tarefa cada vez mais complexa para os países em pleno desenvolvimento. A indústria mundial, hodiernamente, está embasada em tecnologia de ponta e compostos químicos altamente polivalentes, como é o caso do amianto crisotila (asbesto branco). A capacidade de originar diversos insumos industriais e suas propriedades físico-químicas tornaram o amianto, ao longo dos anos, um composto amplamente requisitado e de baixo custo em todo o mundo, dando origem desde materiais de construção até materiais termorresistentes.

Diante do ascendente consumo industrial do amianto, estudos demostraram o surgimento de níveis alarmantes de doenças letais relacionadas a ele, destacando-se o câncer de pulmão, a asbestose e o mesotelioma, todas relacionadas à região pulmonar. A Organização Mundial da Saúde estima que 125 milhões de trabalhadores em todo o mundo estão expostos ao amianto em seus locais de trabalho, além de afirmar que milhares de mortes podem ser atribuídas anualmente à exposição ambiental ao amianto, e que mais de 107 mil trabalhadores morrem por ano pelas doenças associadas à substância.

Ao se depararem com este cenário, muitos países prontamente baniram o uso da substância, especialmente, os mais desenvolvidos. O Brasil, tornou-se signatário da Convenção nº 162/89 sobre a Utilização do Asbesto com Segurança, da Organização Internacional do Trabalho, promulgando-a através do Decreto nº 126, de 22 de maio de 1991, esta, passou a viger em território nacional a partir de 18 de maio de 1991. A referida convenção, prevê que seus signatários busquem uma substituição gradativa do amianto crisotila na produção industrial, ao passo que não há níveis seguros para a saúde dos empregados durante o processamento do composto.

Apesar de ter assumido o compromisso de tomar medidas para a redução gradativa do uso do amianto nas indústrias, o Brasil não obteve êxito nestes vinte e seis anos que se passaram desde a vigência da Convenção nº 162 no país. De outro norte, os empregadores também não buscaram outras alternativas para a substituição do uso do amianto, expondo sobremaneira a saúde de seus empregados e aumentando os índices de doenças e mortes relacionadas a esta substância cancerígena. Em face disto, a pesquisa se mostra importante para a sociedade, tanto como uma forma de colaboração para futuras vítimas, quanto como forma de instigar novos pesquisadores da temática.

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Neste contexto, a pesquisa tem como objetivo verificar o banimento do amianto crisotila (asbesto branco) no Brasil e a Responsabilidade Civil do empregador por acidente de trabalho.

Motivada pelas aulas lecionadas durante o curso sobre direito do trabalho e responsabilidade civil, bem como pelas recentes notícias acerca dos impactos do amianto crisotila na saúde dos trabalhadores, a pesquisadora encontrou o objeto de estudo para sua monografia.

Para desenvolver o tema da monografia – O banimento do amianto crisotila (asbesto branco) no Brasil e a Responsabilidade Civil do empregador por acidente de trabalho – a pesquisadora optou pelo método de abordagem de pensamento dedutivo e de natureza qualitativa. É utilizado o procedimento monográfico, com técnicas de pesquisa bibliográfica e documental, em livros, artigos, notícias e legislações.

Além dos capítulos de Introdução e Conclusão, a pesquisa é composta por três capítulos de desenvolvimentos, que compreendem o Direito do trabalhador a um meio ambiente de trabalho saudável, a Responsabilidade do empregador pela segurança do trabalho, para, por fim, verificar ao Amianto crisotila (asbesto branco) e sua nocividade. O primeiro capítulo de desenvolvimento trata da Dignidade da pessoa humana no direito do trabalho, conceituando os princípios da dignidade da pessoa humana e da proteção do trabalhador, e ainda, o meio ambiente de trabalho. O capítulo seguinte contextualiza a Responsabilidade Civil e seus pressupostos, subdividindo-a em objetiva e subjetiva, bem como identifica a reponsabilidade civil do empregador em caso de acidente de trabalho e a divergência doutrinária acerca do tema. O terceiro, e último, capítulo de desenvolvimento une os dois primeiros, ao analisar o Banimento do amianto crisotila e sua nocividade, evidenciando a Convenção nº 162 da OIT, para, em última análise, chegar à decisão do STF em banir a substância no Brasil.

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2 O DIREITO DO TRABALHADOR A UM MEIO AMBIENTE DE TRABALHO SAUDÁVEL

Dispor de um meio ambiente adequado e saudável é, aparentemente, requisito básico para o desempenho da relação de trabalho. Entretanto, são frequentes os casos em que os trabalhadores são expostos a condições insalubres e degradantes, desrespeitando o conjunto normativo acerca do meio ambiente de trabalho saudável. O presente capítulo aborda os princípios constitucionais norteadores da relação trabalhista, em especial, da dignidade da pessoa humana, trata do contexto de meio ambiente de trabalho, da contribuição da segurança e medicina do trabalho, relatando ainda, a importância da devida proteção e fiscalização das atividades laborais.

2.1 A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA NO DIREITO DO TRABALHO

O direito do trabalho, no âmbito da segurança e medicina do trabalho, e ainda, do meio ambiente de trabalho saudável, caracteriza-se como de direito público indisponível. Para Nascimento (2009, p. 5) “o direito do trabalho tem sido mais vivido do que conceituado, o que não impede que se faça a tentativa da sua compreensão conceptual”. Podendo ser compreendido como um “conjunto de princípios, regras e instituições atinentes à relação de trabalho subordinado e situações análogas, visando assegurar melhores condições de trabalho e sociais ao trabalhador, de acordo com as medidas de proteção que lhe são destinadas” (MARTINS, 2012, p. 17). Sua finalidade, segundo o autor, é assegurar melhores condições de trabalho ao empregado, inclusive, no que se refere às condições sociais.

No mesmo sentido, Gomes e Gottschalk (2007, p. 10) definem o conceito de direito do trabalho como “o conjunto de princípios e regras jurídicas aplicáveis às relações individuais e coletivas que nascem entre os empregadores privados – ou equiparadas – e os que trabalham sob sua direção e de ambos com o Estado, por ocasião do trabalho ou eventualmente fora dele.”.

Cassar (2010) destaca o caráter socializante e transformador do direito do trabalho, o qual deve, a cada momento, transforma-se para se adaptar às realidades econômicas e sociais do momento, sem esquecer, todavia, da figura do trabalhador que deve ser protegido:

O caráter socializante do Direito do Trabalho vem inspirando todos os outros ramos do Direito, pois realça a finalidade social e o caráter coletivo do Direito, menos preocupado, como outrora, com o individual e o patrimônio, abandonando o caráter

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privatista do direito comum. Por conta disso, a clássica inércia do Estado foi rompida pioneiramente pelo Direito do Trabalho para, através de uma legislação imperativa, garantir direitos mínimos e fundamentais à pessoa humana, adotando o princípio da proteção ao hipossuficiente (caráter tuitivo ou protetivo). Virtudes, aliás, adotadas pelo novo Código Civil. (CASSAR, 2010, p. 7).

No direito do trabalho existem dois personagens principais, de um lado o empregado e do outro o empregador, diferenciando-o dos demais ramos do direito ao edificar-se em torno da relação de trabalho, com características e peculiaridades específicas.

A definição legal de empregador pode ser extraída da Consolidação das Leis do Trabalho, norma esta, que passou por recente reforma, define em seu art. 2º o empregador como sendo “a empresa, individual ou coletiva, que, assumindo os riscos da atividade econômica, admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de serviço.”. (BRASIL, 1943). Traz ainda, em seu parágrafo primeiro, as figuras equiparadas ao papel do empregador, para os efeitos exclusivos da relação de emprego, “os profissionais liberais, as instituições de beneficência, as associações recreativas ou outras instituições sem fins lucrativos, que admitirem trabalhadores como empregados.”. Do mesmo instrumento, em seu art. 3º, infere-se ainda, o conceito de empregado: “considera-se empregado, toda pessoa física que prestar serviços de natureza não eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante salário.”. Nas palavras de Süssekind e outros (2000), sempre que haja uma atividade econômica, na qual se utiliza a força de trabalho alheia como fator de produção, estamos diante da figura do empregador, em suma, é aquela pessoa física ou jurídica, que, assumindo os riscos da atividade econômica, assalaria e dirige a prestação pessoal de serviços. De outro norte, o papel do empregado pode ser compreendido como “toda pessoa natural que contrate, tácita ou expressamente, a prestação de seus serviços a um tomador, a este efetuados com pessoalidade, onerosidade, não eventualidade e subordinação” (DELGADO, 2015, p. 377).

Conforme observa-se no parágrafo anterior, a relação de trabalho é estabelecida entre a figura do empregado e do empregador. Esta, por sua vez, pode ser entendida como “uma relação de débito permanente, em que entra, como elemento típico, a continuidade, a duração” (SÜSSEKIND et al., 2000, p. 246). A relação de trabalho possui características peculiares no mundo jurídico, dentre elas, destaca-se a subordinação e a dependência do empregado para com o empregador.

A subordinação pode ser descrita como “a obrigação que o empregado tem de cumprir as ordens determinadas pelo empregador em decorrência do contrato de trabalho. [..] é a submissão do empregado ao poder de direção do empregador” (MARTINS, 2016, p. 227). Já para Süssekind e outros (2000, p. 246, grifos do autor) a expressão “subordinação” deve ser

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analisada com mais cautela, sob o ponto de vista jurídico, a fim de respeitar integralmente a dignidade da pessoa do trabalhador, conforme pondera:

Na verdade, a situação de dependência econômica da grande massa trabalhadora, resultante do liberalismo e da consequente revolução industrial, constitui uma das causas, senão a principal, do aparecimento do Direito do Trabalho. Mas não se trata, aqui, de indagar as razões econômicas e sociais do surgimento desse direito, e sim de dizer em que consiste o elemento – subordinação – que caracteriza o contrato de trabalho. A dependência do empregado, que sublinha tal contrato, há de ser entendida, pois, no sentido jurídico. [..] a subordinação do empregado é jurídica, porque resulta de um contrato: nele encontra seu fundamento e seus limites. O conteúdo desse elemento caracterizador do contrato de trabalho não pode assimilar-se ao assimilar-sentido predominante na idade média: o empregado não é “assimilar-servo” e o empregador não é “senhor”. Há de partir-se do pressuposto da liberdade individual e da dignidade da pessoa do trabalhador.

O princípio fundamental da dignidade da pessoa humana, consagrado no art. 1º, inciso III, da Constituição Federal de 1988, possui grande influência na relação trabalhista e deve ser fielmente observado pelo legislador a fim de conter condutas abusivas pelos empregadores. A autora Christiani Marques (2007), destaca a importância da efetividade da dignidade da pessoa humana nas relações trabalhistas, ao alertar para o fato de que, hoje em dia, diante da sociedade materializada e permissiva em que vivemos, tornou-se muito comum conduzir o ser humano como objeto. Como por exemplo, quando ocorre a remuneração de uma condição agressiva à dignidade humana sem ao menos considerar-se outras possibilidades, sem levar em conta o bem-estar do empregado. Para ela, a ética, a moral e ao tratamento digno merecidos por todos, estão sendo esquecidos.

Nas palavras de José Afonso da Silva (2017, p. 295, grifo do autor), “as condições dignas de trabalho constituem objetivos dos direitos dos trabalhadores. Por meio delas é que eles alcançam a melhoria de sua condição social (art. 7º, caput), configurando, tudo, o conteúdo das relações de trabalho, que são de dois tipos: individuais ou coletivas.”.

O princípio da dignidade da pessoa humana, segundo o jurista e doutrinador Luís Roberto Barroso (2011, p. 275), expressa:

[..] um conjunto de valores civilizatórios que se pode considerar incorporado ao patrimônio humano, sem prejuízo da persistência de violações cotidianas ao seu conteúdo. Dele se extrai o sentido mais nuclear dos direitos fundamentais, para tutela da liberdade, da igualdade e para a promoção da justiça. No seu âmbito se inclui a proteção do mínimo existencial, locução que identifica o conjunto de bens e utilidades básicas para a subsistência física indispensável ao desfrute dos direitos em geral. Aquém daquele patamar, ainda quando haja sobrevivência, não há dignidade.

Cabe aqui pontuar, que a dignidade do trabalhador sempre deverá ser posta acima dos elementos da relação de trabalho, em especial, o da subordinação. É o que defende em sua tese Thereza Cristina Gosdal (2006, p. 113) ao afirmar que “a dignidade não pode ser

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utilizada como objeto de troca, não pode ser vendida, nem ser objeto de renúncia. Ela é irrenunciável no sentido de que se impõe com independência da vontade de seus destinatários.”. Nesse sentido corrobora Marques (2007, p. 56), ao assegurar que “o desrespeito da dignidade humana surge pelas limitações, quer do ambiente do trabalho, quer pela depreciação do valor do trabalho humano, afeta a pessoa do trabalhador e, por consequência, gera sua exclusão da sociedade”.

Dessa forma, verifica-se que o princípio da dignidade da pessoa humana constitui elemento basilar para o direito do trabalho, uma vez que proporciona equilíbrio à relação trabalhista.

2.1.1 O princípio da proteção do trabalhador

Depreende-se do tópico anterior que a dignidade da pessoa humana é princípio basilar para as normas de direito do trabalho, e que, sem sua observância a relação de trabalho pode passar a ser abusiva. Cabe ainda analisar, outro princípio decorrente da dignidade da pessoa humana e que também serve como norte na relação do trabalho: o princípio da proteção do trabalhador.

Inicialmente, importante observar os ensinamentos de Amauri Mascaro Nascimento (2009) acerca dos princípios no direito do trabalho. Para ele, existem os princípios universais, que se aproximam das regras que emanam do direito comparado ou que são admitidas como de direito natural; e os princípios nacionais, que se confundem com notas características de um certo país, podendo referir-se tanto a todo o direito do trabalho, como também a um dado setor do direito do trabalho. Esclarece ainda, que os princípios exercem uma tríplice função: a interpretativa – da qual são um elemento de apoio, a de elaboração do direito do trabalho – vez que auxiliam o legislador; e por fim, a função de aplicação do direito – já que servem de base para o juiz sentenciar.

O princípio da proteção do trabalhador, mencionado por Süssekind e outros (2000) pode ser percebido como o resultado das normas imperativas, de ordem pública, que caracterizam a intervenção básica do Estado nas relações de trabalho, buscando opor obstáculos à autonomia de vontade. Para Alves e Ziemann (2014, p. 308), esse princípio é verdadeira fonte do Direito do Trabalho, sua razão de existir:

O princípio instituidor do Direito do Trabalho é o da proteção ao trabalhador em razão da possibilidade de “vender” o tempo, o seu tempo de vida, o suor de seu rosto, uma parcela do seu sangue. Sob essa perspectiva, trata-se de tutelar o trabalhador enquanto merecedor da dignidade humana. Nesse aspecto, a proteção do trabalho humano é o princípio, o verdadeiro princípio em razão do qual o Direito do

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Trabalho existe. Ou seja, a proteção contra a exploração econômica contra a segregação dos vulneráveis é que faz surgir o Direito Trabalhista, bem como o reconhecimento social de que há uma relação desigual entre quem presta o trabalho e quem o recebe.

No mesmo sentido corrobora García Schwarz (2007, p. 02) ao afirmar que o princípio da proteção “corresponde ao princípio nuclear do Direito do Trabalho. Sua relevância é tão destacada pela doutrina que parte dela chega a aventar ser o princípio da proteção o único verdadeiro princípio peculiar do Direito do Trabalho, do qual todos os demais são meros consectários [..]”. Já Martins (2012), alerta para o fato de que o princípio protege especificamente o empregado e não qualquer classe de trabalhador, podendo ser desmembrado em três outros princípios:

a) in dubio pro operario – na dúvida, aplica-se a regra mais favorável ao trabalhador;

b) aplicação da norma mais favorável ao trabalhador – prevista implicitamente no art. 7º da CF/88, objetivando melhorar as condições de trabalho, não piorar; c) aplicação da condição mais benéfica ao trabalhador – pode ser compreendido como o fato de que as vantagens já conquistadas, que são mais benéficas ao trabalhador, não podem ser modificas para pior, ou seja, é a aplicação da regra do direito adquirido.

No que se refere à previsão constitucional, Süssekind (2004b) revela que, apesar de não haver disposição expressa de princípios informadores do Direito do Trabalho, há sim, a existência de princípios explicitados ou induzidos que são aplicáveis às relações de trabalho. Cabe aqui destacar, que a Constituição Federal de 1988 elevou o trabalho ao status de fundamento da república, além da sua previsão no art. 1º, IV – os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa, encontra-se disciplinado no Título II concernente aos Direitos e Garantias Fundamentais, em seu Capítulo II – Dos Direitos Sociais, no qual estão elencadas as normas referentes à proteção do trabalhador e também aquelas referentes à representação sindical, à negociação coletiva e ao direto de greve. Previstos nos arts. 6º ao 11, os direitos trabalhistas ali descritos formam o patamar mínimo civilizatório admitido nas relações de trabalho no Brasil, conforme determina o caput do art. 7º, da Carta Maior. (ASSIS, 2013).

Para Schmitz (p. 2012, 131), “o princípio constitucional do valor social do trabalho emerge como uma forma de proteção humanística ao trabalhador, no intuito de preservar sua dignidade contra a exploração da atividade econômica.”.

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De pronto observa-se do exposto, que tanto o princípio da proteção do trabalhador quanto os demais princípios do direito do trabalho, operam como fontes norteadoras das relações de trabalho, atuando na elaboração, na interpretação e na aplicação das normas trabalhistas.

2.3.2 A OIT e sua atuação em prol do trabalho digno e decente

Organismo com atuação mundial, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) é a agência das Nações Unidas que tem por missão promover oportunidades para que homens e mulheres possam ter acesso a um trabalho decente e produtivo, em condições de liberdade, equidade, segurança e dignidade. Criada pelo Tratado de Versalles (1919), inclui em sua competência a proteção contra os acidentes de trabalho e as doenças profissionais, cujos riscos devem ser eliminados, neutralizados ou reduzidos por medidas apropriadas da engenharia de segurança e medicina do trabalho. (SÜSSEKIND, 2004a).

O Trabalho Decente, sintetiza a sua missão histórica de promover oportunidades para que homens e mulheres possam ter um trabalho produtivo e de qualidade, em condições de liberdade, equidade, segurança e dignidade humanas, sendo considerado condição fundamental para a superação da pobreza, a redução das desigualdades sociais, a garantia da governabilidade democrática e o desenvolvimento sustentável (ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO, 2018). Conforme explica em sua página oficial, a OIT definiu quatro objetivos estratégicos, que devem sempre levar em consideração o respeito aos direitos no trabalho (em especial aqueles definidos como fundamentais pela Declaração Relativa aos Direitos e Princípios Fundamentais no Trabalho e seu seguimento adotada em 1998):

a) liberdade sindical e reconhecimento efetivo do direito de negociação

coletiva;

b) eliminação de todas as formas de trabalho forçado;

c) abolição efetiva do trabalho infantil;

d) eliminação de todas as formas de discriminação em matéria de emprego e

ocupação), a promoção do emprego produtivo e de qualidade, a extensão da proteção social e o fortalecimento do diálogo social. (ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO, 2018).

Suas atividades no Brasil tiveram início na década de 1950 e, desde então, desenvolve programas e atividades que refletem seus objetivos. Atua juntamente com os órgãos nacionais, como por exemplo o Ministério do Trabalho e Emprego, pondo em prática

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suas diretrizes e convenções (ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO, 2018).

Dentre os seus diversos projetos e programas, o chamado Cooperação Sul-Sul para a Promoção do Desenvolvimento Sustentável por meio do Trabalho Decente e da Proteção Social, destaca-se pela perspectiva de capacitação e valorização do trabalho decente. Seus objetivos específicos são: a) mapear e sistematizar práticas inovadoras desenvolvidas na Amazônia brasileira que compatibilizam a conservação ambiental com a superação da pobreza por meio da promoção do trabalho decente e da proteção social, e b) promover intercâmbio de experiências que compatibilizam a conservação ambiental com a superação da pobreza em países do Sul e a formação de capacidades para gerar emprego e renda em áreas prioritárias para a conservação ambiental (ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO, 2018).

Segundo Carvalho e outros (2016) a definição de trabalho decente pode ser compreendida como o trabalho produtivo em plenas condições de liberdade, equidade, segurança e dignidade. No qual, os direitos dos trabalhadores são assegurados, o trabalho produz remuneração adequada e é coberto por uma seguridade social apropriada.

Dentre as convenções instituídas pela OIT, Süssekind (2004b) destaca a de n. 161 do ano de 1985, atinente aos “serviços de saúde do trabalho” – tais serviços devem ser instituídos, quer por uma empresa ou grupo de empresas, quer pelos poderes públicos ou por uma combinação dessas modalidades, tendo por objetivo assessorar os trabalhadores no sentido de: a) obter e conservar um meio ambiente de trabalho seguro e são, e ainda, b) adaptar o trabalho à capacidade física e mental do trabalhador.

2.2 MEIO AMBIENTE DO TRABALHO

A precariedade nas condições de trabalho é um fator constatado em nossa sociedade há longa data, ainda no desenvolvimento do processo industrial – século XVI -, conforme leciona Amauri Mascaro Nascimento (2009). Segundo o autor, tal precariedade assumia aspectos graves, oferendo riscos à saúde e à integridade física do trabalhador. Não só os acidentes se sucederam, mas também as enfermidades típicas ou agravadas pelo ambiente profissional. As condições de trabalho a serem cumpridas pelos empregados eram estabelecidas pelo patrão, demonstrando que à época, não havia um direito regulamentando o problema.

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A Constituição Federal de 1988 elevou o direito ao trabalho ao patamar de direito fundamental social, garantindo assim a efetividade e a observância dos principais direitos do trabalhador, especialmente, no que se refere aos direitos relacionados à sua segurança no labor. Conforme preceitua a Magna Carta, em seu artigo 7º, caput, são direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social:

XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança;

[...]

XXVIII - seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa; (BRASIL, 1988).

De acordo com Marques (2007) o trabalho poderá ser de risco para a saúde ou não. Em caso positivo, o empregado tem sua autoestima elevada, caso contrário, isso gera distúrbios psicossociais, individuais e coletivos.

2.2.1 Conceito de meio ambiente do trabalho

O meio ambiente do trabalho constitui-se de uma ramificação do meio ambiente como um todo, este, segue as diretrizes do direito ambiental, enquanto aquele, já possui sua finalidade voltada para a relação de trabalho orientando-se através do direito do trabalho. O equilíbrio do meio ambiente já é uma garantia constitucional, conforme prevê a Magna Carta em seu art. 225: “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.”, especialmente, em seu inciso V, o qual dispõe que incumbe ao Poder Público: “controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente”.

A fim de contextualizar o instituto do meio ambiente, transcreve-se a seguir a classificação de suas espécies trazida por Melo (2004 apud GARCIA, 2014, p. 18):

a) meio ambiente natural ou físico: constituído pelo solo, água, ar atmosférico,

flora e fauna;

b) meio ambiente cultural: valores históricos, ou seja, o patrimônio histórico,

artístico, arqueológico, paisagístico e turístico existentes em determinado país;

c) meio ambiente artificial: espaço urbano construído pelo ser humano,

englobando o conjunto de edificações e espaços urbanos públicos;

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No que tange à conceituação de meio ambiente do trabalho, Figueiredo (2007) alerta que, na busca do conceito de meio ambiente do trabalho deve-se buscar conjugar a ideia de local de trabalho à de conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, já que esses fatores incidem sobre o homem em sua vida laboral, esteja ou não submetido ao poder hierárquico de outrem.

Para que o meio ambiente de trabalho esteja saudável e adequado às necessidades físicas e psicológicas do trabalhador, faz-se indispensável uma análise ampla, em outras palavras, “é necessário pensar-se a saúde do trabalhador desde a sua organização na sociedade e no trabalho, compreendendo-se essa realidade sob uma perspectiva de sujeitos coletivos, conhecendo-os e reconhecendo-os historicamente.”. (MENDES, 2011, p. 326).

Segundo Rojas (2014) “o conceito de meio ambiente do trabalho é dos mais abrangentes, compreendendo toda e qualquer situação que envolva o indivíduo e seu local de trabalho, com o escopo de tutelar a saúde e a vida dos trabalhadores.”.

A importância de um meio ambiente de trabalho saudável é destacada por Delgado (2016, p. 1.363) ao afirmar que “na vida trabalhista concreta, deve o empregador manter-se atento à qualidade de bem-estar de seu meio ambiente empregatício, uma vez que, para a ordem jurídica, é sua a responsabilidade de manter o meio ambiente de trabalho são e hígido.”.

Destarte, pode-se inferir que um meio ambiente de trabalho saudável constitui elemento básico para o desempenho laboral do trabalhador, tanto em seu aspecto físico quanto em seu aspecto psíquico, cabendo ao empregador, proporcioná-lo a seus empregados.

2.2.2 Segurança e medicina do trabalho

Para que seja proporcionado um meio ambiente de trabalho saudável, há que se ter cautela não só no aspecto reparatório dos danos mas, principalmente, do ponto de vista preventivo a fim de minimizar os riscos ao trabalhador. Para tanto, a medicina do trabalho pode ser apontada como fonte de ensinamentos quanto aos meios preventivos e reparatórios da saúde do trabalhador, oferecendo medidas de proteção à vida, saúde e integridade física do homem, ensina Amauri Mascaro Nascimento (2009). De acordo com o autor, a medicina do trabalho:

Relaciona-se com os direitos fundamentais do trabalhador na medida em que contribui para a preservação do meio ambiente do trabalho e a necessária proteção de quem trabalha, exposto que está aos riscos naturais gerados pelo exercício da profissão, em especial em determinados setores do processo produtivo, nos quais a exposição ao risco é maior. (NASCIMENTO, 2009, p. 202).

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A segurança e medicina do trabalho compreendem um segmento do Direito do Trabalho capaz de oferecer condições de proteção à saúde do trabalhador no local de trabalho, bem como da sua recuperação quando não estiver em condições de prestar serviços ao empregador.

As normas de segurança e medicina do trabalho encontram-se disciplinadas nos arts. 154 a 201 da CLT, bem como em leis esparsas. Segundo Manus (2005, p. 217):

A CLT determina que as empresas devem obedecer às normas por ela editadas, sem prejuízo da observância de legislação estadual e municipal referente a disposições atinentes contidas nos códigos de obra e regulamentos sanitários da localidade em que se encontrem, além de cláusulas inseridas nas convenções coletivas de trabalho que igualmente tratem da matéria.

Para que haja efetividade na segurança da atividade laboral, as empresas devem manter serviços especializados, inclusive, com a existência de profissionais nas áreas de medicina e engenharia do trabalho, também denominado SESMT – Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho (NR 4 da Portaria n. 3.214/78). A CIPA – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes prevista no art. 163 da CLT e na NR 5 da portaria n. 3.214/78, também desempenha papel fundamental nas empresas, ao passo que, observa e relata as condições de risco nos ambientes de trabalho, devendo, sempre que necessário, solicitar as medidas vitais para reduzir ou até mesmo eliminar os riscos existentes. (MARTINS, 2012).

Acerca da importância da CIPA – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes para a segurança do trabalho, Barsano e Barbosa (2014, p. 26) destacam a busca permanente pela compatibilização entre o desempenho do trabalho e a promoção da saúde e, consequentemente, da preservação da vida dos trabalhadores:

Norma Regulamentadora do MTE criada pela Portaria GM no 3.214, de 08 de junho de 1978, e alterada pela Portaria SIT no 247, de 12 de julho de 2011. Pode ser considerada uma das normas mais relevantes para segurança do trabalho, tendo em vista sua finalidade, qual seja a prevenção de acidentes e doenças decorrentes do trabalho, de modo a tornar compatível permanentemente o trabalho com a preservação da vida e a promoção da saúde do trabalhador.

Conforme se extrai da NR 5 da portaria n. 3.214/78, norma regulamentadora a CIPA – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes, no item 5.17 - “cabe ao empregador proporcionar aos membros da CIPA os meios necessários ao desempenho de suas atribuições, garantindo tempo suficiente para a realização das tarefas constantes do plano de trabalho.”. (BRASIL, 1978a).

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Para Mendes (2011, p. 24), “as normas de segurança e medicina do trabalho têm o relevante papel de estabelecer condições que assegurem a saúde e a segurança do trabalhador, prevenindo, protegendo, recuperando e preservando a sua higidez física e mental no âmbito das relações de labor.”.

Em suma, verifica-se a grandeza dessa ferramenta preventiva que é a medicina e segurança do trabalho. Se bem aplicada e observada, equilibra o meio ambiente de trabalho e inibe acidentes de trabalho, por vezes fatais.

2.2.3 Da periculosidade e da insalubridade

No presente tópico, há que se verificar, brevemente, o instituto da periculosidade e analisar, de forma mais detalhada, o da insalubridade, vez que este possui estreita ligação com o objeto do presente estudo.

O conceito de periculosidade encontra-se disposto no artigo 193 da CLT:

São consideradas atividades ou operações perigosas, a forma da regulamentação aprovada pelo Ministério do Trabalho e Emprego, aquelas que, por sua natureza ou métodos de trabalho, impliquem risco acentuado em virtude de exposição permanente do trabalhador a:

I – inflamáveis, explosivos ou energia elétrica;

II – roubos e outras espécies de violência física nas atividades profissionais de segurança pessoal ou patrimonial. (BRASIL, 1943).

O adicional correspondente à periculosidade é mencionado no parágrafo primeiro do art. 193, da CLT, qual seja, de 30% (trinta por cento) sobre o salário sem os acréscimos resultantes de gratificações, prêmios ou participações nos lucros da empresa (BRASIL, 1943). Martins (2012, p. 679, p. 679) traduz de forma inequívoca a diferença entre os adicionais da periculosidade e da insalubridade:

Enquanto na insalubridade temos que, se não for eliminada ou neutralizada, o trabalhador a ela exposto tem continuamente um fator prejudicial a sua saúde, já a periculosidade não importa fator contínuo de exposição do trabalhador, mas apenas um risco, que não age biologicamente contra seu organismo, mas que, na configuração do sinistro, pode ceifar a vida do trabalhador ou mutilá-lo.

No que se refere à insalubridade, prevê o art. 192 da CLT (BRASIL, 1943) que, aquele que exerce trabalho em atividade ou condições insalubres, acima dos limites de tolerância estabelecidos pelo Ministério do Trabalho, terá direito a receber o adicional correspondente. Qual seja, a percepção de adicional respectivamente de 40% (quarenta por cento), 20% (vinte por cento) e 10% (dez por cento) do salário-mínimo da região, segundo se classifiquem nos graus máximo, médio e mínimo. A configuração da insalubridade ocorre

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quando “o agente nocivo agride o trabalhador acima dos limites de tolerância ou de concentrações máximas permissíveis, o que significa que a causa da insalubridade é a ação do agente nocivo acima desses limites [...]”. (SÜSSEKIND et al, 2000, p. 941).

A autora Alice Monteiro de Barros (2016, p. 695) alerta para os riscos enfrentados pelos trabalhadores expostos a substâncias perigosas que, por vezes, ameaçam inclusive, a saúde da população como um todo:

A contaminação do meio ambiente de trabalho por gases, vapores e poeira é um dos problemas mais graves da indústria e não se limita ao âmbito do estabelecimento, constituindo uma ameaça para o perímetro que a circunda, com a contaminação da atmosfera, dos rios e dos mares. Como se vê, a contaminação nos grandes centros industriais põe em risco a saúde da população, em geral.

Em nosso país, adotou-se o sistema de monetarização do risco, com o pagamento de adicional pelo trabalho em condições insalubres ou perigosas. Na insalubridade, o prejuízo é diário à saúde do trabalhador, causando doenças. O ideal é que o empregado não tivesse de trabalhar em condições insalubres, causando-lhe malefícios à saúde. Já para o empregador, por vezes, é melhor pagar o ínfimo adicional de insalubridade do que eliminar o elemento nocivo à saúde do trabalhador (MARTINS, 2012).

No mesmo sentido, Antônio Carlos Vendrame (apud SÜSSEKIND et al, 2000, p. 922) classifica como dúplice a agressão produzida pelo agente insalubre, qual seja, na forma cumulativa e na forma paulatina. “Cumulativa porque na sua grande maioria, os males que acometem os trabalhadores são progressivos e irreversíveis [...]. E paulatinamente, já que exceto em intoxicações agudas, o organismo do trabalhador vai sendo lesado aos poucos como é o caso da silicose.”.

Percebe-se, portanto, que os referidos adicionais, de periculosidade e de insalubridade, visam a compensação dos danos que o trabalho causa à saúde do trabalhador, entretanto, alguns desses danos são irreparáveis, tornando inócuos os respectivos institutos.

2.3 DA PROTEÇÃO E FISCALIZAÇÃO DO MEIO AMBIENTE LABORAL

Conforme visto alhures, os princípios constitucionais do trabalho conferem ampla proteção ao trabalhador, visando impedir os abusos por parte do empregador, inclusive, no que se refere ao meio ambiente laboral. Apesar de não haver limite seguro para a exposição a nenhuma substância cancerígena, as agências internacionais e o Brasil adotaram certos parâmetros de tolerância no ambiente de trabalho. Entretanto, importante frisar que a

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Organização Mundial da Saúde e a Organização Internacional do Trabalho, recomendam a substituição dos compostos cancerígenos na produção industrial.

De acordo com Martins (2012, p. 683) “a palavra fiscalizar corresponde a examinar inspecionar, sindicar, censurar. Em sentido estrito, ou seja, para o Direito do Trabalho, tem o sentido de verificar a observância da norma legal e orientação em sua aplicação.”.

Em nosso país, de acordo com o art. 162 da CLT, o Ministério do Trabalho e Emprego é o órgão responsável por orientar e fiscalizar as condições de trabalho, estabelecendo normas quanto à classificação das empresas segundo o número de empregados e a natureza do risco de suas atividades; ao número mínimo de profissionais especializados exigido de cada empresa, segundo o grupo em que se classifique; a qualificação exigida para os profissionais em questão e o seu regime de trabalho, e ainda, quanto às demais características e atribuições dos serviços especializados em segurança e em medicina do trabalho, nas empresas (BRASIL, 1943).

No que se refere à fiscalização, a CLT incumbe a tarefa às Delegacias Regionais do Trabalho, através de seu art. 156, o qual dispõe:

Art. 156 - Compete especialmente às Delegacias Regionais do Trabalho, nos limites de sua jurisdição:

I - cumprir e fazer cumprir as normas de segurança e medicina do trabalho;

II - instruir os empregados, através de ordens de serviço, quanto às precauções a tomar no sentido de evitar acidentes do trabalho ou doenças ocupacionais;

III - adotar as medidas que lhes sejam determinadas pelo órgão regional competente;

IV - facilitar o exercício da fiscalização pela autoridade competente. (BRASIL,

1943).

Correia (2016, p. 53) traz em sua obra uma divisão muito esclarecedora acerca das competências no âmbito da proteção conferida à saúde do trabalhador:

 Ministério do Trabalho e Emprego – a elaboração de Normas

Regulamentadoras e a fiscalização das condições de segurança e higiene no meio ambiente.

 Ministério da Saúde – coordena o Sistema Único de Saúde, que atende

também o trabalhador acidentado.

 Ministério da Previdência Social – responsável pela concessão dos benefícios

decorrentes da incapacidade laboral e ainda, executor da reabilitação profissional;

 Ministério Público do Trabalho – atua de forma a proteger os direitos

fundamentais do trabalhador, principalmente diante das ilegalidades perpetuadas na esfera laboral.

 Justiça Trabalhista – julga demandas judiciais voltadas à proteção da saúde

do trabalhador, tais como a concessão de adicionais, controle da jornada laboral, fornecimento de EPI’s e EPC’s, etc; a partir da Emenda Constitucional n. 45/2004, tornou-se competente para apreciar lides que envolvem acidentes laborais; possui, ainda, função social e pedagógica no que tange à garantia de segurança e higiene laboral ambiental, principalmente por meio do julgamento das ações coletivas que possuam tal objetivo.

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 Justiça Comum – responsável pelas lides que envolvem acidentes trabalhistas.

Segundo Martins (2012, p. 682) “a fiscalização trabalhista costuma fazer inspeção mesmo antes da entrada em funcionamento do estabelecimento do empregador. Quando existirem modificações substanciais no local de trabalho, inclusive quanto a equipamento, haverá nova fiscalização.”.

Em suma, a proteção e a fiscalização do meio ambiente laboral apresentam-se como instrumentos indispensáveis para o controle da relação trabalhistas, evitando abusos e protegendo a saúde dos trabalhadores.

2.3.1 Ministério do Trabalho e Emprego – competência para editar normas de segurança e sua atuação fiscalizadora

Em seu art. 155, inciso II, a CLT traz como competência do Ministério do Trabalho e Emprego - MTE “coordenar, orientar, controlar e supervisionar a fiscalização e as demais atividades relacionadas com a segurança e a medicina do trabalho em todo o território nacional, inclusive a Campanha Nacional de Prevenção de Acidentes do Trabalho”. (BRASIL, 1943). O mesmo dispositivo legal menciona ainda, em seu art. 162, que incumbe ao MTE expedir normas acerca da obrigatoriedade das empresas em manter serviços especializados em segurança e em medicina do trabalho:

Art. 162 - As empresas, de acordo com normas a serem expedidas pelo Ministério do Trabalho, estarão obrigadas a manter serviços especializados em segurança e em medicina do trabalho:

Parágrafo único - As normas a que se refere este artigo estabelecerão:

a) classificação das empresas segundo o número de empregados e a natureza do

risco de suas atividades;

b) o numero mínimo de profissionais especializados exigido de cada empresa,

segundo o grupo em que se classifique, na forma da alínea anterior;

c) a qualificação exigida para os profissionais em questão e o seu regime de

trabalho;

d) as demais características e atribuições dos serviços especializados em

segurança e em medicina do trabalho, nas empresas. (BRASIL, 1943).

Sua estrutura regimental encontra-se regulamentada pelo Decreto n. 8.894/2016, o qual estabelece em seu art. 1º as seguintes competências:

Art. 1º O Ministério do Trabalho, órgão da administração pública federal direta, tem como área de competência os seguintes assuntos:

I - política e diretrizes para a geração de emprego e renda e de apoio ao trabalhador; II - política e diretrizes para a modernização das relações do trabalho;

III - fiscalização do trabalho, inclusive do trabalho portuário, e aplicação das sanções previstas em normas legais ou coletivas;

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V - formação e desenvolvimento profissional; VI - segurança e saúde no trabalho;

VII - política de imigração; e

VIII - cooperativismo e associativismo urbanos. (BRASIL, 2016a).

O órgão conta com uma área especializada na segurança e saúde no trabalho, a qual visa a proteger e prevenir riscos e danos à vida e à saúde dos trabalhadores, através de políticas públicas e ações de fiscalização. O Departamento de Segurança e Saúde (DSST) tem como objetivo planejar e coordenar as ações de fiscalização dos ambientes e condições de trabalho, prevenindo acidentes e doenças do trabalho, através da atuação dos auditores fiscais do trabalho. (BRASIL, 2015a).

A atividade de fiscalização é desempenhada por funcionários públicos do Ministério do Trabalho e Emprego, os quais devem autuar a empresa quando verificarem a inobservância da lei por parte desta. O fiscal conta com o livre acesso às dependências da empresa que estiver sendo fiscalizada, podendo ainda, receber denúncias de irregularidades de representantes legais de entidades sindicais. (MARTINS, 2012).

Em suma, percebe-se, que de fato o MTE é o principal órgão fiscalizador da atividade laboral, competindo-lhe, ainda, a criação de normas de segurança a fim de garantir um meio ambiente de trabalho saudável nas empresas.

2.3.2 A obrigatoriedade do uso do EPI – Equipamento de Proteção Individual

Conforme dispõe o artigo 166 da CLT, a empresa é obrigada a fornecer aos empregados, gratuitamente, equipamento de proteção individual adequado ao risco e em perfeito estado de conservação e funcionamento, sempre que as medidas de ordem geral não ofereçam completa proteção contra os riscos de acidentes e danos à saúde dos empregados. É o que explica Nagalli(2014, p. 82):

A engenharia de segurança do trabalho cada vez mais é reconhecida como uma questão importante no canteiro de obras. Assim, a exemplo da questão ambiental, a segurança do trabalho revela um caráter transversal ao atingir todos os segmentos hierárquicos e atividades da organização. Em algumas funções, de maior risco ocupacional, a engenharia de segurança do trabalho utiliza equipamentos de proteção, individuais ou coletivos, de modo a minimizar os riscos ao trabalhador.

Na concepção de Rojas (2015, p. 60), entende-se por Equipamento de proteção individual – EPI “todo dispositivo ou produto, de uso individual do trabalhador, destinado à proteção contra riscos capazes de ameaçar a sua segurança e a sua saúde.”, observa ainda, que os mesmos devem ser adequados ao tipo de atividade ou risco existente, bem como à parte do corpo a ser protegida.

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A norma regulamentadora do EPI é a NR 6 a qual descreve sua definição, exigência para comercialização e a obrigatoriedade de fornecimento pelas empresas:

6.1 Para os fins de aplicação desta Norma Regulamentadora - NR, considera-se Equipamento de Proteção Individual - EPI, todo dispositivo ou produto, de uso individual utilizado pelo trabalhador, destinado à proteção de riscos suscetíveis de ameaçar a segurança e a saúde no trabalho.

6.1.1 Entende-se como Equipamento Conjugado de Proteção Individual, todo aquele composto por vários dispositivos, que o fabricante tenha associado contra um ou mais riscos que possam ocorrer simultaneamente e que sejam suscetíveis de ameaçar a segurança e a saúde no trabalho.

6.2 O equipamento de proteção individual, de fabricação nacional ou importado, só poderá ser posto à venda ou utilizado com a indicação do Certificado de Aprovação - CA, expedido pelo órgão nacional competente em matéria de segurança e saúde no trabalho do Ministério do Trabalho e Emprego.

6.3 A empresa é obrigada a fornecer aos empregados, gratuitamente, EPI adequado ao risco, em perfeito estado de conservação e funcionamento, nas seguintes circunstâncias:

a) sempre que as medidas de ordem geral não ofereçam completa proteção contra os riscos de acidentes do trabalho ou de doenças profissionais e do trabalho;

b) enquanto as medidas de proteção coletiva estiverem sendo implantadas; e,

c) para atender a situações de emergência. (BRASIL, 1978b).

Do exposto, observa-se que o EPI constitui elemento indispensável para a prevenção de riscos suscetíveis de ameaçar a segurança e a saúde no trabalho, em especial, no desempenho de atividades insalubres. Entretanto, em algumas atividades o contato com compostos altamente cancerígenos põe em xeque a eficiência do equipamento.

Sobre o tema, a Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados através da pesquisa realizada no Dossiê Amianto Brasil em 2010 (BRASIL, 2010a), constatou a chamada “tese do uso controlado” defendida pelas industrias onde há produção envolvendo compostos cancerígenos, mas muito criticada e questionada por trabalhadores, ex-empregados, técnicos, cientistas, médicos e outros profissionais. Uma vez que, mesmo diante de adaptações de segurança no ambiente de trabalho, incluindo equipamentos de proteção individual sofisticados, os casos de doenças relacionadas ao amianto crisotila continuam.

Segundo o Dossiê, “o discurso pelo uso controlado do amianto tem como principal objetivo manter o produto no mercado, a despeito dele ser letal ao ser humano.”. Ainda sobre o assunto, importante frisar uma passagem do Dossiê que descreve sobremaneira a nova roupagem que a indústria tenta passar com a “tese do uso controlado”:

O amianto não é novidade no mundo. Seus males são conhecidos há mais de um século. Mas aqui – no discurso – ele é “rejuvenescido”, e graças a tecnologia. O antigo amianto enquanto símbolo de ‘produto danoso à saúde e ao meio ambiente” foi mascarado e é apresentado como “outra coisa” – algo moderno, que não causa

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danos à saúde, está sob controle, gera empregos e tem uma grande contribuição social. No processo de transformação, a antiga expressão símbolo, “amianto”, foi substituída por algo novo, “crisotila”. No discurso, “amianto” e crisotila” são elementos distintos; é o passado sendo substituído pelo presente. O que temos aqui é a tentativa de se impor uma nova cultura sobre o tema. (BRASIL, 2010a, p. 155).

Conforme visto alhures, locais de trabalho caracterizados pela insalubridade requerem o fornecimento, por parte do empregador, de condições mínimas para o desempenho da atividade laboral. É o que se observa quanto ao uso de EPI, o qual deve ser condizente com a exposição do trabalhador a agentes nocivos e devidamente utilizado, para que possa alcançar algum grau de eficácia. Sobre o tema, a Súmula n. 289 do TST aponta que mesmo com o fornecimento do EPI, o empregador deve sempre buscar a diminuição ou, preferencialmente, a eliminação da nocividade:

O simples fornecimento do aparelho de proteção pelo empregador não o exime do pagamento do adicional de insalubridade. Cabe-lhe tomar as medidas que conduzam à diminuição ou eliminação da nocividade, entre as quais as relativas ao uso efetivo do equipamento pelo empregado. (BRASIL, 2003).

Másculo e Mattos (2011) observam que o EPI, por si só, não previne acidentes, mas quando bem utilizado, pode ser capaz de evitar lesões ou atenuar sua gravidade, protegendo o organismo do trabalhador contra a agressividade de substâncias tóxicas e alergênicas, dentre outras.

Ainda nesta celeuma, há que se ponderar o uso dos Equipamentos de Proteção Coletiva, igualmente essenciais para o desempenho laborativo, os quais constituem-se, segundo Rojas (2015, p. 59), de:

[..] equipamentos utilizados para proteção da segurança enquanto um grupo de pessoas realiza determinada tarefa ou atividade. Eles podem ser de proteção de um coletivo (geralmente estão instalados nos locais, como guarda-copos, corrimãos, grades, etc.), ou são EPIs de uso coletivo (não exclusivo do funcionário), pois são usados por quem tiver necessidade no momento da execução da atividade, como máscaras de solda ou cinto de segurança, adotados por todos os trabalhadores quando expostos a determinados riscos.

Atualmente, observa-se que, apesar da obrigatoriedade no fornecimento de aparelhos de proteção adequados durante o manuseio de substâncias industriais nocivas, quando se trata de compostos cancerígenos, muito tem se questionado a respeito da plena eficácia na proteção da saúde do trabalhador.

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3 A RESPONSABILIDADE DO EMPREGADOR PELA SEGURANÇA DO TRABALHO

A constante busca por aumento da produção, acarreta a utilização de maquinário e de substâncias dos mais diversos graus de toxidade, impactando, diretamente, no desempenho das atividades laborais. Recaindo sobre o empregador, a incumbência de manter os níveis de segurança do trabalho adequados.

A responsabilidade do empregador, conforme será abordado no presente capítulo, compreende a preservação da saúde e da vida do trabalhador. Neste contexto, a autora traz o conceito de responsabilidade civil e contextualização do tema na atualidade. Ainda neste diapasão, traz os pressupostos e espécies de responsabilidade. No segundo tópico, identifica a responsabilidade civil do empregador em caso de acidente de trabalho, trazendo os entendimentos doutrinários acerca da responsabilidade subjetiva e objetiva do empregador em caso de acidente de trabalho. Contemplando, ainda, o conceito de acidente de trabalho, bem como o dever de fiscalizar do empregador.

3.1 RESPONSABILIDADE CIVIL

Em uma sociedade que, a cada dia, amplifica suas relações e a interdependência das pessoas, tem-se como consequência, um acréscimo proporcional da possibilidade de ocorrência de danos. As normas que tratam da responsabilidade civil, e que são encontradas ao longo do Código Civil, tem no seu conteúdo as obrigações decorrentes da conduta da pessoa. Pode-se dizer, sem temor, que em cada ramo do direito está inerente considerável parcela tratando da responsabilidade, contextualiza Rizzardo (2013).

A responsabilidade civil numa interpretação ampla, deriva da agressão a um interesse eminentemente particular, sujeitando o infrator ao pagamento de uma compensação pecuniária à vítima, caso não possa repor in natura o estado anterior de coisas. (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2012).

Maria Helena Diniz (2007, p. 36) corrobora o conceito apresentado ao afirmar que a responsabilidade civil decorre da "aplicação de medidas que obriguem uma pessoa a reparar dano moral ou patrimonial causado a terceiros, em razão de ato por ela mesma praticado, por pessoa por quem ela responde, por alguma coisa a ela pertencente ou de simples imposição legal.".

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No mesmo diapasão, Carlos Alberto Gonçalves (2009, p. 13) defende que a responsabilidade civil “decorre de uma conduta voluntária violadora de um dever jurídico, isto é, da prática de um ato jurídico, que pode ser lícito ou ilícito.”.

Neste contexto, comete ato ilícito, segundo o Código Civil de 2002, em seu art. 186, “aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral.”. E ainda, no art. 187 “também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.”. (BRASIL, 2002).

Em poucas palavras, a responsabilidade civil pressupõe o restabelecimento do equilíbrio entre dois patrimônios. (VENOSA, 2012)

Para que se tenha uma compreensão pormenorizada da responsabilidade civil, há que se averiguar ainda, os pressupostos que a compõem.

3.1.1 Pressupostos da responsabilidade civil

A caracterização do dever de indenizar demanda a análise dos elementos essenciais que culminem na responsabilização cível. Atualmente, a Responsabilidade Civil tem como sustentáculo os pressupostos da conduta do agente: ação ou omissão, o nexo causal, o dano causado, bem como da aferição da culpa quando couber.

Inicialmente, cabe mencionar o entendimento doutrinário acerca do pressuposto da conduta do agente pela ação ou omissão.

Nas palavras de Sílvio Rodrigues (2003) a indenização pode derivar de uma ação ou omissão individual do agente. Ou seja, quando este, ao agir ou se omitir, acabar por infringir um dever contratual, legal ou social. A responsabilidade resulta de fato próprio, comissivo, ou de uma abstenção do agente, que deixa de tomar uma atitude que devia tomar.

Para que se configure a responsabilidade por omissão é necessário que exista o dever jurídico de praticar determinado fato (de não se omitir) e que se demonstre que, com a sua prática, o dano poderia ter sido evitado. O dever jurídico de agir (de não se omitir) pode ser imposto por lei ou resultar de convenção e até́ da criação de alguma situação especial de perigo. (GONÇALVES, 2017).

Em regra, o dever de indenizar encontra guarida na observação e detecção de todos os pressupostos que compõem a responsabilidade civil, o nexo causal representa a conexão entre a ação ou omissão do agente e o dano causado.

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Acerca do tema, Sílvio de Salvo Venosa (2012, p. 53) leciona que através do nexo causal é que se pode definir quem é o causador do dano:

O conceito de nexo causal, nexo etimológico ou relação de causalidade deriva das leis naturais. É o liame que une a conduta do agente ao dano. É por meio do exame da relação causal que se conclui quem foi o causador do dano. Trata-se de elemento indispensável. A reponsabilidade objetiva dispensa culpa, mas nunca dispensará o nexo causal. Se a vítima, que experimentou um dano, não identificar o nexo causal que leva o ato danoso ao responsável, não há como ser ressarcido. Nem sempre é fácil, no caso concreto, estabelecer a relação de causa e efeito.

Nas palavras de Melo (2018, p. 203) “o nexo causal é um elemento vital para o bom entendimento da responsabilidade subjetiva e objetiva, pois, para se responsabilizar alguém, importa que se estabeleça um elo, uma ponte, uma ligação entre este e o fato jurídico que o ensejou.”.

Ao abordar-se o pressuposto do dano, observa-se que “a existência de dano é condição essencial para a responsabilidade civil, pois se quem pleiteia a responsabilização nenhum dano sofrera, não terá direito a nenhuma indenização (COELHO, 2009).

Nos dizeres de Maria Helena Diniz (2008, p. 62), “o dano pode ser definido como a lesão (diminuição ou destruição) que, devido a um certo evento, sofre uma pessoa, contra sua vontade, em qualquer bem ou interesse jurídico, patrimonial ou moral’.

Gonçalves (2009, p. 36) alerta que “sem a prova do dano, ninguém pode ser responsabilizado civilmente.” e ainda, que “a inexistência de dano é óbice à pretensão de uma reparação, aliás, sem objeto.”.

Cabe aqui salientar que a simples ocorrência de ato ilícito, por si só, não incorre na obrigação de indenizar, devendo, de fato, acarretar dano a outrem.

A culpa sempre foi uma categoria jurídica amplamente investigada pelos estudiosos do Direito, tanto no Brasil quanto no Direito Comparado. E, ao analisar-se conceitos clássicos sobre o tema, pode-se afirmar que a culpa deve ser entendida em sentido amplo e em sentido estrito, no primeiro, a culpa engloba o dolo – a intenção de prejudicar outrem, a ação ou omissão voluntária -, e o segundo, a culpa estrita, que vem a ser o desrespeito a um dever preexistente ou a violação de um direito subjetivo alheio, pela fuga de um padrão geral de conduta, leciona Tartuce (2011).

Para Clóvis Beviláqua (apud Tartuce, 2011, p. 64) “a culpa é negligência ou imprudência do agente, que determina a violação do direito alheio ou causa prejuízo a outrem.”.

Venosa (2012) menciona que, apesar de a doutrina concordar que não é fácil estabelecer um conceito de culpa, é muito fácil compreende-la nas relações sociais e no caso

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concreto. Segundo o autor, a culpa civil em sentido amplo abrange não somente o ato ou a conduta intencional, o dolo, mas também os atos ou condutas eivadas de negligência, imprudência ou imperícia, qual seja, a culpa em sentido estrito.

Além dos pressupostos componentes da responsabilidade civil, há que se observar as espécies em que pode ser classificada, qual sejam: a subjetiva e a objetiva.

3.1.2 Espécies de responsabilidade civil: subjetiva e objetiva

Partindo-se de uma análise acerca do ordenamento jurídico brasileiro, havendo por sustentáculo o atual Código Civil, tem-se que a responsabilidade civil subjetiva é a regra geral.

Maria Helena Diniz (2009, p. 32, grifo da autora) revela que apesar do Código Civil brasileiro regular “um grande número de casos especiais de responsabilidade objetiva, filiou-se como regra à teoria “subjetiva”.”. É o que se pode verificar no art. 186, que erigiu o dolo e a culpa como fundamentos para a obrigação de reparar o dano.”.

No mesmo sentido, Coelho (2009, p. 255) descreve que “a responsabilidade subjetiva ocorre quando o sujeito passivo da obrigação pratica ato ilícito e esta é a razão de sua responsabilização.”.

Nesta espécie de responsabilização, o pressuposto da culpa é elemento essencial, conforme se infere:

A Responsabilidade Civil subjetiva, também chamada de teoria da culpa, infere a culpa como um fundamento da Responsabilidade Civil, em conjunto com o dano e o nexo causal, logo, a prova da culpa é um pressuposto necessário do dano indenizável. O sujeito A Responsabilidade Civil subjetiva, também chamada de teoria da culpa, infere a culpa como um fundamento da Responsabilidade Civil, em conjunto com o dano e o nexo causal, logo, a prova da culpa é um pressuposto necessário do dano indenizável. (GONÇALVES, 2016, p. 431, grifo nosso).

No que tange à imputabilidade na responsabilidade civil subjetiva, Rizzardo (2013, p. 25) leciona que “só é imputável, a título de culpa, aquele que praticou o fato culposo possível de ser evitado. Não há responsabilidade quando o agente não pretendeu e nem podia prever, tendo agido com a necessária cautela.”.

Ao partirmos do entendimento de que o atual Código Civil tem como regra geral, na aplicação da responsabilidade civil, a teoria subjetiva de responsabilidade, há que se buscar pressupostos sólidos para a aplicação específica da teoria objetiva de responsabilidade. Teoria esta, que "ganhou posição de destaque no novo Código Civil, refletindo a nova face da sociedade contemporânea, em que o risco, especialmente decorrente do avanço tecnológico,

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