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Em uma sociedade que, a cada dia, amplifica suas relações e a interdependência das pessoas, tem-se como consequência, um acréscimo proporcional da possibilidade de ocorrência de danos. As normas que tratam da responsabilidade civil, e que são encontradas ao longo do Código Civil, tem no seu conteúdo as obrigações decorrentes da conduta da pessoa. Pode-se dizer, sem temor, que em cada ramo do direito está inerente considerável parcela tratando da responsabilidade, contextualiza Rizzardo (2013).

A responsabilidade civil numa interpretação ampla, deriva da agressão a um interesse eminentemente particular, sujeitando o infrator ao pagamento de uma compensação pecuniária à vítima, caso não possa repor in natura o estado anterior de coisas. (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2012).

Maria Helena Diniz (2007, p. 36) corrobora o conceito apresentado ao afirmar que a responsabilidade civil decorre da "aplicação de medidas que obriguem uma pessoa a reparar dano moral ou patrimonial causado a terceiros, em razão de ato por ela mesma praticado, por pessoa por quem ela responde, por alguma coisa a ela pertencente ou de simples imposição legal.".

No mesmo diapasão, Carlos Alberto Gonçalves (2009, p. 13) defende que a responsabilidade civil “decorre de uma conduta voluntária violadora de um dever jurídico, isto é, da prática de um ato jurídico, que pode ser lícito ou ilícito.”.

Neste contexto, comete ato ilícito, segundo o Código Civil de 2002, em seu art. 186, “aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral.”. E ainda, no art. 187 “também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.”. (BRASIL, 2002).

Em poucas palavras, a responsabilidade civil pressupõe o restabelecimento do equilíbrio entre dois patrimônios. (VENOSA, 2012)

Para que se tenha uma compreensão pormenorizada da responsabilidade civil, há que se averiguar ainda, os pressupostos que a compõem.

3.1.1 Pressupostos da responsabilidade civil

A caracterização do dever de indenizar demanda a análise dos elementos essenciais que culminem na responsabilização cível. Atualmente, a Responsabilidade Civil tem como sustentáculo os pressupostos da conduta do agente: ação ou omissão, o nexo causal, o dano causado, bem como da aferição da culpa quando couber.

Inicialmente, cabe mencionar o entendimento doutrinário acerca do pressuposto da conduta do agente pela ação ou omissão.

Nas palavras de Sílvio Rodrigues (2003) a indenização pode derivar de uma ação ou omissão individual do agente. Ou seja, quando este, ao agir ou se omitir, acabar por infringir um dever contratual, legal ou social. A responsabilidade resulta de fato próprio, comissivo, ou de uma abstenção do agente, que deixa de tomar uma atitude que devia tomar.

Para que se configure a responsabilidade por omissão é necessário que exista o dever jurídico de praticar determinado fato (de não se omitir) e que se demonstre que, com a sua prática, o dano poderia ter sido evitado. O dever jurídico de agir (de não se omitir) pode ser imposto por lei ou resultar de convenção e até́ da criação de alguma situação especial de perigo. (GONÇALVES, 2017).

Em regra, o dever de indenizar encontra guarida na observação e detecção de todos os pressupostos que compõem a responsabilidade civil, o nexo causal representa a conexão entre a ação ou omissão do agente e o dano causado.

Acerca do tema, Sílvio de Salvo Venosa (2012, p. 53) leciona que através do nexo causal é que se pode definir quem é o causador do dano:

O conceito de nexo causal, nexo etimológico ou relação de causalidade deriva das leis naturais. É o liame que une a conduta do agente ao dano. É por meio do exame da relação causal que se conclui quem foi o causador do dano. Trata-se de elemento indispensável. A reponsabilidade objetiva dispensa culpa, mas nunca dispensará o nexo causal. Se a vítima, que experimentou um dano, não identificar o nexo causal que leva o ato danoso ao responsável, não há como ser ressarcido. Nem sempre é fácil, no caso concreto, estabelecer a relação de causa e efeito.

Nas palavras de Melo (2018, p. 203) “o nexo causal é um elemento vital para o bom entendimento da responsabilidade subjetiva e objetiva, pois, para se responsabilizar alguém, importa que se estabeleça um elo, uma ponte, uma ligação entre este e o fato jurídico que o ensejou.”.

Ao abordar-se o pressuposto do dano, observa-se que “a existência de dano é condição essencial para a responsabilidade civil, pois se quem pleiteia a responsabilização nenhum dano sofrera, não terá direito a nenhuma indenização (COELHO, 2009).

Nos dizeres de Maria Helena Diniz (2008, p. 62), “o dano pode ser definido como a lesão (diminuição ou destruição) que, devido a um certo evento, sofre uma pessoa, contra sua vontade, em qualquer bem ou interesse jurídico, patrimonial ou moral’.

Gonçalves (2009, p. 36) alerta que “sem a prova do dano, ninguém pode ser responsabilizado civilmente.” e ainda, que “a inexistência de dano é óbice à pretensão de uma reparação, aliás, sem objeto.”.

Cabe aqui salientar que a simples ocorrência de ato ilícito, por si só, não incorre na obrigação de indenizar, devendo, de fato, acarretar dano a outrem.

A culpa sempre foi uma categoria jurídica amplamente investigada pelos estudiosos do Direito, tanto no Brasil quanto no Direito Comparado. E, ao analisar-se conceitos clássicos sobre o tema, pode-se afirmar que a culpa deve ser entendida em sentido amplo e em sentido estrito, no primeiro, a culpa engloba o dolo – a intenção de prejudicar outrem, a ação ou omissão voluntária -, e o segundo, a culpa estrita, que vem a ser o desrespeito a um dever preexistente ou a violação de um direito subjetivo alheio, pela fuga de um padrão geral de conduta, leciona Tartuce (2011).

Para Clóvis Beviláqua (apud Tartuce, 2011, p. 64) “a culpa é negligência ou imprudência do agente, que determina a violação do direito alheio ou causa prejuízo a outrem.”.

Venosa (2012) menciona que, apesar de a doutrina concordar que não é fácil estabelecer um conceito de culpa, é muito fácil compreende-la nas relações sociais e no caso

concreto. Segundo o autor, a culpa civil em sentido amplo abrange não somente o ato ou a conduta intencional, o dolo, mas também os atos ou condutas eivadas de negligência, imprudência ou imperícia, qual seja, a culpa em sentido estrito.

Além dos pressupostos componentes da responsabilidade civil, há que se observar as espécies em que pode ser classificada, qual sejam: a subjetiva e a objetiva.

3.1.2 Espécies de responsabilidade civil: subjetiva e objetiva

Partindo-se de uma análise acerca do ordenamento jurídico brasileiro, havendo por sustentáculo o atual Código Civil, tem-se que a responsabilidade civil subjetiva é a regra geral.

Maria Helena Diniz (2009, p. 32, grifo da autora) revela que apesar do Código Civil brasileiro regular “um grande número de casos especiais de responsabilidade objetiva, filiou-se como regra à teoria “subjetiva”.”. É o que se pode verificar no art. 186, que erigiu o dolo e a culpa como fundamentos para a obrigação de reparar o dano.”.

No mesmo sentido, Coelho (2009, p. 255) descreve que “a responsabilidade subjetiva ocorre quando o sujeito passivo da obrigação pratica ato ilícito e esta é a razão de sua responsabilização.”.

Nesta espécie de responsabilização, o pressuposto da culpa é elemento essencial, conforme se infere:

A Responsabilidade Civil subjetiva, também chamada de teoria da culpa, infere a culpa como um fundamento da Responsabilidade Civil, em conjunto com o dano e o nexo causal, logo, a prova da culpa é um pressuposto necessário do dano indenizável. O sujeito A Responsabilidade Civil subjetiva, também chamada de teoria da culpa, infere a culpa como um fundamento da Responsabilidade Civil, em conjunto com o dano e o nexo causal, logo, a prova da culpa é um pressuposto necessário do dano indenizável. (GONÇALVES, 2016, p. 431, grifo nosso).

No que tange à imputabilidade na responsabilidade civil subjetiva, Rizzardo (2013, p. 25) leciona que “só é imputável, a título de culpa, aquele que praticou o fato culposo possível de ser evitado. Não há responsabilidade quando o agente não pretendeu e nem podia prever, tendo agido com a necessária cautela.”.

Ao partirmos do entendimento de que o atual Código Civil tem como regra geral, na aplicação da responsabilidade civil, a teoria subjetiva de responsabilidade, há que se buscar pressupostos sólidos para a aplicação específica da teoria objetiva de responsabilidade. Teoria esta, que "ganhou posição de destaque no novo Código Civil, refletindo a nova face da sociedade contemporânea, em que o risco, especialmente decorrente do avanço tecnológico,

impôs uma mudança dos antigos paradigmas da lei anterior". (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2012).

Concernente à responsabilidade civil objetiva, “leva-se em conta o dano, em detrimento do dolo ou da culpa. Desse modo, para o dever de indenizar, bastam o dano e o nexo causal, prescindindo-se da prova da culpa.”. (VENOSA, 2018, p. 462).

Como regra especial, a responsabilidade civil será objetiva nos casos expressamente previstos em lei ou se o sujeito passivo ocupa posição econômica que lhe permite socializar os custos de sua atividade. (COELHO, 2009).

De acordo com o art. 927, parágrafo único, do CC/2002, os casos de responsabilidade objetiva são tratados como excepcionais, "haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem" (BRASIL, 2002). Apesar de serem tratados como excepcionais, o referido artigo em momento algum delimita quais são as atividades de risco, tampouco fornece qualquer parâmetro pata tal.

Acerca do parágrafo único do art. 927 do CC/2002, Carlos Roberto Gonçalves (2009, p. 34, grifo nosso) destaca que:

A inovação constante do parágrafo único do art. 927 do Código Civil é significativa e representa, sem dúvida, um avanço, entre nós, em matéria de responsabilidade civil. Pois a admissão da responsabilidade sem culpa pelo exercício de atividade que, por sua natureza, representa risco para os direitos de outrem, de forma genérica como consta do texto, possibilitará ao Judiciário uma ampliação dos casos de dano indenizável.

No que tange à análise doutrinária, Washington de Barros Monteiro (2012, p. 587, grifos do autor) ensina que a responsabilidade objetiva fora desenvolvida tem em vista o conjunto de várias teorias:

[...] o risco integral, em que qualquer fato deve obrigar o agente a reparar o dano, bastando a existência de dano ligado a um fato para que surja o direito à indenização; o risco proveito, baseado na ideia de que quem tira proveito ou vantagem de uma atividade e causa dano a outrem tem o devem de repará-lo – ubi emolumentum, ibi ônus; a teoria dos atos normais e anormais, medidos pelo padrão médio da sociedade. No entanto, a teoria que melhor aplica a responsabilidade objetiva é a do risco criado, pela qual o dever de reparar o dano surge da atividade normalmente exercida pelo agente que cria risco a direitos ou interesses alheios. Nessa teoria não se cogita de proveito ou vantagem para aquele que exerce a atividade, mas da atividade em si mesma, que é potencialmente geradora de risco a terceiros.

No entendimento de Tartuce (2011, p. 75), “[...] é forte a tendência de objetivação, mesmo na jurisprudência. A manutenção da culpa presumida no sistema não

parece ser o melhor caminho, pois, além de desprezar todos os argumentos técnicos esposados, ignora a evolução histórica e social da culpa presumida1 para a responsabilidade

objetiva”. Ainda na visão do autor, “[...] a tendência, no futuro, é a de que a culpa passe a ser mera figurante e de que a responsabilidade objetiva seja considerada regra.”. (TARTUCE, 2011, p. 78).

Percebe-se, portanto, que a responsabilidade subjetiva é tida como regra em nosso ordenamento jurídico, onde a configuração da culpa é pressuposto indispensável. Ao passo que a responsabilidade objetiva, ainda ocupa patamar de exceção. No que se refere a esta, cabe aqui registrar que é crescente a sua adoção no entendimento doutrinária e, até mesmo, jurisprudencial, tomando-se como exemplo os danos ambientais e a responsabilidade civil do empregador.

3.2 A RESPONSABILIDADE CIVIL DO EMPREGADOR EM CASO DE ACIDENTE

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