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da superioridade racial

No documento Da Descolonização ao Pós-colonialismo: (páginas 39-42)

Alexandre Paulo Loro

1

Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS)

alexandre.loro@uffs.edu.br

Eugenia Portela de Siqueira Marques

2

Universidade Federal da Grande Dourado (UFGD)

eumar13@terra.com.br

Resumo

Objetivamos com esse trabalho analisar as interfaces entre Educação Física e relações étnico-raciais no espaço escolar, no contexto das perspectivas e de- safios encontrados para a inclusão da temática História e Cultura Afro-Brasileira bem como, as possibilidades de desconstrução do preconceito e da discriminação racial. A publicação da Lei n. 10.639/2003 tornou obrigatória a efetivação de prá- ticas pedagógicas voltadas ao reconhecimento e respeito à diversidade, à dife- rença étnico-racial e à superação da discriminação racial — que tem resultado na reorganização do trabalho docente, que visa uma pedagogia crítica, intercultural e decolonial. Os estudos da área indicam que o trabalho docente, na perspectiva da educação para a diversidade étnico-racial, ainda é um desafio posto, pois a ideologia etnocêntrica está presente na escola e a colonialidade epistêmica ignora, oculta e inferioriza as diferenças.

Palavras-chave: Educação Física Escolar; Preconceito racial; Cultura Afro-Brasi- leira; Decolonial.

1 Doutor em Educação Física pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Docente da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), Campus de Chapecó — SC. Membro do Grupo de Estudos do Lazer (GEL/UEM) e Grupo de Pesquisa em Gestão e Inovação Educacional (GPEGIE/UFFS). Contato: alexandre.loro@uffs.edu.br 2 Doutora em Educação pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR). Docente da Faculdade de Educação da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD). Chefe do Núcleo de estudos Afro-Brasileiros NEAB- UFGD. Líder do GEPRAFE. Contato: eumar13@terra.com.br

Introdução

O Brasil é uma das maiores sociedades multirraciais do mundo e abriga um contingente significativo de descendentes de africanos dispersos na diáspora. De acordo com o Censo 2000, o país contava naquele período com um total de 170 milhões de habitantes. Desses, 91 milhões de brasileiros(as) se autoclassificavam como brancos (53,7%); 10 milhões, como pretos (6,2%); 65 milhões, como pardos (38,4%); 761 mil, como amarelos (0,4%); e 734 mil, como indígenas (0,4%) (Gomes, 2012). Passados dez anos, o Censo 2010 indica o total de 190.732.694 habitantes. Ou seja, em comparação com o Censo 2000, ocorreu um aumento de 20.933.524 habi- tantes (12,3%). Embora a população que se autodeclara branca ainda seja maioria no Brasil, o número de pessoas que se classificam como pardas ou pretas cresceu, enquanto o número de brancos caiu (IBGE, 2010). Do ponto de vista étnico-racial, 50,7% da população brasileira possui ascendência negra e africana, que se expressa na cultura, na corporeidade e na construção da sua identidade (IBGE, 2010).

Essa distribuição demográfica e étnico-racial é passível de diferentes interpre- tações econômicas, políticas e sociológicas. Uma delas é realizada pelo Movimen- to Negro e por um grupo de intelectuais que se dedica ao estudo das relações raciais no país. Esses, ao analisarem a situação do negro brasileiro, agregam as categorias raciais “preto” e “pardo” entendendo-as como expressão do conjunto da população negra no Brasil. Essa inversão nos números faz parte de uma mu- dança cultural que vem sendo observada desde o Censo de 1991. Muitos que se autodeclaravam brancos agora se dizem pardos, e muitos que se classificavam como pardos agora se dizem pretos — resultado do processo de valorização e au- mento da autoestima dessas populações. Todavia, essas mudanças não alteraram significativamente as desigualdades presentes na sociedade, perpetuadas desde a abolição da escravidão negra. Elas permanecem até os dias atuais nos quesitos: renda, saúde, emprego, moradia e educação.

A colonialidade é um dos elementos constitutivos e específicos do padrão mundial do poder capitalista e se funda na imposição de uma classificação racial/ étnica da população mundial como pedra angular deste padrão de poder. A resis- tência contra a colonialidade perdura desde a luta pelo fim da escravidão até aos

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Da descolonização ao pós-colonialismo: perspetivas pluridisciplinares

dias atuais com a trajetória de revigoramento e de expansão dos movimentos so- ciais negros brasileiros que, historicamente, reivindicaram o direito de igualdade à educação formal, além de denunciarem o racismo, a discriminação, o preconceito e o mito da democracia racial (Quijano, 2007).

A luta dos Movimentos Sociais Negros por educação formal e a reivindicação de políticas educacionais, que reconhecessem as desigualdades raciais presentes na sociedade brasileira, sempre foram pontos primordiais defendidos na história desses movimentos. Apesar de identificarmos avanços significativos para a popu- lação negra, especialmente garantida por meio de legislações, iniciados no octênio do governo do ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso e, poste- riormente, fortalecidos nos mandatos de Luiz Inácio Lula da Silva, a desigualdade entre negros e brancos ainda permanece e a ideologia etnocêntrica e hegemônica ainda predomina nos ditames da educação formal.

A Lei n. 10.639/2003 (Brasil, 2003), que estabelece a obrigatoriedade do ensino da História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, foi uma das primeiras leis sancio- nadas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em seu primeiro mandato. O artigo 1.º da Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar acrescida dos se- guintes artigos: 26-A e 79-B, que dispõem:

Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira.

§ 1.º — O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o estudo da História da África e dos Afri- canos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política, pertinentes à História do Brasil.

§ 2° — Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro- -Brasileira serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de Li- teratura e História Brasileira.

Art. 79-B. O calendário escolar incluirá o dia 20 de novembro como ‘Dia Nacional da Consciência Negra’.

A Lei n. 10.639/2003 é fruto do Projeto de Lei n. 259/99, proposto na Câmara dos Deputados pelo então Deputado Federal Eurídio Benhur Ferreira (PT/MS), ativista do Movimento Negro de Campo Grande (Grupo TEZ Trabalho — Estudos Zumbi) e, pela Deputada Federal Ester Grossi (PT/RS). Com a aprovação daquela Casa de Lei, foi enviado ao Senado da República no dia 05 de abril de 2003 e, pos- teriormente, no dia 09 de maio de 2003, sancionado. A referida lei representou

um avanço significativo no campo do currículo3 e, consequentemente, ao tra-

balho docente, à medida que disciplina a educação das relações étnico-raciais, no entendimento de que é imprescindível os docentes refletirem a partir das práticas escolares sobre o etnocentrismo e enfrentem o racismo, o preconceito e a discriminação racial.

Para melhor exposição, organizamos este artigo em três momentos. No pri- meiro, abordaremos aspectos sobre a formação do professor; no segundo, anali- saremos a presença do preconceito e discriminação racial na escola; e seguiremos com as contribuições da Lei n. 10.639/2003 para a prática antirracista dos profes- sores do Componente Curricular de Educação Física.

Aspectos a serem considerados

No documento Da Descolonização ao Pós-colonialismo: (páginas 39-42)