• Nenhum resultado encontrado

O mundo não é plano e as RI não são internacionais?

No documento Da Descolonização ao Pós-colonialismo: (páginas 72-77)

Importa frisar que a citação anterior, dedicada à teoria pós-colonial, advém de um capítulo dedicado a abordagens “alternativas” de RI e que não parece, de todo, representar o estado de arte teórico da disciplina de Relações Internacionais em Portugal. É impossível, neste momento do trabalho, concluir sobre as gran- des tendências das Relações Internacionais nas universidades portuguesas, mas espera-se que este artigo possibilite um melhor entendimento da (re)produção de conhecimento e da formação de um “senso comum” sobre temáticas históri- co-sociais relevantes para um melhor entendimento do século XXI, como o (neo) colonialismo, o (neo)imperialismo e o binómio riqueza/pobreza.

Reconhece-se, sem dúvida, as limitações do presente trabalho. Já se aludiu a temas que seriam impossíveis de explorar, como o retrato da escravatura, do papel do FMI e do Banco Mundial ou a discussão sobre o neocolonialismo nos manuais consultados; de modo mais geral, igualmente, a origem e perspectivas dos autores consultados; o porquê das escolhas dos docentes de determinados autores e como elas são apreendidas pelos estudantes; que papel é reservado a autores e perspectivas não-anglófonas ou não-europeias; de forma similar, como é recontada, e com que relevo, a história dos outros continentes? E que ligações entre o conhecimento produzido na academia e a população em geral? Todas per- guntas e desafios que serão, assim se espera, explorados posteriormente.

O objectivo deste artigo é apenas um. Relatar e perceber de que modo são explicados, justificados e argumentados os últimos 500 anos de práticas impe- riais e coloniais pelos manuais de Relações Internacionais de licenciaturas em Portugal. Foi realizada uma análise crítica, mas não se pretendeu opor nada às “grandes narrativas” partilhadas por muitos dos autores consultados, tais como os “Descobrimentos”, territórios “vagos”, incapacidade de autogoverno, pobre- za como intrínseca ao “3.º mundo” ou como resultado da sua “corrupção”. Não porque essa tarefa não seja meritória, mas porque se preferiu expor, isso sim, a “ambiência” teórica e historiográfica geral das Relações Internacionais. Com as muitas limitações referidas, pensa-se que esta tarefa foi bem sucedida. Deste modo, tal como se descobriu, depois de muita investigação, que o mundo não era plano, também se espera contribuir para que seja possível perceber que as RI não são, ainda, “internacionais”.

73

Da descolonização ao pós-colonialismo: perspetivas pluridisciplinares

Referências bibliográficas

Adam Hochschild, “Introduction”, King Leopold’s Ghost:A Story of Greed, Terror, and Heroism in Colonial Africa (Nova Iorque:First Mariner Books, 1999).

Andrew Heywood, Global Politics (Nova Iorque: Palgrave Macmillan, 2011).

Arundhati Roy, “Listening to Grasshopers: Genocide, Denial and Celebration”, Field Notes on Democracy:Listening to Grasshopers (Chicago:Haymarket Books,2009).

Benjamin Carvalho et al., “The Big Bangs of IR: The Myths That Your Teachers Still Tell You about 1648 and 1919”, Millennium — Journal of International Studies 39 (2011), 735 — 758. Bernard Droz e Anthony Rowley, História do Séc XX, 1.º volume (Lisboa: Publicações D. Quixote, 1988).

Branwen Gruffydd Jones, Explaining Global Poverty: A critical realist approach (Nova Ior- que:Routledge,2006).

Eduardo Escartín, ”Expansíon Europea”, in Manual de História Moderna, Pere Molas et al. (Barcelona: Ariel Historia, 1993), 11-27.

Eric Hobsbawn, The Age of Extremes: The Short Twenty-Century:1914-1991 (Londres:Aba- cus,1994).

Fernando de Sousa (dir.), Dicionário de relações internacionais (Santa Maria da Feira: Edi- ções Afrontamento/CEPESE,2005).

Hans Morgenthau, “The struggle for Power: Imperialism”, in Politics among nations. The struggle for power and peace (Nova Iorque: Alfred A. Knoff, 1948).

Henry Kissinger, Diplomacy (Nova Iorque: Simon & Schuster, 1994).

Immanuel Wallerstein, The Modern World-System: Capitalist Agriculture and the Origins of the European World Economy in the sixteen century — volume 1 (Nova Iorque: Academic Press, 1974).

Innana Hamati-Ataya, “Faits et valeurs en théorie des relations internationales: Neutrali- té axiologique, science et réflexivité”, Dynamiques Internationales, 1 (2009), 1-19.

Jean Carpentier e François Lebrun, História da Europa (Lisboa: Editorial Estampa, 1993). Jean Heffer e William Serman, O Século XIX: 1815-1914: das revoluções aos imperialismos (Lisboa: Publicações D. Quixote, 1998).

Jean-Baptiste Duroselle, Histoire Diplomatique de 1919 à nos jours (Paris:Dalloz, 2002). João Gomes Cravinho, Visões do Mundo: As Relações Internacionais e o Mundo Contemporâ- neo (Lisboa:ICS, 2002).

João Pontes Nogueira e Nizar Messari, Teoria das Relações Internacionais: Correntes e De- bates (Rio de Janeiro: Editora Campos, 2005).

John Baylis e Steve Smith, The Globalisation of World Politics (Oxford:OUP, 2001).

John Baylis et al., “Post-colonialism”, in The Globalization of World Politics (Oxford: OUP, 2007). John Hobson, “Is critical theory always for the white West and for Western imperialism? Beyond Westphilian towards a post-racist critical IR”, Review of International Studies (2007) 3, 91- 116.

John W. Young e John Kent, Internacional relations since 1945: a global History (Oxford: OUP, 2013).

Joseph Nye, Understanding International Conflicts: An introduction to Theory and History (Nova Iorque: Pearson Longman, 2007).

Khanyo Olwethu Mjamba, “The world does not aid Africa — Africa aids the world!”, This is Africa (2014), acedido a 18 de novembro de 2015, http://thisisafrica.me/the-world-does- -not-aid-africa/.

Liam O’Ceallaigh, “When You Kill Ten Million Africans You Aren’t Called ‘Hitler’”, The Walking Butterfly (2010), acedido a 8 de novembro de 2015, http://www.walkingbutterfly. com/2010/12/22/when-you-kill-ten-million-africans-you-arent-called-hitler/.

Marta Araújo e Sílvia Maeso, “Eurocentrism, Political Struggles and the Entrenched Will-to-Ignorance: An Introduction”, in Eurocentrism, Racism and Knowledge: Debates on History and Power in Europe and the Americas (Basingstoke e Nova Iorque: Palgrave Mac- millan.2015), 1-22.

75

Da descolonização ao pós-colonialismo: perspetivas pluridisciplinares

Maurice Vaïsse, As Relações Internacionais desde 1945 (Lisboa: Edições 70, 1996).

Najman Alexander Aizenstatd, “Origen y Evolución Del Concepto Del Genocidio”, Revista de Derecho de la Universidad Francisco Marroquín, 25 (2007), acedido 8 novembro 2015, http://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=1728522

Nuno Canas Mendes, História e Conjuntura nas Relações Internacionais (Lisboa:ISCSP,2008). Pierre Renouvin e Jean-Baptiste Duroselle, Introduction à l’Histoire des Relations Internatio- nales (Paris:Armand Colin, 1991).

R. J. C Young, Post-colonialism: a very short introduction (Oxford:OUP,2003). René Remond, Introdução à História do nosso tempo (Lisboa: Gradiva,1994).

Robert Jackson e Georg Sorensen, International Relations, Theories and Approaches (Oxford: University Press, 2003).

Siba Grovogui, “Theory Talk 57”, Theory Talks (2013), acedido a 9 de novembro de 2015, http://www.theory-talks.org/2013/08/theory-talk-57.html.

Teju Cole, “The White-Savior Industrial Complex”, The Atlantic (2012), acedido a 18 de novembro de 2015, http://www.theatlantic.com/international/archive/2012/03/the-whi- te-savior-industrial-complex/254843/.

Teun van Dijk, “Academic Discourse”, in Elite Discourse and Racism (Nova Deli:Sage, 1993):158- 197.

Tony Judt, Pós-Guerra: História da Europa desde 1945 (Lisboa: Edições 70, 2007).

Vladimir Ilitch Lenine, “A partilha do mundo entre as grandes potências”, in Imperialismo, fase superior do capitalismo (Lisboa:Edições Avante, 1984).

Walter Rodney, How Europe underdeveloped Africa (Londres: Bogle-L’Ouverture Publica- tions, 1983).

William R. Keylor, “Africa, la travagliata indipendenza”, in Un Mondo di nazioni: L’ordini internazionale dopo 1945 (Milão:Guerini Scientifica, 2007).

77

Da descolonização ao pós-colonialismo: perspetivas pluridisciplinares

O Ensino da História da África

No documento Da Descolonização ao Pós-colonialismo: (páginas 72-77)