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Capítulo I O CINEMA EM CONTEXTO EDUCATIVO

1. A Comunicação através da imagem

1.6. Da televisão à imagem virtual

Pelo que temos vindo a expor, percebemos que, ao longo dos séculos, a imagem constituiu um poderoso meio de comunicação. Desde as imagens rupestres à fotografia já no século XIX, o seu poder comunicacional não ficou indiferente à escola. O cinema foi evidentemente mais um marco importante na evolução da imagem. Posteriormente, passou-se ainda pelo desenvolvimento da televisão, um sistema eletrónico de transmissão de imagens e som de forma instantânea.

“A televisão permite a visualização de imagens à distância, projectadas sobre um ecrã, designado por cinescópio, (…) uma válvula de grandes dimensões, formada por um canhão de feixes electrónicos e uma superfície sobre a qual esses feixes, projectados segundo varreduras de linhas horizontais que percorrem o ecrã da esquerda para a direita e de cima para baixo, vão dar origem à formação de imagens, tanto mais perfeitas quanto maior o número de linhas que varrem a superfície do ecrã” (Oliveira, 1996: 59).

Foi dos inventos que mais contribuiu, conjuntamente com a rádio e a imprensa, para a transformação do planeta numa imensa «aldeia global», na medida em que se tornou acessível a um imenso número de pessoas, proporcionando diversão e companhia, e transmitindo informação e formação. A par deste desenvolvimento, o uso dos sistemas de vídeo constituíram um recurso de relevo na vida do homem e consequentemente no ensino, na medida em que proporcionaram passar das imagens limitadas do pequeno ecrã do televisor a grandes ecrãs, transformando a televisão num substituto do cinema, graças à existência de videoprojectores compactos e de elevada qualidade.

“as potencialidades dos sistemas de vídeo no ensino estão consideravelmente aumentadas pelo facto de ser possível passar imagens limitadas do pequeno ecrã do televisor a grandes ecrãs (…) (Oliveira, 1996: 66).

Por volta da Segunda Guerra Mundial, na década de 1980 surge o computador5, como nova máquina tecnologicamente avançada, que permite a difusão da imagem e adquire um carácter familiar, ocupando um lugar ao lado de outros aparelhos de uso doméstico. Progressivamente, começa também a ser introduzido no campo do ensino e torna-se um vocábulo de uso corrente. Paralelamente, aparecem modelos inovadores e programas capazes

5 É “um aparato convencional, a máquina que trata a informação através de um conjunto de dispositivos conectados entre si,

de executar variadas atividades, não só no arquivo, tratamento de dados e processamento de texto, como na área da produção gráfica e tratamento da imagem, tornando-se mesmo possível a produção de imagens de síntese e a criação de mundos virtuais.

“O computador veio permitir que a imagem até então divulgada pelos livros, revistas, televisão ou vídeo, imagem apresentada, passasse a ser visualizada e modificada através de programas específicos de tratamento de imagem. Assim, cada pessoa pode, individualmente, perante um computador, “trabalhar” a imagem” (Gomes, 2007: 124).

Associada ao computador temos a Internet6, que veio confirmar a vocação universal do computador. Hoje, qualquer cidadão pode aceder a um conjunto de imagens, englobando a videoconferência, a difusão de informação, a troca de mensagens eletrónicas para participar em encontros de informação telemática e enviar correio eletrónico. É inegável a quantidade de imagens a que os jovens podem aceder. Através deste novo medium o homem desenvolve novas formas de comunicação, onde o texto e a imagem se aproximam, incorporando sons e imagens em movimento.

Apesar das imensas evoluções, a imagem conheceu mais ainda. Os meios informáticos desenvolveram-se, permitindo a união da televisão com a informática. Da união de um sistema de leitura de discos compactos de vídeo com a tecnologia informática nasceu um novo tipo de aparelho, geralmente acoplado ao televisor e coexistindo com os já tradicionais gravadores de vídeo de salão – o leitor de vídeo interativo7 – CD-I que é uma sofisticada forma técnica de multimédia interativa, que constitui um suporte capaz de armazenar imagens fixas ou animadas, sons, textos e gráficos, podendo conter num único disco diversos domínios de aplicação. As multissensoriais aceleram e aumentam a compreensão e, além disso, prendem por mais tempo a atenção dos recetores da mensagem, porque os recursos usados pelo multimédia - imagem, som e movimento - têm como objetivo chamar a atenção a cada instante.

A evolução das tecnologias da comunicação tem conhecido um acelerado ritmo, de tal modo que atualmente se utiliza o computador como suporte basicamente passivo para

6 Conglomerado de redes em escala mundial de milhões de computadores interligados pelo protocolo de Internet que permite o

acesso a informações e todo tipo de transferência de dados. A Internet é a principal das novas tecnologias de informação e comunicação (NTICs). (Enciclopédia Livre: Wikipédia)

7 Segundo Lorenzi (1995: 114-117) é “um conceito novo; não substitui uma tecnologia mais antiga, (…) lembramos que se trata de

um leitor que se coloca debaixo do televisor e uma manete de jogo. Basta em seguida colocar um disco no leitor para começar um jogo interactivo ou a aprendizagem da guitarra, para descobrir a pintura de Van Gogh ou para ouvir um concerto. Estas diferentes facetas do CD-I têm em comum a interactividade: afixa-se no ecrã uma pergunta e compete ao utilizador escolher a resposta certa por meio da pequena alavanca.”.

difusão de produtos de outras media, como fotos jornalísticas, imagens artísticas, textos de livros, jornais e revistas (...).

De facto, vemos que as novas perspetivas de construção de ambientes virtuais podem conduzir a novas conceções de interação. A imagem virtual proporciona uma outra visão. A realidade virtual é uma simulação ordenada em que se emprega o grafismo para criar um mundo que parece realista, vive dessa interatividade. A interatividade em tempo real define a realidade virtual. Parente (1999: 92) afirma que:

“Alguns símbolos digitados num teclado bastam para criar universos de formas e cores em constante metamorfose ou dar vida a paisagens virtuais. As imagens infográficas podem imitar a natureza, traduzir teorias em formas sensíveis ou mergulhar-nos fisicamente em mundos com propriedades desconcertantes. Essa produtividade das imagens de síntese vem das linguagens simbólicas, liberadas da materialidade da luz. As imagens de síntese são essencialmente abstratas, apesar de oferecerem um aspecto material, visível. Todas as possibilidades funcionais da infografia e o seu papel escritural original nascem desta aliança original entre o formal e o sensível”.

Perante isto, podemos pensar que é difícil dimensionar a verdadeira revolução em curso no campo da imagem e, de modo mais abrangente, no campo do tratamento da informação e da comunicação. No entanto, a imagem passou de um objeto plano, feito unicamente para os olhos, para um espaço no qual podemos incluir objetos que podemos tocar, manipular, ouvir, que resistem e se animam por meio das mãos do recetor da mensagem.

Entendemos que a imagem virtual pode ser um excelente meio de comunicação no dia-a-dia do ser humano e consequentemente na educação. Neste sentido, e tendo em conta o principal foco desta investigação, acreditamos que esta evolução do conceito de imagem muito contribuiu para a evolução do conceito de cinema e, por conseguinte, da sua utilização em termos educativos.