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1.1 Trajetória da pesquisadora e o percurso pela Educomunicação

1.1.2. Da teoria à prática: dos conceitos aos projetos de intervenção

A proposta de intervenção no projeto Dat – Formando o Cidadão do Futuro foi realizada entre os anos de 2014 e 201717. Neste período, as capacitações mensais

receberam um novo formato, com debates, dinâmicas e sugestões de atividades com o objetivo de estimular uma nova habilidade no cenário educativo: não só a leitura do jornal Dat18 e do suplemento infantojuvenil Diarinho19, como também a produção de

publicações escolares, dando espaço à autoria em sala de aula.

Os professores recebiam uma maior atenção do programa. Eles participavam mensalmente das capacitações promovidas nas redes de ensino, quando, então, partilhavam o que colocavam em prática com as suas turmas. A partir de então, os alunos também ganharam maior espaço e começaram a receber um novo olhar. Como coordenadora geral, promovi uma aproximação deste público, aliando esta função com a

17 Neste período (2014 a 2017), três redes municipais de ensino participavam do Dat – Formando o Cidadão

do Futuro: Arujá, Biritiba Mirim e Poá. Ao todo, a equipe coordenava as ações em 56 escolas, atendendo, no total, 19.357 alunos e 1.035 professores.

18 Diariamente, no período de 2014 a 2016, 3.500 exemplares do Dat eram entregues para 56 escolas

participantes do projeto regional.

19 O Diarinho é o suplemento infantojuvenil do Dat, com circulação aos domingos e distribuição às escolas

participantes do projeto regional às segundas-feiras. Fundada em 2016, a publicação tem como público- alvo estudantes de 6 a 11 anos e educadores, em especial, do Ensino Fundamental I. Reúne seções que exploram curiosidades, sugestões de livros, filmes, passeios, games; destaca ações realizadas nas escolas; traz matéria especial sobre um assunto que esteja em destaque no cenário educacional, como bullying, preconceito, meio ambiente, dentre outros. As pautas seguem sugestões dos leitores mirins e adultos. Veja mais em: http://flip.portalnews.com.br/index.php?id=/banca.php&cd_prded=11.

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de pesquisadora. Passei a observar os processos educativos de maneira mais reflexiva e em consonância com os conceitos estudados ao longo da jornada acadêmica.

Visitei algumas unidades e organizei encontros com estudantes de 6 a 10 e jovens de 11 a 14 anos de idade para explicar o universo comunicacional. Estavam em pauta nos “bate-papos” com os educandos apresentar as diferentes mídias, os variados suportes, a produção das notícias, a rotina dos profissionais ligados à Imprensa, a dinâmica de uma redação jornalística, a variedade dos gêneros, discursos e linguagens exploradas nos meios de comunicação. A partir deste processo de imersão nas unidades, começava um estudo para identificar ações que estavam se formando sob o viés educomunicativo no cenário educacional do Alto Tietê.

A interação entre os alunos e os professores foi dividida em quatro fases importantes para inserir o conceito, a prática e a reflexão sobre um campo emergente: a Educomunicação. Após este processo, passei a direcionar o objeto de estudo para que fosse explorado, analisado, articulado e debatido durante a pesquisa do mestrado. Mas, antes de apresentá-lo, é importante destacar que as seguintes etapas condicionaram os estudos atuais na interface Comunicação e Educação:

1ª Etapa

A mídia no universo escolar - Apresentação da área de estudos e ações articuladas sob os princípios da Educomunicação

Durante as formações com os educadores, abordava o conceito da Educomunicação, seus princípios e áreas de intervenção. A missão era direcionar as atividades para promover uma “Educação para e pela comunicação”, com a leitura dos meios, o envolvimento com os dispositivos comunicacionais, o engajamento em ações permeadas pelas novas tecnologias da informação e comunicação. Propagar fluxos comunicativos, a cultura da participação, o protagonismo juvenil e uma gestão com vertente democrática estavam em debate nos encontros. Ideias semeadas para ampliar a expressão crítica, criativa e participativa dos estudantes por meio da produção autoral pelos canais informativos – impressos e digitais – idealizados no universo escolar.

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Figura 1 – Formação de professores

Discussão sobre Educomunicação em encontro com educadores do Alto Tietê Fonte: Grupo Mogi News (2015)

2ª Etapa

Os meios vão à escola - Aproximação dos alunos para o debate sobre o universo midiático

As discussões com os professores sobre a importância de criar espaços de participação para os alunos por meio de canais informativos no âmbito escolar permitiu a aproximação dos estudantes. Nesta segunda etapa do processo de intervenção, visitei algumas unidades de ensino que começavam a colocar em prática as idealizações semeadas pelos educadores. Então, o objetivo era apresentar aos jovens o universo comunicacional. Oficinas discutiram a diversidade das linguagens permeadas pelos suportes midiáticos impressos e digitais; o processo de apuração, construção e elaboração das notícias; as atividades exercidas pelos profissionais da Imprensa; a reflexão sobre o “mundo editado” (BACCEGA, 2000-2001) que nos chega diariamente pelos inúmeros meios de comunicação. Este foi o caminho para incentivar os jovens a produzir seus próprios canais explorando os recursos da comunicação e da tecnologia que estavam ao alcance da realidade de cada escola.

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Figura 2 – Oficina com alunos

Alunos em oficina explorando a leitura dos meios, o processo de construção das notícias e os discursos semeados pelos textos da Imprensa

Fonte: Foto da autora (2015)

3ª Etapa

A escola vai aos meios – Alunos vão conhecer in loco a produção da informação e a rotina dos profissionais da Imprensa

O Grupo Mogi News de Comunicação abre as suas portas para a visita de estudantes de diferentes ciclos que desejam conhecer o processo de produção de um jornal. Não é necessário participar do projeto Dat – Formando o Cidadão do Futuro, o acesso à empresa é permitido para todas as unidades de ensino do Alto Tietê. Sou responsável em guiar esse “tour” pela redação e a gráfica (instalada no mesmo prédio onde ficam os dois jornais do grupo), e, ao longo de cada encontro, observa-se que os grupos que se interessam pela “aula passeio” (FREINET, 1970) estão planejando ou já produzindo um jornal escolar, um blog, um boletim, dentre outras produções escolares. Os professores que os acompanham, geralmente, são os mediadores dessas propostas, e acreditam que conhecer na prática o processo de construção de uma publicação aumenta o interesse dos jovens pela informação e seu desejo de implementar produções de sua autoria. Ao conhecer esta realidade, agendei visitas de alunos que estavam participando do ciclo de ações que eu vinha desencadeando nas escolas por conta da proposta de intervenção. Esta foi a oportunidade de levar aqueles que pensavam em colocar em prática o que foi discutido em formação com os professores e nas oficinas e palestras com os alunos. A visita explora todos os departamentos da empresa, como o setor administrativo, comercial, telemarketing, assinaturas, sendo, por sua vez, a redação (que

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concentra editores, repórteres, fotógrafos, diagramadores e designers) e a gráfica os lugares de maior interesse dos visitantes. Além de uma explicação geral, os educandos têm a oportunidade de conversar com os profissionais.

Figura 3 – Visita à redação e gráfica de um jornal

Alunos conhecem o processo de produção de um jornal Fonte: Grupo Mogi News (2015)

4ª Etapa – Práticas educativas emancipadoras

O trabalho desempenhado com os professores e alunos inspirou a criação de publicações escolares. A produção autoral por meio de diferentes dispositivos comunicacionais começou a integrar a rotina de várias escolas envolvidas com o projeto Dat – Formando o Cidadão do Futuro. Tais publicações exploram diferentes estilos e gêneros textuais, indo além dos tradicionais boletins informativos. Jornal falado, telejornal, fanzines, quadrinhos, revistas, blogs, canais do Youtube foram criados. Os assuntos envolvem o universo escolar, a comunidade, o bairro e a cidade. Também há destaque para temas de abrangência nacional, como, por exemplo, assuntos voltados à política, saúde, esportes e meio ambiente. Cada veículo, com linguagem própria, compartilha informações, conhecimentos, experiências e amplia os fluxos comunicativos no universo escolar.

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Figura 4 – Momento de produção de jornal estudantil

Laboratório de escola se transforma em “redação” e alunos, divididos em grupos, preparam uma nova edição do boletim escolar

Fonte: Grupo Mogi News (2015)

A proposta de imersão envolveu 56 escolas, 19.357 alunos e 1.035 professores das redes de ensino de Arujá, Biritiba Mirim e Poá. Os professores das unidades passaram pelas formações, e apenas os que começaram a articular as produções escolares com as suas turmas receberam minha visita para dialogar com os jovens comunicadores. Das publicações criadas ao longo da intervenção, algumas ainda mantêm as atividades em andamento, outras já encerraram os trabalhos. Algumas tentam criar, esporadicamente, ações inter-relacionando a Comunicação e a Educação. Todas as atividades eram divulgadas nos jornais do Grupo Mogi News de Comunicação, e, com isso, algumas unidades estaduais e particulares da região procuravam a coordenação do Dat – Formação o Cidadão do Futuro para aplicar o projeto a seus educandos. Esta foi a oportunidade de conhecer novos interessados em levar a mídia à sala de aula e incentivar a autoria entre os educandos. Assim, começava o contato com outros horizontes, além dos envoltos pelo trabalho em que eu atuava.

Apesar dessas novas unidades interessadas não serem formalmente filiadas ao programa regional, podiam participar, entre os anos 2005 e 2012, de uma iniciativa desenvolvida pela empresa jornalística e que movimentou as redes de ensino do Alto

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Tietê: o Prêmio Grupo Mogi News Professor Cidadão20. A proposta, semelhante ao

Prêmio Educador Nota 1021, propiciou o contato com projetos inovadores em diferentes

áreas do conhecimento e desenvolvidos nos três ciclos da Educação Básica em redes de ensino públicas e privadas. Atuei na organização, coordenação da comissão julgadora e da cobertura especial dos vencedores das edições realizadas no período de 2009 a 2012. Ao longo de quatro anos, conheci propostas pedagógicas que me encantaram. Parte delas, em especial, aquelas que desenvolviam ações voltadas à Comunicação, pude conhecer pessoalmente por meio de visitas às novas unidades.

O contato com escolas participantes do Dat – Formando o Cidadão do Futuro e do prêmio regional levaram à seleção de novas escolas que passaram a ser o cenário da pesquisa de mestrado, que, a partir de agora, será detalhada. Achei importante transcrever minha trajetória profissional, educacional, acadêmica, e, em especial, o caminho percorrido até o ingresso nos campos da Comunicação e Educação, e, em seguida, da Educomunicação. Acredito que o registro elucida os motivos que levaram à formulação do estudo a ser apresentado, e do interesse de inverter os papéis: agora, deixo de ser formadora, educadora, incentivadora de projetos; para ser observadora, pesquisadora e aprendiz do processo de ensino e aprendizagem articulado com o auxílio dos aportes midiáticos, das tecnologias e da informação e comunicação.

Acompanhar diferentes propostas em espaços educativos no Alto Tietê, me fez perceber que algumas demonstravam, em sua prática, princípios da Educomunicação. Este fato direcionou a escolha do meu objeto de pesquisa, do problema a ser formulado, das hipóteses articuladas, e, por sua vez, os motivos para a investigação, sistematização

20 O Prêmio Grupo Mogi News Professor Cidadão foi criado em 2005 pelo Grupo Mogi News de

Comunicação com o objetivo de destacar projetos pedagógicos realizados em diferentes ciclos de ensino e redes educacionais. A premiação regional era dividida em dez categorias: Ensino Infantil – Rede Municipal; Ensino Infantil – Rede Particular; Ensino Fundamental Ciclo I – Rede Municipal; Ensino Fundamental Ciclo I – Rede Estadual; Ensino Fundamental Ciclo I – Rede Particular; Ensino Fundamental Ciclo II – Rede Estadual; Ensino Fundamental Ciclo II – Rede Particular; Ensino Médio – Rede Estadual; Ensino Médio – Rede Particular; Fora de Série (EJA e Educação Especial). Os educadores das dez cidades que integram o Alto Tietê podiam inscrever uma de suas ações realizadas em sala de aula para concorrer ao 1º, 2º e 3º lugares de cada segmento. Os vencedores eram reunidos numa cerimônia especial, com a presença de secretários de Educação e dirigentes regionais de ensino, e contemplados com troféus e certificados, além de uma cobertura completa do seu trabalho, divulgada em publicação especial encartada nas edições dos jornais Dat e Mogi News.

21 Criado em 1998, o Prêmio Educador Nota 10 é uma iniciativa da Abril e da Globo, uma realização da

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e avaliação. A partir de então, comecei os estudos, na teoria e na prática, sobre a produção midiática no universo escolar e sobre os desafios para incentivar, idealizar e manter esta prática nas unidades de ensino.