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De leitores a autores: construindo histórias e transformando cenários

3.3 Linguagens da comunicação no cenário educativo

Os meios de comunicação estão atrelados ao cotidiano de alunos e professores e presentes no universo escolar. Por meio dos currículos oficiais, do material didático- pedagógico, das conversas entre o corpo docente e discente, os discursos semeados por jornais, revistas, programas televisivos, radiofônicos e digitais integram a rotina estudantil direta ou indiretamente. As novas linguagens não podem ser ignoradas no processo de formação de crianças e adolescentes, porque são permeadas de mensagens que precisam de interpretações críticas e reflexivas.

Para Orozco-Gómez, a aproximação entre a escola e os meios é valiosa por auxiliar tanto a leitura quanto a escrita. Mas também “para potenciar, nos receptores, suas capacidades analíticas, críticas e comunicativas frente às e a partir das mensagens que recebem” (1997, p. 65). Esta habilidade se torna fundamental para debater os conteúdos divulgados pelas fontes de informação, a fim de desconstruir as suas “verdades” e desvendar o mundo editado pelas mídias.

“Educar para a comunicação”, ou seja, auxiliar na formação de leitores conscientes para discernir sobre os acontecimentos; avaliar o que ouve, vê e assiste; interpretar o que é compartilhado e reconhecer o real do imaginável, garante uma

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educação para a cidadania. Belloni afirma que este é um trabalho essencial para a busca de atividades democráticas no espaço educativo:

Desde as primeiras definições desse campo, em reuniões de especialistas da Unesco, está presente a ideia essencial de que a educação para as mídias é condição sine qua non da educação para a cidadania, sendo um instrumento fundamental para a democratização das oportunidades educacionais e do acesso ao saber e, portanto, de redução das desigualdades sociais. É neste sentido que defendo esta perspectiva como essencial para o desenvolvimento de práticas educacionais mais democratizadoras, incluindo formação de professores plenamente atualizados e em sintonia com as aspirações e modos de ser das novas gerações (2012, p. 12).

A autora apoia o uso educativo dos meios e das tecnologias e ressalta a importância do contínuo acompanhamento daqueles que estão usufruindo deste universo comunicacional: alunos e professores. Setton também aponta a importância dessa vigilância e alerta que este é um mundo de representações que interfere na formação de identidades e influencia na busca de valores. A estudiosa considera as mídias como agentes de socialização, e agentes sociais da educação, porque os meios possuem uma função educativa:

Primeiramente, as mídias devem ser vistas como agentes da socialização, isto é, possuem um papel educativo no mundo contemporâneo. Junto com a família, a religião e a escola (entre outras instituições), elas funcionam como instâncias transmissoras de valores, padrões e normas de comportamentos e servem como referencias identitárias (2011, p. 8).

Os pensamentos de Setton (2011) e Belloni (2012) se complementam ao destacarem que as mídias estão impregnadas na cultura contemporânea e desenvolvendo uma nova “autodidaxia” nos jovens. Este é um dos motivos para entender como as novas gerações se apropriam dos conteúdos midiáticos; como a instituição escolar, e, especialmente, os professores, usufruem destes instrumentos e os integram (ou não) ao seu cotidiano. Para Zanchetta, este é um desafio ao universo escolar, que precisa estabelecer a sintonia com novas abordagens pedagógicas que envolvam os meios comunicacionais:

Para que a escola possa dialogar com propostas externas e mesmo para que possa desenvolver suas próprias práticas em termos de trabalho com a mídia, a partir dos estudos saídos das áreas de Educação ou Comunicação, será necessário compreender como é o universo onde circula a informação midiática, bem como os processos de assimilação e conversão de informação em conhecimento pessoal e de trabalho do professor e do coletivo de professores. Isso significa observar como se constitui e se modifica a memória do professor acerca da informação midiática e, principalmente, acerca da informação noticiosa. Assim, há que se promover o amadurecimento de uma iniciativa que tome como referências a comunidade escolar e a experiência acumulada em diversas áreas, incluindo a dos agentes formadores (professores

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e gestores públicos), para o delineamento da cultura sobre o assunto no contexto da escola (2007, p. 65).

A tarefa não é fácil, “os novos ‘modos de aprender’ são ainda uma incógnita para a maioria dos professores” (BELLONI, 2012, p. 28), no entanto, é necessário explorar as diferentes linguagens na sala de aula e incentivar o aprendizado por meio dos recursos que despertam o interesse pelo conhecimento. O primeiro passo é compreender o cenário formado pela sociedade sociotécnica, conforme destaca Citelli:

Se é verdade que os modos de aprender e ensinar mudaram e nós temos que levar o vídeo, a televisão, o jornal, os computadores para as crianças, há que se reconhecer, igualmente, a necessidade de uma compreensão mais global dos processos que orientam a sociedade videotecnológica (2000b, p. 34).

A Educação Midiática envolve a leitura crítica dos meios, o reconhecimento do processo de produção, circulação e recepção da informação, o fluxo comunicativo no espaço educativo, intervenções sociais pelo viés das linguagens da comunicação, atitudes democráticas e colaborativas, dentre outras ações para compreender uma sociedade evidenciada pela comunicação. Diante do acesso a uma quantidade imensurável de informações intermediadas pelos recursos impressos e digitais, torna-se imprescindível promover o debate acerca da influência da mídia nas pessoas. E, em sintonia com as novas gerações, estimular práticas em consonância com os novos modos de ser e estar no mundo, com um outro olhar à educação a partir da comunicação.

A escola deve ser um espaço de trabalho onde ocorre a passagem do lugar- comum para o conhecimento elaborado, num movimento que visa fazer da matéria empírica conceito. E que, igualmente, ensina o sujeito a reconhecer-se no processo transformação, transformando-se. Por isso, a necessidade de o aluno ser entendido como sujeito com linguagem que exercita um discurso central para a efetivação do ato pedagógico. (CITELLI, 2004, p.111)

3.4. A temporalidade escolar: o desafio da implementação de projetos