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2.3 Web Semântica

2.3.2 Dados abertos

Dados abertos são conteúdos que podem ser livremente usados, modificados e compartilhados por qualquer um e para qualquer finalidade, sujeitos, no máximo, a medidas que preservem a sua proveniência e abertura (OPEN DEFINITION, 2015). Na página web da Open Definition existe a descrição detalhada dos princípios que definem como deve ser a abertura sobre dados e conteúdos. Esses princípios são organizados em dois grupos: (1º) a abertura do trabalho, relativa a quatro requisitos (disponibilidade, acessibilidade, capacidade de ser lida por máquina, formato aberto); (2º) sobre a licença de abertura, relativa aos requisitos de permissão com nove exigências (uso, redistribuição, modificação, separação, compilação, não discriminação, propagação, propósito, sem custo) e relativa às condições de aceitabilidade com mais sete exigências (atribuição, integridade, compartilhamento nos mesmos termos, aviso do tipo de licença, restrição técnica, não agressão).

Segundo o manual Open Data Handbook (2012) existem três regras-chave para realizar o processo de abertura dos dados de uma organização:

(i) Mantenha simplicidade: a abertura dos dados deve ser feita de forma gradual; (ii) Envolva-se com a comunidade: grande parte dos dados abertos vão ainda passar por mediadores que irão transformá-los para uma aparência mais acessível aos usuários finais, portanto, se envolver com todos esses usuários finais ou intermediários é fundamental para que os dados selecionados para serem abertos sejam relevantes; e (iii) Cuide dos receios e mal-entendidos: muitos temores irão surgir principalmente em grandes instituições, como os governos, e devem ser identificados e trabalhados o quanto antes.

Além disso, esse manual indica quatro passos principais para realizar a abertura dos dados, que de forma resumida são:

(i) A escolha do conjunto dos dados para abrir;

(ii) A escolha de uma licença livre compatível com os direitos de propriedade intelectual dos dados;

(iii) A disponibilização dos dados em um grande volume e num formato útil; e (iv) A catalogação necessária para que os dados sejam facilmente localizáveis.

A divulgação dos dados abertos para a sociedade é uma etapa importante e deve ser feita de forma eficiente. Vários países, tais como Brasil15, Estados Unidos16 e Inglaterra17, fazem a divulgação através de sites que centralizam e facilitam o acesso aos dados abertos de seu governo oferecendo serviços, dicas, manuais, guias, interação com os usuários e várias outras ações e elementos associados ao tema. Um bom exemplo de aplicação de dados abertos no Brasil é o Portal da Transparência do Governo Federal18 que, funcionando desde 2004, tenta assegurar a boa e correta aplicação dos recursos públicos aumentando a transparência da gestão pública e permitindo que o cidadão acompanhe como o dinheiro público está sendo utilizado ajudando a fiscalizá-lo. Com o argumento de que a transparência é o melhor antídoto contra corrupção, esses dados abertos induzem os gestores públicos a agirem com responsabilidade e permitem que a sociedade, munida de informações, colabore com o controle das ações de seus governantes. Apesar da boa proposta e esforço realizado pelo Portal da Transparência, existem alguns pontos de melhora tal como detectado na pesquisa de Nazario, Silva e Rover (2012), que fizeram uma análise da qualidade da informação detectando três pontos negativos: (i) algumas informações estão implícitas, ou seja, só são reveladas após o tratamento num software como uma planilha eletrônica; (ii) as informações estão distribuídas em diferentes consultas não permitindo o cruzamento de dados; (iii) falta detalhamento para leigos pois parece que as informações são fornecidas apenas para o entendimento de especialistas.

Outra variável importante que determina a qualidade do acesso à informação é a definição de formatos de abertura dos dados que, apesar de todo o esforço legislativo no Brasil, desde a Constituição, (BRASIL, 1998), a Lei de Acesso a Informação (BRASIL, 2011)

15 Portal de dados abertos do governo do Brasil: <http://dados.gov.br/>.

16 Portal de dados abertos do governo dos Estados Unidos: <http://dados.gov.br/>. 17 Portal de dados abertos do governo da Inglaterra: <http://data.gov.uk/>.

e a sua regulamentação (BRASIL, 2012), ainda é um dos grandes problemas. Segundo o Manual dos Dados Abertos para Desenvolvedores (2011), a definição do formato em que a informação é aberta deveria ser disponibilizada pelo governo, pois a “[...] lei diz que os dados devem ser expostos à população, mas não especifica como [...]”. Por isso, ainda segundo o manual, “[...] muitas vezes os esforços de transparência, tão valorizados pela administração pública de nosso país, acabam sem a repercussão ou resultados desejados”. Portanto, é importante destacar que apenas disponibilizar em formato aberto não é suficiente, pois, na prática, é necessário que eles sejam expostos em formato compreensível por máquina e também por humanos.

O Manual dos Dados Abertos para Desenvolvedores (2011) exemplifica várias experiências de sucesso, realizadas com dados do governo brasileiro, como o projeto Legisdados que extrai dados não estruturados do Legislativo Brasileiro e os disponibiliza em formatos compreensíveis por máquina. Isso facilita o trabalho de desenvolvedores que querem criar sistemas integrados com essas informações. O manual citado também alerta que, se for realizado “[...] um trabalho mais elaborado e organizado para disponibilizar dados, haverá benefícios para todos: o governo receberá sugestões e haverá uma participação mais eficiente da sociedade, a qual saberá mensurar melhor o trabalho das autoridades”. No futuro, os mercados de dados emergentes serão os mecanismos que transformarão as contribuições voluntárias para agregação de valor em um setor de negócios rentável (DING; PERISTERAS; HAUSENBLAS, 2012).

Por outro lado, problemas também foram detectados na aplicação da Lei de Acesso à Informação. Pedroso, Tanaka e Cappelli (2013) indicam falhas nos dados abertos já disponibilizados pelo governo, alertando que “são gritantes as inadequações de formatos, que impedem a interoperabilidade, assim como é evidente a existência de dados incompletos, desatualizados, incompreensíveis por máquina e dependentes de licenças proprietárias [...]”. Os autores ainda destacam que “[...] tais deficiências refletem a ausência de processos organizacionais e da adoção de padrões existentes, assim como a falta de pessoas capacitadas a darem conta das atividades necessárias ao planejamento e implantação dos processos [...]”. Finalmente eles observam que muitos problemas que as organizações estão enfrentando nesse contexto ainda não tem solução sistematizada e ainda indicam a necessidade de muitos estudos e pesquisa na área.