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2.2 Conceito, mapa conceitual e aprendizagem significativa

2.2.2 Relacionamento entre conceitos

O relacionamento entre conceitos é um item recorrente em várias áreas do conhecimento. Nessa subseção ele é abordado no formato de proposições e hiperlinks. Em subseções mais adiante o relacionamento entre conceitos é também abordado enquanto frases de ligação que estabelecem as proposições de um mapa conceitual (subseção 2.2.3), dados ligados no contexto da Web Semântica (subseção 2.3.3) e conexões entre nós de rede (subseção 2.3.3).

2.2.2.1 Proposição

Ludwig Wittgenstein, filósofo do século 20, argumentou em seu trabalho que a linguagem é composta por proposições que também representam os pensamentos no mundo (BILETZKI; MATAR, 2014). Bertrand Russell, há cerca de 100 atrás, em seu trabalho “On propositions: what they are and how they mean” (RUSSELL, 1919), definiu proposição como uma frase que pode ser julgada, necessariamente, como sendo verdadeira ou falsa. Esse valor é dependente do contexto dos conceitos ao qual a proposição se refere. Por exemplo, a frase “a construção de mapas conceituais é fácil” pode ser verdadeira para um grupo de pessoas com experiência na construção de mapas conceituais, porém, falsa para outro grupo que não conhece mapas conceituais. Outros autores, contemporâneos, Silva, Finger e Melo (2006), Bispo, Castanheira, Souza Filho (2011) e Menezes (2013) seguem a mesma assertiva sobre a definição de proposição, ou seja, uma frase, uma sentença, um pensamento à qual se pode atribuir juízo. Na Lógica Matemática, esse juízo possui os valores possíveis: verdadeiro ou falso. Dessa forma, os termos ‘a construção de mapas conceituais’ e ‘fácil’ não são proposições, mas conceitos, pois não faz sentido atribuir-lhes um valor. Por outro lado, o seu relacionamento com o conector ‘é’, os tornaria uma proposição, ‘a construção de mapas conceituais é fácil’, podendo receber o valor verdadeiro ou falso.

De uma maneira geral, uma proposição conecta dois conceitos estabelecendo entre eles uma relação. Segundo a Teoria do Conceito de Dahlberg (DAHLBERG, 1978), se

conceitos diferentes possuem características idênticas, então existe relação entre eles. A relação entre dois conceitos pode ser de dois tipos:

Relação lógica: identidade (as características dos conceitos são as mesmas),

implicação (um conceito está contido no outro), intersecção (os dois conceitos tem características comuns), disjunção (nenhuma característica em comum entre os dois conceitos), negação (um conceito possui uma característica que é a negação da característica do outro conceito);

Relação semântica:

o Hierárquica: um conceito possui uma característica a mais do que o outro, nesse caso o primeiro é o mais específico e o segundo o mais genérico;

o Partitiva: quando um conceito é formado por outros conceitos, então esses últimos são partes do primeiro;

o De oposição: quando um conceito é declarado o oposto do outro;

o Funcional: normalmente aplicada a conceitos que expressam processos.

O estabelecimento de relações entre conceitos é bastante natural e até necessário em vários processos e abstrações que representam informação e conhecimento. Por exemplo, Motta (1987) propõe um método relacional para a construção de tesauros, enquanto sistemas conceituais, que usa o estabelecimento de relações entre os seus termos tendo como pressuposto a Teoria do Conceito de Dahlberg. Almeida (1998) chama atenção para o fato de que, na área de Terminologia, os conceitos não estão isolados, mas, formam redes de relações entre si. A busca de relações entre termos é também um dos aspectos básicos na construção de tesauros (MOTTA, 1987). A construção de um mapa conceitual, abordada na subseção 2.2.3, é um processo de criação de significados que implica em elencar uma lista de conceitos e criar proposições formadas por esses conceitos relacionados entre si por intermédio de frases de ligação (NOVAK; GOWIN, 1984).

2.2.2.2 Hiperlink

Um hiperdocumento apresenta informações de forma não linear e onde o percurso da leitura ou acesso é escolhido e realizado pelo leitor, através das conexões ou hiperlinks existentes entre os vários nós informacionais. Hiperdocumentos podem agregar e oferecer ao usuário diferentes mídias e formas de comunicação para apresentar a informação, tais como

textos, imagens, sons, vídeos etc. Por isso, ele também é chamado de hipermídia. Historicamente o termo originou-se da palavra hipertexto pelo fato de, na época, existirem predominantemente textos para apresentação da informação no meio digital. Porém, ainda hoje, é comum usar o termo hipertexto para designar hiperdocumentos ou hipermídias, sendo ainda que, em todos os casos, o relacionamento entre os seus nós com informações denomina-se hiperlink.

Hiperobjeto, termo mais recente, agrega conjuntos de informações advindos de diversas mídias, tal como hipermídia, porém, adiciona objetos compostos de ações ou funções como nós que também são interligados entre si por meio de hiperlinks. Como exemplo de hiperobjeto, um eletrodoméstico, “[...] quando informações tais como um manual de usuário, rede de assistência técnica, lojas de peças e acessórios podem ser facilmente acessados, seja por hiperlinks presentes no objeto físico - como códigos de barra, QR Codes - ou através de representações digitais interativas como realidade aumentada” (PEZZI, 2015, p. 176). Pezzi enfatiza para o fato de que “[...] aplicações científicas e educacionais de hiperobjetos são modelos ideais para estes, em que a omissão e o obscurecimento de informações não são desejados” (p. 177). Nessa linha, os hiperinstrumentos científicos ou educacionais são instrumentos cujas “[...] representações digitais contêm detalhes que facilitem, a qualquer pessoa interessada, aprofundar seus conhecimentos nos diversos aspectos do instrumento, de

modo a garantir o seu uso, estudo, reprodução, adaptação e

disseminação” (PEZZI, 2015, p. 195).

O desenvolvimento de hipertextos já é antigo, como mostram algumas situações ao longo da história. Por exemplo, a Enciclopédia de Diderot e D'Allembert, iniciada no século XVIII, com 35 volumes foi o foi o primeiro livro a ser criado no formato de hipertexto (PARENTE, 1999). Isso porque determinadas expressões da enciclopédia remetiam a outras partes da obra. Vannevar Bush, em 1945, já anunciava a ideia de hipertexto quando criticou que a maior parte dos sistemas de indexação da época era hierárquica ao invés de ser por associações tal como a mente humana funciona (BUSH, 1945). Parente (1999) também destaca que, em 1965, Theodore Nelson inventou o conceito de hipertexto para “[...] exprimir a ideia de um texto de dimensões cósmicas, informatizado, contendo todos os livros, incluindo imagens e sons, acessível à distância e navegável de forma não linear" (p. 73). Porém, antes de tudo, a leitura de uma enciclopédia clássica já é considerada hipertextual, pois usa ferramentas de orientação tais como léxicos, índices, tesauros, atlas, quadros de sinais, sumários e remissões ao final dos artigos (LÉVY, 1996).

Um hipertexto pode ser encarado como um espaço para leituras possíveis, ou seja, um texto é uma leitura particular de um hipertexto que o leitor leu seguindo um determinado caminho, a partir da matriz de textos potenciais que o autor do hipertexto construiu (LEVY; COSTA, 1999). Nessa mesma linha e no contexto da CI, hipertexto é considerado um “[...] complexo sistema de estruturação e recuperação de informação de forma multissensorial, dinâmica e interativa” (PARENTE, 1999, p. 80). Segundo Lévy (1993), o hipertexto possui seis características básicas: (i) metamorfose, por ele encontrar-se em constante construção e renegociação; (ii) heterogeneidade, pois os seus nós podem ser compostos por palavras, sons, imagens etc.; (iii) multiplicidade e encaixe das escalas, porque os seus nós ou conexões, podem ser eles mesmos uma rede de nós e conexões, sucessivamente; (iv) exterioridade, pelo fato de que o crescimento e diminuição da rede, bem como sua composição e recomposição, dependem da adição ou subtração exterior de elementos ou conexões; (v) topologia, devido a seu funcionamento ocorrer por proximidade; (vi) mobilidade dos centros, pois os vários centros da rede são móveis, formando ao redor de si uma ramificação em estrutura de rizoma, sem raiz ou hierarquia, tipo uma vegetação que flutua na água.

Em termos de ferramentas de criação de hipertexto, elas já existem há bastante tempo e de forma bem acessível como, por exemplo, um simples e popular software editor de textos, tal como relata Cristovão (2000) em uma experiência realizada em contexto educacional. Hoje a tecnologia informática continua sendo um grande aliado na criação de hipertextos. Contudo, Campos, Souza e Campos (2003) sinalizam em seu trabalho alguns problemas na sua construção, principalmente no âmbito da comunicação entre o autor que desenvolve o conteúdo temático, e o analista de sistemas por intermédio da falta de metodologias apropriadas para a implementação de sistemas que possam representar unidades do conhecimento.

Ainda sobre o processo de autoria de hipertexto, Lima (2005) destaca que ele é, em última análise, um processo de classificação onde o “autor planeja a estrutura global do hipertexto, seleciona símbolos apropriados (i.e., palavras, ícones) e cria links eletrônicos para representá-los” (p. 2). Isso ocorre de forma similar ao processo de classificação de documentos onde o “classificador determina o conteúdo, seleciona termos apropriados e cria pontos de acesso” (p. 2).