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3. Materiais e Métodos: 1 Área de estudo:

5.1. Dados biométricos:

5.1.1. Viabilidade de ovos de R. montenegrensis:

As taxas de eclosão em ovos na espécie R. montenegrensis observadas nesse estudo após 21 dias de observação foram de 63,04%. Segundo estudos realizados por Gómez-Núñes (1964), em espécimes de Rhodnius prolixus, observou- se que apesar de ocorrerem eclosões em temperaturas constantes entre 16 e 34⁰C as taxas de eclosão próximas a 100% só ocorrem em temperaturas variando entre 20 e 29⁰C.

Estudos realizados por Szumlewicz (1975) e Sherlock (1979) demonstraram que as taxas de eclosão para o gênero Rhodnius são geralmente superiores a 80%, entretanto, taxas inferiores já foram documentadas em outros estudos. Soares e cols (1995), observaram taxas de 64,9% de eclosão em R. nasutus em uma amostra de 30 ovos e Guarneri e cols. (1998), analisando espécimes de R. domesticus, observaram uma taxa de eclosão de 57% em uma amostra de 100 ovos.

Segundo Guarneri e cols. (1998), as baixas taxas de eclosão observadas podem estar relacionadas a questões de fertilidade das fêmeas utilizadas para a geração dos ovos, o que também pode justificar os valores obtidos no presente estudo.

5.1.2. Peso dos ovos:

A partir da pesagem dos ovos individualmente antes e após a eclosão da ninfa de 1⁰ estádio foi possível determinar o peso em gramas para ovos embrionados e eclodidos. Observou-se que o peso em gramas para ovos embrionados foi em média 0,000662g, enquanto o peso para ovos após a eclosão da ninfa de 1⁰ estádio foi em média 0,000231g.

Apesar de a variável peso em ovos de triatomíneos não estar amplamente discutida na literatura científica sabe-se que as características morfológicas dos ovos, como a estrutura do exocório, tem sido de grade importância na caracterização de novas espécies como discutido por Rosa e cols (2012) em estudo referente à identificação de caracteres morfológicos que identificam a espécie R. montenegrensis.

5.1.3. Período de incubação e duração do ciclo de desenvolvimento:

No presente estudo, o período de incubação médio observado para R. montenegrensis foi de 13 dias variando entre 11 e 18 dias. Segundo Gómez-Núñes (1964), observando espécimes de R. prolixus a partir de uma amostra de 4000 ovos, constatou que o período de incubação varia de acordo com a temperatura a qual os ovos estão submetidos. Quando submetidos à temperatura de 28⁰C, observou-se um período de incubação de 14 dias em R. prolixus, duração esta que corrobora com os valores obtidos neste estudo para R. montenegrensis.

Rocha e cols. (2001a), observando espécimes de R. neglectus a partir de uma amostra de 100 ovos, mantidos a temperatura de 28⁰C e 70% de umidade relativa do ar, obtiveram um período de incubação médio de 14,8 dias variando entre 12 e 18 dias.

Rocha e cols. (2001b), em estudo realizado com espécimes de R. robustus a partir de uma amostra de 100 ovos, observou que em temperatura de 28⁰C e 70% de umidade relativa do ar, o período de incubação tinha uma média de 16,3 dias variando entre 14 e 21 dias.

Os três estudos anteriormente citados concordam que em temperaturas superiores a 28⁰C ocorre uma queda significativa no período de incubação dos ovos em triatomíneos do gênero Rhodnius.

O ciclo de desenvolvimento em Triatominae varia de acordo com a espécie e as condições ambientais as quais esses indivíduos estão submetidos. A disponibilidade de fontes alimentares apropriadas também tem grande influência sobre este parâmetro (Schofield 1985).

A duração média do ciclo de desenvolvimento em R. montenegrensis do ovo à fase adulta observada no presente estudo foi de 105,22 ± 9,18 dias em média. Os valores obtidos neste estudo se aproximam aos valores obtidos por Guarneri e cols. (1998), para espécimes de R. domesticus. No estudo acima citado, foi observado um ciclo de desenvolvimento médio de 93,8 dias a partir de uma amostra de 100 ovos.

Entretanto, os valores obtidos no presente estudo se demonstraram mais baixos do que os valores obtidos em estudos com outras espécies do gênero Rhodnius. Lent & Valderrama (1977) obtiveram um ciclo de desenvolvimento médio de 114 dias para R. prolixus, 181,2 dias para R. neivai e 190,7 dias para R. pictipes. Jurberg & Rangel (1984), analisando espécimes de R. pallescens a partir de uma

amostra de 200 ovos, obtiveram uma média de ciclo de desenvolvimento de 358 dias.

5.1.4. Ecdises por Estádio:

Avaliou-se no presente estudo, o percentual de ecdises por estádio de desenvolvimento em R. montenegrensis. Os maiores percentuais foram observados no 2⁰ (93,55%) e 3⁰ (93,48%) estádios ninfais, seguidos do 4⁰ estádio ninfal (89,14%), 5⁰ estádio ninfal (88,05%) e por fim pelo 1⁰ estádio ninfal (77,6%).

Rocha e cols. (2004), observando espécimes de R. brethesi obtiveram um percentual de 89,2% de ecidises no 1⁰ estádio ninfal, 97,62% no 2⁰ estádio, 99,19% no 3⁰ estádio, 98,8% no 4⁰ estádio e 98,86% no 5⁰ estádio ninfal.

Rocha e cols. (1997), a partir de observações em espécimes de R. pictipes, obtiveram um percentual de ecdises de 84% no 1⁰ estádio ninfal, 94% no 2⁰ e 3⁰ estádios, 100% no 4⁰ estádio e 94% no 5⁰ estádio ninfal.

Os valores observados no presente estudo foram relativamente menores do que aqueles observados para outras espécies do gênero Rhodnius. Entretanto, os menores percentuais de ecdises ocorreram no primeiro e quinto estádio ninfal, dados que corroboram com os dados observados em estudos pregressos. O menor percentual de ecdises nesses dois estádios ninfais se deve ao fato de ocorreram mais ecdises defeituosas e interrupções no processo de muda imaginal, que é mais complexa nesses dois estádios do que nos demais.

5.1.5. Razão de sexo:

Observou-se no presente estudo, que o número de fêmeas geradas foi maior do que o número de machos em R. montenegrensis. Entretanto, a partir do teste de Qui-quadrado de heterogeneidade não se observou diferença significativa entre o número de espécimes gerados fêmeas e machos.

Esses dados se demonstraram discrepantes aos valores encontrados para outras espécies do gênero Rhodnius. Gomes-Nuñes (1964), em estudo realizado a partir de uma amostra de 4000 ovos de R. prolixus, observou um número maior de machos, com razão de sexo de aproximadamente dois machos para uma fêmea.

5.1.6. Peso em gramas por estádio de desenvolvimento:

A partir da pesagem dos triatomíneos antes e após o repasto foi possível calcular o aumento de peso corporal induzido pelo ingurgitamento em R. montenegrensis. Esse aumento foi mais pronunciado nos dois primeiros estádios ninfais decaindo gradativamente com a aproximação da fase adulta.

Os espécimes em 1⁰ estádio ninfal foram os que apresentaram o maior aumento de peso corporal após o repasto (10,6X). Os espécimes em 2⁰ estádio ninfal apresentaram aumento de peso corporal de 6,6X, os espécimes em 3⁰ estádio ninfal apresentaram aumento de 5,4X, em 4⁰ estádio ninfal 5,9X e em 5⁰ estádio ninfal 3,9X. Os espécimes em fase adulta foram os que apresentaram o menor aumento de peso corporal, sendo o aumento do peso em fêmeas (2,2X) significativamente maior do que em machos (1,6X).

Rocha e cols. (1997), analisando espécimes de R. pictipes a partir de uma amostra composta por 50 ninfas de cada estádio, 30 machos e 30 fêmeas observou um maior aumento de peso corporal no 1⁰ etádio (6,5X), 2⁰ estádio (8,2X) e 3⁰ estádio ninfal (8,5X) ocorrendo redução no aumento de peso a partir do 4⁰ estádio ninfal até a fase adulta, fase em que se registrou o menor aumento de peso corporal (2,2X e 2,3X para machos e fêmeas, respectivamente).

Rocha e cols. (2004), em estudo analisando R. brethesi a partir de uma amostra de 54 espécimes também observou um maior aumento de peso corporal nos 3 primeiros estádios de desenvolvimento (5,1X, 5,0X e 5,5X respectivamente) ocorrendo diminuição do aumento de peso corporal a partir 4⁰ estádio com a aproximação da fase adulta, onde se observou o aumento de peso mais baixo (1,4X). Esses dados corroboram com os dados observados no presente estudo.

A importância da quantidade de sangue ingerido no desenvolvimento de triatomíneos já foi ressaltada por diversos autores. A ingesta de sangue está relacionada diretamente com o número de ovos produzidos, com o risco de se infectar com tripanosomatídeos, com a capacidade de dispersão pelo voo e com a taxa de dejeção nesses insetos (Buxton 1930, Friend et al. 1965, Regis 1979).

5.1.7. Número de alimentações por estádio e percentual de mortalidade:

O número de repastos sanguíneos realizados por estádio é reconhecidamente, um dos aspectos mais relevantes quanto à probabilidade de infecção e ou transmissão do T. cruzi, uma vez que o contato ativo entre o vetor e o hospedeiro ocorre no momento da alimentação (Juarez 1970, Rocha et al. 1994, 1997).

No presente estudo, R. montenegrensis apresentou uma média de duas alimentações nos três primeiros estádios ninfais com aumento gradual a partir do 4⁰ estádio ninfal. Esses dados demonstram um maior número de alimentações por estádio nesta espécie do que aqueles observados em outras espécies do gênero Rhodnius.

Guarneri e cols. (1998), em estudo realizado com espécimes de R. prolixus a partir de uma amostra de 57 indivíduos, observou que não houve diferença significativa entre o número de repastos realizados por estádio, sendo necessários em média 1,2 repastos sanguíneos para que houvesse a muda imaginal.

Rocha e cols. (1997), analisando uma amostra de 310 indivíduos da espécie R. pictipes também observaram um pequeno número de repastos sanguíneos necessários para a muda imaginal. Entre o 1⁰ e 4⁰ estádio ninfal foi necessária apenas uma alimentação para que ocorresse a muda. Para os espécimes em 5⁰ estádio ninfal foram necessárias duas alimentações.

Rocha e cols. (2001), analisando populações de R. robustus a partir de uma amostra de 100 ovos, observou um aumento gradual do número de repastos com a aproximação da fase adulta. As médias observadas do 1º ao 5º estádio foram 1,5; 1,8; 2,7; 2,8; 4,4, respectivamente. Esses dados foram os que mais se aproximaram dos dados observados para R. montenegrensis no presente estudo.

Segundo Galvão e cols. (2003), o número de repastos sanguíneos realizados tem grande relevância epidemiológica já que quanto maior o número de contatos entre o vetor e o hospedeiro maiores são as possibilidades de infecção e transmissão do T. cruzi. Os espécimes de R. montenegrensis observados no presente estudo apresentaram em média mais alimentações para atingir o estádio seguinte do que outras espécies do gênero Rhodnius. Entretanto, quanto menor a exposição do vetor na procura por alimento, maiores são as suas chances de sobrevivência (Galvão et al., 2001). Com isso, a necessidade de um maior número

de repastos tem impacto na capacidade vetorial já que pode levar a um aumento da mortalidade.

Quanto ao percentual de mortalidade por estádio em R. montenegrensis, observou-se que as taxas mais elevadas ocorreram no 1⁰ estádio (22,4%) e 5⁰ estádio (11,95%). De um modo geral, as taxas de mortalidade mais elevadas são observadas no 1⁰ e 5⁰ estádio de desenvolvimento. No 1⁰ estádio os percentuais de mortalidade geralmente são mais altos pela dificuldade na realização do primeiro repasto devido a fragilidade do aparelho bucal e a dificuldade de alcançar o hospedeiro e atingir um capilar (Rocha et al., 1997) Já no 5⁰ estádio ninfal o alto percentual de mortalidade se dá principalmente pela ocorrência de ecdises defeituosas e interrupções na muda imaginal, que é mais complexa que nas demais fases (Rocha et al., 2001). Nos demais estádios, os percentuais observados no presente estudo foram 6,45%, 6,52% e 10,86% para o 2⁰, 3⁰ e 4⁰ estádio respectivamente. Quanto à taxa de mortalidade total o percentual observado no presente estudo foi de 30,01%.

Em estudos realizados por Lent e Valderrama (1977), usando pombos como fonte alimentar, constataram 33% de mortalidade para R. pictipes durante todo o ciclo. Resultados similares foram obtidos por Rocha e cols. (1994) que registraram percentual de mortalidade de 38% durante todo o ciclo também para R. pictipes.

Estudos realizados por Arévalo e cols (2007), observando espécimes de R. colombiensis, constataram um percentual de mortalidade de 31,5% a partir de uma amostra de 92 insetos.

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