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3. Materiais e Métodos: 1 Área de estudo:

5.2. Infecção por tripanosomatídeos:

A partir do exame a fresco de material fecal de triatomíneos em 5⁰ estádio ninfal e fase adulta por microscopia, obteve-se um percentual de infecção por formas flageladas de 36,7%. Observou-se um percentual significativamente mais alto de positividade para tripanossomatídeos entre os indivíduos adultos do que entre os indivíduos em 5° estádio ninfal. Esse fato se deve ao maior número de repastos realizados por indivíduos adultos o que aumenta de forma significativa as chances de contaminação por hemoflagelados semelhantes a T. cruzi.

Estudos anteriores realizados no município de Monte Negro, Rondônia, reportaram a presença de formas flageladas em análise por microscopia do trato

digestivo de triatomíneos capturados em palmeiras. Carvalho e cols., em estudo realizado em 2011, observaram a partir de uma amostra de 322 triatomíneos um percentual de 50% de infecção por formas flageladas semelhantes a T. cruzi.

Em estudos realizados no município de Ouro Preto do Oeste, Rondônia, em 2012 por Meneguetti e colaboradores, observou-se a contaminação por formas flageladas semelhantes a T. cruzi em espécies coletados em O. speciosa (babaçu) em uma amostra de 494 espécimes onde obteve-se um percetual de contaminação de 35,6%.

Em estudos realizados no município de Monte Negro, Rondônia, Massaro e cols. (2008), obtiveram a partir da análise por microscopia do tubo digestivo de uma amostra de 249 espécimes coletados em áreas peridomiciliares, um percentual de contaminação por formas flageladas de 23,7%.

Sabe-se que, de uma maneira geral, espécies do gênero Rhodnius estão associadas a diferentes espécies de palmeiras. Estas árvores fornecem um microambiente ideal para a colonização destes insetos. Entretanto, quando próximos a ambientes domiciliares, triatomíneos podem optar por outros tipos de abrigos e as áreas peridomiciliares oferecem opções com microclima ideal para desenvolvimento destas populações (Coutinho et al., 2014).

Segundo estudos de Meneguetti e cols. (2011), no município de Ouro Preto do Oeste, Rondônia, a maior ocorrência de triatomíneos em palmeiras se encontrava nas regiões de pastagem e em proximidade a áreas domiciliares. Esses dados são preocupantes visto que a proximidade de palmeiras colonizadas por triatomíneos às residências pode levar a infestação de habitações por espécimes contaminados pelo T. cruzi.

Segundo Coura e Junqueira, em artigo publicado em 2012, há uma série de fatores contribuindo para a ocorrência disseminada de surtos agudos na região da Amazônia brasileira. Entre elas destacam-se a ocorrência de triatomíneos silvestres contaminados pelo T. cruzi colonizando palmáceas e a intensa ação humana sobre os ecótopos naturais dos triatomíneos o que leva a invasão dos mesmos em áreas domiciliares e peri-domiciliares além da contaminação de gêneros alimentícios como o açaí e outras polpas de frutas.

O estado de Rondônia abriga um ecossistema constantemente ameaçado pela ação transformadora do homem, resultando em um desequilíbrio que pode

facilitar a aproximação do vetor ao homem, consequentemente, facilitando a transmissão de patógenos como o T. cruzi (Massaro et al., 2008).

Coura, em artigo publicado em 2015, chama a atenção ao aumento do número de casos recentes por transmissão oral que levaram a região da Amazônia brasileira a ser considerada como região endêmica para a doença de Chagas e ainda, ao problema da subnotificação de casos agudos por esta via de transmissão.

Ainda segundo Coura, a questão da subnotificação se deve ao profundo descaso das autoridades com o atendimento a saúde na região e ao despreparo dos agentes de saúde em realizar o diagnóstico diferencial da doença de Chagas devido à inespecificidade dos sintomas.

Após a análise molecular a partir da PCR diagnóstico para amplificação do domínio catalítico da catepsina L-like (CatL-like) das 22 amostras positivas pelo exame a fresco de material fecal, observou-se um percentual de 9,1% de contaminação de triatomíneos da espécie R. montenegrensis entre o 5° estádio ninfal e a fase adulta por T. rangeli, 72,7% de contaminação dos mesmos por T. cruzi e 9,1% de contaminação por T. rangeli e T. cruzi.

Em estudo realizado por Meneguetti e colaboradores em 2013 no município de Buritis, Rondônia, foi registrada a contaminação por T. rangeli em R. montenegrensis coletados em palmáceas. Foi realizada a análise molecular por PCR, em uma amostra de 120 especimes coletados. Observou-se a partir desta amostra um percentual de 100% de contaminação por T. rangeli.

Dias e cols. (2008), em estudo realizado no estado do Ceará, para investigação da infecção natural por T. rangeli em triatomíneos capturados em palmáceas observaram que, entre 26 espécimes positivos para tripanosomatídeos a partir de exame a fresco de material fecal e hemolinfa, 7,7% se demonstraram positivos para T. rangeli após análise molecular.

Dias e cols. (2014), observando a infecção por tripanosomatídeos na região do rio Tapajós no estado do Pará, obtiveram um percentual de 7,6% de infecção por T. cruzi a partir de análise molecular em uma amostra de 423 triatomíneos do gênero Rhodnius.

Dias e cols. (2007), analisando espécimes de triatomíneos capturados em palmáceas na chapada do Araripe, Ceará, observaram um percentual de infecção natural por T. cruzi de 16,8% a partir de uma amostra de 382 espécimes.

Os resultados obtidos no presente estudo demonstram um índice de infecção natural por T. cruzi em triatomíneos capturados em palmeiras mais alto do que aqueles observados em estudos posteriores em estados do Norte e Nordeste do país. Estudos realizados em outras regiões do país também apresentaram resultados inferiores àqueles observados no presente estudo. Cominetti e cols. (2013), observando espécimes de triatomíneos no estado do Mato Grosso do Sul, obtiveram um percentual de infecção por T. cruzi de 19,6% a partir de uma amostra de 515 espécimes.

A análise molecular para detecção de T. cruzi e para infecções mistas de T. cruzi e T. rangeli a partir de amostras do trato gastro-intestinal de triatomíneos é a primeira a ser realizada no município de Monte Negro, Rondônia, e os resultados possuem grande relevância epidemiológica, pois apontam o triatomíneo como potecial vetor para a transmissão da doença de Chagas no município.

Além disso, considerando-se que a distribuição do T. rangeli muitas vezes coincide com a distribuição do T. cruzi, as análises que permitem a distinção entre as duas espécies é de suma importância para o diagnóstico diferencial da doença e para os estudos de infecção natural de triatomíneos e do ciclo silvestre do T. cruzi. Dado as similaridades entre as duas espécies de tripanosomatídeos no que se refere à superfície de antígenos expressos pelos mesmos, podem ocorrer prejuízos nos inquéritos sorológicos dificultando assim, o diagnóstico diferencial da doença de Chagas.

Os dados obtidos neste estudo complementam a necessidade de reavaliação do quadro da doença de Chagas na região da Amazônia brasileira e demonstram a necessidade de uma maior atenção pelo sistema de vigilância epidemiológica da doença de Chagas no estado de Rondônia, localidade onde também se observam a ação antrópica disseminada e a ocorrência de triatomíneos do gênero Rhodnius associados a palmeiras contaminados por tripanossomatídeos

6. Conclusão:

Quanto aos estudos referentes a biologia da espécie R. montenegrensis, observou-se no presente estudo que as taxas de eclosão em ovos foram de 63,04%, dados estes que corroboram com os valores obtidos em estudos anteriores para outras espécies do gênero Rhodnius. O período de incubação médio observado para ovos em R. montenegrensis foi de 13 dias variando entre 11 e 18 dias valores que também se aproximam daqueles obtidos em estudos antoriores para o mesmo gênero.

Observou-se que os maiores percentuais de ecdises por estádio de desenvolvimento em R. montenegrensis ocorreram no 2⁰ (93,55%) e 3⁰ (93,48%) estádios ninfais, seguidos do 4⁰ estádio ninfal (89,14%), 5⁰ estádio ninfal (88,05%) e, por fim, pelo 1⁰ estádio ninfal (77,6%). Os dados obtidos se demonstraram inferiores àqueles observados em estudos anteriores para outras espécies do mesmo gênero.

Quanto à razão de sexo em R. montenegresis, observou-se no presente estudo, a partir do teste de Qui-quadrado de heterogeneidade, que não há diferença significativa entre a proporção entre espécimes nascidos machos e fêmeas. Os dados obtidos se demonstraram discrepantes daqueles obtidos para espécimes de R. prolixus em estudos prévios realizados por Gómes-Núñes (1964), sendo a proporção de machos maior do que o de fêmeas no estudo acima citado.

Quanto ao aumento de peso após o repasto em R. montenegrensis, os espécimes em 1⁰ estádio ninfal foram os que apresentaram o maior aumento de peso corporal (10,6X). Os espécimes em 2⁰ estádio ninfal apresentaram aumento de peso corporal de 6,6X, os espécimes em 3⁰ estádio ninfal apresentaram aumento de 5,4X, em 4⁰ estádio ninfal 5,9X e em 5⁰ estádio ninfal 3,9X. Os espécimes em fase adulta foram os que apresentaram o menor aumento de peso corporal, sendo o aumento do peso em fêmeas (2,2X) significativamente maior do que em machos (1,6X). Esses dados também corroboram aos dados obitidos para este gênero em estudos anteriores.

No presente estudo, R. montenegrensis apresentou uma média de duas alimentações nos três primeiros estádios ninfais com aumento gradual a partir do 4⁰ estádio ninfal. Esses dados demonstram um maior número de alimentações por

estádio nesta espécie do que aqueles observados em outras espécies do gênero Rhodnius.

Com relação à análise da infecção natural por tripanosomatídeos em R. montenegrensis na região peri-urbana de Monte Negro, Rondônia, observou-se a partir do exame a fresco de material fecal de espécimes em 5⁰ estádio ninfal e fase adulta uma taxa de infecção natural de 36,7%. Observou-se um maior percentual de infecção nos espécimes adultos (50%) do que entre os espécimes em 5⁰ estádio ninfal (23,3%), esses dados são esperados devido ao maior número de repastos realizados pelos espécimes em fase adulta.

Após a análise molecular, entre as 22 amostras positivas pelo exame a fresco de material fecal, observou-se um percentual de 9,1% de contaminação de triatomíneos da espécie R. montenegrensis entre o 5° estádio ninfal e a fase adulta por T. rangeli, 72,7% de contaminação dos mesmos por T. cruzi e 9,1% de contaminação por T. rangeli e T. cruzi. Os resultados obtidos demonstram uma taxa de infecção natural por T. cruzi superior àquelas observadas em estudos posteriores em estados do Norte e Nordeste do país.

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