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2 DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO, DESENVOLVIMENTO SOCIAL E

3.2 O problema do saneamento no Brasil

3.2.1 Dados do Sistema Nacional de Informações sobre o Saneamento

A prestação do serviço de saneamento básico, nas espécies água, esgoto e resíduos sólidos, como listadas no art. 3º, I, da Lei 11.445/07, é monitorada pelo Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS). O SNIS é um sistema de informações ligado à

Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental (SNSA), pertencente ao Ministério das Cidades (MCID).

As informações sistematizadas pelo SNIS encontram-se consolidadas desde 1995, e são separadas dois sistemas, um para os dados do saneamento de água e esgoto (SNIS-AE) e outro para os do saneamento de resíduos sólidos (SNIS-RS). Trata-se de informações detalhadas sobre a abrangência da cobertura, indicadores financeiros – tais como receita, despesa, perdas, serviços da dívida – e informações institucionais, como a natureza jurídica do prestador, nacionalmente coletadas.

As informações são disponibilizadas na internet, ao acesso de todos. Tal transparência é um requisito de exercício democrático do controle dos serviços públicos e da atuação do Estado e da defesa do meio ambiente.

A cada ano, com a publicação das informações consolidadas pelo SNIS, o Instituto Trata Brasil, uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), capta e analisa os dados disponibilizados, produzindo um série de estudos sobre o saneamento básico no Brasil. As informações, assim tratadas, ficam muito mais fáceis de serem apreendidas e utilizadas pelo público em geral.

Em 2016, o SNIS publicou a consolidação dos dados referentes a 2014. O Instituto Trata Brasil analisou os dados divulgados e publicou o documento Ranking do saneamento 2016. Esse estudo, além de descrever a metodologia de análise aplicada aos dados (desenvolvida em parceria com diversas instituições, como o Ministério das Cidades e associações e sindicatos do setor de saneamento), analisa sistematicamente os indicadores, divididos em indicadores de cobertura e indicadores de eficiência, e ranqueia os 10 piores e 20 melhores prestadores de água e esgoto no Brasil. O ranking do Trata Brasil oferece ainda comparações de dados relativos a cada uma das cinco regiões do país, possibilitando avaliar se o desenvolvimento do setor tem se dado de forma regionalmente equilibrada, como exige o art. 3º, II e III, da Constituição Federal.

Para atender ao propósito do presente estudo, qual seja, esclarecer qual a amplitude do atendimento de serviços de saneamento de água e esgoto hoje no Brasil, serão analisados, do relatório do Instituto Trata Brasil, apenas os indicadores do nível de cobertura: abastecimento de água, coleta de esgoto e tratamento de esgoto. Além destes, o relatório trata ainda de dados relativos à eficiência do serviço – perda de faturamento e perda na distribuição – além de indicadores de níveis de investimento – investimento sobre arrecadação e investimento médio anual por habitante, que, apesar de relevantes para um diagnóstico completo do setor, não servem ao propósito específico deste trabalho.

Todos os dados apresentados a seguir foram retirados do relatório citado (INSTITUTO TRATA BRASIL, 2016).

3.2.1.1 Abastecimento de água

O indicador abastecimento de água descreve a taxa de cobertura do serviço de abastecimento de água potável encanada nos municípios analisados, indicando a porcentagem da população atendida. Divide-se em dois índices: o abastecimento total e o abastecimento urbano. Os indicadores de abastecimento urbano costumam ser maiores porque a cobertura do serviço é prejudicada na zona rural pela baixa densidade populacional característica da área. A expansão do sistema de saneamento de água nessas regiões apresenta custos mais altos por morador e acaba apresentando índices menores de cobertura. Famílias sem serviço de água encanada, em alguns lugares, podem estar sendo abastecidas por poços artesianos (MARQUES; LIMA, 2012).

Para dar uma ideia dos níveis de cobertura da atendimento de água no Brasil, colocamos lado a lado as taxas médias das 20 melhores e das 10 piores ranqueadas do estudo do Instituto Trata Brasil. O número indicado refere-se à porcentagem da população atendida pelo serviço no município.

Tabela 1 – Cobertura total e cobertura urbana do abastecimento de água no Brasil Grupo dos 20 melhores Grupo dos 10 piores Total 99,32% 72,18% Urbano 99,85% 74,04%

Fonte: elaborado pela autora com dados do Instituto Trata Brasil (2016)

A média nacional do atendimento de abastecimento total de água é 83% da população, de acordo com o SNIS 2014, com dados publicados em 2016.

O dado mais importante a respeito do abastecimento de água é que, em termos de cobertura total, urbana e rural, a conclusão do Instituto Trata Brasil é que o serviço tem um bom nível de adequação e a maioria dos municípios encontra-se próximo da universalização do serviço.

O indicador médio dos municípios é de 93,27% e a mediana, 97,81%. Isto indica que, no geral, os municípios considerados possuem níveis de atendimento superiores à média brasileira total, que, de acordo com o SNIS 2014, é de 83%. (...)

É possível ver que a maioria dos municípios (91) possui atendimento total de água maior do que 80%, o que indica que a maior parte dos municípios considerados no

estudo se encontra próximo da universalização do serviço. (INSTITUTO TRATA BRASIL, 2016, p. 40-41)

3.2.1.2 Coleta de esgoto

O indicador de coleta de esgoto descreve a taxa de cobertura do serviço nos municípios, indicando a porcentagem da população atendida. O esgoto que não é coletado pode estar recebendo soluções individuais, tal como despejo em fossa séptica (MARQUES; LIMA, 2012). No entanto, parte expressiva desse esgoto está sendo lançado diretamente nos corpos d’água.

Tabela 2 – Cobertura total e cobertura urbana da coleta de esgoto no Brasil Grupo dos 20 melhores Grupo dos 10 piores Total 96,86% 19,20% Urbano 98,16% 19,74%

Fonte: elaborado pela autora com dados do Instituto Trata Brasil (2016)

Nota-se que o indicador de coleta de esgoto apresenta discrepância bem maior entre os grupos do que o abastecimento de água. O baixo valor das taxas de coleta de esgoto é extremamente preocupante, uma vez que o despejo de águas poluídas diretamente nos corpos d’água representa um impacto negativo enorme na vida das pessoas e na conservação da qualidade dos corpos d’água e do meio ambiente.

A média nacional total, de acordo com o SNIS 2014, é de apenas 49,6%. Metade de todo o esgoto produzido no Brasil não chega a passar pelo sistema de saneamento.

3.2.1.3 Tratamento de esgoto

Há um segundo indicador de abrangência de serviço de esgotamento sanitário, que é o de tratamento do esgoto. Isto porque nem todo esgoto que é coletado pelo sistema de saneamento passa por tratamento antes de ser despejado novamente no ambiente.

Em condições normais, há certa quantidade de água consumida que não retorna para o sistema de coleta de esgoto. Em um exemplo domiciliar, a água usada em descargas sanitárias, banhos, pia de cozinha, por exemplo, será coletada pela rede de esgoto. Já a água usada na lavagem de calçadas, de carros, na rega de jardins, será incorporada à rede pluvial ou dispersa na natureza. Trata-se da chamada “taxa de retorno”, que expressa a relação entre o volume de esgoto tratado e o volume de água consumida. O setor considera normal uma taxa de retorno

de 0,8, o que significa que uma relação entre esgoto tratado e água consumida acima de 80% é considerada adequada.

Tabela 3 – Volume do esgoto coletado que passa por tratamento no Brasil Grupo dos 20 melhores Grupo dos 10 piores Esgoto tratado 88,05% 10,44%

Fonte: elaborado pela autora com dados do Instituto Trata Brasil (2016)

Novamente, a disparidade da cobertura entre os municípios melhores colocados e os que sofrem os piores índices de atendimento é excessiva. A média nacional não é menos preocupante, encontrando-se no valor de 40,8%. Isto significa que, mesmo considerando a taxa de retorno, um volume da ordem de metade de toda a água tratada distribuída no país retorna ao ambiente sem ter passado por qualquer tratamento.

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