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2.3.1

Dados de comércio

Foram analisados os dados relativos a exportações e a importações brasileiras disponíveis para o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) no período de 2007 a 2011 em periodicidade mensal. O MDIC registra cada operação de exportação e de importação feita para e a partir do Brasil. Ambos os valores de exportações e importações são registrados por seu valor FOB6 pelo MDIC. Os dados são obtidos do registro de exportação apresentado pelo exportador ao MDIC e da declaração de importação apresentada pelo importador à Receita Federal do Brasil (RFB). Os comerciantes declaram a moeda de faturamento e o valor faturado de cada operação. Estes valores declarados são convertidos para dólares americanos pela taxa de câmbio do dia e armazenados na base de dados.

Nós não pudemos obter dados detalhados por empresa, por isso não foi possível verificar, em particular, a hipótese de os registos em moeda local serem decorrentes de fatores contábeis internos à empresas multinacionais. As empresas com operações no Brasil e no exterior tem sua logística intrafirmas internacionais contabilizados como exportações

6 De acordo com o INCOTERMS 2010, o valor free on board (FOB) é aquele que considera o valor do

bem sem a adição de valores relativos a seguro e frete. Ele se distingue do valor CIF, o qual considera o valor do bem adicionado dos custos de seguro e frete e é o método usual de se registrar importações de acordo com as estatísticas da Organização Mundial do Comércio(OMC).

e importações como fossem diferentes empresas. No entanto, pode-se argumentar que o fator contábil superaria o fator comercial, de modo que o faturamento na moeda local seria decorrente do interesse de se evitar a volatilidade do câmbio no balaço empresarial e não decorrente de um escolha de moeda irrestrita. A indisponibilidade de dados detalhados por firma impede a verificação desta hipótese.

Os valores registrados no banco de dados de comércio brasileiro estão em moeda norte-americana. O uso desta moeda como a moeda registro é significativo. Ele mostra explicitamente como a economia doméstica depende de uma referência externa. Isto é semelhante à situação em outros países, como discutido mais adiante. No entanto, o Brasil é fortemente dependente do referencial em USD. Assim, embora o presente estudo seja focado no faturamento do comércio exterior brasileiro em BRL, todos os dados são apresentados em USD.

Dos dados obtidos, foram excluídas as observações relacionadas a provisão de embarcações e aeronaves, salvo quando mencionado em contrário. A apropriação das exportações nesta finalidade ocorre quando as exportações são realizadas no Brasil, a fim de atenderem necessidades de abastecimento de navios estrangeiros quando em trânsito em portos e aeroportos brasileiros. Estas despesas de consumo ocorrem em decorrência da necessidade de reabastecimento local, quando o consumo ocorre no território do país do vendedor. Estas características proporcionam um viés nas escolhas relacionadas à operação comercial e se distanciam dos objetivos do presente estudo. Tais exportações são de montante relevante, principalmente ao se observar transações na moeda brasileira. Em média representam 71% do faturamento em BRL entre 2007–8 e 23% de 2009–11. A não exclusão destes valores superestimaria a escolha do real como moeda de faturamento em situações em que o comprador não teria outra opção senão realizar aquisições na moeda local.

Em relação aos dados de importação, nós devemos ser particularmente cautelosos em relação à sua interpretação. A base de dados do MDIC registra como país de origem da mercadoria o país em que a mercadoria foi produzida; não a nacionalidade da empresa que realizou a venda (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, 2013). Assim, há mercadorias importadas que têm como origem o Brasil. Esta mercadoria foi primeiramente exportada para um país estrangeiro e depois exportada de volta para o Brasil, sendo registrada como uma importação brasileira de produto brasileiro. Estes dados foram excluídos das tabelas em razão de não proverem um explicação relevante para os produtos exportados faturados em BRL, que é o nosso objetivo aqui. Estas mercadorias não atingiram 0,05% até 2009, mas apresentaram uma participação significativa em 2010 de 17,68% e em 2011 de 8,65%. A maior parte destes dados dos dois últimos anos estão relacionados a importação de trens: 12,56% e 5,03% são relativos a estas operações.

Nós assumimos que a diferença de inflação entre a moeda nacional e a moeda estran- geira é absorvida pela variação da taxa de câmbio entre as duas moedas. Adicionalmente, o deflacionamento pela inflação do USD (8,5%) ou pela inflação do BRL (24,6%) traria diferentes resultados relativos com pouca contribuição para o nosso trabalho7. Estudar o crescimento do uso do BRL com dados registrados em USD tem um escolha natural de qual unidade é utilizada como referência. Como a magnitude do crescimento do uso do BRL (960%) é consideravelmente mais alta que as taxas de inflação (8,5% e 24,5%), nós não consideramos estas taxas como a única causa para o resultado geral. Então a volatilidade do câmbio durante o período substitui o deflacionamento da série e nós apresentamos os resultados em valores nominais correntes para cada anos. Nós discutimos a volatilidade da taxa de câmbio mais adiante neste artigo.

2.3.2

Dados financeiros relacionados ao comécio

Nós também utilizamos dois conjuntos de dados para identificar os pagamentos denominados em BRL e contrastar os valores de comércio e financeiros na subseção 2.5.3. O primeiro conjunto vem da base de dados de TIR do Banco Central do Brasil (BCB). Ela registra as ordens de pagamento entre um residente e um não-residente no Brasil em BRL, que são conhecidas como Transferências Internacionais de Reais (TIR). O mesmo período de dados da série de comércio exterior foi obtido, com detalhamento por operação realizada.

As instituições financeiras são obrigadas a comunicar todas as operações acima de BRL 10.000. Este é o mesmo limite a que um indivíduo está submetido para portar em dinheiro em uma entrada ou saída fronteiriça sem ter de reportá-la, de acordo com as normas contra a lavagem de dinheiro. Além disso, assumimos que as instituições financeiras fora do Brasil não oferecem serviços de forma significativa em BRL–caso ofereçam, a conta está disponível por meio de um banco correspondente, oferecendo uma conta mantida em realidade no Brasil. Assim, qualquer pagamento feito em BRL é assumido ser realizado no Brasil, o que significa que as instituições financeiras que prestam serviços de transferência de BRL estão sob a regulação do mercado brasileiro, tendo, assim, de registar estas operações no Banco Central do Brasil.

A segunda fonte de dados financeiros denominados em BRL são os dados do SML do BCB. A ordem de pagamento do SML é um outra opção para a liquidação internacional e se aplica somente ao comércio entre Brasil e Argentina. A ordem de pagamento do SML é uma remessa transfronteiriça de BRL do Brasil para a Argentina, que pode ser utilizada para recebimento do pagamento de exportações brasileiras. De acordo com a regulamentação

7 A inflação do USD corresponde à variação do Índice de Preços ao Consumidor dos Estados Unidos

entre 2007 e 2011; e a inflação do BRL corresponde à variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) no mesmo período.

estas exportações brasileiras devem ter sido faturadas na moeda nacional do exportador. Então, exportações brasileiras pagas em BRL por meio do SML correspondem a uma operação de valor equivalente de faturamento em BRL. O pagamento de importações brasileiras não é considerado para nossos propósitos por serem fixados em ARS, mesmo que o pagamento final ao importador seja feito em BRL. A série obtida tem início com o lançamento do sistema em outubro de 2008 e segue até o último ano dos dados da série de comércio exterior, com periodiciadade mensal.

2.3.3

Definição de moeda internacional

Ao longo desse artigo, nós consideramos uma moeda suficientemente usada no comér- cio internacional como uma moeda internacional, enquanto uma moeda não-internacional é uma cujo uso é limitado às fronteiras do país emissor.

Como referência, adotaremos como moedas conversíveis internacionalmente para o comércio internacional aquelas moeda disponíveis para utilização no Continuous Linked

Settlement (CLS). O CLS é um sistema de compensação privado que disponibiliza a

liquidação internacional de operações entre diferentes moedas. A opção, neste trabalho, por esta forma de identificação de moedas internacionais se justifica por sua conveniência. A resposta binária à questão de internacionalização de uma moeda simplifica substancialmente a avaliação das características de uma moeda em relação à percepção dos agentes no mundo, motivo pelo qual preferimos um indicador contínuo num espaço multidimensional de percepção dos diversos agentes sobre as características do padrão monetário. Contudo, a simplificação obtida pela resposta binária é suficiente para as considerações elaboradas no presente artigo e, portanto, justificamos esta opção aqui realizada. Neste sentido, no CLS, são dezessete moedas disponíveis para operação no sistema e, pelo volume de operações, podemos considerar que estas moedas são em determinado grau conversíveis internacionalmente8 (CLS GROUP, 2012).