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Moedas de faturamento no comércio exterior brasileiro

Nesta seção, nós observamos a distribuição do uso de moedas no comércio exterior brasileiro. Aqui, nosso objetivo é mostrar quais moedas são utilizadas para faturamento

8 Para participar do CLS, uma moeda deve ser considerada suficientemente conversível. Por este

motivo, utilizaremos esta percepção de mercado para considerar quais as moedas internacionalmente conversíveis neste estudo. Obviamente a participação no CLS está sujeita a critérios políticos em relação aos agentes envolvidos, como, exemplificadamente, a entrada da moeda estar sujeita à aprovação do Federal Reserve (Fed), o banco central norte-americano. Compreendemos esta questão como uma restrição não-econômica a participação de uma moeda no CLS, que está além dos objetivos de análise do presente estudo. Cientes desta questão, entendemos que a participação de uma moeda no CLS é suficiente para indicar que esta tem um grau elevado de internacionalização em razão da consideração de ser suficientemente conversível.

no Brasil e destacar a ocorrência de faturamento em BRL. A percepção usual leva à ideia de que a moeda local não-internacional não é, em nenhuma ocasião, preferível a qualquer outra moeda, deixando nenhum espaço para a moeda brasileira desempenhar qualquer papel internacional. Independentemente do argumento utilizado para sustentar esta ideia—seja por isto ser consequência da possibilidade de os agentes usarem uma moeda global muito mais eficiente, seja por isto ser consequência de uma relação centro-periferia—, nós estabelecemos que a inexistência de um papel internacional não é verdadeira. Nós atestamos que o BRL é de fato utilizado voluntariamente para faturar o comércio e estabelecemos que ele desempenha algum papel internacional; pelo menos como unidade de conta para algum conjunto de agentes.

Como mencionado na seção 2.1, os exportadores brasileiros eram proibidos de receber seu pagamento na moeda local até 2007, o ano de início de nossa série. De 2007 a 2011, nós observamos que a distribuição das exportações brasileiras por moeda de faturamento é altamente concentrada. Onze moedas foram utilizadas para faturar, tendo o USD representado aproximadamente 95% do valor total das exportações. Todas as moedas utilizadas para faturar as exportações são moedas internacionais, exceto o BRL, que é a moeda local. Além do USD, o montante remanescente é faturado em euro (EUR) e residualmente nas outras nove moedas, que incluem o BRL9. As colunas à esquerda na tabela 3mostram um resumo desses dados.

Ao contrário do faturamento das exportações brasileiras, o faturamento das im- portações não ocorre exclusivamente em moedas internacionais ou em BRL. Embora a participação das moedas internacionais seja de 99,98 % das importações, outras moe- das nacionais não-internacionais também são identificadas, adicionalmente ao BRL. Os restantes 0,02% (cerca de USD 220 milhões) é distribuído entre um grande conjunto de moedas. Importadores brasileiros aceitam diferentes moedas para faturar operações de pequenos valores. Durante o período analisado, o número de moedas neste conjunto aumentou ligeiramente de 32 (em 2007) para 36 (em 2011). O lado direito da tabela 3

(importações) consolida os dados sobre moedas internacionais e a participação do BRL. A figura 1explicita o crescimento do faturamento em BRL: nove vezes maior em um período de cinco anos nas exportações e quatro vezes maior nas importações.

Mesmo ainda sendo predominante no faturamento das importações brasileiras, o dólar tem uma participação menor: cerca de 85%. Por outro lado, a participação das importações em EUR é duas vezes maior que a sua participação nas exportações. O EUR permaneceu estável em um nível de 11%. O BRL é o terceiro, com crescimento de 0,5%

9 As nove moedas adicionais são o BRL, a libra esterlina (GBP), o iene japonês (JPY), a coroa sueca

(SEK), o dólar canadense (CAD), o dólar australiano (AUD), o franco suíço (CHF), a coroa norueguesa (NOK), e a coroa dinamarquesa (DKK).

Tabela 3 – Participação da moeda no valor faturado nas exportações e importações brasi- leiras, por moeda, 2007–11 (%)

Moeda Exportações Importações

2007 2008 2009 2010 2011 2007 2008 2009 2010 2011 Dólar americano USD 94,7 94,4 93,8 94,3 94,5 85,5 85,7 83,2 83,6 83,8 Euro EUR 4,76 4,95 4,51 4,28 3,80 11,1 10,7 12,2 11,6 11,3 Real BRL 0,13 0,16 1,11 0,82 1,25 0,48 0,50 1,08 1,83 1,95 Outras moedas internac. 0,44 0,52 0,55 0,54 0,49 2,95 3,11 3,47 3,02 2,94

Outras moedas - - - 0,07 0,02 0,03 0,01 0,02

Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior – MDIC

Nota: Sinais convencionais utilizados: 0,0 : dado numérico resultante de arredondamento de um dados numérico originalmente positivo, -: dado numérico igual a zero, não resultante de arredondamento. As moedas representadas como “outras moedas internac.” são: a libra esterlina (GBP), o iene japonês (JPY), a coroa sueca (SEK), o dólar canadense (CAD), o dólar australiano (AUD), o franco suíço (CHF), a coroa norueguesa (NOK), e a coroa dinamarquesa (DKK).

Figura 1 – Crescimento da participação das moedas (2007–11)

0

5

10

2007 2008 2009 2010 20112007 2008 2009 2010 2011

Exportações brasileiras (*) Importações brasileiras

USD BRL EUR

Outras moedas internac. Outras moedas

Crescimento da participação (2007=1)

year

Graphs by fldpt

Notes: (*) Excluída energia elétrica

para quase 2% em 2011, a um nível semelhante ao JPY e acima do GBP. Ao comparar as exportações e importações faturadas em BRL, é claro que as importações em BRL experimentaram um crescimento menor. No entanto, a sua quota de 1,95% é maior do que a quota de exportação de 1,25%.

Uma questão a desafiar a conclusão de crescimento do uso do BRL pode ser a variação cambial. Conforme relatado na seção anterior, o comércio exterior do Brasil é registrado em USD. Assim, a variação na participação das outras moedas poderia ser atribuída a variação de sua taxa de câmbio contra o USD, usado como referência. Consequentemente, temos de ser cautelosos ao concluir que houve uma substituição do faturamento em uma moeda pelo faturamento em outra, apenas avaliando os dados de

fluxo de comércio detalhado por moeda de faturamento da operação.

Figura 2 – Variação cambial do BRL e do EUR em relação ao USD (2007–11)

Fonte: Banco Central do Brasil – BCB

A figura2exibe tanto a variação do BRL como a do EUR contra o USD no período de 2007-2011, normalizados para o primeiro dia. Durante este período, o BRL seguiu uma tendência de valorização em relação ao dólar, fortemente revertida durante a intensificação da crise financeira internacional. O EUR seguiu uma tendência semelhante durante o período inicial em uma escala menor. Após o agravamento da crise, a apreciação EUR se enfraqueceu, e a diferença entre as taxas de câmbio do EUR e do BRL sugere algum impacto sobre a análise dos dados nominais do comércio brasileiro registados em USD.

Nós nos concentramos no aumento da participação do faturamento em BRL. Mesmo considerando a variação cambial no período, o aumento na participação do faturamento foi significativo para o BRL: as exportações cresceram de 0,13 % para 1,25%. A participação do faturamento em BRL foi nove vezes maior, enquanto a média anual da taxa de câmbio variou menos de 15%. Em comparação com o nível de 2007, a média de fechamento diário foi 6% menor em 2008, 2% maior em 2009; 10% menor em 2010, e 14% menor em 2011. Conforme argumentado pela inflação, a variação da taxa de câmbio não é suficiente como a única explicação para o crescimento utilização BRL.

Enquanto a participação do USD no faturamento das exportações se manteve estável durante a série plotada na tabela 3, a participação do BRL aumentou significativamente, com a diminuição do EUR e da participação de outras moedas. Isto confirma a nossa curiosidade sobre o fenômeno de aumento da participação do BRL. O BRL foi usado como moeda de faturamento nas operações em 24 países diferentes em 2007; em 2011, o número de países de destino aumentou para 96 países.