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Na cidade de São Paulo foram selecionados nove informantes-chave, entre eles, profissionais de saúde (psiquiatras e psicólogos) e outros profissionais (redutores de danos) que estabelecessem contato direto e/ou convivência com usuários ou ex-usuários de crack. Para aprofundar e detalhar a compreensão do fenômeno, usuários e ex-usuários também foram inseridos como informantes-chave. Abaixo, os informantes-chave foram separados conforme a respectiva área de atuação:

(a) Profissionais da área de saúde

Foram entrevistados três médicos, especialistas em psiquiatria, oriundos de instituições devotadas ao atendimento, tratamento e redução de danos a usuários de drogas, atuantes na cidade de São Paulo, a citar: PROSAM – Associação Pró-Saúde Mental; PROAD – Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes e, finalmente, UDED – Unidade de Dependência de Drogas.

Foram entrevistadas duas psicólogas, das quais uma é especialista em Neuropsicologia e doutora em Ciências pela UNIAD (Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas) e a outra coordenava o atendimento a usuários de crack provenientes da região da Cracolândia, na sede da ONG “É de lei”, situada na região central da cidade de São Paulo.

(b) Outros profissionais

Foi entrevistada uma redutora de danos da ONG “É de lei”. A profissão de redutor de danos devota-se à orientação de usuários de drogas (aqui especificado a usuários de

crack), não de forma a conduzi-los à abstinência, mas à redução de comportamentos que, de certa forma, pudessem gerar algum tipo de dano ou prejuízo à sua saúde.

O redutor de danos entrevistado abordava o usuário de crack em campo, ou seja, na região de uso, nesse caso especificamente na Cracolândia, podendo levá-lo ou não à ONG para a melhor abordagem e aconselhamento a respeito do tema.

(c) Representantes da Amostra

Foi entrevistado um pastor protestante, ex-usuário de crack, dirigente de cultos e grupos de ajuda na Igreja Bola-de-neve destinados ao tratamento de dependentes de crack e outras drogas ilícitas.

Foram entrevistados dois usuários de crack, moradores e trabalhadores da Vila Clementino, nas proximidades do Departamento de Psicobiologia da UNIFESP.

Tanto o ex-usuário como os usuários abordados mantinham ou mantiveram envolvimento ativo e prolongado com a droga, participando intensamente da cultura, logo, não se tratavam de usuários esporádicos ou experimentais de crack, fato que, além de contribuir para a riqueza dos dados, assegurou a veracidade das informações que estavam sendo prestadas, evitando também a participação de indivíduos com viés de iniciante.

Questionário ou roteiro de estudo etnográfico (REE).

Na cidade de São Paulo, o roteiro consistiu de 15 blocos de perguntas (ANEXO 1),

resultantes da combinação do formulário já padronizado da OMS para derivados da

cocaína (WHO, 1992b) com os temas abordados durante as entrevistas com os informantes-chave, totalizando então 118 questões. Dessas, três questões foram específicas aos ex-usuários, tratando das razões e motivações ao abandono do uso de crack.

Abaixo, são apresentados os tópicos abordados durante a entrevista, acompanhados por uma breve descrição de seus objetivos. O número de perguntas variou entre os tópicos conforme a necessidade de sua melhor compreensão, sendo ressaltada entre parênteses:

(a)Dados sócio-demográficos(8): Descrição das informações gerais sobre o entrevistado, a citar: idade, estado civil, grau de escolaridade, situação de emprego, número de filhos,

crença e prática de religião e caracterização geral da moradia e do bairro em que residissem.

(b) Antecedentes pessoais (12): Levantamento de informações quanto à estrutura da família, tanto a de origem quanto a atual, ressaltando a relação do entrevistado com os demais membros familiares e o histórico do uso de drogas lícitas e ilícitas pela família.

(c) Histórico do uso de drogas(9): Levantamento das drogas lícitas e ilícitas já consumidas na vida pelo entrevistado. Quando observado o uso de outros derivados da cocaína além do crack, foram investigadas as possíveis diferenças de efeitos entre elas, a transição de vias e as motivações subjacentes para tal.

(d) Associação de crack a outras drogas (4): Investigação da existência de combinações específicas do uso de crack a outras drogas, identificando-se suas motivações. Verificou-se se o uso de crack interferiu, de alguma maneira, sobre a progressão do uso das demais drogas e se as drogas associadas interferiram reciprocamente sobre o uso de crack.

(e)Acessibilidade e distribuição de crack(4): Identificação dos locais de venda de crack, assim como suas possíveis formas de apresentação, ressaltando, entre elas, diferenças de preço e de efeitos.

(f) Crack e atividades sociais (Atividades escolares e trabalho) (9): Caracterização da relação do uso de crack à vida social do entrevistado, mais especificamente quanto ao desenvolvimento de atividades relacionadas ao trabalho, estudo, família e círculo de amizades.

(g) Padrão do uso de crack (23): Caracterização do padrão de consumo de crack, acompanhando sua evolução desde a experimentação até o momento de consumo na época da entrevista. Identificar a existência de controle sobre o consumo, assim como de suas possíveis motivações e estratégias.

(h) Estratégias e Ritual do uso de crack (3): Identificação das diferentes estratégias empregadas ao uso de crack, assim como do ritual envolvido em seu preparo e posterior consumo.

(i) Aparato (5): Caracterização do aparato necessário ao uso de crack, ressaltando-se os materiais com os quais pudesse ser manufaturado.

(j) Efeitos (2): Identificação dos efeitos imediatos decorrentes do uso de crack, investigando-se sua possível modificação conforme a progressão do consumo, especialmente no que se refere aos efeitos de tolerância e sensibilização.

(k) Atividades atípicas ou ilícitas (5): Identificar se os usuários de crack desenvolvem algum tipo de atividade ou comportamento ilícito destinado à obtenção de crack quando sob sua fissura.

(l) Conseqüências decorrentes do uso de crack (20): Investigação do impacto do uso de crack na vida do usuário, de forma a identificar a ocorrência de alguma conseqüência, seja moral, física ou socioeconômica que estivesse, de alguma maneira, associada ao consumo de crack.

(m) Percepção do uso e do usuário de crack (4): Identificação da maneira pela qual os entrevistados pensam a respeito do crack, sobre si e sobre outros usuários de drogas.

(n) Motivações ao abandono do uso de crack: Aplicado apenas a ex-usuários de crack possibilitou o esclarecimento dos motivos e das estratégias que contribuíram à interrupção do uso de crack.

(o) Critérios do DSM-IV para abuso e dependência de drogas(7): A fim de investigar o estado de abuso ou dependência a crack, os critérios do DSM-IV foram inseridos no roteiro na forma de perguntas e mesclados entre os demais tópicos.

Entrevistas.

Contatados os informantes-chave e continuando-se a seleção da amostra por intermédio da técnica de bola-de-neve, foram construídas 15 cadeias de participantes, cujo número de constituintes variou entre três e cinco elementos. Algumas das cadeias foram iniciadas por indicação de psiquiatras, psicólogos, agentes redutores de danos e outros profissionais envolvidos em clínicas médicas, comunidades terapêuticas ou centros de redução de danos atuantes na cidade de São Paulo. Já outras cadeias tiveram início através da indicação a partir do usuário e ex-usuários incluídos como informantes-chave na pesquisa, de tal forma que representantes da amostra também foram recrutados da comunidade, logo, a amostragem, em nenhum momento restrigiu-se apenas a sujeitos

submetidos a programas de saúde ou intervenção sobre o uso de drogas.

Na construção das cadeias, houve aquelas que iniciaram como ramificações de uma cadeia pré-existente, por exemplo, um participante da cadeia A passou a ser informante da cadeia B, entre elas não existindo nenhum tipo de ligação ou contato além da já mencionada.

Assim, ao total, na cidade de São Paulo foram recrutados 65 sujeitos. Como três deles desistiram de participar da pesquisa, suas informações foram desconsideradas. Então, no final, a amostra da cidade de São Paulo foi constituída pela opinião de 62 sujeitos, divididos entre usuários (45) e ex-usuários de crack (17).

Abaixo segue a lista das instituições que contribuíram à seleção de participantes na cidade de São Paulo:

COMUNIDADES TERAPÊUTICAS E CLÍNICAS MÉDICAS

ASSOCIAÇÃO PROMOCIONAL ORAÇÃO E TRABALHO (APOT)

CASA DE APOIO NOMATA

CLÍNICA MÉDICA MASTER MIND

COMUNIDADE CASA ESPERANÇA E VIDA (CEEV)

COMUNIDADE RECANTO TERAPÊUTICO CAMINHAR

COMUNIDADE TERAPÊUTICA SÃO JUDAS TADEU (INSTITUTO THEODORE

RATISBONNE)

PROJETOS E PROGRAMAS DE REDUÇÃO DE DANOS

PROGRAMA DE ORIENTAÇÃO E ATENDIMENTO A DEPENDENTES (PROAD)

PROJETO ESPERANÇA

PROJETO SAMARITANO

É DE LEI

Procedimento: As entrevistas foram conduzidas nas dependências do Departamento de Psicobiologia da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), em salas neutras e seguras apropriadas a tal tipo de intervenção. Todos os participantes foram entrevistados individualmente e por um único investigador, por período aproximado de 88 minutos, variando sua duração dentro do intervalo de 45 e 150 minutos. As informações foram gravadas em fita após o consentimento oral do pesquisado e aceitação do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (APÊNDICE 3).

Codificação da amostra: Os participantes da amostra foram codificados conforme

o grupo a que pertenciam, conforme segue abaixo:

Ex-usuários: A31ME; A45ME; C25FE; DA27ME; E23ME; E26ME; F17FE; G28ME; H33ME; L39ME; L45FE; M31ME; M39ME; N25FE; O23ME; SL35FE; V45ME.

Usuários: A25FU; A28MU; A30MU; A36FU; A50MU; C22MU; C32MU; D18FU; D35MU; D36MU; E32MU; ED26MU; F17MU; F20MU; F26MU; F39MU; G23MU; G36MU; J24MU; J26MU; J30MU; J39MU; J41MU; J53FU; JL27MU; JP26MU; K20FU; L36MU; M22MU; M31MU; M33MU; M34MU; M36FU; N19MU; N35MU; NA35FU; P29FU; P30MU; P50MU; PE29MU; R24MU; S17MU; S36FU; T23FU; T20MU.

Seção II – Dados específicos da cidade de Barcelona.

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