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3.5 Gestão Museológica – Dados comparativos do survey no Brasil e França

3.5.1 Dados Gerais

Neste item apresentam-se os seguintes resultados: Região Geográfica, Tipologia do Acervo, Ano de Criação do Museu, Estatuto Jurídico, Administração, Decreto ou Lei de Criação do Museu. As tabelas referentes aos Dados Gerais trazem o índice de participação, por regiões, de cada país, na pesquisa, bem como respostas a respeito da tipologia do acervo, do ano de criação dos museus, o que possibilita determinar o período de maior e menor crescimento quantitativo das instituições, no Brasil e na França, bem como respostas a questões administrativas e jurídicas das unidades museológicas.

TABELA 1

Região Geográfica dos Museus

REGIÕES BRASIL FRANÇA % % Norte 06 15,0 09 25,0 Nordeste 11 27,5 11 30,5 Centro-oeste 05 12,5 01 2,7 Sudeste 08 20,5 07 19,5 Sul 10 25.0 08 22,3 Total 40 100,0 36 100,0

A região geográfica de maior retorno ao survey, observada nos museus brasileiros abrange os seguintes estados: Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe e dos museus franceses abrange os seguintes departamentos: Champagne-Ardenne, Nord-Pas-de- Calais, Picardie, Lorraine, Bourgogne, Alsace e Franche-Comté. Dessa região vieram 27,5% do total de questionários aplicado no Brasil, e 30,5% do total aplicado na França (Tabela 1). Da mesma maneira, uma mesma região, nos dois países, obteve a menor taxa de retorno, a região centro-oeste, 12,5% no Brasil e 2,7% na França. TABELA 2 Tipologia do acervo71 BRASIL FRANÇA % % Antropologia e Etnografia 03 7,5 02 5,6 Arqueologia 02 5,6 Artes Visuais 02 5,0 02 5,6

Ciências Naturais e História Natural

Ciência e Tecnologia 04 11,0 História 29 72,5 24 66,6 Imagem e Som Virtual Não Respondeu 06 15,0 02 5,6 Total 40 100,0 36 100,0

Em relação à tipologia do acervo, a maioria dos museus pesquisados identifica-se como sendo de História. No Brasil, 72,5% definiram-se tipo logicamente dessa maneira e, na França, 66,7%%. (Tabela 2)

71

A tipologia do acervo adotada foi a do Cadastro Nacional de Museus - CNM, disponível no www.ibram.gov.br, acessado em 12 de março de 2010.

TABELA 3

Ano de criação do museu

Observa-se que, tanto no Brasil quanto na França, a maioria dos museus foi criada nos anos de 1980. Dos 27,5% dos museus brasileiros analisados e 25,0%, dos museus franceses, são daquele período (Tabela 3). No Brasil, contudo, observa- se um crescimento acentuado na criação de museus, a partir do século XXI.

Os anos de 1980 constituem-se um período que proporcionou um grande crescimento do setor museológico, impulsionado pela concepção do paradigma da Nova Museologia. Naquela época, o campo muséal se expande e novas formas de financiamento no setor cultural se estabelecem, bem como ocorre a descentralização da administração pública, no Brasil e na França.

TABELA 4

Estatuto Jurídico do Museu

ANO BRASIL FRANÇA

% % Séc. XIX 04 11,5 Início XX 01 2,5 02 5,5 Anos 10 01 2,5 Anos 20 01 2,5 Anos 30 01 2,5 05 14,0 Anos 40 02 5,0 02 5,5 Anos 50 01 2,5 02 5,5 Anos 60 02 5,0 01 2,5 Anos 70 06 15,0 04 11,5 Anos 80 11 27,5 09 25,0 Anos 90 05 12,5 Séc.XXI 08 20,0 01 2,5 Não respondeu 02 5,0 04 11,5 Não sabe 01 2,5 Total 40 100,0 36 100,0 BRASIL FRANÇA % % Público 35 87,5 28 77,8 Privado 04 10,3 05 13,9 Outro Tipo 01 2,5 01 2,8 Não respondeu 02 5,5 Total 40 100,0 36 100,0

TABELA 5

Administração do museu

No Brasil e na França a maioria dos museus são instituições públicas, no Brasil, 87,5 % do total pesquisado, e na França, 77,8% (Tabela 4). Segundo TOBELEM (2005, p. 42), “historiquement du reste, l’idée de service public se trouve à l’origine de la création des premiers musées, puisqu’il s’agit d’une activité d’intérêt general (éducation, formation du goût, conservation et protection du patrimoine) assurée par une personne publique (État ou collectivité locale).”72 Os museus que participaram da pesquisa são administrados pelo município (Tabela 5), no Brasil (52,5%) e na França (76,5%).

TABELA 6

Decreto ou Lei de criação do museu

Há uma grande disparidade nos dados coletados quanto à questão da existência de decreto ou lei de criação do museu (Tabela 6). No Brasil, 62,5% das respostas foram afirmativas, contra 64% de respostas negativas, na França. Isso ocorre porque, no Brasil, a autonomia dos estados e municípios permite que os museus sejam criados, a partir de Legislação Estadual e/ou Municipal. Na França, por outro lado, a maior centralização política faz com que os museus não tenham uma legislação própria, nos três níveis, o que é possível no Brasil.

72

“Além disso, historicamente, a idéia de serviço público está na origem dos primeiros museus, pois é uma atividade de interesse geral (educação, cultura, conservação e proteção do patrimônio) assegurado pelo governo (federal ou regional).” (Tradução Nossa)

BRASIL FRANÇA % % Federal 06 15,0 03 8,0 Estadual 11 27,5 02 5,5 Municipal 21 52,5 27 76,5 Particular 02 5,0 04 10,0 Total 40 100,0 36 100,0 Brasil França % % Sim 25 62,5 05 14,0 Não 13 32,5 23 64,0 Outros 02 5,0 08 22,0 Total 40 100,0 36 100,0

3.5.2 Arquitetura

Os dados coletados e apresentados pelas tabelas de 07 a 10 procuram estabelecer a relação entre a arquitetura na qual se instala o museu e às questões inerentes à instituição, como a sua temática, direcionamento, gestão, etc. Aborda-se a maneira que o edifício intercala-se às suas proposições museológicas, a fim de compor o espaço muséal.

Esta relação é identificada por TOBELEM (2005, p.265), que divide tipos de museus, segundo algumas definições, embasados pelos modelos arquitetônicos que os abrigam. O “musée sanctuaire”73, como o próprio nome já possibilita deduzir, é aquele que tem mais caráter e configuração física de um templo; o “musée artiste”74, é aquele a serviço das artes plásticas, as quais se refletem nas suas edificações, o “musée héroïque75”, está a serviço da construção de uma imagem heroica, o “musée civique”76 tem propósitos políticos específicos, e o “musée Phénix”77 possui um caráter territorial de preservação do patrimônio, utilizando-se, geralmente, de prédio tombado que é adaptado para museu.

No senso comum, quando se fala “museu”, alguns relacionam a palavra com objetos e, outros, com prédios. No entanto, faz-se necessário entender que o prédio que abriga o acervo é também parte integrante do equipamento museográfico. São as estruturas do prédio que definem as maneiras e possibilidades de se trabalhar a conservação, a informação e a comunicação.

A partir das características do “invólucro”, pode-se proceder à concepção

do museu, levando em consideração as dificuldades e facilidades, proporcionadas pelo imóvel, adaptado ou construído para ser museu, para que se atenda a necessidade do acervo e do público, interno e externo. De acordo com SALLOIS (2005, p.108)

73

“museu santuário” (Tradução nossa) 74

“museu artista” (Tradução nossa) 75

“museu heroico”(Tradução nossa) 76

“museu cívico”(Tradução nossa) 77

“La place de l’architecture dans l’enseignement de la conservation reste pourtant modeste. Symétriquement, l’enseignement de l’architecture fait une part bien pauvre, en dépit du renouveau récent des musées, aux principes et aux techniques de la muséographie. » 78(SALLOIS, 2005, p.108)

Grande parte dos museus, em especial daqueles que integraram esta pesquisa, instala-se em prédios civis, religiosos e/ou militares, tombados em algum nível da esfera governamental. Na maioria dos casos, o museu tem algum tipo de harmonização entre o contexto histórico-geográfico da construção que o abriga e o seu acervo, ou seja, o prédio também é um “objeto museológico”, como afirma

DAVALLON (2006, p.88), ou seja, ele foi musealizado, e como tal reconhecido legalmente pelo Estado.

TABELA 7

Propriedade do imóvel

TABELA 8

Controle da propriedade do imóvel

A coleta de dados aponta que, no Brasil e na França, a maioria dos imóveis em que estão instalados os museus é de propriedade pública (Tabela 7), 92,5% no Brasil, e 88,0% na França. Destes, predominam aqueles pertencentes ao município, (Tabela 8), no Brasil, 51,3% e, na França, 69,4%.

78

“O lugar da arquitetura no ensino da conservação permanece, no entanto, modesto. Simetricamente, o ensino da arquitetura ocupa uma parte bem pobre, apesar da recente renovação dos museus, nos princípios e nas técnicas da museografia.”(Tradução nossa)

BRASIL FRANÇA % % Pública 37 92,5 32 88,0 Privada 03 7,5 04 12,0 Total 40 100,0 36 100,0 BRASIL FRANÇA % % Federal 05 12,8 03 8,3 Estadual 11 28,2 02 5,6 Municipal 21 51,3 25 69,4 Particular 02 5,1 Outro tipo 01 2,6 Não respondeu 6 16,7 Total 40 100,0 36 100,0

“Lédifice par sa présence est le représentant du contexte historique, social, matériel, humain auquel il a appartenu et auquel nous n’avons accès que par lui. Il y était, et il est ici. »79

É grande o percentual, dentre o total de museus pesquisados em ambos os países, de prédios tombados, restaurados e adaptados para exercer a função museológica (Tabela 9), 74,4 % no Brasil e 63,8% na França. Tais prédios são, habitualmente, uma propriedade pública e neles a instalação de museus é bastante propícia por proporcionar uma conjugação entre a conservação e segurança do acervo e a possibilidade de valorizar e facilitar o acesso público à construção histórica, sob a tutela do Estado. Em princípio, esta escolha facilita a orquestração das ofertas e demandas culturais, legitimando o caráter de patrimônio cultural do edifício e provendo uma possibilidade de reunião e exposição de bens que se encontram longe do contato com o público; promovendo a acessibilidade. A justificativa da sua manutenção, na verdade, se alia a questões de ordem técnico- administrativo-científica. Tabela 9 Imóvel do museu Tabela 10 Imóvel restaurado 79

“O prédio, por sua presença, é o representante do contexto histórico, social, material, humano ao qual pertenceu e ao qual temos acesso através dele. Ele estava lá e está aqui.”(Tradução nossa)

BRASIL FRANÇA % %

Tombado, restaurado e adaptado 30 74,4 23 63,9

Construído para ser museu 01 2,6 11 30,6

Outros 09 23,0 Não Respondeu 02 5,5 Total 40 100,0 36 100,0 BRASIL FRANÇA % % Sim 16 41,0 17 47,2 Não 23 56,4 15 41,7 Não respondeu 01 2,6 04 11,1 Total 40 100,0 36 100,0

Embora haja um número considerável de museus instalados em imóveis adaptados e tombados, o índice dos que passaram por alguma intervenção de restauro recentemente é mediano (Tabela 10). No Brasil, são 41%, enquanto, na França, foram 47,2%.

O entendimento do imóvel, também como um objeto museológico e como o invólucro maior do acervo, ainda é escasso entre os responsáveis pelas unidades museológicas, e consequentemente, pouco ou nada exploradas. Os museus carecem de ações que incorporem seus prédios ao exercício das suas atividades de conservação, informação e comunicação.

Prédios tombados são portadores de conhecimento, representantes do passado que podem ser vistos e tocados e ao serem musealizados são capazes de adicionar novas dimensões perceptivas ao acervo exibido, fortalecendo-o e fornecendo opções relevantes ao projeto museográfico.

Já no século XIX, a construção de museus era uma realidade; naturalmente que a tecnologia e os conceitos de conservação, informação e comunicação, empregados naquela época, eram bastante distintos dos atuais. A museografia priorizava a circulação do público, a iluminação e a decoração para cada tipo de acervo. Não se pode afirmar, contudo, que não havia uma já real e crescente preocupação quanto à conservação do acervo, de acordo as necessidades observadas pelas caraterísticas dos objetos e pelo espaço do museu. Ou seja, havia uma reflexão metodológica de conceitos museológicos e museográficos, ainda que incipientes, quando comparados a sua forma de entendimento contemporâneo.

Com efeito, chega-se, aos anos 1930, com uma presença marcante da forma arquitetônica nos museus; ao invés de haver uma concepção da arquitetura, que abarque as necessidades da instituição que ela irá abrigar. Uma forma atada à ideia das construções monumentais, em detrimento de um projeto que se preocupe com a funcionalidade daquele espaço. Do pós-guerra até os anos 1960, não ocorrem mudanças significativas nessa forma de pensamento, como aconteceram nos projetos das bibliotecas e das casas de cultura, que passam a levar em conta

considerações sobre a melhor forma de agregar a estética do edifício à praticidade do fim a que estará incumbido.

A partir dos anos 1970, observa-se uma renovação vertiginosa na França, quanto à maneira de construção dos museus. O estudo da arquitetura de museus avança em todo mundo, bem como há uma forte tendência de revitalização do espaço museológico, relacionada às três linhas de ação: conservação, informação e comunicação. Nessa década e na década de 1980, há um crescimento significativo do número de museus, tanto no Brasil quanto na França.

É um período marcado principalmente pela criação de museus de arte contemporânea, os quais, na verdade, estruturalmente também são “obras de arte” e, de modo geral, pouco ou nada atendem às necessidades de uma unidade de informação. Inclusive, os seus projetos dificilmente contam com a participação de museólogos, conservadores, restauradores, educadores e comunicadores, entre outros profissionais do museu.

Entretanto, a renovação da maneira de se pensar e construir museus, a partir dos anos 1970, é um marco da Museologia de todo os continentes que, conjuntamente à introdução do paradigma da Nova Museologia, nos anos de 1980, tornou praticamente impensável que o museu não passe por um processo de revitalização, projetada a partir de suas atribuições relativas à conservação, informação e comunicação. Tanto que, do grande número de museus criados nos anos de 1980, mais de 50% deles já passaram ou estão passando por um processo de revitalização.

Alguns fatores são determinantes para essa tendência de reformulação do espaço museológico; o museu, como unidade de informação, precisa se adaptar a uma nova sociedade, mais exigente no que se refere ao seu desejo e direito da informação e mais ansiosa pela ideia de consumo, que avassala todo o planeta, da qual o museu não escapa. Essa avidez social é compartilhada e influenciada pelas novas tecnologias, que surgem e mudam num ritmo acelerado, e que gradativamente são incorporadas à dinâmica do espaço do museu.

3.5.3 Recursos Financeiros

A origem dos recursos, parceiros financeiros, tipos de comércio existentes nos museus, gestão das suas atividades comerciais, investimentos na área de conservação, investimentos na área da informação, investimentos na área da comunicação, natureza dos parceiros da unidade museológica e investimentos dos parceiros nas áreas de conservação, informação e comunicação são os dados coletados e apresentados pelas tabelas de 11 a 19 dos museus brasileiros e franceses que participaram desta pesquisa.

No Brasil e na França, a grande maioria dos museus é constituída por instituições públicas, regidas por políticas culturais de democratização e acesso aos bens culturais. Por outro lado, o orçamento da cultura é costumeiramente baixo. Em 2010, no Brasil, 1%, na França, este número é um pouco maior, totalizando 1,1%.

Em princípio, os museus públicos devem continuar a ter suas necessidades primeiras como obrigação do estado, pois a cultura é um fator que completa e atesta o progresso da sociedade, prevista na constituição brasileira e francesa ao do direito da cultura pelo cidadão; ela representa uma força econômica. Contudo, como atender às necessidades técnico-administrativas dos museus, as quais tendem a se diversificar e crescer, enquanto a verba destinada aos propósitos culturais tende a manter-se num mesmo patamar?

A partir do paradigma da Nova Museologia, que vai ao encontro dos modos e anseios de uma nova sociedade, em início de formação, na década de 1980, que veio a ser, conhecida como a “sociedade da informação”, o acesso aos

museus cresce em todos os continentes. Esse acesso induz às atividades pedagógicas, culturais e comerciais nos espaços museológicos, tornando-as uma prática sistematizada das unidades de informação. A oferta dos serviços cresce e sua demanda, proporcionalmente, também se amplia. Com isso, há a necessidade de equipar, diversificar e aumentar a equipe de profissionais.

No século XXI, os museus, entendidos como unidades de informação e como prestadores de um serviço à sociedade, o qual pode dar sustentabilidade à economia local, visibilidade a cidades e impulso à indústria turística, tende a ganhar uma credibilidade, cada vez maior, dos seus parceiros políticos, financeiros e científicos, estejam esses museus em grandes centros urbanos, ou em ambientes menores.

A sustentação pública da cultura traz, ao Estado, prestígio e credibilidade, ao se preservar e reforçar a identidade cultural do país, através da conservação do seu Patrimônio Cultural, e do desenvolvimento e refinamento das suas instâncias de cultura. Esse desenvolvimento, em contrapartida, é de extremo auxílio à economia, que se beneficia do aumento da circulação de capital, introduzido pelas atividades turístico-culturais.

Em outra esfera de financiamento da cultura, desde os anos de 1940, no Brasil, percebe-se a presença da “semente” do Mecenato, embora este só venha a ser regulamentado na década de 1980. Fluxos de investimentos privados possibilitaram a criação do Teatro Brasileiro de Comédia, da Companhia de Cinema Vera Cruz, do Museu de Arte de São Paulo, e do Museu de Arte Moderna, no Rio de Janeiro. Todos financiados dentro de regimes autoritários.

O Mecenato vinculado à democracia, legalizado por lei, só passa a ser realizado no país, a partir da abertura política, em meados dos anos de 1980, sob o Governo Sarney, por ocasião da criação do Ministério da Cultura, em 1985. Em consequência, no ano seguinte, é sancionada a Lei nº 7505, de 02 de julho, conhecida como Lei Sarney.

Segundo o DICIONÁRIO CRÍTICO DE POLÍTICA CULTURAL (1999, p.246), a definição de Mecenato é:

“Apoio econômico, por parte de um indivíduo, de uma organização particular ou do Estado, ao produtor cultural, de modo genérico, ou à produção de uma obra cultural em particular. Este financiamento pode ser total ou parcial, apresentar-se sob a forma de um custeio de todas as necessidades vitais do artista ou produtor cultural ou mostrar-se voltado para a realização de uma única obra.”

A Lei Sarney durou quatro anos, de 1986 a 1990. Devido à ausência de mecanismos rígidos de controle estatal, houve uma série de fraudes, compelidas pela própria característica da legislação, que “fixava a possibilidade de abatimento de até 100% do valor da doação, 80% do patrocínio e 50% do investimento na área da cultura”, LAMOUNIER E FIGUEIREDO (2002, p.631), e tinha, como objetivo,

patrocinar o produto, e não o artista ou ao criador do projeto.

Extinta em 1990, a Lei Sarney dá lugar a Lei Rouanet, implantada em 1991, no Governo Collor. Com um mecanismo de fiscalização mais atuante, à época, o novo Programa Nacional de Financiamento da Cultura contava com três tipos de mecanismos de incentivo à atividade cultural: o Fundo Nacional de Cultura (FNC); o Fundo de Investimento Cultural e Artístico (FICART) e o Apoio ao Mecenato Privado. Destes, o FICART caiu em desuso, permanecendo apenas o FNC e Apoio ao Mecenato Privado, o qual teve seu nome alterado para apenas MECENATO.

Na atualidade, afirma-se que os instrumentos de fomento à cultura, no Brasil, são caracterizados pela dicotomia, entre o mercado e o Estado, a qual se desenvolve no Governo Collor e se firma no Governo Fernando Henrique, segundo LAMOUNIER E FIGUEIREDO (2002, P.635). ”Sua imagem, cambiante, move-se entre a mercadoria e aura, ou, em perspectiva mais prática, entre o mercado e o Estado.”, mas também, a cultura tem uma forte representatividade dos investimentos

do setor privado, chegando ao segundo lugar, como afirma NIELSON (2007,99). “Au Brésil, la fiscalité induit um biais importante en faveur de la culture mais les théories d’investissement social privé du GIFE connaissent um fort sucèss: une enquete IPSOS montre que si la culture demeure le seconde secteur où les entreprises interviennent (après les actions sociales), il croît moins vite que les autres domaines (environnement, et même sport).”80

80

“No Brasil, o abatimento fiscal é um viés importante para cultura, mas as teorias de “investimento social privado” GIFE - Grupo de Institutos, Fundações e Empresas conhecem um forte sucesso: uma pesquisa do IPSOS mostra que, se a cultura continua a ser o segundo setor onde as empresas investem (após as ações sociais) que por sua vez crescem menos rapidamente do que outras áreas (meio ambiente, e até mesmo o esporte).”

Abaixo, a título ilustrativo, há um quadro, que contém o desenvolvimento do Mecenato e do Fundo Nacional de Cultura, entre os anos de 1993 e 2011 (Figura 07) Nele, é descrita a quantidade de projetos apresentados, aprovados e apoiados, bem como os seus valores totais, também divididos entre os, aprovados e apoiados.

Figura 7: Mecenato e Fundo Nacional de Cultura – Comparativo por ano

Fonte: www.http://sistemas.cultura.gov.br/salicnet/Salicnet/Salicnet.php#, acessado em 09 de abril de 2011.

Na França, o Ministério da Cultura e da Comunicação, afirma que « La

responsabilité de l’État et des pouvoirs publics en général n’est pas seulement de financier la vie culturelle, mais d’encourager les initiatives de la société civile »81

Observa-se que o Mecenato, na França, contempla os grandes museus, mas os museus que não possuem grande visibilidade na mídia não são contemplados com as benesses do setor privado, NIELSEN (2007, 99) afirma que o mecenato no país, não é uma prática normal da empresa, « qui pratiquent le

81

“A responsabilidade do Estado e dos poderes públicos, em geral, não é apenas financiar a vida cultural, mas encorajar as iniciativas da sociedade civil”. (Tradução nossa) disponível http://mecenat.culture.gouv.fr/, acessado em 30.10.2010.(Tradução nossa)

Ano Qtde

Apres. Aprov. Qtde Apoio. Qtde Vl. Apresentado Vl. Aprovado Vl. Apoiado

1993 19 10 2 18.710.859,87 13.969.236,77 21.212,78 1994 74 91 7 98.228.196,17 114.775.297,55 533.751,57 1995 1.378 69 153 767.885.258,48 96.043.243,26 41.668.264,65 1996 3.773 2.552 624 2.130.370.530,80 1.612.596.208,73 195.030.104,41 1997 7.535 3.011 1.300 3.694.960.473,06 1.528.013.048,41 330.888.156,33 1998 6.559 3.669 1.258 3.005.725.978,41 1.590.098.542,21 310.451.086,40 1999 8.281 3.346 1.221 3.403.419.394,93 1.495.505.214,92 310.877.975,35 2000 6.406 3.174 1.292 2.710.416.568,51 1.382.569.111,80 462.121.538,32 2001 8.392 2.840 1.538 3.350.637.734,78 1.359.242.185,05 514.188.379,32 2002 8.969 4.476 1.527 4.125.303.358,95 2.271.888.163,89 483.185.432,36 2003 7.163 4.222 1.543 3.901.944.691,33 1.937.670.619,59 463.145.787,91 2004 7.637 5.303 2.040 5.034.827.391,28 2.536.474.736,78 593.600.364,38 2005 12.552 6.736 2.474 8.171.596.264,46 3.250.867.846,13 888.958.026,98 2006 9.716 6.993 2.926 6.122.398.670,75 3.487.329.280,19 929.455.055,70 2007 11.971 6.870 3.224 7.698.686.153,81 3.429.094.894,96 1.201.157.966,34 2008 10.672 7.151 3.155 9.184.503.084,41 3.997.584.720,87 1.039.506.770,37 2009 8.907 5.511 3.023 9.872.499.349,00 3.425.110.249,86 1.036.275.477,59 2010 12.837 7.310 3.316 7.556.664.400,32 5.051.764.046,26 1.284.529.029,33 2011 2.701 1.909 544 1.595.204.887,97 1.172.026.785,96 117.247.218,16 Total Geral 135.542 75.243 31.167 82.443.983.247,30 39.752.623.433,20 10.202.841.598,30

mécénat culturel, 34% des budgets »82. A aprovação dos projetos e a captação dos

recursos são diferenciadas do sistema brasileiro, e impossível fazer uma equivalência, e os valores não estão disponíveis a consulta, eles são colocados à venda através de publicações eletrônicas.

TABELA 11

Origem dos recursos financeiros

As questões do survey relacionadas aos recursos financeiros mostram a origem e em que são aplicados os recursos dos museus analisados; tanto no Brasil e na França os recursos são de origem pública (Tabela 11). No Brasil, o fomento financeiro apresenta 30% do governo estadual, 42,5% e do governo municipal. Na França, os recursos são provenientes, de maneira majoritária, do governo federal, 30,5%, e do governo municipal, 30,5%.

TABELA 12

Parceiros financeiros do museu

A tabela 12 apresenta o percentual relativo aos parceiros institucionais dos museus, públicos, privados ou de outra ordem, que fornecem os recursos financeiros à unidade museológica. No Brasil, 80% dos parceiros são públicos e 25%

82

“que praticam o mecenato cultural, 34% de orçamento” (Tradução nossa)

BRASIL FRANÇA % % Federal 05 12,5 11 30,5