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2.3 Ministério da Cultura do Brasil

2.3.4 Instituto Brasileiro de Museus – IBRAM

A instauração de museus, do curso de Museologia e a criação do Instituto Brasileiro de Museus, no início do século XXI, representam a trajetória de construção do campo muséal, no país, tornando-o gradativa e continuamente profissionalizado. Na Europa, é no século XIX que ocorre um aumento significativo do número de museus. Já, no Brasil, o aumento do número dos museus é mais significativo a partir do século XX, segundo o Relatório de Gestão 2003 – 200624, do Departamento de

Museus e Centros Culturais do IPHAN, levando o país a chegar ao século XXI com 2936 unidades museológicas, registradas no Cadastro Nacional de Museus.

O crescimento do número de museus em toda a extensão territorial brasileira, na forma de instituições públicas e privadas, visitados por mais de 20 milhões de pessoas e geradores de mais de 10 mil empregos diretos, segundo o Relatório de Gestão 2003 – 2006, do Departamento de Museus e Centros Culturais do IPHAN, reafirma a necessidade de valorização da área museológica como um campo de importância para o desenvolvimento do país, com grande potencial ainda inexplorado.

A criação do Museu Histórico Nacional, em 1922 é determinante podem- se observar dois marcos de vital importância do campo muséal, no Brasil, ambos relativos à preservação do patrimônio cultural do país. O primeiro é a criação do Curso de Museus, dentro do espaço do MHN, com a finalidade de formar e capacitar seu pessoal. O que, de fato, significou um avanço expressivo em prol da profissionalização e do desenvolvimento do campo teórico da Museologia brasileira que, até aquele momento, detinha um enfoque mais técnico.

O segundo, ocorrido também dentro do MHN, é a criação da Inspetoria de Monumentos Nacionais, a qual pode ser considerada o embrião do que viria a ser o IPHAN, criado 15 anos mais tarde. Embora não se possa negar que, devido aos contextos sócio-políticos nacional e internacional da época, ambos os marcos nasceram com bases em visões conservadoras sobre a gestão de museus e monumentos, observe-se o pronunciamento de Gustavo Barroso na criação do

Museu Histórico Nacional, “O Brasil precisa de um museu onde se guardem objetos gloriosos... – espadas, canhões, lanças (...) o conhecimento da história pátria e o culto de nossas tradições” (1922).

Em contrapartida, como visto nos itens anteriores, a criação do IPHAN, nos anos 30, a partir de um anteprojeto de Mário de Andrade, traz um olhar modernista, que valoriza os pequenos museus, museus populares e a dimensão educacional atinente a eles.

A partir dos anos 30, o número de museus cresce em todo o país, ampliando-se exponencialmente nos anos 40 e 50. Vale refletir que, em 1946, é criado o Conselho Internacional de Museus – ICOM, uma organização não governamental ligada à UNESCO, e que, já em 1948, dois anos mais tarde tem uma representação no Brasil.

Nos anos 50, foram realizados dois encontros importantes para a Museologia brasileira: o 1º Congresso Nacional de Museus, em 1956, e o Seminário Regional da UNESCO sobre a Função Educativa dos Museus, em 1958. O primeiro, ocorrido em Ouro Preto, congregou representantes de museus do país inteiro e abriu ao debate inúmeras questões de preservação e gestão museal, compelindo a mudanças na política nacional de museus e a estabelecimento de novos congressos. Já o segundo, que se deu na cidade do Rio de Janeiro, representou uma abertura para que ocorressem outros encontros na América Latina e no Canadá, que provocariam a mudança de paradigma da Museologia nos anos 1980.

Nos anos 1960, é criada a atual Associação Brasileira de Museologia, responsável pelo desenvolvimento dos fóruns e encontros da área e a principal referência na luta pela regulamentação da profissão de museólogo, que acontece em 1984.

Nos anos 1970, o primeiro encontro dos dirigentes de museus resulta no documento Subsídios para Implantação de uma Política Museológica Brasileira e, no final da mesma década, é criada a Fundação Nacional PROMEMÓRIA – FNPM, dentro do até então SPHAN. Tanto a redação do documento quanto a criação da

fundação mudaram, de maneira significativa, o olhar sobre o campo museal, na esfera governamental. Nesse mesmo período, ocorre também a criação do Programa Nacional de Museus e, mais tarde, do Sistema Nacional de Museus. Infelizmente, estas duas realizações viriam a serem desativadas vinte anos mais tarde, recuperando-se apenas recentemente, de maneira reformulada, aderindo a um prisma contemporâneo de entendimento e atuação na área museal.

Os avanços alcançados na área de museus nos anos 1980 não foram suficientemente sólidos para enfrentar o retrocesso que se abateria por todo o país, em especial na área da cultura, nos anos 1990; com a extinção da FNPM e da SPHAN, substituídas pelo Instituto Brasileiro do Patrimônio Cultural, no qual todos os museus foram “esquecidos”, não se integrando à nova estrutura. Logo o “equívoco”

é corrigido e a sigla IPHAN é recuperada. Entretanto, a área, que se encontrava, até aquele momento, em ascensão, acaba por sofrer perdas irreparáveis. Afinal, durante todo o tempo da existência da FNPM, foi ampliado e diversificado o quadro funcional dos museus. Com a sua extinção, vários funcionários das áreas técnicas e administrativas foram colocados em disponibilidade pelo Governo.

Entretanto, mesmo com todos os problemas enfrentados na esfera do Governo Federal, a área museológica continuou a avançar e a ganhar espaço na sociedade brasileira, sobre grande influência do Movimento Internacional da Nova Museologia que, a partir dos anos de 1980, em consonância com a abertura política no país, passa a pregar uma Museologia popular, politicamente engajada e comprometida com os processos de transformação social como fortalecedores da identidade cultural do país. Um conceito de musealização que se estende além das paredes dos museus.

O Brasil alinha-se, portanto, a este novo panorama político e cultural do mundo contemporâneo, em que os museus sejam considerados como espaços de práticas sociais complexas que buscam, no presente, o entendimento do passado, a partir do que se pode desenvolver um futuro melhor. Ou seja, os museus passam a ser entendidos, não como catalogadores do conhecimento, mas como produtores do conhecimento, e como espaços de preservação dos bens e das manifestações culturais.

É dentro deste contexto que a Política Nacional de Museus é gestada, a qual possibilita e incentiva a origem ao Departamento de Museus e dos Centros Culturais – DEMU, no âmbito do IPHAN, em 2003, que desenvolve a gestão museológica sob três eixos: (1) Instrumentos Institucionais, (2) Instrumentos de

fomentos e (3) Instrumentos de democratização.

A criação do IBRAM pode ser traduzida como a institucionalização autônoma da área museológica brasileira, ocorrendo através da Lei nº 11906, de 20 de janeiro. Como se trata de uma autarquia jovem, com apenas 21 meses de existência, não se pode afirmar que ela tenha cortado o “cordão umbilical” com o IPHAN.

A legislação do IBRAM nasce dentro da estrutura do IPHAN, desde a geral até a específica. Além disso, a instituição depende de questões administrativas fundamentais, de caráter legal, tais como: recursos humanos, convênios, aquisição de equipamentos e contratação de serviços. Muitas dessas questões ainda não foram, por completo, acertadas ou encontram-se, no momento, em processo de realização. Traçar uma análise dos modos de conduta da instituição é, portanto, prematuro.