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2.2. A Política Indigenista Brasileira

2.2.1. Dados Gerais sobre a População Indígena no Brasil

De acordo com o Censo Demográfico de 2000 (IBGE), a população brasileira naquele ano era de 169.872.856 habitantes. Destes, 137.925.238 residiam na zona urbana e 31.947.618, em áreas rurais.

Do total da população residente, 91.298.042 habitantes identificavam-se como “brancos”, 10.554.336 como “pretos”, 761.583 como “amarelos”, 65.318.092 como “pardos”, 734.127 como “indígenas” e 1.206.675 foram classificados na categoria “sem declaração” (IBGE, Censo Demográfico 2000).

Em 2005, 604 terras indígenas eram reconhecidas pelo Governo Brasileiro. Destas, 123 estavam confirmadas, 28 delimitadas, 32 declaradas, 32 homologadas e 389 regularizadas.52 O conjunto destas terras ocupava uma área total de 106.359.281 hectares, o que corresponderia a aproximadamente 12,5 % do território nacional. Parte considerável destas terras está na chamada “amazônia legal”, que compreende todos os estados da Região Norte, o Mato Grosso e parte do Maranhão. Dos 437 municípios que abrigam terras indígenas, 166 estavam na Região Norte, 79 na Nordeste, 25 na Sudeste, 80 na Sul e 87 na Centro-Oeste.

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“A garantia do acesso à terra constitui, atualmente, um elemento central da política indigenista do Estado brasileiro. O processo de demarcação é o meio administrativo para explicitar os limites do território tradicionalmente ocupado pelos povos indígenas, buscando, assim, resgatar uma dívida histórica com esse segmento da população brasileira, propiciar as condições fundamentais para as sobrevivências física e cultural, e preservar a diversidade cultural do País. (...) O processo administrativo de regularização fundiária, composto pelas etapas de identificação e delimitação, demarcação física, homologação e registro das terras indígenas, está definido na Lei nº 6.001, de 19 de dezembro de 1973 (Estatuto do Índio), e no Decreto nº 1.775, de 8 de janeiro de 1996” (IBGE, 2005, 13).

Tabela 1 - População residente total e população autodeclarada indígena e participação relativa, por situação do domicílio - Brasil, Região Norte e Estado do Amazonas - 1991 e 2000

Total Urbana Rural

Brasil, Norte e Amazonas

1991 2000 1991 2000 1991 2000 Brasil População total 146.825.475 169.872.856 110.990.990 137.925.238 35.834.485 31.947.618 População indígena 294.131 734.127 71.026 383.298 223.105 350.829 Norte População total 10.030.556 12.893.561 5.922.574 9.002.962 4.107.982 3.890.599 População indígena 124.615 213.443 11.960 46.304 112.655 167.140 Amazonas População total 2.103.243 2.813.085 1.502.754 2.104.290 600.489 708.795 População indígena 67.879 113.391 5.222 18.783 62.657 94.608

Fonte: IBGE, Brasil. Censos Demográficos de 1991 e 2000.

Nos Censos Demográficos realizados pelo Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística (IBGE) dados sobre filiação lingüística ou étnica não

são coletados. De acordo com a publicação Tendências Demográficas: uma

análise dos indígenas com base nos resultados da amostra dos censos demográficos 1991 e 2000 (IBGE, 2005), quase trezentas mil pessoas

(294.131) se autoidentificaram como indígenas no Censo Demográfico de

1991. Destes, 124.615 residiam na região Norte, 55.853 na Nordeste, 30.589

na Sudeste, 30.334 na Sul e 52.740 na Centro-Oeste. Em 2000, 734.127 indivíduos se declararam indígenas. Destes, 213.445 residiam na Região Norte, 170.389 na Nordeste, 161.189 na Sul e 104.360 na Centro-Oeste. A Região Norte que detinha, em 1999, 42.4% da população indígena do país em 2000 passou a ter 29.1%. Esta Região, detentora da maior participação de indígenas do País, teve o menor ritmo de crescimento anual. As Regiões Nordeste e Sudeste apresentaram os maiores aumentos nas participações relativas de indígenas. A Região Sudeste, por exemplo, que possuía a menor participação de indígenas no total de indígenas do país, dobrou sua participação (de 10,4% para 22,0%).53

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O Instituto Socioambiental (ISA), que é uma associação sem fins lucrativos, qualificada como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip), estima que, no Brasil, a população indígena seja de 350.000 a 550.000 pessoas distribuídas em aproximadamente 216 povos que falam em torno de 170 línguas distintas do português. Esta população viveria em cidades, na zona rural e em 628 terras indígenas existentes no território nacional (informação disponível no site/sítio www.isa.org.br, em 22 de dezembro de 2006). A população indígena, para a FUNASA, é de mais de 400.000 pessoas, pertencentes a cerca de 215 povos falantes de 180 línguas identificadas (informação disponível no site/sítio www.funasa.gov.br, consultado em 22 de dezembro de 2006). As identidades emergentes (etnogênese) são atualmente fenômeno de grande importância em diversas regiões do país.

Tabela 2 - População residente por Raça ou Cor e taxa média geométrica de crescimento anual - Brasil, Região Norte e Estado do Amazonas - 1991 e 2000

Brasil Norte Amazonas

Cor ou raça 1991 2000 1991 2000 1991 2000 Branca 75.704.923 91.298.043 2.279.167 3.616.840 364.636 681.717 Preta 7.335.139 10.554.336 329.267 641.207 42.880 87.471 Amarela 630.659 761.583 13.994 29.247 3.433 9.343 Parda 62.316.060 65.318.092 7.230.653 8.259.486 1.610.986 1.884.507 Indígena 294.131 734.127 124.615 213.445 67.879 113.391 Sem Declaração 544.563 1.206.675 52.860 133.336 13.429 36.656

Taxa média geométrica de crescimento anual (período 1991/2000) (%)

Branca 2.1 5.3 ...

Preta 4.2 7.8 ...

Amarela 2.1 8.6 ...

Parda 0.5 1.5 ...

Indígena 10.8 6.2 ...

Fonte: IBGE, Brasil. Censos Demográficos de 1991 e 2000.

Estes resultados refletem basicamente dois fenômenos: etnogênese e migração. Por um lado, pessoas que não se autoidentificavam em 1991 como indígenas passaram a fazê-lo em 2000. A migração em busca de escolarização, empregos, bens e serviços existentes nas cidades, em especial nas zonas metropolitanas, é outro fator que explicaria a distribuição desigual do crescimento populacional indígenas nas regiões. Em 1991, 12,0% da população indígena residia em capitais de unidades da federação. Em 2000 este percentual chegou a 18,1%. Se em 1991, 76.1% da população indígena vivia na zona rural (aproximadamente 222.000), no ano de 2000 este percentual diminuiu para 48,0% (IBGE, 2005, 21 e 67).

Assiste-se não só a um crescimento do número de pessoas que passaram a autoidentificar-se como “indígenas”, como também daquelas que passaram a definirem-se como “pretas”.... No período de 1991 a 2000, o número de indivíduos que se auto-identificaram como pardas apresentou o menor ritmo de crescimento anual. As taxas geométricas de crescimento anual (período 1991/2000) para “brancos”, “pretos”, “amarelos”, “pardos”, e indígenas foram, respectivamente de 2,1%, 4,2%, 2,1%, 0,5% e 10,8% (IBGE, 2005, 32).

De uma forma geral, assiste-se a um enfraquecimento da auto- identificação em categorias intermediárias, mescladas, misturadas. O orgulho étnico-racial é retomado num ambiente de grande complexidade em que estão

presentes atores diversos como, por exemplo, organismos multilaterais, ongs nacionais e internacionais, sociedade civil, especialmente organizações representativas de grupos raciais e étnicos, bem como agências e instituições das três esferas de governo. Nesta conjuntura surgem ou são fortalecidas demandas de regularização de terras indígenas e de remanescentes de quilombos, de discussão e implantação de cotas em instituições diversas, inclusive de ensino superior, e de criação de políticas, programas, ações e, principalmente, instituições voltadas para a questão étnico-racial. A miscigenação, outrora glorificada, perde parte de sua força ideológica e passou a conviver com as ideologias étnico-raciais.54

Tabela 3 - Taxa de alfabetização e de analfabetismo das pessoas autodeclaradas indígenas de 15 anos ou mais de idade, por situação do domicílio - Brasil, Região Norte e Estado do Amazonas - 1991 e 2000

Total Urbana Rural

Brasil, Norte e Amazonas

1991 2000 1991 2000 1991 2000 Taxa de alfabetização Brasil 49.2 73.9 75.2 86.2 37.6 54.5 Norte 39.0 56.8 67.3 83.6 35.4 46.9 Amazonas 37.3 51.6 ... ... ... ... Taxa de analfabetismo Brasil 50.8 26.1 24.8 13.8 62.4 45.5 Norte 61.0 43.2 32.7 16.4 64.4 53.1 Amazonas 62.7 48.4 ... ... ... ...

Fonte: IBGE, Brasil. Censos Demográficos de 1991 e 2000.

A partir dos dados censitários podem-se verificar importantes avanços na escolarização, em especial nas taxas de alfabetização. A taxa total de alfabetização, para pessoas que se autodeclararam indígenas com 15 anos e mais, que era de 49,2% em 1991, estava em 73,9% no ano 2000. Dentre os indígenas que residiam na zona urbana as taxas eram de 75,2% e 86,2%, respectivamente. Os valores da taxa de alfabetização melhoraram em todas as regiões. As regiões que apresentaram valores muito díspares em 1991 (39,0%

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“As causas relacionadas ao expressivo aumento no número de pessoas que se autodeclararam indígenas ao se comparar os Censos Demográficos 1991 e 2000 ainda não são claras e constituem importantes aspectos a serem pesquisados. (...) Algumas possibilidades, não excludentes, que explicariam este aumento na população são as seguintes: a) crescimento vegetativo dos indígenas, ou seja, aumento da população devido ao maior número de nascimentos do que de mortes. (...); b) imigração internacional originária dos países limítrofes que têm alto contingente de população indígena, como Bolívia, Equador, Paraguai e Peru, com destino às áreas fronteiriças ou às grandes metrópoles, como Rio de Janeiro e São Paulo. (...); e c) aumento da proporção de indígenas urbanizados que optaram pela categoria indígena no Censo Demográfico 2000 e que, anteriormente, se classificavam em outras categorias. Esta é uma das hipóteses mais plausíveis. Nesse aumento, estariam incluídos tanto os indígenas urbanizados com pertencimento étnico a povos indígenas específicos como pessoas que se classificaram genericamente como indígenas ainda que não se identificando com etnias específicas” (IBGE, 2005, 35).

para a Região Norte e 79,5 para a Sudeste) mostraram valores superiores e levemente mais homogêneos em 2000 (56,8 para a Norte e 87,2 para a Sudeste). Os piores números foram registrados nos domicílios localizados na zona rural, inclusive no chamado “rural especifico”.55

2.2.2. Do Serviço de Proteção ao Índio (SPI) à Fundação Nacional