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DADOS MÍTICOS OBTIDOS COM OS INSTRUMENTOS UTILIZADOS COM AS PESSOAS ENVOLVIDAS NA ORGANIZAÇÃO DO ASILO

No documento Velhice asilada, gênero e imaginário (páginas 140-192)

PARTE II DADOS MÍTICOS

CAPÍTULO 3 DADOS MÍTICOS OBTIDOS COM OS INSTRUMENTOS UTILIZADOS COM AS PESSOAS ENVOLVIDAS NA ORGANIZAÇÃO DO ASILO

3.1 Dados míticos do sujeito 8

3.1.1 Caracterização do sujeito 8

Seu Jesuíno, sujeito do sexo masculino, com 54 anos, casado, católico, cursou o ensino fundamental incompleto e estava no asilo há dois anos no período da pesquisa.

3.1.2 Protocolo do Teste AT-9 do sujeito 8

Seu Jesuíno recebeu o protocolo do Teste AT-9 e, após breves instruções sobre o procedimento, executou o desenho mostrado na Figura 11.

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Sobre seu desenho, contou a seguinte história:

“Eu como pessoa humana estou como Vicentino justamente este trabalho buscamos o plano espiritual Jesus faço o bem à meus irmãos os vos darei a vida eterna. Esta é a história que busco por que busco primeiro o plano espiritual”.

Respondeu ao questionário do Teste AT-9 da seguinte forma:

A. Sobre que idéia você centrou sua composição?

“Voltada para o trabalho que a gente faz”.

B. Você foi eventualmente inspirado? Através do quê (leitura, filme, etc.)?

“Leitura espiritual”.

C. Entre os nove elementos do teste de sua composição, indique:

1. Os elementos essenciais em torno dos quais você construiu o desenho.

“Deus.”

2. Os elementos que você teria vontade de eliminar. Por quê?

“Espada, porque quando usada para o mal a gente não pode usar. As pessoas confundem.”

D. Como acaba a cena que você imaginou?

“Não acaba, a gente sempre tem a luta para continuar.”

E. Se você tivesse que participar da cena composta, onde você estaria? O

que faria?

“Estaria onde estou, trabalhando”.

No Quadro 14 são mostrados a representação, a função e o simbolismo atribuídos por Seu Jesuíno a cada um dos nove elementos do Teste AT-9.

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Quadro 14. Representação, função e simbolismo dos elementos arquetípicos do

Teste AT-9 do sujeito 8, Seu Jesuíno.

Elemento A. Representado

por

B. Função/Papel C. Simbolizando

Queda Uma coisa que não

dê certo

Ajuda, quanto mais apanha, mais aprende

Aprendizado, porque ninguém é perfeito

Espada Luta Ensinamento Luta preparada p/

não prejudicar ninguém

Refúgio Deus Procurar melhorar cada

dia

Força

Monstro Obstáculos Mostrar se tem

capacidade de resolver

Aprendizado

Cíclico Força Movimento Força de vontade

Personagem Jesus Cristo Força de vontade Trabalho

Água Coisa pura

(mas nem sempre ela é; quando bem

tratada ela é)

Alimento principal do ser humano

Saúde

Animal Criação Divina Gado, por exemplo

alimento do ser humano

Alimento

Fogo Força Cozinha os alimentos Força

3.1.3 Análise do protocolo do Teste AT-9 do sujeito 8

Esse sujeito apresentou um desenho com apenas um círculo completo contendo palavras ao seu redor. As palavras que emanam do círculo estão todas relacionadas com religiosidade. Seu Jesuíno revela uma postura de Vicentino, ou seja, como ele percebe o seu papel no asilo: um Vicentino que tem boa vontade e está lá para poder ajudar. Desenhou um círculo, no seu centro escreveu Deus e

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Jesus e, ao redor, escreveu as palavras: o espírita, o presbiteriano, o católico, o evangélico e futuras religiões. Tudo envolvendo fé e religião.

Segundo Chevalier e Gheerbrant (2001), o círculo simboliza mundo, tempo, céu cósmico, totalidade. Os autores afirmam que para Jung, o símbolo do círculo é uma imagem arquetípica da totalidade da psique, ou o símbolo do self. “O círculo é a figura dos ciclos celestes, principalmente das revoluções planetárias, do ciclo anual representado pelo Zodíaco” (CHEVALIER; GHEERBRANT, 2001, p. 251).

No questionário do teste, Seu Jesuíno respondeu que centrou sua composição: “[...] voltada para o trabalho que a gente faz”. O personagem, no qual o sujeito se projeta, ficou registrado no pequeno quadro final do protocolo do Teste AT-9 como Jesus Cristo, que simboliza o trabalho. O elemento cíclico foi representado pela força, com a função de movimento e simbolizando força de vontade. Fica claro que esse sujeito tem força de vontade para lutar e não querer prejudicar ninguém, como afirmou. Ele se refugia misticamente em Deus e heroicamente procura melhorar a cada dia. Em seu percurso, encontra obstáculos que são monstros, os quais têm o papel de “mostrar se tem capacidade de resolver” e simbolizam “aprendizado”. Isso evidencia que esse sujeito-autor tenta aprender com os obstáculos, o que o faz imaginar o monstro/morte de forma positiva, com imagens positivas de vida ou de renascimento. No entanto, o elemento que ele elimina é a espada, que representa “luta”. A função da espada neste protocolo é de ensinamento e, para Seu Jesuíno, simboliza “luta preparada para não prejudicar ninguém”. Esse sujeito não quer lutar para não prejudicar as pessoas. Imagina o elemento espada de forma positiva, com função de ensinamento, mudança.

O microuniverso mítico que emerge deste protocolo pode ser considerado desestruturado com tendência ao sintético.

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3.1.4 Caixa de Areia realizada pelo sujeito 8

Após receber o material e as instruções sobre o procedimento da Caixa de Areia, Seu Jesuíno compôs o cenário mostrado na Figura 12.

Figura 12. Cenário da Caixa de Areia composto pelo sujeito 8, Seu Jesuíno.

Sobre seu cenário, criou a seguinte história:

A gente tem ouvido várias histórias sobre a vida de Jesus, mas só que, às vezes, no momento, a gente não nega, mas é... São vários ensinamentos, uma queda que... A história de uma criança que, pelo qual unicamente que não tinha pra onde, os pais não davam conta de trabalhar, cuidar da família. Então, quando eles precisavam, a família muito pobre, o pai tava... A gente não acreditava em Jesus e ele, como não tinha como assegurar na parte material, é ele procurou a igreja. Chegando na igreja não achou, não acreditava em Deus e via a imagem de Jesus Cristo pregado na Cruz e buscou, falou com ele. Buscar ajuda para a esposa... E, chegando lá, não acreditava que tinha ido à igreja e viu Jesus pregado na cruz, a imagem, né? E achou que ele estava passando fome. Ah, eu vim buscar ajuda, mas vocês estão pior do que eu, pregado na cruz, sem roupa. Eu gostaria que você fosse almoçar na minha casa, vou te dar um almoço. E quando ele chegou, Jesus garantiu pra ele que ia na casa dele almoçar. Preparou o almoço e ficou guardado. Então, chegava uma pessoa carente, pobrezinha e pedia alimento, e disse o dono da casa, eu vou te dar esse alimento, porque é... Eu chamei um amigo meu, chamado Jesus, pra almoçar comigo na minha casa. Só que ele ainda não chegou. Eu vou te dar um prato de comida. Você pode comer, que tenho certeza vai sobrar. E isso passou o dia todo e no fim da tarde, ele voltou na igreja para reclamar que Jesus já tinha ido. E ele disse, eu fui. Eu fui naquelas pessoas que estava necessitando de alimento e almoço e foi possível o almoço aí. Aquelas

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pessoas estavam me representando. Eu sou aquele que diz, aquele que você dá um prato de comida, um copo d´água. Dai aos meus irmãos que a mim você está servindo. Então, por isso que eu trabalho aqui. Baseio nos ensinamentos. Que a pessoa tem que servir ao máximo, porque os nossos irmãos que chegar e pedir e bater à porta, ou seja, o tipo de comida que tiver, você vê que aquela pessoa precisa. Como ele não ia pessoalmente, ele mandou alguém representando, que era um ensinamento. Não sabia que ele existia e, a partir daquele momento, ele passou a acreditar em Deus. Cresceu em Jesus e ele pediu a cura para a sua esposa e sua esposa foi curada. Então, por isso que a gente baseia muito nos ensinamentos e faz o trabalho que a gente faz.

3.1.5 Análise do cenário realizado na Caixa de Areia pelo sujeito 8

A imagem de Jesus Cristo pregado na cruz foi colocada no centro da Caixa de Areia de Seu Jesuíno. Destaca-se aqui a presença religiosa, assim como no Teste AT-9. Esse sujeito conta uma história, a partir dessa imagem, que parece ser uma mistura de fatos de sua vida e trechos bíblicos. Essa imagem indica que o ponto de apoio, a direção ou a bússola que o guia é Jesus. “A cruz é em primeiro lugar, a base de todos os símbolos de orientação nos diversos níveis de existência do homem” (CHEVALIER; GHEERBRANT, 2001, p. 309). Cristo parece ser uma figura central orientadora para esse Vicentino.

Outra atribuição dada à cruz, segundo Chevalier e Gheerbrant (2001, p. 310), é o de símbolo ascensional, pois “Nas lendas orientais ela é a ponte ou a escada de mão pela qual os homens chegam a Deus”.

No discurso de Seu Jesuíno está presente o heroísmo, ao ajudar os necessitados, mas também existe a presença do místico ao relatar a necessidade do alimento, do copo com água. Isso evidencia a estrutura sintética.

No entanto, percebe-se que o discurso desse sujeito é confuso, como se não houvesse um raciocínio lógico. Em alguns momentos, ficava confuso até mesmo entender o que ele estava dizendo. Ao final de seu discurso, ele disse: “Então, por

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isso que a gente baseia muito nos ensinamentos e faz o trabalho que a gente faz”. Seu Jesuíno passa a idéia de que ele está representando a figura de Jesus e é como se tivesse uma missão a cumprir, o que aqui evidencia a presença de desestrutura.

3.1.6 Protocolo do teste da Arquitetura Sensível do sujeito 8

No Quadro 15 é apresentada a ressignificação do espaço asilar por Seu Jesuíno com a aplicação do teste da Arquitetura Sensível.

Quadro 15. Ressignificação do espaço asilar do sujeito 8, Seu Jesuíno.

Elemento Espaço do asilo Significado

Queda Entre a sala de TV e os

refeitórios

Lazer

Espada Área I Descanso

Refúgio Refeitório Lazer

Monstro Área III Higienização

Cíclico Recepção Atendimento do pessoal que

freqüenta o abrigo Personagem Secretaria Área de espera/atendimento

Água Refeitório feminino Área especial

Animal Área III Amizade

Fogo Cozinha Parte mais abençoada

3.1.7 Análise do protocolo do teste da Arquitetura Sensível do sujeito 8

A queda, para Seu Jesuíno, está representada entre as salas de TV e os refeitórios (masculino e feminino). Para ele, esses refeitórios deveriam ficar

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separados. A intenção dessa divisão fica clara quando esse sujeito mostra onde a água estaria representada. Esse Vicentino enfatizou que a água “[...] seria símbolo de alegria, alguma coisa assim”. Logo afirmou que a água estaria representada no refeitório feminino, pois esse é “mais asseadinho” e é uma “área especial”. Em sua fala destacou que os homens são mais “bagunçados”. Então, esse sujeito explicou: “Eles geralmente não cuidam muito. [...] Às vezes, eles fazem necessidades fisiológicas e jogam o coco na parede. Parece que para chamar a atenção. Jogam o cigarro no chão, aquela coisa toda”.

Nesse discurso, questiona-se a recursividade de um processo relacional, o qual pode ser explicado pelo princípio da circularidade, ou seja, o comportamento bilateral: o comportamento de cada indivíduo afeta e é afetado pelo comportamento dos outros indivíduos envolvidos no sistema. Isto é, ocorre um funcionamento circular, ambos os comportamentos, o do idoso e o da sua rede de relacionamentos, afetando um ao outro em reciprocidade contínua. Esse processo é como se fosse um “novelo”, do qual não encontramos a ponta, isto é, onde começa esse “conflito”? Os idosos do sexo masculino têm essas atitudes por que parece não existir afetividade entre eles e as pessoas envolvidas na organização do asilo? Ou as pessoas envolvidas na organização do asilo os tratam diferentemente porque eles não são tão afetuosos? Eles querem chamar atenção, como diz esse sujeito? De quem? Ou para quê? Eles estão satisfeitos?

Fica claro que essa é uma situação complexa de ser analisada. Quanto mais não são ouvidos, mais se revoltam e, por conseqüência, mais são ignorados, a ponto de a administração do asilo pensar em algumas medidas. Esse Vicentino afirmou:

[...] até por isso que eu estou pensando em fazer essa divisão totalmente, né? Deixar a ala masculina totalmente de um lado e a feminina de outro. Quando tiver festa, a gente reúne a turma tudo, faz a comemoração e depois faz a divisão de novo.

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Seu Jesuíno não quer lutar; a espada está representada na Área I e significa descanso. No Teste AT-9, o elemento eliminado por ele foi a espada.

O elemento cíclico foi representado na recepção, a qual significa “Atendimento do pessoal que freqüenta o abrigo”. Aqui existe movimento, ou seja, pessoas que entram e saem do asilo.

A presença do místico aparece no elemento fogo, que está representado na cozinha e significa “Parte mais abençoada”. Verifica-se aqui também a presença da religião no discurso de Seu Jesuíno.

3.1.8 Interpretação geral dos dados advindos dos instrumentos utilizados com o sujeito 8

Esse sujeito apresenta microuniverso mítico desestruturado com tendência ao sintético. Seu Teste AT-9 e a Caixa de Areia mostram confusão de idéias e mistura dos fatos religiosos com sua vida. Não distingue o real do imaginário, a realidade de sua imaginação. Seu círculo de vida se constrói na religiosidade. Seu discurso mal- expressado deixa ver a fixação dos dogmas religiosos, a cristalização.

Os instrumentos utilizados evidenciam sua postura religiosa que ora luta e ora descansa, o que leva à identificação sintética da estrutura de seu imaginário.

Parece haver boa intenção desse sujeito em ajudar os idosos; no entanto, nota-se seu despreparo em lidar com as dificuldades e/ou a diversidade. Ele quer eliminar um “problema” criando outro. Em sua concepção, deveria separar a ala feminina da masculina, porque os homens são mais “baguncentos”. Ele quer resolver algo que o incomoda sem ouvir os idosos e as idosas, tentando eliminar, excluir o efeito e não a causa desconhecida ou não compreendida por ele. Esses

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homens parecem estar reivindicando atenção, carinho e respeito. Eles são cuidados por monitores do sexo masculino, enquanto as mulheres são cuidadas por monitoras do sexo feminino. Alguns teóricos, citados por Néri (2001), argumentam que a dinâmica do cuidado é mais feminina. Nesse caso, é válido verificar o contato dos monitores com esses velhos asilados que estão necessitando de cuidados, muitos deles dependentes para o auxílio às suas necessidades básicas. A situação é complexa e na complexidade, sem reduções ou simplificações, precisa ser tratado.

3.2 Dados míticos do sujeito 9

3.2.1 Caracterização do sujeito 9

Seu Felino, sujeito do sexo masculino, com 69 anos, casado, católico, cursou o ensino fundamental incompleto e estava no asilo há um mês no período da pesquisa.

3.2.2 Protocolo do Teste AT-9 do sujeito 9

Seu Felino recebeu o protocolo do Teste AT-9 e, após breves instruções sobre o procedimento, executou o desenho mostrado na Figura 13.

Sobre seu desenho, criou a seguinte história:

Primeiramente, a água é importante. Ela é vida e morte. O homem, com sua inteligência, é muito mais selvagem que os animais. A tartaruga é um animal que ela é bem pacífica. Nós deveríamos ser mais pacíficos. A tartaruga é pacífica. E o homem usa sua inteligência mais para a destruição [fala que o governo não ajuda]. O que é a água hoje para nós? A água dá vida e hoje o Estado de Goiás... O homem com sua ignorância, a água está acabando... [fala da ganância do homem]. O pássaro, você vai na Bahia, na ilha, na rede, vejo os pássaros. O homem não se domina... Só Deus que está no coração. A espada faz ferir, matar, destruir. Nunca faz o bem, só mal, porque essa espada foi feita para traçar o coração das pessoas, de Deus.

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Casa: momento importante. Quantas pessoas sem casa? Multidões... Muita gente não tem espiritualidade. Touro [boi], eu lembro em Mato Grosso, meu pai tinha fazenda... O gado é abençoado por Deus [faz a representação do boi que pede benção e canta]. Eu sei amar as pessoas. Esse amor é de Deus e não do homem. O jacaré é um animal muito doce. Já tive no Pantanal, descansei minha mente, fiquei 15 dias. Como admirei o jacaré! A gente pega ele, devagarzinho e adoce o jacaré. É o bicho mais perigoso. Vai dominando e fica doce a pessoa. Os animais em si, a cobra, os animais selvagens, você tem domínio, o homem não.

Figura 13. Desenho do Teste AT-9 feito pelo sujeito 9, Seu Felino.

Respondeu ao questionário do Teste AT-9 da seguinte forma:

A. Sobre que idéia você centrou sua composição?

“Pensei no jacaré, depois o homem, porque mais selvagem. Tudo que ia escrever, pensava.”

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“Não.”

C. Entre os nove elementos do teste de sua composição, indique:

1. Os elementos essenciais em torno dos quais você construiu o desenho.

“Água, casa, boi, homem, tartaruga.”

2. Os elementos que você teria vontade de eliminar. Por quê?

“Espada, porque é a maldade do homem.”

D. Como acaba a cena que você imaginou?

“A cena não deve acabar. Ela deve construir para dias melhores. Se for acabar essa cena, é destruição, mas não deve.”

E. Se você tivesse que participar da cena composta, onde você estaria? O

que faria?

[Esse sujeito não deu resposta à pergunta.]

No Quadro 16 são mostrados a representação, a função e o simbolismo atribuídos por Seu Felino a cada um dos nove elementos do Teste AT-9.

3.2.3 Análise do protocolo do Teste AT-9 do sujeito 9

Verificam-se, no discurso do Teste AT-9 de Seu Felino, as expressões vida/morte, selvagem/pacífico. De acordo com Durand, Y. (1988, p. 112-115), nos “micro-universos (sic) simbólico de tipo sintético a reflexão se efetua por relatar uma tomada de consciência do caráter dualista até mesmo maniqueísta do mundo ao qual o personagem se encontra confrontado”. O discurso desse sujeito faz emergir o simbólico e o ideológico político.

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Quadro 16. Representação, função e simbolismo dos elementos arquetípicos do

Teste AT-9 do sujeito 9, Seu Felino.

Elemento A. Representado

por

B. Função/Papel C. Simbolizando

Queda Espada Destruir Homem destruindo

a si mesmo

Espada Espada Continência à vida Momento de

atenção

Refúgio Água Descanso mental e físico Vida

Monstro Homem Destruição Destruição

Cíclico Boi Produção/alimento Fortaleza

Personagem Um pouco de tudo vida Vida

Água Rio Embarcação/desenvolvimento Crescimento

Animal Um pouco de tudo Desenvolvimento da cidade Crescimento

Fogo - - -

Os elementos queda e espada do Teste AT-9 foram representados pela imagem da espada. No questionário do teste, o elemento queda foi representado pela espada, cuja função é destruir e simboliza para esse sujeito “O homem destruindo a si mesmo”. Já a função do elemento espada, representado pelo elemento espada, é de continência à vida, simbolizando momento de atenção.

Percebe-se ambivalência na representação da espada: destruição e vida. O elemento que esse sujeito elimina também é a espada. A ambivalência também é verificada quando o sujeito fala sobre como acaba sua cena, pois ela “[...] não deve acabar. Ela deve construir para dias melhores. Se for acabar essa cena, é destruição, mas não deve”.

O monstro é representado pelo homem, antropomorfo, cuja função e simbolismo é a destruição, o que significa, na concepção de Durand, Y. (1988), uma antropomorfia.

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O elemento cíclico é representado pelo boi e tem a função de produção e alimento. Para Chevalier e Gheerbrant (2001, p. 137), “o boi é um símbolo de bondade, de calma, de força pacífica, de capacidade de trabalho e de sacrifício”. Os autores também destacam que o boi é um animal sagrado entre os gregos. O sujeito considera que “[...] o gado é abençoado por Deus”.

Alguns animais selvagens estão presentes no discurso desse sujeito: o jacaré e a cobra. Durand, G. (1997) argumenta que a interpretação dos animais no teste Rorschach é diferente quando a escolha trata-se de animais agressivos que refletem sentimentos poderosos de bestialidade e agressão.

Esse sujeito eliminou a espada “[...] porque é a maldade do homem”. O elemento arquetípico espada, de acordo com Durand, Y. (1988), provoca a resposta do tipo heróica diante da morte, ou da angústia universal. Parece que esse sujeito quer eliminar sua possibilidade de luta.

O sujeito apresenta microuniverso mítico pseudodesestruturado com tendência ao sintético. Existe coerência mítica subjacente ao desenho. Nesse caso, para Durand, Y. (1988, p. 132), “as figurações que compõem não são, com efeito, nulamente abstratas, elas comportam significações articuladas com uma ordem simbólica geradora de uma estrutura. A vida e a morte, por exemplo”. A estrutura sintética harmoniza os contrários.

3.2.4 Caixa de Areia realizada pelo sujeito 9

Após receber o material e as instruções sobre o procedimento da Caixa de Areia, Seu Felino compôs o cenário mostrado na Figura 14.

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Figura 14. Cenário da Caixa de Areia composto pelo sujeito 9, Seu Felino.

Sobre seu cenário, criou a seguinte história:

História de uma pessoa que tem uma vivência muito grande na lavoura, na cidade. Conheci várias capitais: Belo Horizonte, São Paulo, Salvador, Rio de Janeiro. Em Goiânia, estou desde 5 anos. Fiz primeiro ano completo. Hoje a gente não devia preocupar o dia de amanhã. Vê hoje e fazer bem- feito. Fico lembrando da família. Tenho descendente de baiano, cuiabano, italiano. Na minha caminhada, tem três gerações. Eu não olho para mim e só para o outro. Já dirigi creche, abrigo e conselho.

3.2.5 Análise do cenário realizado na Caixa de Areia pelo sujeito 9

No documento Velhice asilada, gênero e imaginário (páginas 140-192)