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dados para cada uma das 11 duplas.

Aluno I.: 25% Professora: –Por que?

Distribui 2 dados para cada uma das 11 duplas.

de barulho! Parem de bater os dados! As 11 duplas vão ser um time. No quadro numera de 1 a 11.

A Professora propõe que uma aluna que está só, e eu, formemos o time 9. Ficamos. (...)

Há concentração. Muita atenção. A Professora reorganiza certas duplas na sala. Professora: – Nós vamos fazer 50 lançamentos

Aluno: – Ah, que calor!

Professora: – Em cada lançamento vamos somar os números dos dados. Se eu jogar e der 4 na soma, a dupla 4 ganha 1 ponto. A S. e a R. vão observar os lançamentos. Há perguntas e conversas.

Professora: – A dupla que tiver falado, sai do jogo.

Destaca uma aluna para comandar os lances e outra para anotar no quadro. Inicia. Há defasagens nas marcações, a turma conversa, o sete está ganhando.

(...)

Professora: – Agora, olhem só, parem de bater os dedos. Qual é o time que fez mais pontos?

Alunos: – O sete.

Professora: – Vocês acham que quem ganhou aqui foi por sorte? Alunos: falas incompreensíveis...

Professora: – E o 2, que não fez nenhum ponto? Aluno: – Porque não tem jeito de dar 2.

Outro Aluno: – 1 com 1 dá 2, animal!

Professora: – a resposta dela não está incorreta. Vocês não escutam, ficam rindo... Por que saíram mais alguns números e menos outros?

Vários alunos falam e respondem. Professora – vamos fazer outro jogo.

Aluna: – Professor, por que você não traz um baralho? (...)

Professora reagrupa o time, aumentando os componentes dos grupos e dando 3 dados para cada um.

O calor hoje é enorme e a conversa, demais. Nova rodada.

Professora: – Anotem a regra, prestem atenção como fazer, olhe o barulho: cada dupla é um time e em cada...

No nosso grupo escolhemos 2 par e 2 ímpar (duplas).

Cada time vai lançar 3 dados, multiplicar os valores e pondo ponto para par ou ímpar.

Alguns alunos ainda não entendem.

196 5x4x4 = 80 Par Ímpar 4x2x5 = 40 111 1 3x1x2 = 06 1111 6x1x1 = 06 5x1x3 = 15 5x4x3 = 15 3x4x5 = 60 6x1x2 = 12 5x4x2 = 40

A turma conversa, se agita bastante, agora torcendo, conversando, brincando, brigando.

(...)

Professora: – Deu mais par. Por quê? Foi sorte? Aluno: – Não

Aluna: – Porque são 3 dados?

Professora: – Vamos ao livro, página 170. O texto fala sobre possibilidades e chances.

A atividade não tem respostas claras, no momento, abre o assunto que irá começar. Entra na sala um professor para recolher papéis e dinheiro para a excursão para a Serra da Piedade, prevista para o dia 27 de outubro. O professor repete quatro vezes a explicação dos detalhes da excursão. Alunos conversa, sentam e levantam. Há um aluno com som de ouvido.

Professora: – Quem já terminou de combinar a excursão, continua a tarefa. (...)

Vamos à tarefa. A Professora diz que vai chamar para explicar. Incentiva a que todos façam. Alguns fazem e outros não.

Bate o sinal. Pede para que terminem a leitura e que façam, por escrito, a parte “conversando com o texto”. Ninguém anota o para casa, pelo que percebo. Saem. Aluna Ma:. – Agora é a melhor hora (o recreio).

Na saída da sala a Professora conversa com S. (menina), parece uma conversa pessoal. Eu me afasto. As duas se abraçam.

Recreio.

No recreio conversamos na sala dos professores. Aurora me diz que teve conversa com os colegas e que tem refletido muito, que resolveu modificar o trabalho e agora formou duplas fixas, de maneira que pretende analisar melhor os assuntos trabalhados e registrar melhor o desenvolvimento de cada aluno, ao mesmo tempo que eles também serão instigados a registrarem melhor sua participação na aula. De fato, há uma tentativa de mudança nos encaminhamentos das turmas.

trabalhava com um conjunto de outras atividades, especificamente organizadas por grupos de cinco turmas. Observei as atividades do grupo da Professora Aurora e destaquei algumas para relatar, procurando ainda explicitar mais detalhes da dinâmica do dia-a-dia. Alguns relatos foram extraídos do caderno de anotações da Professora.

05/10/99 – Sexta-feira – Atividades das cinco turmas do grupo - CAMPEONATO Chego quase 14 horas à escola, pois hoje o funcionamento será diferente, será disputada a final do Campeonato Esportivo. Até as 15:10 horas, as duas primeiras aulas, o grupo das 5 turmas que eu acompanho terá o campeonato inter-turmas. Estão todos na quadra (em torno de 140 alunos). Disputam o título na rodada final, entre si. Há grande empolgação, torcida organizada e todos estão presentes.

Os alunos discutem tudo, a forma com que as decisões estão sendo tomadas. No decorrer dos jogos, surge uma polêmica que se arrastará por horas, mostrando haver diferenças quanto às regras do campeonato, estas estabelecidas conjuntamente pelos professores com as turmas. Discutem, discutem, mais de 20 minutos, vão e voltam, professores e alunos, até chegarem a um acordo. A Professora de educação física parece que fez encaminhamentos que provocaram reações adversas. Foram momentos de grande alegria e competição, cheio de tensões, polêmicas até uma resolução final. O assunto rendeu por dias.

Das anotações da Professora Aurora retiro os projetos e os seus desdobramentos, também voltados para as cinco turmas do grupo, podendo ser assim relatados:

Oficina de Artes Argila - 24/08/99 - 3ª e 4ª horário – turmas A9 e A10 Professores C. (História) e S. (Educação Física)

Objetivo . oportunizar a auto expressão através da arte

. levar o aluno à concentração, à socialização e à demonstração de seus domínio e suas capacidades

Conteúdo: Artes (trabalho livre, sem imposição de técnica, com argila) Atividades/desenvolvimento

- argila para cada aluno em trabalho individualizado

- apresentação da arte ao colega e ao professor

Avaliação – os alunos organizaram e participaram da atividade de forma expressiva e prazerosa.

Projeto Sexualidade - 24/08/99 a 27/08/99 – Turmas C9 e C10 Professora Aurora e L.

Objetivos – atender à solicitação dos alunos e dar continuidade ao trabalho iniciado no ano passado.

Conteúdo: sexualidade

Materiais: vídeo, giz e apagador.

Atividades/desenvolvimento – após assistir ao vídeo, os alunos responderam as perguntas do roteiro e sugeriram temas para serem abordados no decorrer do projeto.

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Avaliação – apesar de alguns problemas com o vídeo (de funcionamento), os alunos se envolveram com a atividade e acreditamos que os objetivos foram atendidos.

Oficina de pintura - 24/08/99 - Turma B09 Professores P. e L.

Objetivo – dar aos alunos a oportunidade de desenvolver seus dotes artísticos, bem como ter a oportunidade de participar de um projeto extra-curricular, ou seja, algo mais recreativo que extrapole os currículos tradicionais.

Conteúdo: artes, pintura

Atividades/desenvolvimento – com tinta guache, pincéis e papel ofício os alunos fizeram seus trabalhos, com tema livre. Alguns não usam pincéis e sim os dedos.

Avaliação – a participação foi excelente, com as parcerias funcionando com muita harmonia. Um sucesso total.

Observação: Os alunos Bru. e Brá. Santos nada fizeram.

Março - Turmas A9 e A10 Professores C. e Aurora

Objetivo geral – conhecer a história do historiador que dá nome à Escola. Objetivo específico – identificar o aluno na comunidade escolar.

Desenvolvimento/atividades – relato da história da Escola através de slides, vídeos, lâminas e fotos.

Recursos – TV e vídeos, retroprojetos e projetor de slides

Avaliação – a participação dos alunos na atividade será avaliada através de um debate.

Discussão sobre o filme: Central do Brasil Professor C. e Aurora

Apresentação, observação de um roteiro e debate.

Como se pôde perceber, pelos relatos, a atuação da Professora Aurora era bastante ampla pois está articulada por uma dinâmica geral da Escola. Atuava como professora de matemática, como coordenadora do grupo de cinco turmas, em um conjunto de atividades de seu grupo de turmas e ainda, em frentes diversas da Escola.

O seu comportamento parecia querer contestar o estilo do “professor de matemática”, mais distante ainda de uma professora de matemática tradicional, quanto está na sala de aula, ou quando está atuando em outros espaços e momentos. Sua postura era de professora da escola, disposta a tudo que esta lhe coloque, como um compromisso mais geral com a educação oferecida e com os alunos que estão ali, principalmente.

Na sala de aula, Aurora era a orientadora dos trabalhos, elegendo assuntos da matemática, estabelecendo uma ordem dos conteúdos matemáticos que considerava mais adequada e utilizando o livro didático para as atividades. O livro didático escolhido tem um

problemas, que vai aos poucos desenvolvendo os conhecimentos, propondo debates e sínteses, o que nem sempre é feito coletivamente na sala. Como os trabalhos eram feitos em grupos/duplas/trios, a Professora orientava para que seguissem à frente nas atividades propostas. Às vezes corrigia exercícios centralizadamente no quadro, mas, normalmente, ia dando dicas aqui e ali, e cada aluno deveria fazer e entender o seu. Chegar à resposta não parecia ser importante, tanto que os alunos tinham que conferir uns com os outros para satisfazerem-se com um resultado, não havendo um exercício da Professora no sentido do resultado certo. Quem não ficasse bem atento dificilmente usufruiria da dinâmica.

O trabalho em grupo era uma reunião de alunos para trocarem idéias e dificilmente era realmente integrado. Outra estratégia muito constante observada nessa prática é a atuação dos alunos uns com os outros, pois a Professora solicitava que quem terminasse certa atividade explicasse aos outros colegas. Certamente alguns alunos tinham mais facilidades e auxiliavam os colegas constantemente, o que mostra até que esta prática se firmava como um comportamento constante. Como havia alunos que em certos assuntos mostravam ter mais facilidades estabelecia-se certa rotatividade nas explicações uns com os outros.

Não assisti a qualquer aula em que houvesse uma síntese do conteúdo matemático que vinha sendo tratado nos problemas e atividades. A estratégia da Professora parecia considerar totalmente dispensada esta ação. Aliás, esta ação é considerada típica de um modelo tradicional, do qual Aurora fugia, como dizia fugir de tudo que todos faziam, receosa de retomar práticas tradicionais, por nelas não acreditar. Mostrava constante inquietação pedagógica – se todos na escola estão trabalhando em dupla, então diversificava mais a forma de trabalhar. Provocava o debate entre os alunos, punha juntos aqueles que achavam respostas diferentes, desafiava para soluções diversificadas. Quanto ao conteúdo, não fazia uma síntese da produção da sala, nem a cada dia, nem a cada assunto tratado.

Da prática na sala de aula pode-se inferir que o aluno deveria ter muita iniciativa e autonomia para ter o seu material claro no caderno e compreendido. Isto não ocorria, a não ser com uma parcela pequena de cada turma. Ficava visível que um pequeno número, por iniciativa própria ou por interação aos procedimentos de Aurora, desenvolvia-se naturalmente, dando conta das tarefas. Muitos viviam “insits” na construção do conhecimento, explicitando- os. No entanto, um grande número de alunos em todas as salas, talvez mais visível nas salas dos mais velhos, mostrava dificuldades em assuntos elementares e fundamentais e reclamavam muito, insatisfeitos.

200 De uma maneira geral, a Professora mostrava-se preocupada em atuar com o aluno não só observando seu desempenho com a matemática, mas também observando o seu desenvolvimento, o que o preocupava, de maneira que procurava acompanhar a todos, na medida do possível. Tudo na sala de aula acontecia com muito diálogo, despertando a cooperação e a solidariedade do grupo. A observação mostrou que Aurora estava sintonizada com problemas que os alunos apresentassem, uma sintonia com as “suas questões”, mais particulares e escolares. E eles recorriam muito a ela. Problemas próprios como aquele aluno que não se concentra nunca, ou aquele que só quer ficar pensando (andando de um lado a outro, sem nada fazer); a gravidez precoce; os problemas de saúde – olhando as doenças do dia-a-dia; os desentendimentos entre eles, desde pequenas rusgas às brigas de rua; os namoros, amores e desamores, enfim, Aurora participava das vivências dos alunos e opinava, estabelecendo com eles diálogos constantes.

No seu grupo de turmas, então, Aurora era uma Professora preocupada com tudo: com a aprendizagem da matemática, com a coordenação pedagógica, os lanches, as excursões, as atividades em geral e com a vida dos alunos e pais, atendendo um e outro. O mesmo pode-se dizer em relação à Escola como um todo, é claro, atuando ela nas ações, na medida do possível. Um certo dia alguém gritou estar havendo uma briga de alunos na rua, na saída. Vejo Aurora sair numa incrível rapidez, colocando-se no meio da briga, separando, “dando dura”, mandando embora, dispersando os grupos. Em outros momentos, vejo-a parada em um canto, pensando, planejando e escrevendo idéias sobre o que vai propor, com seus colegas mais próximos, no Congresso. De certa forma, pode-se dizer que muitos outros professores desta Escola mostravam essa mesma relação.

Nos relatos aqui feitos, no período observado na Escola, Aurora participou diretamente. Além de ser a professora de matemática, atuava no jornal da escola (organizando os alunos, participando da elaboração e distribuição do jornal); no grupo de contadores de história (participou da formação do grupo, convidando alunos e realizando apresentações); com a literatura (incentivando e acompanhando a retirada de livros da biblioteca pelos alunos, bem como sua leitura e devolução); nas oficinas de sexualidade e história da escola (nesta última, estudando o personagem que dá nome à Escola); discutiu projeção de filmes, como foi o caso de “Central do Brasil”; participou ativamente dos Festivais de Música e de Poesia; das oficinas com a comunidade, de culinária, bordado, etc.