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4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 Dados Pessoais e Profissionais

Após as visitas às farmácias observou-se que em 90 estabelecimentos (51%), o farmacêutico não estava presente durante o horário de funcionamento declarado junto ao CRF/RN. É importante novamente frisar que a ausência era caracterizada após terceira visitada no mesmo estabelecimento. A área que apresentou maior ausência foi a III (23%, n = 21), sendo esta a maior área em termos de extensão e de número de farmácias, assim como a mais carente sócio-economicamente.

Este é um dado relevante. Onde estão estes farmacêuticos? Como cobrar mudanças na profissão e reclamar insatisfações se, logo de início, eles não estão cumprindo com sua presença nos estabelecimentos farmacêuticos? De que adianta o nome do farmacêutico somente na placa da farmácia e no registro do CRF como responsável técnico ou auxiliar? E os proprietários destes estabelecimentos com estas atitudes em não cumprir o básico que é ter o farmacêutico presencialmente na farmácia? E a fiscalização dos órgãos reguladores locais que não está cumprindo efetivamente com seu papel? São indagações importantes que iniciam todo o raciocínio para os resultados obtidos posteriormente neste estudo.

A Lei 5991/73 (BRASIL, 1973) assegura a Atenção Farmacêutica plena para a população durante todo o horário de funcionamento de farmácias e drogarias. A ausência do farmacêutico transfere, indevidamente, o papel dele para o profissional leigo (balconista). É um direito do cidadão a orientação farmacêutica. Na farmácia, o usuário terá a oportunidade de esclarecer suas dúvidas e receber orientações sobre o uso racional e correto do medicamento, que levará ao tratamento desejável e à recuperação da saúde e/ou cura da doença. O estabelecimento farmacêutico deve, por Lei, assegurar a presença do farmacêutico em todo seu horário de funcionamento, fazendo disto a contratação de quantos profissionais farmacêuticos forem necessários. Na realidade, há interesses econômicos de grande parte dos proprietários de farmácias onde muitos afirmam não poderem arcar com os custos para manutenção desses profissionais.

Nas farmácias visitadas, nas quais o farmacêutico estava presente, foi fácil identificá-lo, pois na maioria delas ele estava próximo ao balcão e vestido de branco. Em raras exceções, como nas farmácias de pequeno porte, observou-se o contrário: o

farmacêutico distante e vestido com indumentária que não o diferenciava de outros membros da equipe.

Realizada a análise dos dados, delineou-se o perfil dos profissionais entrevistados (TAB. 2).

TABELA 2 – Dados pessoais e profissionais dos farmacêuticos comunitários, em Natal/RN, 2010-2011, (n=175)

DADOS PESSOAIS/PROFISSIONAIS FREQUÊNCIA

N % Sexo Feminino 107 61 Masculino 68 39 Idade (anos) 20↔25 28 16 26↔31 87 50 32↔36 28 16 37↔40 20 12 41↔45 4 2 Mais de 45 8 4 Tempo de formatura (anos) 1↔5 117 67 6↔10 37 21 Mais de 10 21 12 Instituição da formatura Pública 110 63 Privada 65 37 Pós-graduação Não 80 46 Sim, em andamento 63 36 Sim, concluída 32 18 Nível da pós- graduação Lato sensu 79 83 Mestrado 16 17 Doutorado - - A pós-graduação auxilia nas atividades da farmácia? Auxilia bastante 46 48 Auxilia em parte 25 27

Não tem nada a ver 24 25

Apoio ao farmacêutico que faz cursos de atualização ou pós-graduação Não 105 64 Sim 59 36

Domínio da informática Simples 79 45 Intermediário 61 35 Fluente 31 18 Nenhum 4 2 Domínio de língua estrangeira Simples 77 44 Intermediário 50 29 Nenhum 34 19 Fluente 14 8 Conhece o termo “farmácia comunitária” Não 74 58 Sim 101 42 Definiu corretamente o termo “farmácia comunitária” Sim 79 78 Não 22 18

Houve predomínio do sexo feminino (61%), média de idade de 31 anos, tempo médio de formatura de 5 anos (desvio padrão=5,3), sendo a maioria graduada em instituições públicas (63%, n = 110) e 46% (n = 80) sem pós-graduação (TAB. 2).

Em relação à distribuição por sexo, a predominância de farmacêuticas nas farmácias comunitárias de Natal/RN mostra que cada vez mais o sexo feminino insere-se no mercado de trabalho, conquistando um espaço antes dominado pelos homens. Várias pesquisas pelo Brasil, em farmácias comunitárias, revelaram também predomínio de mulheres: em Jundiaí-SP 63,7%(FARINA; ROMANO-LIEBER, 2009), em Santa Catarina 68% (FRANÇA FILHO et al., 2008), em Umuarama-PR 71,2% (PADUAN; MELLO; DOBLISNSKI, 2005), em Brasília-DF 77% (SOUSA; LIMA, 2008), em Curitiba-PR 80% (CORRER et al., 2004).

São nas farmácias comunitárias o local do primeiro emprego de cerca de 70% dos farmacêuticos brasileiros (BRANDÃO, 2009a) e isto pode explicar a média recente de até 05 anos do tempo de formatura. A faixa etária prevalente (26 a 31 anos, com média de 31 anos) também se coaduna com os dados anteriormente citados, demonstrando uma população de jovens farmacêuticos.

Em Natal/RN existem duas instituições de ensino superior que oferecem cursos de Farmácia: uma pública federal, a UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do

Norte), e outra privada, a UNP (Universidade Potiguar). O curso de Farmácia da UNP é bem mais recente (1997) do que o da UFRN que foi criado há 91 anos (1925).

O índice de farmacêuticos que ainda não possui pós-graduação (46%) é preocupante, mas Natal apresenta-se com dados mais positivos sobre esse dado do que outras capitais com estudos semelhantes (CORRER et al., 2004; FARINA; ROMANO-LIEBER, 2009; FRANÇA FILHO et al., 2008; PADUAN; MELLO; DOBLISNSKI, 2005; SOUSA; LIMA, 2008). Não foi verificado se este valor é devido ao número de cursos de pós-graduação oferecidos nos municípios estudados, se devido à baixa remuneração do profissional (o que limitaria o investimento em pós- graduação pela maioria dos farmacêuticos) ou até mesmo se pelo desinteresse do profissional em buscar algum tipo de pós-graduação.

A atualização e especialização no trabalho é parte primordial para a formação de um profissional com maior capacidade de atuação e vasto conhecimento. Uma boa formação prepara o profissional para se destacar nesse mercado farmacêutico que é tão competitivo. Nesse sentido, uma pós-graduação não é um custo e sim um investimento com retorno garantido. Se o profissional produzir mais existe grande probabilidade de conseguir promoções. Mas o maior beneficiado será, além do próprio profissional, as empresas e a sociedade como um todo.

Em relação àqueles que possuíam pós-graduação, tanto os que já a tinham concluído como aqueles que ainda a estavam cursando, houve predominância do lato sensu (83%, n = 79). Entre as áreas mais citadas de pós-graduação, observou-se 33% (n = 26) em análises clínicas, 24% (n = 19) em farmacologia e 7% (n = 6) em saúde pública. Não houve co-relação entre sexo e possuir pós-graduação ou não (p = 0,20, Qui-quadrado = 3,2073). Sobre em que a pós-graduação que fazem auxilia ou faz parte das atividades dos farmacêuticos nas farmácias comunitárias, 48% (n = 46, IC95% 37,5 - 58,4) disseram que auxilia bastante, dando ênfase e base às funções desenvolvidas na farmácia.

O número de farmacêuticos comunitários em Natal/RN, pós-graduados ou que está se pós-graduando em análises clínicas chega a 33%, portanto a maioria dos entrevistados. Não foi observado neste estudo o motivo por esse direcionamento, uma vez que se contrapõe à área de atuação profissional, mas há a possibilidade de teorizar alguns pontos: a oferta mais abundante de cursos na área de análises clínicas; a falta de identificação com a área da farmácia comunitária; os salários mais

atraentes pagos aos profissionais das análises clínicas; além da concepção de que o “status” dos que trabalham em laboratório é maior em relação aos que trabalham em “balcões de farmácia”. Essa preferência pelas análises clínicas vem sendo observada, desde meados dos anos 70, nas universidades brasileiras (Haddad et al., 2006).

Não há nada de errado em se optar pelas análises clínicas ou outra área de especialização que não na área da Farmácia Comunitária, visto que o farmacêutico atua em diferentes ramos da saúde e é profissional gabaritado para tal. Porém a atuação em Farmácia Comunitária exige uma gama de conhecimentos específicos que cursos de pós-graduação, como os de análises clínicas, não fornecem. No Brasil, ainda são em pequeno número os cursos de pós-graduação na área da Assistência Farmacêutica que embasam a atuação na Farmácia Comunitária. No entanto, os farmacêuticos tem se valido de outros cursos que podem suprir algumas carências deixadas pela graduação dando suporte às suas atividades como é o caso dos cursos de pós-graduação em farmacologia, em gerenciamento farmacêutico, em farmácia clínica, dentre outros.

Neste aspecto, é imprescindível que as instituições de ensino superior possam oferecer uma educação continuada nessa área, uma vez que as Diretrizes Curriculares para os Cursos de Graduação em Farmácia apontam para uma formação generalista, além de no seu artigo 4º, item V sobre educação permanente, determinar que os profissionais farmacêuticos devam ser capazes de aprender continuamente, tanto na sua formação, quanto na sua prática. Portanto, que os farmacêuticos busquem uma especialização na área que abraçaram (BRASIL, 2002).

Verifica-se que em Natal/RN a disponibilidade maior é para cursos de pós- graduação em Análises Clínicas. A UFRN oferece o Curso de Especialização em Análises Clínicas e Toxicológicas, o curso de Farmácia Hospitalar com ênfase em oncologia, além do doutorado em Desenvolvimento e Inovação Tecnológica em Medicamentos e mestrado em Ciências Farmacêuticas. Neste último as áreas de concentração são em Bioanálises e Medicamentos (havendo maior procura pelas bioanálises). A UNP oferece os Cursos de Especialização em Citologia Clínica, Hematologia Clínica e Microbiologia Clínica e Laboratorial.

O Conselho Regional de Farmácia (CRF/RN) tem sido um grande parceiro na educação continuada oferecendo cursos e mini-cursos de atualização nas áreas de

análises clínicas e de medicamentos tanto na capital como no interior. Tem oferecido também a Pós-Graduação (lato sensu) em Farmacologia.

Observou-se também que especialização em Atenção Farmacêutica, ou alguma outra área que seja focada no segmento da farmácia comunitária, não foi citada por nenhum dos entrevistados. Este aspecto pode ser proveniente da falta de cursos nesta área nas instituições de ensino do município estudado. Outros autores também já demonstraram falhas de formação nessa área (BARETA, 2003; CORRER et al., 2004; SILVA; VIEIRA, 2004) e esses novos dados alertam para a necessidade do preenchimento dessa lacuna de formação.

Um estudo (ainda não concluído) que vem sendo realizado pela Comissão de pós-graduação do Conselho Federal de Farmácia (CFF), intitulado “Reflexões sobre a Pós-graduação Farmacêutica, no Brasil”, encontrou dados preocupantes sobre o tema: dos 54 cursos de pós-graduação stricto sensu existentes no Brasil na área farmacêutica, apenas um é focado em farmácia comunitária. Isso é altamente discrepante, levando-se em consideração que esse segmento absorve cerca de 70 a 80% da mão-de-obra farmacêutica e os farmacêuticos comunitários atuam diretamente junto ao paciente, necessitando de um grande aporte de conhecimentos técnico-científicos e práticos (BRANDÃO, 2009b).

Se há apoio dos donos da farmácia ao farmacêutico que faz alguma pós- graduação, como regulação de horário ou até mesmo financeiro, 64% (n = 105) afirmaram que não (IC95% 56,2 - 71,4). Por que ao contrário de outras empresas que supervalorizam os profissionais pós-graduados, muitas vezes até bancando financeiramente seus profissionais, as farmácias não fazem o mesmo? O que foi observado nos depoimentos dos farmacêuticos é que, na prática e com poucas exceções, os proprietários de farmácia não estão interessados se seus profissionais farmacêuticos estão qualificados ou procuram qualificar-se.

Parece haver uma cultura de apenas “manter o profissional por força da lei”, o que precisa ser mudado. As pessoas procuram cada vez mais pelos serviços farmacêuticos e os exigem mais nas farmácias. Um estabelecimento que oferece estes serviços, de forma diferenciada e com profissionais gabaritados, se destaca no mercado. É lucro garantido com responsabilidade social.

Em relação à informática e a língua estrangeira, a grande maioria tem conhecimentos básicos sobre esses temas: 45% (n = 79) afirmaram ter um domínio

“simples” para informática e 44% (n = 77) para língua estrangeira (IC95% 37,60 - 52,80)

A importância que a informática está exercendo no mundo atual é grande. Se o profissional não estiver preparado para receber todas essas informações, certamente dentro de pouco tempo vai ser classificado como desatualizado e também terá menos chances de ingressar no mercado de trabalho e se manter nele. Para o farmacêutico, isto não é diferente.

Conhecer uma segunda língua, principalmente o inglês (já que é uma língua universal) é de grande importância, pois publicações científicas para atualização na área farmacêutica ficam prejudicadas. Estudo efetuado em Santa Catarina mostrou que 42,8% tinham baixo domínio de inglês e 50,5% baixo domínio de espanhol. Domínio razoável de língua inglesa foi relatado por 47,7% e domínio razoável de espanhol, por 46,6% (FRANÇA FILHO et al., 2008). Em Curtiba-PR foi encontrado um número melhor: 51,4% afirmaram ter domínio intermediário (mais que o básico) em língua estrangeira (CORRER et al., 2004).

Ao perguntar se conhecia o termo “farmácia comunitária”, a maioria dos farmacêuticos (58%, n = 74) afirmou que não. Dos 42% (n = 101) que disseram sim, 78% (n = 79) definiram corretamente o termo ou deram uma definição a mais próxima possível da correta. Os 18% (n = 22) que não definiram corretamente “farmácia comunitária”, afirmaram que era “farmácia de bairro”, de postos de saúde ou do governo federal.

Num conceito mais amplo, as farmácias comunitárias são:

[...] estabelecimentos farmacêuticos de propriedade privada, os quais atendem diretamente o paciente na dispensação de medicamentos industrializados, em suas embalagens originais, os quais não estão inseridos em hospitais, unidades de saúde ou equivalente. Estas farmácias não manipulam medicamentos e o atendimento ao paciente acontece ao nível de atenção primária à saúde, com a responsabilidade técnica, legal e privativa, de farmacêutico (BARETA, 2003, p. 105).

É importante que, atuando em farmácia comunitária, o farmacêutico conheça sobre temas relacionados a esta área. Desta forma, poderá exercer sua profissão plenamente e com qualidade.

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