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VENDAS E MERCADO DE GENÉRICOS

Os medicamentos de referência são, via de regra, os mais caros. A justificativa da indústria para isso é a necessidade de recuperação dos investimentos vultosos necessários para a pesquisa e desenvolvimento de novos fármacos. Durante a vigência da patente de um medicamento, o laboratório que o produz pode valer-se da exclusividade no mercado para manter alto o seu preço. Mas, mesmo após a caducidade da patente, estes preços tendem a continuar mais altos em função de estratégias de marketing que conferem aos medicamentos de referência uma aura de maior confiabilidade.

Já o preço de medicamentos similares baseados num mesmo princípio ativo pode apresentar notável variação dentro de um mesmo mercado. Como os laboratórios não precisam despender os elevados recursos destinados ao desenvolvimento de um fármaco novo, podem compor seus custos a partir dos gastos com industrialização, das despesas com comercialização (distribuição, marketing) e do lucro pretendido. Assim, alguns similares podem apresentar um preço que não chega a um quarto do preço do medicamento de referência. Entretanto, também há similares de preço relativamente elevado em relação aos genéricos correspondentes, especialmente os de laboratórios mais conceituados.

Por fim, os medicamentos genéricos são sempre mais baratos que os de referência – ainda que Machado (2002a) mencione o caso de um genérico brasileiro mais caro que o medicamento de referência equivalente. E a diferença de preços pode ser bastante acentuada, como destaca Valente (2002, p. 56):

A evolução dos genéricos nos últimos três anos trouxe grandes benefícios para a população brasileira, pois esses medicamentos são hoje, em média, 45% mais baratos que os seus respectivos medicamentos de referência (inovadores), chegando, em alguns casos, a 80%, o que representa uma significativa economia para o consumidor de medicamentos. (...)

(...) Com a expansão dos genéricos, houve uma redução expressiva no custo de tratamento de seis das doenças crônicas mais freqüentes no País: hipertensão, diabetes, hipercolesterolemia, gota, hiperplasia da próstata e glaucoma. A redução no custo do tratamento dessas doenças variou de 37% a 65%, no período de 2000 a 2002. A maior redução registrada, de 65%, ocorreu no tratamento da hipertensão. Quem usava o Renitec®, em 2000, gastava anualmente 1.465,68 reais; com a troca pelo genérico Maleato de enalapril, gasta atualmente 515,28 reais. Outra redução significativa ocorreu no custo do tratamento da hipercolesterolemia: quem gastava 3.675,36 reais em 2000, por um ano de tratamento para controle de colesterol com o medicamento Zocor®, passou a gastar 1.402,08 reais com a troca pelo genérico Sinvastatina, em 2002, economizando 62%.

Esses dados dão uma boa medida da economia trazida à população e aos serviços públicos de saúde pela política nacional de medicamentos genéricos.

No Brasil, na verdade, os preços não são definidos livremente pelo laboratório em si ou puramente pelas leis de mercado, mas pela Câmara de Regulação do Mercado de

Medicamentos (CMED)11. Só não estão sujeitos ao controle governamental de preços os medicamentos fitoterápicos, os homeopáticos e alguns medicamentos constantes na Resolução CMED 5/2003.

Segundo o MS/OPAS/OMS (2005), os medicamentos sujeitos ao regime de regulação de preços só ter seu preço majorado uma vez ao ano, dentro dos limites estabelecidos pela CMED. Presentemente, está em vigor a Resolução CMED nº 2 (BRASIL, 2007f), de 19 de março de 2007.

Os novos medicamentos e novas apresentações precisam ter seu preço aprovado pela CMED antes de serem comercializados. Esses medicamentos são divididos em seis categorias, cada qual com seu respectivo critério de preço:

Moléculas novas que apresentam ganho para o tratamento em relação às alternativas terapêuticas existentes: o preço não pode ser superior ao menor preço entre nove países;

Moléculas novas que não apresentam ganho para o tratamento em relação às alternativas terapêuticas existentes: o custo do tratamento não pode ser superior ao custo do tratamento dos medicamentos disponíveis no país; Novas apresentações de medicamentos já comercializados pela própria empresa: o critério é a média dos preços dos medicamentos já comercializados pela própria empresa;

Novas apresentações da empresa de um medicamento já comercializado por outras empresas: o critério é a média dos preços dos medicamentos já comercializados pelas outras empresas;

Nova associação de princípios ativos ou nova forma farmacêutica no país: o custo de tratamento não pode ser superior aos tratamentos com as alternativas terapêuticas existentes;

Medicamentos genéricos: deve ter preço no mínimo 35% inferior ao preço do medicamento de referência. (MS/OPAS/OMS, 2005, p. 89)

Todos os medicamentos comercializados no Brasil estão sujeitos aos impostos que incidem sobre o preço: PIS/Cofins, cuja alíquota é 12%, e IMCS, com alíquotas de 17 a 19%, conforme o Estado. Essa é uma das cargas de impostos sobre medicamentos mais altas do mundo, comparável às da Noruega (23%), Argentina (21%), Áustria (20%), Peru (18%),

Chile (17,5%) e Alemanha (16%). Vários países, entre os quais a Colômbia, o Equador e a Venezuela adotam alíquota zero para os medicamentos (OHANA, 2004)

Dados da Febrafarma (Federação Brasileira da Indústria Farmacêutica) revelam que o consumo de medicamentos caiu nos últimos dez anos. A Tabela 1 e o Gráfico 2, abaixo, ilustram isso:

Tabela 1: Mercado farmacêutico brasileiro – movimento mensal de janeiro de 1997 a maio de 2007 (vendas em milhares de unidades) (FEBRAFARMA, 2007).

Meses 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 Jan 127.316 125.527 116.439 100.502 90.888 112.770 91.980 105.166 106.481 105.264 100.854 Fev 143.265 127.025 129.420 118.150 97.531 95.654 134.376 114.729 119.681 118.174 107.784 Mar 162.644 160.581 159.241 145.239 136.718 134.313 106.489 152.985 160.293 169.155 171.898 Abr 164.546 162.834 164.079 145.050 143.710 134.029 120.959 136.222 131.405 122.542 131.274 Mai 152.058 166.799 163.494 161.610 147.168 150.605 132.342 147.400 143.073 143.178 141.358 Jun 167.326 169.938 166.893 166.911 151.307 142.581 134.683 149.964 145.556 151.351 Jul 175.268 150.032 145.350 136.999 150.784 142.527 132.572 148.724 132.715 138.759 Ago 154.841 144.252 141.407 140.335 143.228 130.743 130.207 140.265 135.812 142.406 Set 155.640 156.539 154.032 147.436 135.581 134.881 124.513 139.220 126.680 136.782 Out 160.551 144.633 140.008 134.779 154.374 144.721 131.939 135.381 130.470 132.949 Nov 153.491 160.324 151.503 151.526 148.649 163.939 130.805 150.210 147.393 152.767 Dez 137.147 145.854 146.935 149.283 140.313 128.062 127.018 131.859 134.269 150.945 TOTAL 1.854.094 1.814.337 1.778.800 1.697.822 1.640.251 1.614.825 1.497.883 1.652.125 1.613.828 1.664.272 653.168 0 200.000 400.000 600.000 800.000 1.000.000 1.200.000 1.400.000 1.600.000 1.800.000 2.000.000 E m 10 00 U n ida d es 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007* MERCADO FARMACÊUTICO - BRASIL

Vendas - em 1000 Unidades Períodos anuais: 1997 a 2007*

Fonte: GRUPEMEF

Elaboração: Febrafarma / Depto. de Economia

(*) Período: Janeiro a Maio de 2007

Gráfico 2: Evolução das vendas de medicamentos no Brasil, em milhares de unidades, entre 1997 e 2007(FEBRAFARMA, 2007)

Tanto a Tabela 1 quanto o Gráfico 2 mostram que houve uma redução no consumo de medicamentos no Brasil. Entre 1997 e 2006, houve uma redução de 10,2% no total de unidades consumidas. E a Tabela 2, a seguir, confirma essa tendência de franca queda. Percebe-se uma sucessão de perdas, com uma recuperação considerável em 2004 e outra pequena recuperação em 2006, as quais, entretanto, não fazem com que as vendas voltem ao mesmo patamar de 1997. E se considerarmos que, durante esses dez anos, a população do Brasil cresceu cerca de 19%12,a queda no consumo per capita foiainda mais intensa. Parece ter havido, então, uma restrição no acesso aos medicamentos, mesmo com a adoção da nova Política Nacional de Medicamentos, a partir da publicação da Portaria nº 3.916/98.

Tabela 2: Evolução nas vendas de medicamentos (em milhares de unidades) no mercado brasileiro, entre 1997 e 2006(FEBRAFARMA, 2007).

Ano em 1000 Unidades Valor das Vendas percentual ano/anoVariação Índice - Base: 1997=100

1997 1.854.094 – 100 1998 1.814.337 -2,1% 97,9 1999 1.778.800 -2,0% 95,9 2000 1.697.822 -4,6% 91,6 2001 1.640.251 -3,4% 88,5 2002 1.614.825 -1,6% 87,1 2003 1.497.883 -7,2% 80,8 2004 1.652.125 10,3% 89,1 2005 1.613.828 -2,3% 87,0 2006 1.664.272 3,1% 89,8

Entretanto, no mesmo período, os valores monetários de vendas tiveram acentuado crescimento, especialmente em reais. Isso pode ser observado na Tabela 3 e no Gráfico 3, a seguir:

12 Em 1996, a população do Brasil era 157.070.163 habitantes; em 1/7/2006, segundo estimativas dos municí- pios, a população residente (excluídos os sem residência fixa) era de 186.770.562 habitantes (IBGE, 2007).

Tabela 3: Mercado farmacêutico brasileiro, evolução comparativa entre os anos de 1997 a 2007 – vendas nominais em R$ 1000 e US$ 1000 (sem impostos) e em 1000 unidades (FEBRAFARMA, 2007). Ano Vendas nominais em R$ 1000 Varia- ção % Índice Base: 1997=100 Vendas em US$ 1000 Varia- ção % Índice Base: 1997=100 Vendas em 1000 Unidades Varia- ção % Índice Base: 1997=100 1997 9.210.340 - 100 8.537.436 - 100 1.854.094 - 100 1998 10.064.780 9,28% 109,3 8.660.434 1,44% 101,4 1.814.337 -2,14% 97,9 1999 11.847.533 17,71% 128,6 6.537.763 -24,51% 76,6 1.778.800 -1,96% 95,9 2000 12.281.749 3,67% 133,3 6.705.678 2,57% 78,5 1.697.822 -4,55% 91,6 2001 13.427.727 9,33% 145,8 5.685.430 -15,21% 66,6 1.640.251 -3,39% 88,5 2002 14.944.280 11,29% 162,3 5.200.494 -8,53% 60,9 1.614.825 -1,55% 87,1 2003 16.977.884 13,61% 184,3 5.589.133 7,47% 65,5 1.497.883 -7,24% 80,8 2004 20.012.949 17,88% 217,3 6.818.295 21,99% 79,9 1.652.125 10,30% 89,1 2005 22.238.481 11,12% 241,5 9.214.189 35,14% 107,9 1.613.828 -2,32% 87,0 2006 23.782.417 6,94% 258,2 10.891.621 18,20% 127,6 1.664.272 3,13% 89,8 2007* 24.596.958 3,42% 267,1 11.513.058 5,71% 134,9 1.659.127 -0,31% 89,5 *Valor estimado

MERCADO FARMACÊUTICO - BRASIL Índice da Evolução das Vendas nominais em

Reais (R$), Dólares (US$) e Unidades Período: 1997 a 2007 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220 240 260 280 300 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007* Índice Bas e: 1997 = 100 R$ US$ Unidades

Os dados de 2003, 2004 e 2005 foram retificados pelo Grupemef Fonte: GRUPEMEF

Elaboração: Febrafarma / Depto. de Economia

Índice Base: 1997=100

* 12 meses móveis até Maio de 2007

Gráfico 3: Comparativo da evolução relativa das vendas de medicamentos no Brasil, em unidades, dólares e reais, entre 1997 e 2007 (FEBRAFARMA, 2007)

Como já apontado anteriormente, o número de unidades vendidas sofre uma redução, representando em 2006 apenas 89,8% do total vendido em 1997. Contudo, no mesmo período, ocorre um crescimento no valor das vendas de 158,2% em reais e 18,2% em dólares. Assim, é nítido que, mesmo com a Lei dos Genéricos, o preço médio dos medicamentos tem aumentado. Fazendo uma conta simples, que é dividir 158,2 por 89,8 e multiplicar o resultado por 100, obtemos 176,2%, que é a variação percentual no preço médio dos medicamentos, em reais, entre 1997 e 2006. Comparando-se esse dado com a inflação acumulada do período 1997-2006, que foi de 67,72% (PORTALBRASIL, 2007), fica claro que a política de genéricos não tem sido suficiente para evitar aumentos exagerados nos preços dos medicamentos.

Não deixa de ser curioso observar que os laboratórios farmacêuticos conseguem aumentar seus preços mesmo com redução do consumo, o que contraria o princípio mais básica do mercado, que é chamada lei da oferta e procura. Uma possível explicação para isso é a concentração do mercado nas mãos de poucas empresas de peso, o que limita a concorrência. Segundo Reis e Bermudez (2004), de acordo com critérios matemáticos que analisam a concorrência, 80% dos mercados brasileiros apresentam-se como não competitivos (oligopolizados ou monopolizados), o que corresponde a 55% da participação do mercado em valor. Outra explicação oferecida pelos autores, além da não competitividade do mercado, é o processo de inovação da indústria farmacêutica:

Uma questão importante para que se possa compreender como se estabelece o poder de mercado das empresas é o processo de inovação na indústria farmacêutica. Para exemplificar com dados do mercado brasileiro, podemos considerar o preço médio dos produtos entre 1996 e 1999, que para o mercado total oscilou em torno de US$ 5 (...). No entanto, se considerarmos os preços daqueles produtos com menos de dois anos no mercado, encontraremos um valor de aproximadamente o dobro dos medicamentos mais antigos: US$ 11,38 versus US$ 5,08, na média do período. (...)

(...) Os medicamentos com maior grau de inovação, geralmente compostos por fármacos que representam novos mecanismos de ação e os primeiros produtos num segmento de mercado, serão lançados a preços consideráveis, em função da inelasticidade da demanda ocasionada pelo seu potencial

terapêutico e pelas condições de concorrência (tipicamente nenhuma). (REIS E BERMUDEZ, 2004, p. 143-144).

Os autores dizem que os produtos lançados nessas condições geralmente obtêm uma excepcional participação nos mercados em que são comercializados, sendo por isso chamados

blockbusters (literalmente, arrasa-quarteirão).

Conforme Odilon (2003), nos Estados Unidos, o processo de criação dos medicamentos genéricos iniciou ainda nos anos 60, quando o governo americano decidiu testar a segurança e a eficácia de todos os medicamentos produzidos até 1962. O resultado foi uma classificação dos medicamentos em eficazes, provavelmente eficazes ou ineficazes para as indicações recomendadas. A partir daí, os laboratórios tinham uma orientação para produzir medicamentos considerados eficazes, sem necessidade de realizar novos estudos in

vitro. Mas, como destaca a autora, somente em 1984, foram criadas as condições para o estabelecimento de uma indústria de genéricos naquele país. Passou-se a exigir dos laboratórios, então, comprovação de estudos de bioequivalência e dados sobre o processo produtivo, de forma a demonstrar que o medicamento genérico era efetivamente equivalente ao medicamento de referência.

Nos EUA, a participação dos genéricos no mercado cresceu de 18,4%, em 1984, para 42,6%, em 1996. Atualmente (dados de 2003), os genéricos correspondem a 49% das unidades vendidas. Na Alemanha, os genéricos representam 38% do volume de vendas, em unidades; na Grã-Bretanha, representam 65%. Odilon explica esse excelente desempenho dos genéricos entre os britânicos pelo fato de lá os medicamentos dessa classe custarem cerca de 70% menos que de referência.

A participação dos genéricos no mercado brasileiro vem crescendo paulatinamente desde a aprovação da Lei 9.787/99. Conforme se pode ver na Tabela 4, a fatia de mercado dos genéricos, que era de 4,8% em janeiro de 2002, subiu para 16,4% em junho de 2007. Os

dados da Tabela 4 mostram que existe um incremento médio mensal de pouco menos de 0,2%, o qual se mantém relativamente constante, com poucas quedas significativas.

Comparando-se os dados brasileiros com os de outros países, fica evidente o grande potencial para crescimento do mercado de genéricos em nosso país. Para isso, Pina e Andrade (2002) vêem como fundamental o papel dos prescritores na divulgação dos genéricos:

[...] o maior desafio está em transmitir ao consumidor as informações necessárias para que este se torne de fato um usuário de medicamentos genéricos. Dado que os medicamentos estão nas prateleiras, têm preços inferiores e qualidade idêntica aos de marca, basta então apresentá-los, de forma adequada, aos possíveis consumidores. Aqui a comunidade médica também tem um papel decisivo. Os próprios médicos precisam conhecer e confiar nos genéricos para que possam difundir a informação de forma correta e segura. O paciente tem poucas condições de escolher sozinho qual remédio vai comprar, justamente por ser leigo e, nessa posição, se torna dependente da opinião médica. Talvez o principal canal de estímulo aos genéricos esteja na contínua promoção feita pela comunidade médica, que deve se inteirar sobre a disponibilidade dos genéricos, os princípios ativos, alertar para o diferencial de preços e apontar a eficácia idêntica desse grupo de medicamentos.(PINA E ANDRADE, 2002, p. 102)

Já Odilon (2003), cita Marcelo Polacow, secretário geral do CRF-SP, para destacar a importância do farmacêutico na orientação ao consumidor:

O setor [dos genéricos] também dependeu de uma rede para engrenar, contando. sobretudo, com a influência dos profissionais de saúde em ações como a prescrição médica e a troca promovida pelo farmacêutico nas drogarias e farmácias. “A presença do farmacêutico, em qualquer lugar é, sem dúvida. de suma importância. É dele a responsabilidade pela dispensa- ção e intercâmbio no comércio. Em outros países. provavelmente isso é mais óbvio, mas no Brasil é preciso que a população se conscientize de que só o farmacêutico pode exercer tais atividades”. diz Polacow. “O papel desse pro- fissional é importante em qualquer país. Cada vez mais teremos laboratórios produzindo o mesmo genérico, por exemplo o Enalapril. Haverá então mais de 10 fabricantes de genéricos do mesmo produto. Quem vai decidir e indicar ao consumidor será o profissional na farmácia. Ele levará em conta o preço, a qualidade e os laboratórios, porque conhece os que investem em pesquisa e os que têm mais credibilidade”, completa.

59 Tabela 4: Mercado Farmacêutico Total vs. Genéricos – Evolução de Vendas (em milhares de unidades)

mês ANO JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ Acum.

Ano Acum.12 Meses 2002 108.039 90.889 98.629 109.246 109.616 104.193 119.415 112.374 108.631 111.638 103.325 102.645 620.611 2003 100.714 95.058 93.167 100.779 105.059 102.234 109.644 100.095 104.231 105.037 95.867 107.494 597.011 1.255.039 2004 101.629 95.338 124.128 106.617 113.397 114.212 113.600 115.513 109.614 104.810 108.255 112.471 655.321 1.277.689 2005 106.253 98.277 118.641 104.609 116.813 116.001 111.699 121.093 111.889 112.550 116.120 122.037 660.595 1.324.857 2006 111.677 97.317 130.173 107.204 132.323 126.746 124.468 128.377 119.027 120.545 119.122 117.381 705.441 1.400.829 Mercad o Total 2007 118.433 107.497 128.153 120.320 135.658 130.423 740.485 1.469.404 2002 5.180 4.602 5.301 6.123 6.281 6.194 7.263 7.025 7.175 7.224 6.762 6.577 33.682 2003 6.703 6.298 6.335 7.456 7.885 8.001 8.828 7.940 8.680 8.941 8.434 9.317 42.678 84.704 2004 8.466 7.978 11.097 9.511 10.302 10.867 10.631 11.201 10.659 10.146 10.613 11.090 58.221 110.361 2005 10.653 10.004 12.276 11.437 13.187 13.342 12.989 14.077 13.452 13.844 14.693 14.648 70.899 135.238 2006 13.107 12.178 16.442 13.948 17.384 17.559 16.661 17.847 16.931 16.835 18.548 16.633 90.617 174.320 Genéric os 2007 16.564 15.113 19.939 18.234 20.415 21.333 111.598 215.053 2002 4,8 5,1 5,4 5,6 5,7 5,9 6,1 6,3 6,6 6,5 6,5 6,4 5,4 2003 6,7 6,6 6,8 7,4 7,5 7,8 8,1 7,9 8,3 8,5 8,8 8,7 7,1 6,7 2004 8,3 8,4 8,9 8,9 9,1 9,5 9,4 9,7 9,7 9,7 9,8 9,9 8,9 8,6 2005 10,0 10,2 10,3 10,9 11,3 11,5 11,6 11,6 12,0 12,3 12,7 12,0 10,7 10,2 2006 11,7 12,5 12,6 13,0 13,1 13,9 13,4 13,9 14,2 14,0 15,6 14,2 12,8 12,4 Partic. de Mercado 2007 14,0 14,1 15,6 15,2 15,0 16,4 15,1 14,6

60 Quadro 1: Redução percentual no custo de tratamentos, mediante o uso de medicamentos genéricos (BRASIL, 2007g).

(1) Custo calculado com base no preço do comprimido ou da dose líquida (para soluções ou suspensões), como forma de eliminar as diferenças entre as apresentações existentes no mercado. Ainda, foi considerado, para cada uma das doenças indicadas, a dosagem padrão utilizada no tratamento.

(2) Foram considerados os dois preços vigentes no ano de 2001 e de 2003 (3) Colesterol alto

(4) Alargamento da próstata

A tendência de crescimento proporcional dos genéricos nos mercados é intensificada pela pressão dos custos. Odilon (2003) apresenta dados de outros países a respeito da economia representada pela adoção dos genéricos e a respeito dos efeitos dos custos menores sobre o mercado:

De acordo com o relatório do Congresso americano, norte-americanos economizaram entre oito e dez bilhões de dólares em 1994 com a adesão aos genéricos em quase 52% das prescrições norte-americanas, o que favoreceu os consumidores com uma economia de até 40%. O quadro tende a crescer 13% a cada ano. A previsão é que em 2010 as vendas representem para a indústria farmacêutica dos EUA cerca de US$ 25 bilhões. Estados Unidos, Japão e Alemanha detêm 60% do mercado mundial de genéricos. Esses remédios podem ganhar até 80% da participação do mercado de marca em um prazo de 18 meses após a introdução no setor. (ODILON, 2003, p. 13)

No Brasil, os preços dos genéricos não são ainda tão mais baixos que os dos medicamentos de referência a ponto de provocar uma corrida em direção aos genéricos, mas, como se pode comprovar no Quadro 1, a redução no custo dos tratamentos pode ser bastante significativa. Pina e Andrade (2002) dizem que os efeitos sociais dessa redução podem ser bastante relevantes para o País:

[...] os efeitos positivos, socialmente desejáveis, não se encerram nos postos de saúde pública. O fato em si da possibilidade de se produzir remédios com os mesmos princípios ativos daqueles identificados pela marca comercial com qualidade atestada pelo Ministério, por empresas outras que não só as grandes multinacionais, elevou o grau de competitividade no segmento. Essa competitividade trouxe os preços para baixo, mesmo dos remédios originais e daqueles mais famosos. Por vezes, os preços dos remédios originais não caíram, mas as elevações foram certamente inibidas, e o consumidor ganhou muito com o aumento de opções. A nova gama de opções possibilita uma escolha economicamente racional, guardadas as propriedades medicinais de cada grupo de remédios. Se a competição, mantido o grau de qualidade, é algo saudável para vários segmentos econômicos, por que não o seria neste, que, além de tudo, tem uma característica social ainda mais relevante.

Outra importante conseqüência da política de genéricos são suas implicações para a economia do País. Primeiro, porque permite uma redução nos gastos públicos com saúde. Pina e Andrade (2002), destacam que “Segundo dados do Ministério, o projeto de produção de genéricos permitiu uma redução de 20% nos gastos com aquisição de medicamentos por

parte do governo”. Isso, por sua vez, permite que se atenda mais e melhor os brasileiros com os recursos destinados à saúde pública.

Em segundo lugar, a política de genéricos também oferece ganhos para a indústria farmacêutica brasileira. Como demonstrado no Gráfico 4, mais de três quartos dos registros de medicamentos genéricos no Brasil foram feitos por laboratórios nacionais. E Odilon (2003) afirma que 74,6% das vendas de genéricos no Brasil estão na mão de empresas de capital nacional.

Gráfico 4: Registro de medicamentos genéricos no Brasil, segundo o país de procedência (BRASIL, 2007h)

Menda (2002, p. 111), arrola sete vantagens na adoção de uma política nacional de medicamentos genéricos:

• medicamentos de melhor qualidade, mais seguros e eficazes, comprovados pela realização de testes de equivalência farmacêutica e bioequivalência;

• medicamentos de menor preço, visto que os fabricantes de genéricos não precisam investir em pesquisa para o seu desenvolvimento e nem em propaganda;

• redução nos preços dos medicamentos de referência, com a entrada de medicamentos concorrentes (genéricos);

• fortalecimento da indústria nacional;

• mudança de comportamento dos profissionais de saúde (prescritores e dispensadores);

• desenvolvimento tecnológico das indústrias e, conseqüentemente, do País.

A partir do que se pôde constatar até o presente, as transformações provocadas pela adoção de genéricos apontam para um quadro bastante promissor. Como tem acontecido em outros países, os genéricos podem provocar no Brasil uma melhoria no acesso aos medicamentos, além de servir como reguladores dos preços dos medicamentos de referência.

2.4 DESCRIÇÃO DA PESQUISA: CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO E

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