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Tendo em conta dados sobre os países da UE, Portugal ocupa a cauda da Europa relativamente a valores de dados/variáveis fundamentais, conforme a tabela 2:

Tabela 2 - Comparação de dados sobre RSE entre Portugal e UE

VARIÁVEIS PORTUGAL UE

Ensino Secundário 40% 75%

Taxa de abandono escolar 18,7% 16,7%

O consumo privado em 2013 (% do PIB) 64,6% 58,3%

Distribuição da desigualdade ente os 20% dos mais ricos e os 20% mais pobres (coeficiente).

6,0 5,0

Fonte: Construção própria - Dados Pordata 2013.

Em Portugal não só há mais pobres como os pobres estão mais pobres que na UE. As famílias portuguesas sofrem condições laborais e de vida cada vez mais difíceis. No entanto consumimos muito e em termos de produtividade não estamos bem colocados em relação à Europa. O desemprego é um dos maiores problemas da UE. De acordo Andrade (2015), o nível de concentração do rendimento mais do que triplicou em Portugal nas últimas três décadas, um pouco ao arrepio do que foi apregoado e prometido na chamada Revolução do 25 de Abril de 1974 (também chamada de Revolução dos cravos). Admitimos, apesar de tudo, que o saldo da RSE é positivo.

Apostar na economia real, ou seja, no bom funcionamento das empresas e na diversificação da produção; nas pequenas e médias empresas geradoras de grande número de postos de trabalho, tem muito a ver com a Responsabilidade Social.

1.6.4 - Um lugar para a RSE no Direito?

As práticas de RSE demonstram que em Portugal são, em determinados setores, requisito para acesso a certas certificações de qualidade ou de produtos. A RSE mantém uma relação próxima com a governação das empresas; admitimos que tendencialmente caminha para uma integração no direito.

Será que a RSE conduz à desresponsabilização do Estado? As opiniões divergem, conforme os analistas, as culturas e os contextos sociais/continentais. Alguns autores defendem que o ordenamento jurídico do país contemple normas balizadoras de RSE, até para evitar atribuição de incentivos indevidos (cf. Sharon Sousa, in Costa et al. 2011). O balanço social é o documento mais usado para demonstrar o que foi feito pela empresa, no âmbito da RSE.

Carlos Silva in Costa et al. (2011) menciona que a RSE verifica-se quando:

- A empresa demonstra à sociedade que aplica parte dos seus recursos na ajuda a organizações e institutos voltados para o bem público ou para defender causas sociais, ecológicas e educacionais.

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- A empresa relaciona-se de forma correta (ética e moral) com os seus stakeholders, concorrência e sociedade civil.

- A empresa prima pelo investimento em educação, formação.

A falta de mecanismos de avaliação por parte dos organismos para tal vocacionados, faz sentir a necessidade de criação de legislação sobre a RSE. Em Portugal também só a partir da década de 90 e segundo Rodrigues e Duarte (2012), o termo RSE entraria no léxico empresarial e a ser aplicado na prática das empresas portuguesas.

Sintetizando o que referimos neste capítulo, partilhamos:

- As definições da Responsabilidade Social das Empresas encerram oportunidades e contradições.

- As ideias de RSE difundiram-se a partir de fins dos anos 50 e princípios dos anos 60, através das notícias vindas dos EUA. Na década seguinte esta doutrina espalha-se pela Europa, nos meios empresariais e académicos.

- A emergência da RSE tem suscitado variadas teorias e abordagens: umas mais centradas numa visão clássica, em que o lucro é o objetivo supremo de toda a atividade empresarial e outras assentes numa visão mais contemporânea, mais abrangente e democrática, contemplando não só a área económica mas também a social e ambiental, tanto a nível interno como a nível externo.

- A RSE tem vindo a desenvolver-se a partir de alguns fatores que se conjugam de forma dinâmica, entre os quais a globalização, a crise do Estado, a defesa dos direitos humanos e do ambiente. Admitimos que as práticas dos conceitos clássicos de RSE são e vão continuar a ser uma realidade, a par com as práticas (em crescendo) contemporâneas e democráticas.

- A Comissão Europeia (COM, 2001) considera que a principal função de uma empresa é criar valor, gerando lucros para os seus proprietários e acionistas e bem-estar para a sociedade. Nessa conformidade, a CE propõe-se basear a sua estratégia de promoção da RSE em princípios de natureza voluntária, transparência e credibilidade; focalização da ação comunitária nos casos em que esta comporta um valor acrescentado, abordagem equilibrada da RSE no plano económico, social e ambiental e no interesse dos consumidores, tomada em conta das necessidades específicas das PME e respeito dos acordos e instrumentos internacionais existentes (normas de trabalho da OIT, diretrizes da OCDE, etc.).

- Segundo o Livro Verde (2001) da CE, é essencial que haja convergência e transparência, nas práticas e nos instrumentos da RSE (conduta, gestão, contas, investimentos). A UE interessa-se pela questão da RSE a fim de converter-se numa economia baseada no conhecimento, capaz de garantir um crescimento económico sustentável, com mais e melhores empregos, e com maior coesão social.

- A sustentabilidade/desenvolvimento sustentável tem implícita para além do conhecimento e inovação, o governo das empresas e indicadores de desempenho, dimensão e indicadores de desenvolvimento sustentável, e, um novo modelo de sociedade (inteligente, verde e sustentável), fatores que se devem conjugar harmoniosamente.

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- O setor bancário, tem um peso importante na promoção do desenvolvimento sustentável, devido à sua influência financeira sobre todos os stakeholders e sociedade.

Finalmente concluímos ainda:

- O interesse atribuído à RSE é conhecido, sendo vários os Organismos que se têm empenhado por esta problemática (UE, ONU, OCDE, OIT, ISO, SA 8000, GRI, ETHOS).

- Os valores sobre a RSE em Portugal são relativamente inferiores à média europeia. - A RSE em Portugal é uma realidade ao nível empresarial e académico, apesar de tal estar a ocorrer um pouco mais tarde que noutros países. Esta temática tem estado mais concentrada nas grandes empresas, devido ao facto de estas possuírem meios técnicos, humanos e financeiros mais consideráveis, o que torna a abordagem à RSE mais fácil.

- A RSE constitui-se parte integrante de uma gestão que se exige equilibrada, responsável e sustentável, interna e externamente.

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CAPÍTULO II - RESPONSABILIDADE SOCIAL NO SETOR BANCÁRIO. O