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78 Faz-se alusão ao apartheid 178bem W olof “Bougnol” significa preto, negro.

3. Dakar: Cidade Islâmica ou Síntese Euro-Africana?

3.4. Dakar: uma cidade horizontal?

A cidade, fundamentalmente, tem numerosas densidades elevadas no terreno. Fora do distrito comercial central, Dakar continua horizontal132, com uma opção de desenvolvimento urbano, resultante de decisões administrativas e políticas e a pressões de uma população de origem rural.

Sua análise espacial dá a idéia de uma imensidão, ao passo que se percebam seus villages como um todo, ajudando assim na interpretação da paisagem da cidade, cujo deciframento precisa de esforços constantes. Dá a idéia de imensidade, ao passo que se percebe “village” como um todo, assim, para interpretar a paisagem da cidade é preciso um longo período de deciframento e esforços consistentes.

Há, porém, analistas que antevêem dificuldade na percepção desses fatores, apesar de acreditarem que os mesmos ocorrem onde se localizam o maior volume de vazios urbanos, sobretudo no centro de Dakar, fruto da transposição da cultura do campo para a cidade.

Os efeitos perversos do lucro, são também sinais que se incluem à terra urbana, restringindo a condição do estado de mercadoria e uma expansão dominada por fatores problemáticos e iniciativas já tentadas que, muitas vezes, desarmam o urbanismo “oficia!” 8 faz com que, ele desempenhe um papel

130 Depret. op. cit. 64. 131 Id.: 64

132 Ibid.: 64

secundário. As especulações sobre o terreno urbano leva à segregação de classes econômicas em contraste ao espírito tradicional islâmico.

Neste âmbito, talvez por razões diferentes, o poder e o lucro se juntam em atos de segregação extremamente brutais - Médina - ou com intenções parecidas, tal como o melhorado acentuado dado, por um caráter uniforme, embora que não seja tão coerente. Distritos justapostos, são criados aleatoriamente no processo de desenvolvimento urbano.

A cidade é rodeada pelo mar nos três lados, algo que dificulta a orientação.

O centro simbólico, o planalto, é bem longe do centro real, no setor baixo do triângulo. Nessa paisagem intensa, uma grande parte do útil será utilizada para comutação. A propósito, a maior limitação não é o tempo, mas o preço das incertezas.

Nessa imensidade de cidade, a residência ficará como o primeiro refúgio, o primeiro espaço conveniente. Para a maior parte dos Dakarenses, a casa significa continuidade bastante definida entre a tradição e a vida contemporânea. A maioria são ainda casas - térreo, já que costuma-se desmistificar a verticalidade. A casa é desenhada mais como um anexo sucessivo de quartos justapostos, do que como as composições pré-concebidas.

Compara-se a Dakar como um funil na qual as partes “densas” se acumulam no fundo, como se fosse pela gravidade. Organizam-nas ao redor de um pátio com funções múltiplas. A construção é simples. Blocos de cimento, tetos de camada dupla ou simples. A maioria das vezes é construída por mão de obra remunerada (e raramente por mutirões). Mas é aqui que, a comunidade de construção tradicional acaba, enquanto a casa rural senegalense, diferenciada sustentavelmente, segundo os grupos étnicos. Em Dakar, há uniformidade virtual. Ela é devida, no primeiro, lugar às limitações: financeiras, técnicas, falta de informação, forma e dimensões de lotes, códigos urbanísticos, etc.

Além disso, mais do que nada, pretende-se afirmar a natureza de uma cidade, e não sua origem rural marcada por características étnicas específicas. Essa distinção pode ser percebida, sobretudo, na organização interna do lote, nunca na parte externa, ou seja, na fachada. A casa exibe uma espécie de duplo-

comportamento, introvertida no pátio e extrovertida na rua, o que articula a qualidade urbana.

O modelo europeu permanece vivo, a pesar de esforços em nome da descolonização cultural e uma influência sobre a pirâmide social, é refletida muitas vezes ou por construção de um andar superior (apartamento) ou por ceder uma casa-pátio em troca de uma villa (mansão).

Os conjuntos das empresas de moradia governamentais (HLM, SICAP) variam em estrutura. Quando o morador é proprietário, ele acrescenta questões extras de acordo com suas necessidades e condições. Isso não é forçosamente apenas uma questão de aumentar a superfície de área construída, mas, também, de reestruturar um plano, que não é considerado como adaptado ao tradicional.

Na maioria das casas, o morador reestrutura completamente sua residência para ter sua própria linguagem e não aquela de comunidade anônima. Os sinais evidenciados deste jeito variam muito, pois representam visões, desejos e sonhos individuais. Porém, neste contexto, constatamos dois fatores importantes:

Primeiramente que essas mudanças significam um esforço financeiro considerável, desde que, as obras possam alcançar ou ultrapassar o custo da casa original.

Esse esforço revela uma verdadeira iniciativa em geral e não, como dizem normalmente, um desejo aleatório de ser diferente.

Essas modificações deveriam ser o foco de estudos adicionais, já que as conclusões poderiam iniciar uma pesquisa arquitetural que abre o caminho para um consenso sobre a linguagem do arquiteto e àquela do morador.

Na ausência de tal estudo, não podemos estabelecer um vocabulário, mas podemos observar o fato de que, os termos empregados evoluem depois de um ou dois anos. O padrão observado em exemplos prestigiosos - prédios públicos, villas, é extraído do grande catálogo dentro na cidade.

" ... Há uma iniciativa para identificar como estas construções pois representam uma ascensão para uma classe econômica mais alta por sua arquitetura atual ser mais africana?...” (Depret. 1983:66).

De fato, este afastamento de uma forma africana tradicional, por uma mediterrânea, provém do exemplo sírio-libanês cuja maioria está localizada em Dakar, além dos estilos modernos franceses dos anos 50 e pós-independência. É esse mesmo que, também, é responsável pela divulgação de certos aspectos formais chamada “arquitetura sahelo-sudânes”133, cuja afirmação da verticalidade é caracterizada pelos elementos e motivos decorativos africanos, além de abolição pictórica forte e diversificada dos masaicos da arquitetura contemporânea de origem européia.

Esse papel de divulgar certas práticas é de importância básica, pois assegura a continuidade entre a habitação popular e a construção pública ou privada mais prestigiosa.

Muitos outros problemas podem ser abordados em relação a moradia, entre eles as dificuldades no campo econômico e as contradições de sociedade urbana senegalesa, caracterizada pela divisão entre dois estilos de vida, vivendo dificuldades em se programar e, até na simples maximização do uso da casa.

Depret134, ao comparar Marrocos com Senegal, tomando Dakar como exemplo, analisa que, quando Ben Barka encarregava-se do urbanismo em Marrocos, descreveu os mesmos problemas, com a população perpetuamente equilibrada entre as famílias nucleares e ao mesmo tempo expandidas, entre modernidade e tradição.

De certo, se o meio tradicional também, tem passado, um certo modo de viver para a cidade, em troca disto, a cidade está levando seus modelos a uma extensa maioria do ambiente do meio rural, ou, de outra forma, como foi o caso da Costa do Marfim, simplesmente, eles os impôs. Ou seja, os paradigmas urbanos contemporâneos se sobrepõem às tradições autóctones, fazendo valer a prerrogativa de modernidade.

133 Tratamos aqui, apenas de frisar algumas das características do sincretismo cultural senegalês via arquitetura, um dos inúmeros testem unhos das influências culturais árabo-islâmica, sobretudo do Maghreb - Depret -op. cit. 66.