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República do Senegal Cap III e IV, 16 de julho de 1988: 420-430.

5. O Mercado da Habitação: Diretrizes

5.1. Demanda e Oferta

A questão das favelas em Dakar tem gerado várias conseqüências sociais negativas no período pós-independência, tornando-se, assim, o fator fundamental das expulsões e as periferizações que têm ocorrido ao longo do anos de formação do seu complexo metropolitano urbano. Pikine, é o produto dessa política de limpeza urbana promovida pelas autoridades coloniais, resultando no que hoje é considerada a segunda maior cidade da região metropolitana de Dakar porém, de planejamento ordenado.

Assim, apesar de constatarmos divergências de opiniões a respeito, com a afirmação de que, a razão maior das expulsões, ao contrário do que se opina, não reside numa perspectiva de estética urbana, i.é., de melhorar a atração turística

da cidade de Dakar, mas sim, de propiciar uma melhoria das condições de vida das populações urbanas, proporcionando-lhes um bem-estar sócio-espacial maior, há quem afirme o contrário.

Isso porque, nesta polêmica discussão, as pessoas transferidas para as zonas equipadas e viabilizadas de Pikine, mesmo sem a acessibilidade inicial a certa infra-estruturas (principalmente transporte), se beneficiam hoje das condições de melhoria de vida ao contrário dos habitantes das favelas.

De fato, estão fora das freqüentes calamidades, como os incêndios que assolam as favelas, que sempre são favorecidas pelos adensamentos excessivos dos moradores, além da sua proximidade e disponibilização com todo tipo de equipamentos sociais.

De outro lado, a favela é um mal necessário que poderia ser evitado, havendo uma maior possibilidade de melhorá-la progressivamente, com a alocação de um mínimo de equipamentos e, procedendo a uma implantação de melhoria de água e esgoto, de saneamento básico e de eletrificação.

Essa nova política de urbanização in loco, tem sido escolhida pelos poderes públicos, dentro do quadro de operação em larga escala. Um caso típico é

de Fass-Paillote, cujo financiamento é conjuntamente assegurado pelo Banco Mundial e o governo do Senegal. Outros, como Dalifort, seguiram esse mesmo modelo. Dentro do quadro definido, Fass-Paillote se beneficia dos equipamentos e infra-estruturas necessários para o melhoramento das condições de vida dos seus habitantes.

Mas, mesmo no contexto do melhoramento promovido nos próprios locais, alguns técnicos das instituições de planejamento urbano do Ministério do Urbanismo reconhecem que, a operação de expulsão não pode ser evitada totalmente, porque é necessário liberar os espaços reservados aos equipamentos programados.

De todo modo, a solução de urbanização in loco é considerada um progresso sobre as evicções porque, conforme se constata, concretamente permitem evitar rupturas sócio-espaciais, fator esse, essencial para a sobrevivência e manutenção das idiossincrasias locais.

Segundo analisa Dieng (1978:91), tal fato se concentra sobretudo no tocante à escolarização das crianças, ao emprego e às dificuldades de transporte. Talvez por isso que, o modelo de Fass-Paillote foi de suma importância para as novas políticas de Dakar pós-independência junto ao Ministério de urbanismo e seus Planejadores.

Implantado em uma zona urbana em curso de mutação, o bairro de

Fass-Paillote reaparece como um setor de habitação informal, agrupando em uma área de 8 hectares cerca de 8 mil habitantes, sendo que:

• 75% dos habitantes residem com sua família;

• De quatro chefes de família, um é comerciante, gargotier, bana- bana;

• Mais da metade deles só freqüentou a escola Corânica; • De quatro chefes de família, um é operário ou doméstico;

• 70% dos chefes de família não utilizam meios de transporte para ir aos seus locais de trabalho situados em Plateau, em Rebeuss, em

Gambetta, em La Médina, Gueule Tapée, Fass-Alminko, Colobane, Nimzatt, Grand-Dakar ou Waxinaan;

• 53% pagam aluguel; • 47% são locatários.

A renda dos chefes de família é de aproximadamente 20 mil francos F.C.A por mês, enquanto um aluguel médio chega a 3 mil. Três mil francos correspondem também ao custo do transporte coletivo mensal de um chefe de família que trabalha em Dakar e reside em Guediawaye, assentamento dos expulsados da capital.

De modo geral, a questão da favelização e sua erradicação têm sido, ao longo dos últimos debates do Fórum dos Prefeitos da África, realizado em Dakar entre 30 de setembro e 2 de outubro de 1994, tema que hoje tem merecido mais atenção a capital Senegalesa Dakar. Isso porque, com as novas propostas dos seus gestores, a busca de soluções mais humanistas para as populações urbanas segregadas e injustamente desfalcados de seus direitos mínimos de cidadania, pode ter melhores perspectivas se houver uma gestão urbana mais democrática

Hoje notamos que, conforme estipula o seu relatório final, o Fórum julgou que o combate total das sociopatias vigentes, só se resolve em Dakar e em outros contextos com a observância de atitudes e posturas políticas urbanas mais voltadas para as massas. Porque, segundo relata o documento,

"... nas decênias a vir, a face da pobreza será cada vez mais urbana (...) esta urbanização da pobreza vai acarretar uma demanda em moradias que o normal, mas também, de serviços, cujos padrões deveriam ser superiores ao que seria adequado para as zonas rurais. Não responder a

esta demanda crescente poderia engendrar terríveis

conseqüências políticas e sociais..." (Dansokho, 1994:3).

Portanto, o desenvolvimento e a gestão apropriada dos

estabelecimentos humanos, poderiam conduzir ao progresso econômico e social mas também, a um desenvolvimento duradouro sobre o plano do meio ambiente. Essa tomada de consciência, já incitara as gestões urbanas de Dakar desde os

princípios da sua descolonização, ao reavaliarem suas posturas e práticas de políticas públicas de modo geral.

Mesmo assim, e após inúmeros esforços, a situação dos

estabelecimentos humanos do Senegal mais especificamente de Dakar, ao contrário de outras cidades africanas, segundo avaliam os técnicos locais, mostra-se ainda difícil, embora com o envolvimento consentido por toda a nação.

Conforme cita esse mesmo Relatório do Fórum dos Prefeitos Africanos em 1994, o Ministério de Urbanismo, Habitat e Equipamentos do Senegal, reconhece que, no que se refere as suas Políticas Públicas de modo geral, ainda há muito o que se fazer tendo em vista que no Setor de Urbanismo e de Habitação, o Senegal com suas estatísticas alarmantes, talvez seja um dos detentores das piores e mais altas taxas do continente africano acusando variações de 45% de uma região a outra, chegando a alcançar o índice de 96% somente em Dakar e 8% no centro do país.

Evidentemente, a estrutura urbana já caracterizada por um fenômeno de macrocefalia na capital nacional, acusa também uma concentração isolada de 54% da população urbana. Essa urbanização intensiva é que, na realidade, está a origem dos inúmeros problemas urbanos de Dakar, a saber:

• Uma segregação dentro da organização espacial herdada do legado colonial e agravada por um fluxo maior das populações e somada a um desenvolvimento convulsivo da habitação precária; • Enormes dificuldades no setor de transporte, notadamente em

Dakar;

• Não-cumprimento dos cronogramas de drenagem e saneamento; • Déficit enorme de moradias e de equipamentos diversos.

Dakar se desenvolve sob o efeito combinado de seu próprio crescimento demográfico e do êxodo das populações interioranas, atraídas pela esperança de uma realização social plena. Isso fatalmente induzirá a um desequilíbrio regional mais agudo entre a região de Dakar - por muito tempo privilegiada pelos investimentos públicos e privados - e o resto do país.

Os grandes centros urbanos, cuja função principal deveria ser a repartição dos produtos de base, não são sempre economicamente ligados às zonas rurais adjacentes, com as quais deveriam se complementar (Dansokho,

1994).

A armadura urbana senegalesa se encontra assim, totalmente dominada mais uma vez por Dakar e sua região, cuja hipertrofia representa um verdadeiro problema. Hoje, de cada dois senegaleses, um é urbano; de cada dois urbanos, um é de Dakar. Tal tendência pode gerar um grande risco de ampliação do quadro.

Entre abril de 1980 e março de 1981, houve 1.087 pedidos de autorização - licença - para construção junto aos órgãos ligados ao Ministério do Urbanismo. Deste número, 1.025 foram contemplados.

A demanda de moradias junto aos órgãos de habitat planejado reflete ainda mais uma demanda desproporcional em relação à oferta cada vez mais crescente: na SICAP, existem 2 mil demandas para venda a prazo na espera e outros 3.500 para aluguel simples (para 10.500 moradias construídas por esse organismo em 30 anos). No OHLM, há 22 mil pedidos na espera.

O OHLM construiu, até então, somente 6.500 moradias no Cap-Vert desde 1960. Também, 3.900 demandas de Parcelles Assainies - lotes urbanizados - não puderam ser contempladas, ou seja, quatro vezes o programa completo de

Parcelles^Assainies no Cap-Vert.

5.2. Os Aluguéis

Os aluguéis médios, segundo fonte do Ministério de Urbanismo, Habitat e Equipamentos, em 1990 eram de 13 mil FCFA na 1a circunscrição, 6.300 FCFA na 2a circunscrição e, finalmente, 6 mil FCFA à Rufisque.

A taxa de esforço, é uma porcentagem da renda familiar destinada a pagar o aluguel estipulado é que se traduz numa espécie de poupança programada pelas famílias; seu índice é de 20% em média para as famílias do Cap-Vert.

Esta taxa é de 10% para as altas rendas, mas é superior a 25% para as mais baixas.