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FErNANDA roBErTA roDriGuES QuEiroZ

Ao produzir uma história, ao publicar um livro, não estou apenas escrevendo.

Estou dizendo à criança que ela ocupa os meus pensamentos, que ela tem o meu carinho, respeito, atenção e admiração. Amo escrever para as crianças.

(ROUFI, 2019, n.p.).

Dalila Rodrigues Figueiredo herdou o nome de sua avó materna. Ela nos relata que durante a sua infância escutou muitas piadas sobre o seu nome em função da passagem bíblica que traz os personagens Sansão e Dalila. Sempre que a autora vai às escolas apresentar a sua obra e conversar com os pequenos leitores sobre seus livros, conta essa história de quando era pequena para as crianças, inclusive, relata que alguns de seus textos recuperam as lembranças de sua infância.

A escritora nasceu na cidade de Leopoldina, Minas Gerais, e radicou-se em Juiz de Fora, onde segue escrevendo e contando histórias para o público infantil. A autora desenvolve esse trabalho também no Rio de Janeiro e no Paraná. Em sua jornada, sempre levanta a bandeira de que “a Literatura Infantil não tem nada de inferior em relação à literatura voltada para os adultos”.

(ROUFI, 2018).

Escritora de histórias e poesias infantis, a autora explana em suas rodas de conversa sobre o amor que sente pelo o que faz, sobre a importância da Literatura Infantil em sua vida e sobre escrever e contar suas próprias histórias para as crianças. Quando Dalila entra em uma sala para fazer as contações de histórias, ela transforma-se, entra na narrativa e apresenta, por meio de seus textos, contos que misturam realidade e imaginação, deixando as crianças passearem pela sua narrativa e extravasarem suas emoções.

A autora possui um projeto que tem por objetivo a aproximação da criança com o livro e com o prazer de ler. Esse projeto se chama Eu vou contar o que escrevi e é por meio dele que Dalila leva suas publicações infantis para as escolas que visita. A presença da escritora nas escolas é uma prática muito importante dentro da Literatura Infantil, pois ter o contato com quem elaborou aquele determinado texto, faz com que a criança entenda o poder da imaginação e aonde ela pode nos levar, ou seja, descobre que ela também é capaz de realizar uma escrita e aprende que o livro nasce do pensamento de alguém. Clarice Lispector nos fala, por exemplo, que, quando era criança, achava que os livros nasciam das árvores e no momento que descobriu que os livros eram escritos por pessoas, logo decidiu que era isso que ela queria ser, isto é, escritora. Percebemos, portanto, como isso pode marcar a vida dos pequenos leitores.

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DALILA ROUFI

Fernanda roberta rodrigues Queiroz

mInhA pROFIssãO é A LIteRAtURA:

tRAvessIAs DA AUtORIA FemInInA

MoeMa rodrigues brandão Mendes, nícea Helena de alMeida nogueira Patrícia de Paula aniceto, raFaela Kelsen dias

(OrganizadOras)

Na expansão dos seus projetos para outros estados, a escritora relata que essas experiências ficam dentro dela para toda a vida. Para Dalila, quando ela encontra profissionais com o mesmo objetivo, que é o de estimular a leitura entre as crianças, tudo fica mais fácil e assim a autora garante ter encontrado grandes parcerias nesse caminho já percorrido, “fico muito feliz de ver o meu projeto, o meu livro e a minha literatura como instrumentos estimuladores e formadores de leitores” (ROUFI, 2015, não paginado). O comprometimento com uma literatura que traz crescimento para as crianças é o que faz dessa autora um sucesso nos meios literários infantis.

Desde 2006, Dalila publica pela sua própria editora, que lança exclusivamente suas obras, e foi nesta data que ela publicou o seu primeiro livro intitulado Histórias D’Roufi volume 1. Esse livro abre uma coleção que tem como objetivo estimular o imaginário das crianças e avaliar os seus sentimentos, seus valores e a construção de conceitos por meio de experiências do cotidiano.

Em 2007, Dalila lançou o segundo livro dessa coleção também com o nome de Histórias D’Roufi volume 2, composto por seis contos. Faremos uma síntese com o objetivo de estimular a leitura desse livro entre as crianças. No primeiro conto, vê-se a questão da regalia com o príncipe Heraldo; no segundo conto, através da história de uma girafa, aborda-se a tristeza; no terceiro conto, a ênfase é dada à felicidade e à alegria; o quarto conto, por sua vez, traz Mário e seu aprendizado quanto à hora de falar e a hora de ouvir; no quinto conto lemos sobre Pedro Carepes e suas viagens;

e, por fim, no sexto conto, temos uma história de amor.

O livro Protestos de Emy, publicado em 2010, conta sobre uma menina de doze anos que adorava muitas coisas na vida e, dentre elas, estava escrever. Ela nos convida a ler seus escritos e fala principalmente aspectos sobre o planeta Terra, que julga estar muito doente. Dalila publicou, em 2011, o livro O melhor lugar do mundo. Esse livro traz a história de um menino chamado Pedro que, com muito cuidado, viveu intensamente tudo o que surgiu pelo seu caminho.

A literatura infantil tem como uma das funções, resgatar antigas brincadeiras, nessa lógica, Dalila escreveu o livro Bernardo, o assustador que virou assustado em 2012, resgatando uma viagem que fez na sua infância em uma época de brincadeiras, cantigas de roda, fadas, bruxas e traquinagens.

A autora publicou, em 2013, A menina do sim, o menino do não, esse livro traz dois personagens: Joana, que só gostava de ouvir sim, e Carlinhos, que só gostava de dizer não, os dois são protagonistas. No mesmo ano, outro livro foi publicado, Era uma vez uma criança feliz. Nele, Dalila convida as crianças a construir brinquedos e brincadeiras de uma forma alegre e simples.

Em 2015, foi à vez da publicação do livro Chico bobeira, a história de Francisco, um menino que não pensava direito. Logo em seguida, em 2016, Dalila lançou As invenções do gênio imêmore, obra que recebeu o prêmio da Lei Murilo Mendes/Funalfa (Fundação Cultural Alfredo Ferreira Lage), da Prefeitura de Juiz de Fora, e que conta uma história de anos atrás, quando a natureza era livre e lá estava o Homem, o gênio de todas as criações. Dentre tantas criações, o homem se tornou um gênio imêmore, ou seja, esqueceu quem era. As ilustrações desse livro foram feitas com figuras de barro como forma de homenagear o artesanato brasileiro e fotos das estampas de tecidos de uma

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DALILA ROUFI

Fernanda roberta rodrigues Queiroz

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histórica fábrica têxtil de Juiz de Fora também entraram na ilustração, trazendo a importância dessa empresa à cidade no início do século XX.

O livro Será medo? foi publicado em 2017. Nele, Dalila conta a história de Maria e João, duas crianças incansáveis, alegres e proseadores e, devido a suas curiosidades, as aventuras são iniciadas. Em 2018, Dalila publicou Tudo em Luiza ganhou metro, obra que iremos analisar em nosso estudo. A história apresenta Luiza, uma menina curiosa e descobridora.

Além de escrever e publicar diversos livros para os jovens leitores, Dalila Roufi também leva adiante o seu projeto que foi concebido em 2006, Eu vou contar o que escrevi. Esse projeto é destinado às crianças dos quatro aos onze anos e tem como objetivo integrar as crianças e aproximá-las da leitura.

Dalila está sempre presente com a sua literatura nas escolas de rede pública e privada de Juiz de Fora, ela leva as suas publicações e conta histórias para o público infantil. Para a autora, os livros precisam estar nas mãos das crianças o quanto antes for possível dentro do processo educativo escolar. Às vezes, por ter ilustrações atraentes, serve de enfeite, o que não ocorre somente nas casas e quartos de crianças, mas também nas escolas. Atualmente, os educadores trabalham no sentido de motivar colegas e funcionários do ambiente escolar a deixarem os livros nas mãos das crianças, recomendando as mesmas terem todo cuidado e afeto por eles, mas ressaltam que devem aproveitar ao máximo o que os livros têm a oferecer.

A autora tem recebido várias críticas positivas por onde passa com o seu projeto literário.

Para os profissionais da educação, ela possibilita uma ação mediadora extraordinária.

Roufi sempre ressalta que a contação de histórias leva ao ouvinte o conhecimento de pessoas diferentes, lugares remotos, valores incomuns e a uma magnífica viagem ao seu mundo interior, pois, por meio da história, a criança passa a resolver seus conflitos internos de forma mais tranquila, o que favorece a promoção do seu discernimento. Ainda segundo a escritora, a história trabalha o caráter, o raciocínio, a imaginação, a criatividade, o senso crítico, a disciplina e amplia a comunicação com o mundo exterior.

Dalila Roufi também ressalta a marginalização da Literatura Infantil e fala da importância dos adultos que propagam esse gênero literário, pois sabem da relevância do mesmo. Ela destaca que a literatura é um meio de dar liberdade às crianças para que construam e reconstruam as suas emoções. Para a autora, a Literatura Infantil não vem para ensinar, mas para ser sentida - ler é um ato individual. O medo de não infantilizar a sua escrita a persegue durante toda a criação de um novo texto: “quando escrevo quero tocar o âmago do leitor, chamá-lo à reflexão, à construção de si mesmo, quero ajudá-lo a encontrar suas próprias respostas, caminhos e felicidade”. (LOURES, 2018).

Dalila relatou em uma entrevista ao jornal Tribuna de Minas, que espera que as pessoas possam ler por vontade própria o livro Tudo em Luiza ganhou metro, pois ela não acredita na leitura imposta, a leitura tem que estimular, tem que servir de ponte para o diálogo, nos distanciando de prisões e modelos prontos. Quando a escritora visita as escolas para o lançamento de um novo livro, ela instiga as crianças, e até mesmo os adultos, a lerem suas publicações. Ela conta a história

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DALILA ROUFI

Fernanda roberta rodrigues Queiroz

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MoeMa rodrigues brandão Mendes, nícea Helena de alMeida nogueira Patrícia de Paula aniceto, raFaela Kelsen dias

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“entre linhas” para que os leitores fiquem curiosos em conhecê-la. Seguindo a orientação de que a leitura não deve ser imposta, ela traça um caminho que aguça a curiosidade das pessoas e, assim, o interesse pela história e seu desfecho fica bem mais interessante e deleitoso.

No documento minha profissão é a literatura (páginas 63-66)