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TuDo Em LuiZA GANHou mETro

No documento minha profissão é a literatura (páginas 66-70)

A autora inicia a história referindo-se à gestação da mãe da protagonista. Depois de nove meses de espera, “Luiza chegou como se chega: da crescida e acolhedora barriga da mãe”

(ROUFI, 2018, p. 4). A personagem é uma menina muito curiosa que observava tudo ao seu redor, sua característica mais marcante. Sabemos que, nos primeiros anos de vida, há uma interferência complexa do novo com a criança. A infância representa a etapa da evolução humana, momento em que os adultos devem trabalhar suas potencialidades de uma forma branda, sem imposições e apressuramentos. Dalila traz em Luiza toda essa fase do desenvolvimento infantil, uma criança curiosa, esperta, que de tudo quer saber, muito observadora e questionadora - tudo para Luiza é intenso, por isso tudo ganha metros.

Os cabelos de Luiza são cacheados e a autora faz questão de relatar que são belos, com ondas na cabeça: “Os encantos da menina não param por aí: mirar os olhos de Luiza é avistar jabuticabas” (ROUFI, 2018, p. 18). Essa história nos lembra muito o livro Menina bonita do laço de fita (2001), pois, nele, Ana Maria Machado quebra todo o estereótipo de beleza com elogios a uma menina de cabelos encaracolados e olhos pretos de jabuticaba. Dalila segue o mesmo modelo, na medida em que ela enaltece a beleza de Luiza dentro desses padrões.

Nesse trecho do livro, a autora trabalha a questão do corpo, da identidade da criança, desconstruindo padrões pré-estabelecidos pela sociedade, já que ela nos apresenta uma menina linda de cabelos encaracolados e olhos de jabuticaba. A relevância desse texto para a construção de beleza é de suma importância, porque ela não precisa ter cabelos loiros ou lisos e nem os olhos verdes para que a beleza esteja nela - ela é linda com as suas características naturais. Assim, a criança entende que ela não precisa de modelos prontos para ser aceita em seus grupos sociais. Essa quebra de estereótipos é necessária para que as futuras gerações consigam ver a beleza em várias formas e não somente nos padrões vigentes. A autora termina com questões significativas para as discussões e reflexões no dia a dia das crianças:

Luiza conhece o sim e o não?

Com toda certeza! Como se eles fossem o arroz e o feijão.

Luiza acerta, erra, aprende?

É claro que sim! Todos os dias.

Luiza é feita de histórias?

Desde o princípio! E para sempre será.

Luiza tem sorriso no olhar?

Sim! Mil vezes sim.

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DALILA ROUFI

Fernanda roberta rodrigues Queiroz

mInhA pROFIssãO é A LIteRAtURA:

tRAvessIAs DA AUtORIA FemInInA

MoeMa rodrigues brandão Mendes, nícea Helena de alMeida nogueira Patrícia de Paula aniceto, raFaela Kelsen dias

(OrganizadOras)

Para Luiza falta algo?

Não! É sério! Não falta nada não.

Luiza é menina afortunada?

Ainda pergunta? É claro que é! É claro que sim.

(ROUFI, 2018, p. 26).

Esse trecho do livro nos mostra a riqueza de conteúdos a serem trabalhados com as crianças. A psicologia nos fala que até os sete anos a criança está com sua formação mais apurada, então se torna importante abrir discussões sobre esse tema, usando a Literatura para trabalharmos a aceitação do “não”, ou seja, que nem sempre conseguimos o que queremos, ou que nem sempre certas coisas nos são permitidas e que às vezes as coisas dão certo, às vezes não. Também nos mostra o quanto as crianças precisam da literatura em seu desenvolvimento, bem como a importância que devemos dar às histórias criadas por elas.

A questão do questionamento é bem característica da infância: “Não há como negar a realidade, Luiza tomou rumo na vida. Do sol à lua, a pequena vistoriava ao redor. No início, o alinhavo juntava não mais que o agora. Aos poucos, vieram outros solos e leituras.” (ROUFI, 2018, p.10).

Quem trabalha com Literatura Infantil sabe da importância desse texto para as discussões entre os pequenos e dos diversos ensinamentos que traz para o mundo infantil. Esse é o verdadeiro objetivo da Literatura para crianças, textos que abrem discussões perto do mundo delas, dentro daquilo que elas vivem e de suas realidades, só assim conseguimos atingir o entendimento dos pequenos e a história passa a ser interessante para eles.

A escritora refere-se à Luiza como sendo uma menina encantadora, pois foi inspirada em sua neta. Segundo a autora, Luiza chega ao mundo investigando tudo, desperta a curiosidade do leitor, que passa a ser um sujeito do texto ao indagar como Luiza ganhou metro. A poesia infantil surge com a intenção de estimular o sentimento das crianças, o que representa um avanço dentro da escrita para o público infantil, já que muitos trabalhavam esse gênero com a desvalida técnica da memorização, quando as crianças eram obrigadas a decorar as poesias, causando-lhes intimidação.

Hoje, a poesia tem outros objetivos dentro da Literatura Infantil.

Esse livro tem um destaque, pois, diferentemente dos seus demais livros, a autora foi quem o ilustrou. A história gira em torno de Luiza e é contada em terceira pessoa. Por ser uma história que fala sobre uma menina, a autora relata que não vê nenhum problema de a personagem ser do sexo feminino e ser lida por um menino, pois, para ela, a literatura não é caracterizada pelo sexo do personagem, mas, sim, pela escrita estética que propõe. O poema tem a intenção de chamar a atenção para as coisas simples da vida, segundo a autora. Luiza retrata essa simplicidade: “viva, tudo fica feliz quando Luiza está por perto”. (ROUFI, 2018, p. 22). Essa frase vem acompanhada da imagem de Luiza segurando balões, com peteca, livro, boneca, coisas simples da vida que ela dá muito valor e a mensagem que tiramos é que precisamos observar melhor o que nos cerca para sermos felizes.

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DALILA ROUFI

Fernanda roberta rodrigues Queiroz

mInhA pROFIssãO é A LIteRAtURA:

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MoeMa rodrigues brandão Mendes, nícea Helena de alMeida nogueira Patrícia de Paula aniceto, raFaela Kelsen dias

(OrganizadOras)

A autora nos diz que a ilustração é um ato de linguagem e acrescenta que usou a simplicidade a seu favor para ilustrar esse livro porque vê a ilustração como um elemento a mais na história.

Luiza é a personagem principal dessa narrativa, pois todo o enredo gira em torno da menina - seus atos são o que trazem sentido à história. Ela se destaca pelo seu jeito de ser, alegre, questionadora e isso é o que prende a atenção do leitor. Nessa narrativa, existem mais dois personagens, a mãe e o médico, que representam papéis secundários. Luiza é também uma personagem tipo, pois é identificada como sendo uma menina que corresponde à categoria que lhe foi dada.

O tema dessa história já nos chama a atenção logo de início, Tudo em Luiza ganhou metro, bem sugestivo, o que será que ganhou metro em Luiza? O tamanho? Os acontecimentos? Isso já instiga a criança, e até mesmo os adultos, a quererem ler o texto. A história se inicia com o nascimento de Luiza e finaliza com uma menina já com os seus seis anos de idade: “a noite vai, o dia vem: o ciclo perdura. Enquanto isso [...] nesse vai e vem, tudo em Luiza ganhou metro: as prosas, as perguntas, as respostas, as vontades e a cabeleireira.” (ROUFI, 2018, p. 12).

A autora nos apresenta uma narrativa cheia de situações do mundo infantil, um livro com o qual as crianças possam se identificar e viver a história. Essa é a verdadeira proposta dentro do mundo literário para crianças, histórias que elas possam “viajar” junto aos personagens, se identificarem e se emocionarem junto deles.

rEFErÊNCiAS

FONTES, Rosa Maria Miguel. Conta uma história, Blog de Literatura infantil. Entrevista, 2018.

LOURES, Marisa. Dalila Roufi: acredito na leitura que nos distancie de prisões e estereótipos. Tribuna de Minas, Juiz de Fora, 11 dez. 2018. Disponível em: https://tribunademinas.com.br/blogs/sala-de-leitura/11-12-2018/dalila-roufi-acredito-na-leitura-que-nos-distancie-de-prisoes-e-estereotipos.

html. Acesso em: 21 out. 2020.

ROUFI, Dalila. A menina do sim, o menino do não. Juiz de Fora: Dalila Rodrigues Figueiredo, 2013a.

ROUFI, Dalila. Arte literária: sobre a autora. 29 jan. 2019. Disponível em: https://

dalilaroufiempreendedora.blogspot.com/2019/01/sobre-autora.html. Acesso em 12 out. 2020.

ROUFI, Dalila. As invenções do gênio imêmore. Juiz de Fora: Dalila Rodrigues Figueiredo, 2016.

ROUFI, Dalila. Bernardo, o assustador que virou assustado. Juiz de Fora: Dalila Rodrigues Figueiredo, 2012.

ROUFI, Dalila. Chico bobeira. Juiz de Fora: Dalila Rodrigues Figueiredo, 2015.

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DALILA ROUFI

Fernanda roberta rodrigues Queiroz

mInhA pROFIssãO é A LIteRAtURA:

tRAvessIAs DA AUtORIA FemInInA

MoeMa rodrigues brandão Mendes, nícea Helena de alMeida nogueira Patrícia de Paula aniceto, raFaela Kelsen dias

(OrganizadOras)

ROUFI, Dalila. Era uma vez uma criança feliz. Juiz de Fora: Dalila Rodrigues Figueiredo, 2013b.

ROUFI, Dalila. Histórias D’Roufi, v.1. Juiz de Fora: Dalila Rodrigues Figueiredo, 2006.

ROUFI, Dalila. Histórias D’Roufi, v.2. Juiz de Fora: Dalila Rodrigues Figueiredo, 2007.

ROUFI, Dalila. O melhor lugar do mundo. Juiz de Fora: Dalila Rodrigues Figueiredo, 2011.

ROUFI, Dalila. Protestos de Emy. Juiz de Fora: Dalila Rodrigues Figueiredo, 2010.

ROUFI, Dalila. Será medo? Juiz de Fora: Dalila Rodrigues Figueiredo, 2017.

ROUFI, Dalila. Tudo em Luiza ganhou metro. Juiz de Fora: Dalila Rodrigues Figueiredo, 2018.

minha profissão é a literatura: 70

travessias da autoria feminina

MoeMa RodRigues BRandão Mendes, nícea Helena de alMeida nogueiRa PatRícia de Paula aniceto, Rafaela Kelsen dias

(OrganizadOras)

WriTiNG, FEmALE BoDY, AND

No documento minha profissão é a literatura (páginas 66-70)