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Numerosos são os julgados que citam os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade como critérios para fixação do valor do dano moral, sendo um mecanismo eficaz na troca de jurisprudências de interesses por uma jurisprudência de valores, para que a discricionariedade não se transforme em arbitrariedade.

Maria Celina Bodin de Moraes, citada por Bernardo (2005, p. 192, grifo da autora), leciona sobre o uso dos princípios:

Desta forma, entendemos que razoabilidade e proporcionalidade deverão nortear todos os julgamentos envolvendo dano moral. E, diga-se de passagem, não somente no que tange à segunda fase, ou seja, na apuração do quantum debeatur, mas também na apuração an debeatur, exercendo um duplo efeito: servir, de um lado, de instrumento hábil a possibilitar ao magistrado a verificação da existência do dano e, mantendo o mesmo critério, na fixação do valor reparatório; e, por outro lado, possibilitar às partes a verificação da razoabilidade não somente no quantum, mas também das razões expendidas para obtenção de tal valor.

Daniel Sarmento, citado por Bernardo (2005, p. 187), dispara:

Deveria a razoabilidade incidir sim, em todas as sentenças que envolvem dano moral, como ferramenta à ponderação dos interesses envolvidos, a fim de servir como mais um parâmetro na busca da justa indenização, o que, infelizmente, não se verifica na prática.

Bernardo (2005, p. 193) define que:

Torna-se, assim, imprescindível à consolidação da reparabilidade do dano moral a imediata adoção, não mais como mera peça de retórica, do princípio da razoabilidade em todas as decisões que envolvem o tema, o que levará a uma uniformização das decisões apta a afastar as maiores resistências, fundadas em um suposto caráter aleatório e, ao mesmo tempo, afastar as tentativas de uniformização via tabelamento, que poderiam levar a uma reparabilidade restrita do dano moral.

A apelação nº70056068133 do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, em decisão monocrática do Sr. Des. Relator, Marcelo Cezar Müller, reconhece que devido à ausência de critério legal que oriente o quantum indenizatório deve-se então observar necessariamente os

princípios da razoabilidade e da proporcionalidade para justa quantificação da indenização por danos morais, veja-se:

Ementa: RESPONSABILIDADE CIVIL. CANCELAMENTO DE

INSCRIÇÃO EM CADASTRO DE INADIMPLENTES. INDENIZAÇÃO. CADASTRAMENTO INDEVIDO. DANO MORAL IN RE IPSA. O consumidor tem o direito de ser notificado previamente a respeito da inclusão de seu nome em cadastro de inadimplentes. A falta de notificação prévia configura descumprimento de expressa disposição legal (art. 43, §2º, do CDC) capaz de produzir dano moral in re ipsa. O valor da indenização

deve ser fixado de acordo com as condições do ofensor, do ofendido e do bem jurídico lesado, bem como com os princípios da proporcionalidade e razoabilidade. Sentença modificada. Os juros de mora são contados do ato

ilícito (Súmula 54 do STJ). Verba honorária mantida, pois fixada de acordo com os parâmetros do art. 20, §§ 3º e 4º, do CPC. Apelações parcialmente providas (RIO GRANDE DO SUL, 2013, grifo nosso).

No Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina nos Embargos de Declaração em Apelação Cível nº 2006.049044-1/0001.00, de forma unânime acordaram os Desembargadores pela rejeição dos embargos visto que eram meramente protelatórios, e a decisão do quantum indenizatório já estava bem fundamentada, sendo proporcional e razoável, levando em consideração a extensão do dano, a compensação à vítima e a punição do agente, veja-se:

EMBARGOS DECLARATÓRIOS - ART. 535, II, DO CPC - OMISSÃO INEXISTENTE - PROPORCIONALIDADE E RAZOABILIDADE NA

FIXAÇÃO DO VALOR DA CONDENAÇÃO PELO DANO MORAL -

PREQUESTIONAMENTO DOS ARTIGOS 884, 885, 886 E 944 DO CC -

MATÉRIA DECIDIDA E FUNDAMENTADA - CARÁTER

PROTELATÓRIO - MULTA DE 1% DO VALOR DA CAUSA, ART. 538, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CPC - REJEIÇÃO DOS EMBARGOS. As questões apresentadas pela embargante foram todas analisadas e decididas no acórdão impugnado e, sendo nítida a pretensão protelatória, impõe-se a aplicação da multa de 1%, prevista no parágrafo único do art. 538 do Código de Processo Civil (SANTA CATARINA, 2009, grifo nosso).

Em apelação cível nº 70056488570 do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, em decisão unânime, acordaram os Desembargadores que, no que tange ao quantum indenizatório, deve ser ele punitivo ao ofensor e compensador à vítima e que o princípio da razoabilidade deve servir de bússola ao julgador:

Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PRIVADO NÃO

ESPECIFICADO. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXIGIBILIDADE DE TÍTULO DE CRÉDITO. ENDOSSO-MANDATO. DUPLICATA SEM

ACEITE. LEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM DO BANCO ENDOSSATÁRIO. AUSÊNCIA DE CAUSA JURÍDICA SUBJACENTE.

PROTESTO INDEVIDO. LEGITIMIDADE DO BANCO

APRESENTANTE DO TÍTULO. I. Responde o banco endossatário quando recebe título de crédito por endosso-mandato e o leva a protesto sem a comprovação da existência de 'causa debendi' e do comprovante de entrega e recebimento da mercadoria ou efetiva prestação do serviço. Exegese do REsp. 1.063.474-RS. Alegação de ilegitimidade passiva do banco endossatário afastada no caso concreto. II. Ato ilícito configurado, em face do protesto indevido. A circunstância de estar consolidada na jurisprudência pátria (Súmula 227 do STJ) a possibilidade de a pessoa jurídica sofrer danos morais, não a desincumbe, como regra, de comprovar o abalo sofrido. Contudo, em se tratando de inscrição indevida em cadastros de inadimplentes, a recente orientação da Corte Superior é no sentido de que tais danos, nessa hipótese, são de natureza in re ipsa. Precedente do STJ. III. O quantum indenizatório deve ter o condão de prevenir, de modo que o ato lesivo não seja praticado novamente, bem como deve possuir um caráter pedagógico. Deve-se atentar, ainda, em juízo de razoabilidade, para a condição social da vítima e do causador do dano, da gravidade, natureza e repercussão da ofensa, assim como um exame do grau de reprovabilidade da conduta do ofensor, e de eventual contribuição da vítima ao evento danoso. Redução do montante. IV. Os juros de mora devem ser contados a partir do evento danoso a teor do que dispõe a Súmula n. 54 do STJ, por se tratar de responsabilidade extracontratual. APELO PARCIALMENTE PROVIDO. UNÂNIME (RIO GRANDE DO SUL, 2013b).

Em brilhante voto no REsp 521434/TO21 do Superior Tribunal de Justiça, a Relatora, Ministra Denise Arruda diz que:

21 PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. DANOS

MORAIS. SUPOSTA VIOLAÇÃO DOS ARTS. 70, III, E 269, IV, DO CPC, E 56 DA LEI 5.250/67. NÃO- OCORRÊNCIA. INDENIZAÇÃO. VALOR EXORBITANTE E DESPROPORCIONAL. REVISÃO. POSSIBILIDADE. INAPLICABILIDADE DA SÚMULA 7/STJ. PRECEDENTES DO STJ. PARCIAL PROVIMENTO.

1. A pretensão de direito material deduzida em juízo (indenização por danos morais), fundada na responsabilidade civil objetiva do Poder Público, é juridicamente possível e não depende de decisão penal condenatória transitada em julgado, pois o direito positivo brasileiro consagra a autonomia das responsabilidades civil e criminal (CC/2002, art. 935; CC/1916, art. 1.525; CP, arts. 66 e 67).

2. Nas ações de indenização fundadas na responsabilidade civil objetiva do Estado (CF/88, art. 37, § 6º), não é obrigatória a denunciação da lide do agente público supostamente responsável pelo ato lesivo (CPC, art. 70, III). 3. O prazo decadencial previsto no art. 56 da Lei 5.250/67 (Lei de Imprensa) não foi recepcionado pela Constituição Federal de 1988.

4. O STJ consolidou entendimento no sentido de que é possível revisar o valor da indenização por danos morais quando exorbitante ou insignificante a importância arbitrada, em flagrante violação dos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, sem que isso implique reexame dos aspectos fáticos da lide.

5. Na hipótese, considerando as circunstâncias do caso, as condições econômicas das partes e a finalidade da reparação, a indenização de três mil e seiscentos salários mínimos (equivalente, hoje, a R$ 1.080.000,00) é manifestamente exorbitante e desproporcional à ofensa sofrida pelo recorrido, devendo, portanto, ser reduzida para R$ 50.000,00 (cinqüenta mil reais).

6. A indenização por dano moral deve ter conteúdo didático, de modo a coibir a reincidência do causador do dano, sem, contudo, proporcionar enriquecimento sem causa à vítima.

[...] o Superior Tribunal de Justiça consolidou entendimento no sentido de que é possível revisar o valor da indenização por danos morais quando exorbitante ou insignificante a importância arbitrada, em flagrante violação dos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, sem que isso implique reexame dos aspectos fáticos da lide.

O Tribunal de Justiça de São Paulo, em apelação nº 0052039-85.2011.8.26.0002, em declaratória de inexistência de débito, minorou o quantum indenizatório do dano moral por entender que, em alusão aos princípios da proporcionalidade e razoabilidade, deve-se ter o cuidado para não enriquecer ilicitamente a vítima e também não levar à ruína econômica o ofensor.

Quando da quantificação do valor da condenação por dano moral, deve o julgador, respeitando as particularidades de cada caso, utilizar-se dos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, isto porque são eles princípios norteadores do ordenamento jurídico, os quais são equilíbrio à reparação e à punição.

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