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Razoabilidade e Proporcionalidade: manifestações legais

A manifestação dos princípios nem sempre é expressa. Diversas são as situações em que somente com a interpretação da norma é possível encontrar sua existência.

Almeida (1998) ensina que:

O Supremo Tribunal Federal empregou pela primeira vez a expressão princípio da proporcionalidade em sede de controle de constitucionalidade, em 1993, quando deferiu a medida liminar de suspensão dos efeitos da Lei paranaense nº 10.428, de 14.01.93, nos termos abaixo:

Gás liquefeito de petróleo: lei estadual que determina a pesagem de botijões entregues ou recebidos para a substituição à vista do consumidor, com pagamento imediato de eventual diferença a menor: arguição de inconstitucionalidade fundada nos arts. 22, IV e VI (energia e metrologia), 24 e §§, 25, § 2º, e 238, além de violação ao princípio de proporcionalidade e razoabilidade das leis restritivas de direitos: plausibilidade jurídica da argüição que aconselha a suspensão cautelar da lei impugnada, a fim de evitar danos irreparáveis à economia do setor, no caso de vir a declarar-se inconstitucionalidade: liminar deferida.14

Traçado como Direitos e Garantias Fundamentais, o art. 5º inciso V da Constituição Federal reza que “é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem”. Com menção clara ao uso do princípio, este artigo revela que haverá proporcionalidade entre a resposta e o dano e que ainda a vítima terá direito a indenização.

Há diversas disposições constitucionais que utilizam os princípios como norteadores do direito. O art. 5º incisos X e XXV15 reza que toda ação tem direito a uma reação desde que equânime, seja no direito à resposta, seja no direito à intimidade ou então no uso de

14 EMENTA: Ação direta de inconstitucionalidade. 2. Lei 10.248/93, do Estado do Paraná, que obriga os

estabelecimentos que comercializem Gás Liquefeito de Petróleo - GLP a pesarem, à vista do consumidor, os botijões ou cilindros entregues ou recebidos para substituição, com abatimento proporcional do preço do produto ante a eventual verificação de diferença a menor entre o conteúdo e a quantidade líquida especificada no recipiente. 3. Inconstitucionalidade formal, por ofensa à competência privativa da União para legislar sobre o tema (CF/88, arts. 22, IV, 238). 4. Violação ao princípio da proporcionalidade e razoabilidade das leis restritivas de direitos. 5. Ação julgada procedente.

15 X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a

indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;

XXV - no caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá usar de propriedade particular, assegurada ao proprietário indenização ulterior, se houver dano;

propriedade particular que, por interesse e necessidade pública, poderá ser retirada de seu legítimo proprietário.

No art. 7º incisos IV, V e XXI16, encontra-se a referência ao salário mínimo que deverá ser proporcional às necessidades básicas de uma família, que a remuneração deve ter equiparação com a complexidade do trabalho desenvolvido, e que, se dispensado do labor o empregado receberá suas verbas proporcionalmente ao tempo em que trabalhou.

A descrição do art. 36 §3º17 revela que a União só intervirá nos Estados quando se fizer necessária ao cumprimento de execução, lei ou decisão judicial.

Já o art. 37, inciso IX18 nos esclarece que somente a lei estabelecerá os casos de contratação temporária de funcionários. Tantos outros artigos constitucionais contêm os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade.

Ainda em disposições constitucionais, tem-se a Constituição Estadual do Rio de Janeiro que segue a linha da Constituição Federal do Brasil, na qual:

Art. 22 - São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito de resposta proporcional ao agravo, além da indenização pelo dano material ou moral decorrente da violação de qualquer daqueles direitos.

Na Constituição do Estado do Rio Grande do Sul, no capítulo que se refere à educação, cultura, desporto, ciência e tecnologia, comunicação social e turismo, tem-se

16 IV - salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas necessidades vitais

básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim;

V - piso salarial proporcional à extensão e à complexidade do trabalho;

XXI - aviso prévio proporcional ao tempo de serviço, sendo no mínimo de trinta dias, nos termos da lei;

17 Art. 36. A decretação da intervenção dependerá:

§ 3º - Nos casos do art. 34, VI e VII, ou do art. 35, IV, dispensada a apreciação pelo Congresso Nacional ou pela Assembleia Legislativa, o decreto limitar-se-á a suspender a execução do ato impugnado, se essa medida bastar ao restabelecimento da normalidade.

18 Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito

Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:

IX - a lei estabelecerá os casos de contratação por tempo determinado para atender a necessidade temporária de excepcional interesse público;

utilização do princípio da proporcionalidade como regulador das destinações financeiras, veja-se:

Art. 205 - O Estado adotará o critério de proporcionalidade na destinação de recursos financeiros ao ensino municipal, levando em consideração obrigatoriamente:

Braga (2011, p. 78) assim leciona:

Hoje, a doutrina é unânime em fundar o princípio da razoabilidade no devido processo legal substantivo, tendo o Supremo Tribunal Federal chegado a fundamentá-lo no art. 5º, §2º, CR/8819. De qualquer forma, além de não ficar adstrito à matéria administrativa, pois, como princípio geral, tende a abranger todos os campos do ordenamento, é insuscetível de supressão pelo constituinte derivado, em virtude de se constituir cláusula pétrea, nos termos do art. 60 da Carta Magna.

Em matéria administrativa tem-se a Lei nº 9.784/99, que regula o processo administrativo no âmbito da Administração Pública Federal, com utilização expressa dos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade:

Art. 2º A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência.

Diferentemente da Constituição Federal, o Estado do Rio Grande do Sul em sua constituição fez constar o princípio da razoabilidade, veja-se:

Art. 19 - A Administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes do Estado e dos municípios, visando à promoção do bem público e à prestação de serviços à comunidade e aos indivíduos que a compõe, observará os princípios da legalidade, da moralidade, da impessoalidade, da publicidade, da legitimidade, da participação, da razoabilidade, da economicidade, da motivação e o seguinte:

Gustavo Ferreira Santos, citado por Barros (2006, p. 49), faz uma diferenciação entre esses dois princípios tão utilizados pela jurisprudência brasileira:

19Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos

estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

§ 2º - Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte.

Proporcionalidade e razoabilidade não são conceitos fungíveis. Cada um, além de uma fundamentação própria, possui elementos caracterizadores que marcam uma diferença operacional: a razoabilidade trata da legitimidade da escolha dos fins em nome dos quais agirá o Estado, enquanto a proporcionalidade averigua se os meios são necessários, adequados e proporcionais aos fins escolhidos.

A Lei 8.112/90 também possui manifestação implícita dos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade, veja-se: “Art. 128. Na aplicação das penalidades serão consideradas a natureza e a gravidade da infração cometida, os danos que dela provierem para o serviço público, as circunstâncias agravantes ou atenuantes e os antecedentes funcionais”.

O Código Civil de 2002, em seu art. 402, também contempla o princípio da razoabilidade, ao prescrever que “salvo as exceções expressamente previstas em lei, as perdas e danos devidas ao credor abrangem, além do que ele efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar”, indicando que as perdas e danos devem ser ressarcidos de maneira que contemplem aquilo que se perdeu e aquilo que deixou de ganhar, sendo assim proporcional e razoável o dano com a reparação.

O Código Penal Brasileiro em seu art. 5920 também faz alusão ao princípio da proporcionalidade uma vez que determina ao juiz a aplicação da pena conforme a necessidade para reprovação e prevenção do crime.

Os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade apresentam-se como ferramentas que norteiam a aplicação do direito, de maneira que seja justo e equilibrado, permitindo que o Direito capte detalhes fáticos dos diferentes conflitos. Eles são multifuncionais, direcionando a elaboração, alcance e o controle das normas jurídicas.

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Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e conseqüências do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime:

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