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3.2 OS CURSOS SUPERIORES DE TECNOLOGIA

3.2.3 Das Escolas Técnicas aos Institutos Federais

A experiência das Escolas Técnicas Federais (ETF) na oferta de cursos superiores de tecnologia se dá a partir do Decreto 547/69. Esse instrumento jurídico autorizou a organização e o funcionamento de cursos superiores de curta duração que proporcionassem, segundo o seu texto, a “formação profissional básica de nível superior e correspondentes às necessidades e características dos mercados de trabalho regional e nacional” (Artigo 1º).

O decreto possibilitou a criação, nos primeiros anos de 1970, dos cursos de Engenharia de Operação nas Escolas Técnicas Federais do Paraná, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Aproveitou-se, dessa forma, a estrutura física dos laboratórios, oficinas e os recursos humanos existentes naquelas instituições (LIMA FILHO, 1999).

A partir da metade da década de 1970, as projeções de crescimento econômico e vagas no mercado de trabalho divulgados pelo governo mostraram-se irreais. Muitos egressos dos cursos superiores de tecnologia passaram a encontrar dificuldades na conquista de um

emprego, seja pela própria escassez de vagas no mercado de trabalho, seja pela disputa entre os egressos dos cursos de curta duração e os de graduação plena (LIMA FILHO, 1999).

Em 1977, o Conselho Federal de Educação, por meio de resoluções43, revoga os cursos de Engenharia de Operação e estabelece as normas para conversão destes cursos em Engenharia Industrial, este de formação plena (5 anos). Foi neste contexto que o Governo Federal, por meio da Lei 6.545/78, transformou as Escolas Técnicas do Rio de Janeiro, Paraná e Minas Gerais em Centros Federais de Educação Tecnológica (CEFETs).

Lima Filho (1999, p. 04) expõe as consequências das mudanças ocorridas:

A partir do final dos anos 70 a experiência dos cursos de engenharia de operação e dos outros cursos superiores de curta duração foi abandonada pelo MEC, sem maiores reflexões ou análise crítica. As instituições que haviam embarcado naquela política, entre elas Universidades Federais e Cefets, tiveram que proceder às diversas políticas de ajuste e acomodação, para permitir a extinção de diversos cursos de tecnologia, adaptação de currículos e de discentes a novos cursos. Os profissionais egressos dos diversos cursos extintos foram entregues à própria sorte, buscando o reconhecimento e acreditação de seus diplomas junto aos órgãos classistas ou a complementação curricular que lhes permitisse o pleno exercício profissional.

O autor (1999, p. 04) argumenta que a transformação das ETFs em CEFETs foi uma das formas encontradas pelo Estado para contornar os impasses ocasionados pelos cursos superiores de curta duração – particularmente o de Engenharia de Operação.

Em 1994, o governo inicia o processo de constituição da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica. A Lei 8.948 promulgada em 1994, que instituiu o Sistema Nacional de Educação Tecnológica, foi transformando de maneira gradativa as Escolas Técnicas Federais (ETF) e as Escolas Agrotécnicas Federais (EAF) em CEFETs.

A partir da LDB 9.394/96 e do Decreto 2.208/97, os CEFETs foram “reorientados, conforme as políticas de reforma em implantação, para retomar a oferta destes cursos em modalidades variadas, conforme as propostas para os ‘novos’ [a partir de 1996] cursos superiores de tecnologia” (LIMA FILHO, 1999, p. 05).

Durante alguns anos no governo de FHC e na fase inicial do governo Lula, ocorreu uma discussão da chamada Universidade Tecnológica (UT) tendo como base o artigo 52 da LDB que, em seu parágrafo único, afirma: “É facultada a criação de universidades especializadas por campo do saber”. Carneiro (2010) comenta que até aquele momento, somente era possível criar universidades com pluralidade de áreas. Contudo, prossegue Carneiro, “a partir de agora, poderão ser criadas universidades especializadas, ou seja, universidades centradas em um campo de saber verticalizado” (2010, p. 392, grifo do autor). Enquanto universidades, estas instituições de ensino, de acordo com o texto do Decreto

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3.860/01, deveriam oferecer regularmente “atividades de ensino, de pesquisa e de extensão”, além de manter – conforme artigo 52 da LDB, item III – “um terço do corpo docente em período integral”.

O ano de 2005 foi marcado pelas discussões sobre a universidade tecnológica no governo Lula. Os CEFETs do Paraná, Rio de Janeiro e Minas Gerais organizaram dois seminários regionais e um nacional intitulado “CEFET e Universidade Tecnológica: identidade e modelos” nos meses de setembro e outubro de 2005. Também em outubro do mesmo ano foi aprovada pelo Congresso e sancionada a Lei 11.184/05 que transformou o CEFET-PR em Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR).

O governo Lula procurou, com base na Lei 11.195/05, dar continuidade à política de crescimento da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica lançando a primeira fase do Plano de Expansão da Rede Federal com previsão de construção de 64 novas unidades. Em 2007, é lançada a segunda fase do Plano de Expansão. O objetivo apresentado pelo governo foi disponibilizar, até o final de 2010, mais de 354 unidades de ensino e 500 mil vagas no ensino técnico, cursos superiores de tecnologia e licenciaturas, com ampla cobertura de todo o território nacional.

Ainda em 2007, tem início o “processo de integração de instituições federais de educação tecnológica, para fins de constituição dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia - IFET, no âmbito da Rede Federal de Educação Tecnológica”, diretrizes estabelecidas pelo Decreto 6.095/07. Rocha (2009, p. 200) comenta que “com o projeto dos IFETs, o Poder Executivo deixou claro que não tinha mais como objetivo a transformação de CEFETs em Universidades Tecnológicas (ou a equiparação destes a Centros Universitários)”.

Apesar da forte expansão da Rede Federal ocorrida nos últimos anos do governo Lula, uma questão que se coloca é aquela apresentada por Ciavatta (2010, p. 171):

Face ao movimento de diferenciação para cima das antigas escolas técnicas, pergunta- se se os CEFETS e demais escolas que se transformaram em institutos federais ou em universidades tecnológicas, vão manter os atuais cursos de ensino médio técnico que são, sabidamente, os melhores cursos de educação pública oferecidos pelo país.

Compartilhamos a preocupação da autora. Afinal, o ensino médio obrigatório e gratuito é uma das maiores dívidas que o país possui com sua juventude. Vemos ainda estes jovens serem tão somente, nas palavras de Ciavatta (2010, p. 171) “objeto de políticas compensatórias, bem intencionadas, mas insuficientes para elevar todo o nível da população”