• Nenhum resultado encontrado

4.2 PROJETOS PEDAGÓGICOS DE CURSO: A INTERPRETAÇÃO DAS IES

4.2.2 O Projeto Pedagógico do Curso 2

O PPC TI da Faculdade SENAC Florianópolis é o documento, dentre os três analisados, que possui a versão mais atualizada (jul. 2009). Uma breve justificativa da oferta do curso é posposta por inúmeras seções, dentre elas: dados do curso, o perfil profissional de conclusão, matriz curricular, infraestrutura, princípios metodológicos, corpo docente, disciplinas e ementas.

Ao analisarmos o perfil profissional de conclusão percebemos algumas similaridades ao perfil profissional do curso Gestão de TI apresentado pelo IF-SC. Concluímos que isso se deveu principalmente à utilização, pelas IES, de mesma base referencial para a construção do perfil formativo, qual seja, o Catálogo Nacional de CST que apresenta as informações essenciais sobre o perfil profissional do tecnólogo.

Outra característica dos CST é o estabelecimento de um perfil profissional que leve em consideração as condições locais e regionais, bem como “a laborabilidade frente às mudanças” (Parecer 29/02). Este é outro elemento que corrobora a aproximação do perfil profissional do SENAC e do IF-SC, pois as duas IES atuam na mesma localidade (Florianópolis-SC e região) e oferecem o mesmo CST. Apesar dessas aproximações gerais do perfil formativo, não seria lícito afirmar que o mesmo se reflete no perfil socioeconômico dos estudantes. Somente uma coleta específica de informações poderia apontar as características socioeconômicas dos alunos em cada instituição pesquisada. O que fugiria ao escopo proposto em nossa pesquisa.

No que se refere ao conceito de tecnologia, a análise do perfil profissional de conclusão nos mostrou, similarmente àquele apresentado no PPC TI IF-SC, um conceito relacionado ao eixo teórico conjunto de técnicas. Encontramos no perfil formativo do SENAC o intento de otimização dos recursos tecnológicos como forma de solucionar os possíveis desvios que surgirem no processo produtivo, além de fornecer subsídios para a tomada de decisão. Já mencionamos anteriormente que a possibilidade de escolha e otimização de “recursos tecnológicos” exige que esses objetos tenham encontrado existência material a priori. Em outras palavras, eles precisam existir antes de serem objetos de uma seleção. É no conjunto de técnicas disponível na sociedade e antecipadamente concebido pelo ser humano que qualquer escolha se torna possível.

Outra forma conceitual para tecnologia encontrada no PPC TI SENAC foi aquela relacionada à sinonímia da técnica. O quadro 16 apresenta essa relação.

Unidade de registro Palavras-chave Conceitos

norteadores Eixo teórico

Visa capacitar profissionais para o pleno planejamento e gerenciamento de soluções de infra-estrutura tecno-

lógica de empresas. Prepara profissio-

nais com uma visão integradora de infra-estrutura de TI baseada em co- nhecimentos específicos e consistentes em sua área de atuação (hardware, software, banco de dados e equipa- mentos), tornando-os aptos a planejar e gerenciar projetos de infra-estrutura nas empresas, permitindo também atu- arem como consultores na análise de soluções na infra-estrutura de TI e ad- ministrarem pessoas e equipes que interagem entre si em projetos de TI.

Planejamento; gerencia- mento de soluções; infra- estrutura tecnológica; vi- são integradora.

A tecnologia relacio- nada à infraestrutura das organizações; exigência de profis- sionais com conhe- cimentos específicos; elevação do potencial de empregabilidade.

Sinonímia da técnica.

No contexto social, cabe [...] [à IES] assimilar os novos procedimentos ad- vindos das novas tecnologias e usá-los a serviço de seus alunos, como possi- bilidade de ampliação dos conheci- mentos e utilização de novos recursos.

Procedimentos das novas tecnologias; ampliação dos conhecimentos; utilização de novos recursos.

Novas tecnologias relacionadas a proce- dimentos; assimila- ção desses conheci- mentos e retransmis- são aos alunos.

Sinonímia de técnica.

Quadro 16 – Eixo teórico Sinonímia da técnica no PPC TI SENAC. Fonte: Elaborado pelo autor a partir do PPC TI SENAC.

O planejamento de soluções de natureza tecnológica, descrito no primeiro fragmento textual, é umas das possíveis formas do homem incorporar, por meio da técnica, “sua finalidade subjetiva ao mundo objetivo”. Isto ocasiona a alteração do mundo e “o faz revelar à consciência novos aspectos do ser material, que serão imediatamente absorvidos, na qualidade de conhecimentos científicos adicionais para o simultâneo desenvolvimento da produção e de

técnicas inéditas” (PINTO, 2005, p. 195-196). Assim, o desvelamento da infraestrutura tecnológica requer uma adição no conhecimento das propriedades do mundo objetivo criado pelo homem. O que significa ver na técnica outro modo de manifestação da “capacidade humana de produzir” (PINTO, 2005, p. 200). Os profissionais preparados com a “visão integradora” oferecida pelo curso da IES, são na verdade profissionais que adicionarão ao seu conhecimento outras técnicas até então desconhecidas ou incompletamente conhecidas.

A responsabilidade da IES em assimilar “os novos procedimentos” oriundos das tecnologias, como apresentado no segundo enunciado, indica a necessidade de entender a “práxis da produção”; o que implicaria no conhecimento de “novas coisas do mundo” e suas propriedades materiais com uma clareza cada vez maior (PINTO, 2005, p 199). Para o filósofo (2005) é por meio da técnica que o homem expande seu conhecimentos sobre a natureza e o mundo produzido.

Feenberg (2002, p. 10) relembra que ao escolhermos nossa tecnologia – e os procedimentos técnicos correlatos – “nós nos tornamos o que nós somos, o que às vezes molda as nossas escolhas futuras”. O próprio ato de escolher está tão impregnado de tecnologia “que ele não pode ser entendido como um ‘uso’ livre no sentido pretendido pela teoria instrumental”. Apesar de tudo, e aqui concordamos com Feenberg (2002, p. 10), as escolhas não são decididas pela “tecnologia autônoma”; elas podem ser afetadas pela “ação humana”.

Pinto (2005, p. 179) é mais incisivo ao declarar que o homem “é o único autor real dos atos em que a tecnologia se revela”. O que está em jogo nestas apropriações é a forma como a tecnologia é permeada pelos aspectos ideológicos.

No contexto do documento analisado, cabe à IES interpretar e identificar os procedimentos exigidos pelas novas tecnologias para usá-los em “favor do aluno”. Para o estudante importa absorver estes conhecimentos para aplicá-los no setor produtivo. Assim, as tecnologias reclamam procedimentos técnicos. Temos a seguinte relação: conhecer as tecnologias (conjunto de técnicas) para decifrar os novos procedimentos (técnicas) e assim disponibilizá-los aos alunos que enfrentam as demandas do “mercado de trabalho”.

Poderíamos discutir a legitimidade da IES ser a intérprete entre tecnologia e aluno. Uma questão que nos levaria ao debate da ideologia da técnica. Afinal, a interpretação da tecnologia assenta em uma visão de mundo daquele(s) que a decifra. A discussão nos levaria a considerações interessantes, porém um pouco distantes de nossos propósitos no texto.

Por hora, basta-nos asseverar a partir de nossas explanações anteriores que no PPC TI SENAC, as concepções de tecnologia relacionam-se mais proximamente ao conjunto de técnicas e à sinonímia da técnica.