• Nenhum resultado encontrado

Das Intervenções Sociais no Lixão de Cidade Nova

Com a determinação legal para o fechamento do aterro de lixo de Cidade Nova, que se materializou por meio da sentença prolatada em 21 de Outubro de 1999, pelo Juiz Federal Luiz Alberto Gurgel de Faria, da 5ª Vara da Secção da Justiça Federal do Rio Grande do Norte, além das constantes intervenções legais no local por parte do Ministério Público Estadual e do Trabalho, visando a coibir o trabalho infantil, o Poder Público deu início as primeiras intervenções sociais no local.

A primeira intenção de inserção social das famílias catadoras de lixo em Natal/RN se deu em 1999, quando houve uma intervenção da UNICEF em parceria com o Ministério Público para a retirada das crianças e adolescentes que trabalhavam de forma insalubre e degradante no aterro de lixo de Cidade Nova. Nesta época foram retiradas 510 crianças e adolescentes, das quais 35% estavam fora da escola e 93% cursavam apenas a 4º Série do Ensino Fundamental (FUNDAÇÃO ZERBINI, 2003).

Quando da proibição de crianças e adolescentes no lixão, a Secretaria Municipal de Assistência Social criou o Núcleo Social no Bairro de Cidade Nova, com objetivo de acolher essas crianças e adolescentes, passando estes a participar do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil – PETI, seguindo os preceitos do Estatuto da Criança e Adolescente – ECA. Uma outra ação, na época, foi a construção de uma creche, no bairro, para atender as crianças de zero a seis anos, já que a faixa etária do PETI era direcionada para as crianças de sete a dezessete anos.

No ano de 1999 foi criado o Projeto de Remediação da Área de Destino Final dos Resíduos Sólidos de Natal (no aterro de lixo de Cidade Nova), pela Prefeitura da Cidade do Natal. Naquele mesmo ano foi construído o Núcleo Social de Cidade Nova, visando o atendimento de parte das 510 crianças que viviam do trabalho degradante da catação de lixo. Atualmente o Núcleo atende a 430 crianças na faixa etária de 7 a 15 anos, que são atendidas em turnos consecutivos, com auxílios nutricionais, culturais, psicológicos, de lazer e principalmente educacionais, através do Método Aprender/Fazendo, cujos princípios se pautam no Estatuto da Criança e do Adolescente. Segundo as informações contidas nos documentos analisados da Fundação Zerbini, os trabalhos realizados neste Núcleo proporcionam mudanças visíveis nas crianças beneficiadas, tanto nos hábitos alimentares, como na elevação da auto-estima e nas relações interpessoais, ações que alcançam de certa forma às famílias. O Núcleo tornou-se referência nacional na erradicação do trabalho infantil, como exemplo deste fato o UNICEF e outras instituições estão trabalhando em parceria para

manter projetos permanentes, que visam minimizar os problemas vivenciados pela população que sobrevivia da catação do lixo no bairro de Cidade Nova.

Fotografia 3 – Núcleo Social de Cidade Nova

Conforme dados do relatório do Programa Crianças e Adolescentes Fora do Lixo: Ação e Cidadania – URBANA, o Núcleo Social de Cidade Nova, preocupado com o futuro dos adolescentes que chegam à idade limite de permanência no PETI e precisam deixar o Núcleo Social, implantou em outubro de 2004 o “Complexo de Cultura e Arte”, com objetivo de capacitar jovens e adolescentes oriundos do Núcleo Social de Cidade Nova, na arte do reaproveitamento de material reciclado, bem como trabalhar a cultura local, retirando-os da ociosidade e preparando-os para o mercado de trabalho (FUNDAÇÃO ZERBINI, 2003).

O galpão onde antes funcionava uma oficina chegou a contar com 45 jovens que se revezam na arte do reaproveitamento de material reciclado, em oficinas de beneficiamento de papel, madeira, PET, retalhos, quengas de coco, dentre outros. As famílias, em sua maioria ex-catadores de lixo, contribuem repassando material da coleta seletiva para serem beneficiadas.

Em razão do crescimento e da seriedade do trabalho desenvolvido pelo do Núcleo, um grupo de profissionais comprometidos com a causa social se reuniu e institucionalizou o Complexo como uma Organização Social de Interesse Público, nomeado “Gente Feliz”, com objetivo de trabalhar a inserção social desses jovens e adolescentes como também as suas famílias.

Observamos que, segundo informações da Fundação Zerbini, têm-se como conseqüência da realização do Projeto “Remediação Ambiental da Área de Destino Final de Cidade Nova”, melhorias para os catadores do local. Este fato contribuiu diretamente para a fundação, no ano de 1999, da Associação de Catadores de Materiais Recicláveis de Natal (ASCAMAR), primeira associação a realizar a coleta de materiais recicláveis em Natal, e que, sob regime de comodato, começou naquele mesmo ano a operar a Usina de Triagem de Resíduos Sólidos recuperada pelo Projeto.

Por meio deste projeto foram construídos galpões e baias de acondicionamento de materiais recicláveis e proporcionou-se um ambiente para descanso dos catadores da Associação. Em visita à área, observamos que os aludidos galpões e as baias já estão deteriorados pelo uso e pela ação do tempo, e, conforme informação dos catadores, já não comportam mais a grande quantidade de materiais que são triados na usina, bem como aqueles que são coletados na Coleta Seletiva Porta a Porta e no do Programa Interno de Coleta Seletiva (PICS).

Em razão do processo de fechamento do aterro de lixo de Cidade Nova, em fevereiro de 2003 foi realizado um cadastramento pela Companhia de Serviços Urbanos de Natal (URBANA) visando a traçar o perfil sócio-econômico dos catadores que trabalhavam na área de destino final dos resíduos sólidos do aterro de lixo de Cidade Nova, quando foram cadastrados 465 catadores.

3.3 Início do “Projeto Interministerial Lixo e Cidadania: Combate à Fome