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CAPÍTULO 2 - A RECEPÇÃO E O PROCESSO COMUNICATIVO A PARTIR DA

2.2. Das mediações ao Circuito Cultural

Ao tratarmos especificamente do contexto dos estudos da recepção de associados aos estudos culturais no Brasil, podemos destacar a figura de Jesús Martín-Barbero e as teorias latino-americanas de comunicação. As ideias desse autor surgem no país em um contexto onde os estudos ainda seguiam uma perspectiva dual, “ora privilegiando os modos de resistência das classes populares aos conteúdos midiáticos, ora reiterando a reprodução da ideologia dominante via os meios de comunicação” (ESCOSTEGUY, 2004, P.22).

Ao lançar a “Teoria das Mediações” (1987), Martín-Barbero promove, principalmente, a mudança da ênfase dos meios em si mesmos para sua inserção na cultura. Ou seja, “na articulação entre cultura e comunicação (e política, incorporada mais tarde) – cenário de seu interesse –, os meios ganharam o papel de agente cultural, sem ter sido desconsiderado seu caráter comercial ou estatal” (JACKS e SCHMITZ , 2018, p.116).

Com essa nova forma de conceber o campo da comunicação e seus estudos, Martín-Barbero destaca o acontecimento de três rupturas que foram primordiais para a consolidação dessa nova visão, sendo elas: o comunicacionismo, o midiacentrismo e o marginalismo do alternativo. Segundo o autor, a primeira ruptura consiste:

[...] na tendência ainda bem forte a ontologizar a comunicação como o lugar onde a humanidade revelaria sua mais secreta essência. Ou, em termos sociológicos, a ideia de que a comunicação constitui o motor e o conteúdo último da interação social. (MARTÍN-BARBERO, 2004, P.222)

Nessa perspectiva, podemos dizer que a teoria das mediações objetiva a descentralização dessa comunicação, visto que, conforme destacar o autor, isso tem como consequência o “esvaziamento da questão do poder e da desigualdade das relações sociais”

(IDEM, p.222). Com isso, o lugar de lutas políticas e sociais deixaria de existir e “mudar a sociedade se resumiria a mudar os modos de produção e circulação da informação” (IDEM, p.222).

Já o midiacentrismo, diz respeito à concepção de que a comunicação se resume às mídias. Segundo Martín-Barbero (2004, p.223, grifo do autor), “desde McLuhan ou Althusser, compreender a comunicação é estudar como funcionam as tecnologias ou os "aparelhos", pois eles fazem a comunicação, a determinam e lhe dão sua forma”. O problema que ocorre ao se adotar essa ideia é que, de acordo com Lechner (1995 apud Martín-Barbero, 2004, p.223) “desgastadas as representações simbólicas, não logramos construir urna imagem do país que queremos e, portanto, a política não consegue fixar o rumo das mudanças que estão em marcha", provocando assim um desprezo às questões que relacionam a comunicação com as práticas, às situações e os contextos, os usos sociais e os modos de apropriação.

A terceira, e última, ruptura, denominada marginalismo do alternativo é aquela preconiza a produção de uma comunicação fora da contaminação tecnológica/mercantil das grandes mídias. Entretanto, aceitar essa proposição é dar uma autonomia aos produtores que eles não possuem, visto que até mesmo algumas comunicações que possuem um caráter político ou de resistência, muitas vezes ainda se encontram limitadas ou seguindo alguma medida imposta pelo poder dominante. Afinal, a boa relação desse poder com as mídias hegemônicas é que determinam a visibilidade ou invisibilidade que aquela comunicação terá.

Como resultado dessas rupturas, Martín-Barbero (2004, p. 225) destaca que:

Hoje, não obstante, a comunicação aparece constituindo urna cena nova de mediação e reconhecimento social, na qual as imagens e representações das mídias ao mesmo tempo que espetacularizam e enfraquecem o político o reconstituem. Pois o que estamos vivendo não é, como acreditam os mais pessimistas profetas fim-de-milênio, a dissolução da política, mas a reconfiguração das mediações nas quais se constituem seus novos modos de interpelação dos sujeitos e de representação dos vínculos que unem a sociedade.

Na segunda metade dos anos 90, os estudos de recepção se propagam tendo como influência as concepções da mediação. “Assim a comunicação se tornou para nós questão de

mediações mais que de meios, questão de cultura e, portanto, não só de conhecimento, mas de

reconhecimento” (MARTÍN-BARBERO, 2015, P.28, grifo do autor). Nesse contexto, o autor aponta duas mudanças observadas nessa nova perspectiva dos processos de recepção:

[... ] de início, a operação do deslocamento metodológico para rever o processo inteiro da comunicação a partir de seu outro lado, o da recepção, o das resistências que aí tem seu lugar, o da apropriação a partir de seus usos. Porém, num segundo momento, tal reconhecimento está se transformando,

justamente, para que aquele deslocamento não fique na mera reação ou passageira mudança teórica.

Essa mudança é importante, sobretudo, para os países da América Latina, a diferença cultural significa “a vigência, a densidade e a pluralidades das culturas populares, o espaço de um conflito profundo e uma dinâmica cultural incontornável” (IDEM, p.28).

Nessa perspectiva, para o desenvolvimento dessa dissertação, o conceito de mediação será trabalhado sob a perspectiva da ressignificação, visto que conforme aponta Silverstone (2014, p.33) “a mediação implica o movimento de significado de um texto para outro, de um discurso para outro, de um evento para o outro”. Sendo assim, podemos dizer que por meio do processo de mediação conseguimos dar novos significados e sentidos, ou ressignificar, textos que serão transmitidos para determinados grupos.

Complementando essa ideia, Escosteguy e Jacks (2005, p. 67) afirmam que:

[...] as mediações, conforme Martín-Barbero, produzem e reproduzem os significados sociais, sendo o locus que possibilita compreender as interações entre a produção e a recepção. As mediações estruturam, organizam e reorganizam a percepção da realidade em que está inserido o receptor, tendo poder também para valorizar implícita ou explicitamente esta realidade.

A teoria das mediações defende uma visão vasta e heterogênea do processo de recepção dos produtos midiáticos na qual são observadas diversas relações sociais e culturais, desse modo, “trata-se de uma ruptura com concepções passivas da audiência, substituindo-as por uma abordagem mais dinâmica onde se passa a pensar a relação existente entre o campo de emissão/produção e recepção/consumo” (JACKS e SCHMITZ , 2018, p.116).

No que refere às abordagens teórico-metodológicas de estudo no campo da comunicação, podemos observar que muitos estudos de recepção ainda se limitam a estudar o processo comunicativo de forma unilateral. Ou seja, não se observa uma grande propensão a se estudar o processo de consumo e recepção atrelado às condições de produção. Além disso, os objetos de estudo não compreendem a audiência de uma forma completa, conforme aponta Escosteguy (2007, p.117):

A pesquisa em comunicação tem privilegiado como objeto de estudo os próprios meios como instituições onde se destacam suas vinculações políticas e econômicas, as formas simbólicas produzidas e veiculadas por essas tecnologias de comunicação, isto é, os sentidos postos em circulação pelos textos midiáticos, e, em menor proporção, as audiências, compreendidos nesse âmbito os usos sociais da mídia, seus efeitos e influências.

Diante dessa realidade, Johnson (1999), afirma que esses modelos de análises não nos levaram muito longe, visto que eles não abordam as “categorias intermediárias que nos

permitiriam começar a especificar as formas sociais subjetivas e os diferentes momentos de sua existência”. O mesmo autor, ao identificar a cultura como um termo polissêmico e não como uma categoria precisa, defende que “não podemos limitar o campo a práticas especializadas, a gêneros particulares ou a atividades de lazer” (IDEM, p.32).

Ainda nessa perspectiva, ele afirma que:

“Todas as práticas sociais” podem ser examinadas de um ponto de vista cultural, podem ser examinadas pelo trabalho que elas fazem – subjetivamente. Isto vale, por exemplo, para o trabalho fabril, para organizações sindicais, para ávida nos – e em torno dos – supermercados, assim como para alvos óbvios, como a ‘mídia’ (unidade enganadora?) e seus modos (principalmente domésticos) de consumo (JOHNSON, 1999, P. 28, grifo do autor).

Sendo assim, Johnson propõe a criação de modelo de análise mais complexo, com categorias intermediárias, que permitam uma análise mais estratificada do que os modelos já existentes. Diante disso, podemos dizer que os produtos culturais não podem ser lidos focando apenas os textos e as condições de produções, faz-se necessário compreender também as condições específicas de consumo e leitura.

Nesta dissertação, nos propomos a analisar os polos de recepção e produção de maneira integrada. Para isso, iremos realizar um estudo de recepção levando em consideração as premissas propostas pelo Circuito Cultural (figura 2) de Richard Jonhson (1999). Trata-se de um protocolo analítico que promove a interpretação dos processos de produção, consumo e recepção de maneira cíclica, onde os quatros momentos que compõem o circuito - produção, textos, leituras e culturas vividas - sejam analisados de modo relacional.

Figura 2 – Circuito Cultural de Richard Johnson

Ao propor essa metodologia, Jonhson (1999), pretendia oferecer uma forma mais completa de análise dos circuitos comunicacionais. Conforme destaca o autor, até então eram observados três tipos de pesquisa na área de estudos culturais: uma centrada na produção, outra nos textos e outras nas culturas vividas. Analisar cada momento de forma separada é uma possibilidade que permite uma compreensão melhor de cada processo e de suas peculiaridades, “porém, é necessário ter sempre em mente os entrecruzamentos que acompanham esse processo que é rico, contínuo e sem limites definidos” (SANTI, 2010, p.2).

Conforme enfatiza Johnson (1999, p.106, grifo do autor):

Circuito não foi apresentado como uma descrição adequada dos processos culturais ou mesmo de formas culturais elementares. Não se trata de um conjunto completo de abstrações em relação as quais toda a abordagem parcial possa ser julgada. Não constitui, portanto, uma estratégia adequada para o futuro a operação de simplesmente adicionar os três conjuntos de abordagens, usando cada uma em seu respectivo momento. Isso não funcionaria sem que houvesse transformações em cada abordagem e talvez em nosso pensamento sobre “momentos”.

O autor também destaca que é importante reconhecer as particularidades de cada momento, a fim de evitar reduções, porém, feito isso, faz-se necessário analisar cada um deles a luz dos outros, levando para outra etapa os métodos e objetos de estudo analisados em um determinado momento. Sendo assim, iremos propor a análise de cada fase do circuito separadamente, de modo que seja possível compreender as características individuais delas. Posteriormente, enfocaremos em exemplos que ilustrem situações em que um momento é interpretado em relação ao outro.

2.2.1. A perspectiva da produção

No momento da produção, identificamos as preocupações relacionadas à organização e produção das formas culturais. Ao construir esse conceito, Johnson (1999) faz um resgate histórico dos primeiros trabalhos marxistas, que reduzia esse momento a “alguma versão estreitamente concebida ‘das forças e das relações de produção’”. Posteriormente, novos estudos passaram a estudar “as formas históricas de produção e a organização da cultura – ‘as superestruturas’”.

Do ponto de vista dos trabalhos abordados por Gramsci, o estudo da cultura passa a se interessar mais pelas dimensões culturais de lutas e das estratégias como um todo, fazendo com que a cultura das classes operárias se tornasse objeto de estudo e que os produtores culturais pudessem ser reconhecidos também em “estratos sociais inteiros, concentrados em

torno de instituições particulares – escolas, faculdades, a lei, a imprensa, as burocracias estatais e os partidos políticos” (JOHNSON, 1999, P.55).

Ao analisarmos a cultura do ponto de vista da produção, nos deparamos com dois limites: o economicismo e o produtivismo. Aquele se trata de uma abordagem que se assimila ao modo de produção capitalista, ou seja, se limita a focar nos meios de produção e na organização capitalista do trabalho, e negligencia a existência dos elementos culturais já existentes, “extraídos do reservatório da cultura vivida ou dos campos já públicos do discurso”.

Sobre essa abordagem, Jonhson (1999, p.57, grifo do autor) aponta que:

Em outras palavras, muitas das análises do lado da produção podem ser criticadas pelas bases escolhidas: como análises da produção cultural, da produção de formas ‘subjetivas’, elas nos revelam, no máximo, alguma coisa sobre algumas das condições ‘objetivas’ e sobre o funcionamento de alguns espaços sociais – tipicamente, o funcionamento ideológico da empresa capitalista (por exemplo, a publicidade, o funcionamento da mídia comercial), mas nada sobre o funcionamento dos partidos políticos, das escolas ou dos aparatos da ‘alta cultura’.

Já o produtivismo tem tendência a deduzir que a especificidade de um produto cultural e o uso social das condições de sua produção são determinadas completamente pelas suas condições de origem. Ou seja, se analisarmos a gênese daquele produto, compreenderemos a ideologia que ele carrega. Contrário a essa ideia, Johnson (1999, p.58) afirma que não vê “como qualquer forma cultural possa ser chamada de “ideológica” (no sentido crítico marxista usual) até que tenhamos examinado não apenas sua origem, mas também cuidadosamente analisado suas formas pessoas bem como os modos de sua recepção”.

O autor enfatiza que devemos sim analisar as formas culturais do ponto de vista da sua recepção, entretanto, isso inclui abordar as condições e meios de produção em seus aspectos subjetivos e culturais. Desse modo, ele enfatiza que:

[...] em minha opinião, deve incluir descrições e análises também do momento real da própria produção – o trabalho de produção e seus aspectos subjetivos e objetivos. Não podemos estar perpetuamente discutindo as condições sem nunca discutir os atos! (JOHNSON, 1999, p.63).

Além disso, Johnson (1999) sugere que os produtos culturais são produzidos por relações de poder, ao mesmo tempo em que as produzem. Isso decorre do fato de que é o poder hegemônico que irá determinar o que será público e o que será privado. Ao entendermos que o privado compreende formas mais concretas e mais particulares em seu escopo de referência, enquanto que as formas públicas são mais abstratas, mas também tem

uma abrangência maior, podemos observar como a mídia hegemônica usa a sua influência para dar mais visibilidade a determinado fenômeno, promovendo o apagamento de outro.

O principal problema observado nesse papel desempenhado pelos grupos de poder é “que as definições dominantes do que é considerado importante, são em boa parte, socialmente específicas e, em particular, tendem a corresponder às estruturas masculinas – e de classe média – de “interesse” (em ambos os sentidos do termo)” (Idem, p.51). Essa postura promove invisibilidades e cabe aos grupos subordinados se movimentarem de modo que seja possível dar visibilidade a questões importantes, porém esquecidas pela mídia hegemônica.

2.2.2. Como analisamos os textos

No âmbito do texto, estão situadas as “análises de caráter textual, discursivo e outras que se concentram somente no produto midiático” (ESCOSTEGUY, 2007, p.121). Entretanto, Johnson (1999) destaca que, ao estudarmos um texto, nosso objetivo tem que estar baseado na análise da conjuntura, tendo como “premissa a crença de que o contexto é crucial na produção de significado”. Sendo assim, Johnson (1999, p. 75, grifo do autor) complementa que:

O “texto” não é mais estudado por ele próprio, nem pelos efeitos sociais que se pensa que ele produz, mas, em vez disso, pelas formas subjetivas que ele efetiva e torna disponíveis. O texto é apenas um meio no Estudo Cultural; estritamente, talvez, trata-se de um material bruto a partir do qual certas formas (por exemplo, da narrativa, da problemática ideológica, do modo de endereçamento, da posição do sujeito, etc.) podem ser abstraídas.

2.2.3. O papel das leituras

No momento da leitura, “estamos atentos às práticas sociais de recepção, entendidas como um espaço de produção de sentido”. No entanto, se considerarmos apenas como o elemento principal dessa prática, teremos problemas que implicarão em limitações textuais.

Conforme destaca Johnson (1999), estudar o texto de maneira isolada é uma forma muito rasa de leitura, afinal “na vida cotidiana, os materiais textuais são complexos, múltiplos, sobrepostos, coexistentes, justapostos; em uma palavra, ‘intertextuais’” (JOHNSON, 1999, p.88). Diante disso, o autor aponta a importância do contexto ao realizarmos uma leitura, pois ele “determina o significado, as transformações ou a saliência de uma forma subjetivo particular, tanto quanto a própria forma” (IDEM, p.88). Além disso, o contexto também inclui as situações mais cotidianas (a vida doméstica, por exemplo) e situações e conjunturas históricas.

Outro ponto importante que merece destaque é que a produção precisa ser levada em consideração nos momentos de leitura, afinal a forma que o texto é interpretado sofre influência não só das ideias dos produtores presentes naqueles textos, mas também das experiências e conhecimentos que o leitor tem sobre a temática daquele produto cultural.

Uma crítica que o autor faz é em relação à inexistência de estudos que comprovem como o leitor usa os textos de forma produtiva ou condições “contribuem para conjunturas revolucionárias em suas dimensões subjetivas” (JOHNSON, 1999, p. 92). Ademais, ele também destaca que não existem trabalhos que apontam como os leitores podem usar os textos de forma crítica e, principalmente,

Não existe nenhuma análise daquilo que eu chamaria de “aspectos subjetivos de luta”, nenhuma análise de como existe um momento no fluxo subjetivo no qual os sujeitos sociais (individuais ou coletivos) produzem narrativas sobre quem eles são como agentes políticos conscientes, isto é, como eles se constituem a si mesmos politicamente13.

Cabe destacar também que a leitura só existe porque existe uma produção, ela não é autônoma. Ela só existe porque alguém produziu um texto e alguém o consumiu/ressignificou. O texto já vem com marcas, porém só ganha corpo a partir do que é feito com ele, e que pode coincidir ou não com a intencionalidade do produtor.

2.2.4. As culturas vividas e os contextos

É no espaço das culturas vividas onde podemos afirmar que estão circulando os elementos culturais ativos que orientam tanto o espaço da produção como o das leituras. Entretanto, conforme destaca Escosteguy (2007, p.100), devemos ter certa atenção ao analisar as culturas vividas, visto que:

O problema quando o pesquisador se instala nesse espaço é tornar-se condescendente com a cultura estudada, enfatizando sua criatividade. Daí a necessidade de observar a conexão entre as práticas de grupos sociais e os textos que estão em circulação, realizando uma análise sócio-histórica de elementos culturais que estejam ativos em meios sociais particulares.

Ademais, cabe destacar também a necessidade de reconhecer as diferenças culturais importantes, especialmente aquelas que estão permeadas por relações de poder e dependência.

Ao desenvolver uma etnografia14, reconhecida por Johnson (1999, p.96) como “a prática da

representação da cultura dos outros”, devemos ter o cuidado de não ampliarmos a distância

13 Vale ressaltar que a partir dessa reflexão proposta por Johnson, se desenvolveram muitos estudos de recepção.

social e construirmos relações de “conhecimento-como-poder”. Nessa perspectiva, devemos ressaltar que:

Uma vez que as relações sociais fundamentais não foram transformadas, a análise social tende, constantemente a retornar às suas velhas ancoragens, patologizando as culturas subordinadas, normalizando os modos dominantes, ajudando, na melhor das hipóteses, a construir reputações acadêmicas sem retorno proporcionais àquelas pessoas e àqueles grupos que são representados.

Outra forma de estudar a cultura é por meio da análise da experiência, que relaciona características objetivas e subjetivas para estudar um determinado grupo. O grande problema dessa abordagem reside no fato de que ela tende à homogeneidade, gerando uma pressão para a concepção de um modo de vida global. Nesse contexto, observamos aqui um dos maiores problemas que queremos enfrentar na nossa pesquisa, a ideia do termo “modo de vida” sendo utilizado como se as “culturas fossem blocos de significados carregados sempre pelo mesmo conjunto de pessoas” (IDEM, p. 100).

Entretanto, Johnson (1999) afirma que não quer criticar esses modos de se estudar a cultura, porém destaca que as melhores análises feitas a partir das culturas vividas abordavam também as leituras. Com base nessa perspectiva – a intersecção entre formas públicas e privadas – é que, segundo o autor, conseguiremos responder aos dois conjuntos centrais de questões perseguidas pelos Estudos Culturais. A primeira delas diz respeito ao prazer da “popularidade” e ao valor de uso das formas culturais, que busca responder como as forças subjetivas ganham popularidade e são utilizadas. A segunda refere-se aos resultados das formas culturais que questionam o caráter político de tais formas e buscam compreender, por exemplo, se elas ou reproduzem formas de submissão ou opressão ou se elas indicam arranjos sociais alternativos.

Nesse contexto, vale ressaltar que análises enfatizando apenas os textos ou as condições de produção não conseguem responder aos questionamentos acima, conforme destaca Johnson (1999, p.103):

Eles terão melhores respostas depois que tivermos descrito uma forma social diretamente através do circuito de suas transformações e tivermos feito algum esforço para colocá-lo no interior de todo o contexto de relações de hegemonia no interior da sociedade

3. CAPÍTULO 3 - CIRCUITO CULTURAL E RESSIGNFICAÇÕES DA CARTA DE