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3.4 DEMAIS PREVISÕES DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADELESCENTE

3.4.4 Das medidas socioeducativas

As medidas socioeducativas consistem em: advertência, obrigação de reparar o dano, prestação de serviços à comunidade, liberdade assistida, inserção em regime de semiliberdade e internação em estabelecimento educacional, podendo também ser aplicadas as medidas de proteção prescritas no art. 101, I a VI (CUNHA, 2017).

Quanto às medidas socioeducativas, assim dispõe o art. 112, I a VII do Estatuto da Criança e do Adolescente:

Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente poderá aplicar ao adolescente as seguintes medidas:

I - advertência;

II - obrigação de reparar o dano;

III - prestação de serviços à comunidade; IV - liberdade assistida;

V - inserção em regime de semi-liberdade; VI - internação em estabelecimento educacional;

VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI (BRASIL, 1990).

A Advertência é um ato de autoridade, aplicada verbalmente pelo Juiz, ao adolescente autor da infração penal perante seus pais ou responsáveis, orientando, incutindo valores, e induzindo comportamentos; é uma técnica de controle social aplicada ao adolescente infrator somente quando comprovada a materialidade do fato e indícios da sua autoria, com plena convicção. Como não terá o procedimento contraditório por se tratar de atos infracionácio leves, a medida será aplicada em audiência judicial, quando constarão as exigências e orientações que deverão ser cumpridas pelo adolescente e receberá a assinatura do juiz, do promotor, do adolescente e de seus pais ou responsáveis. A evidência é essencial e deverá ser exigida pelo juiz e pelo promotor, pois terão que avaliar com muito critério os casos apresentados, não ultrapassando os limites da lei, tendo em vista as circunstâncias e consequências do fato, o contexto social, a personalidade do adolescente e sua maior ou menor participação no ato infracional, conforme os ensinamentos de Liberati (1991).

Obrigação de reparar o dano. Quando o ato infracional tiver reflexos patrimoniais, a autoridade poderá determinar, se for o caso, que o adolescente restitua a coisa, promova o ressarcimento do dano ou compense o prejuízo da vítima. Esta medida será em procedimento contraditório, em que sejam assegurados ao adolescente os direitos constitucionais de ampla defesa, de igualdade processual, da presunção de inocência. Para Liberati (1991), o cumprimento dessa medida tem finalidade educativa e deverá suscitar no adolescente, tanto pela restituição quanto pela indenização do dano, o desenvolvimento do senso de

responsabilidade daquilo que não é seu. Nos ensinamentos de Ishida (2017) consta que, a obrigação de reparar o dano, como medida socioeducativa, deve ser suficiente para despertar no adolescente o senso de responsabilidade social e econômica em face do bem alheio; a medida deve buscar a reparação do dano causado a vítima tendo sempre em vista a orientação educativa a que se presta. Na falta de recurso financeiro, o juiz poderá substituir essa medida por outra, pois poucos adolescentes trabalham e possuem renda própria para ressarcir a vítima.

Prestação de serviços à comunidade consiste na realização de serviços comunitários, tarefas gratuitas de interesse geral, por um período não excedente a seis meses, numa jornade de oito horas semanais, de modo a não prejudicar a frequência na escola ou a jornado de trabalho, e será realizada nas entidades assistenciais, hospitais, escolas ou em programas governamentais. Liberati (1991) destaca que o intuito desta medida é reintegrá-lo à sua comunidade, é uma ação alternativa da prisão ou da internação, permitindo que o infrator cumpra junto à família, no emprego e na comunidade, as imposições restritivas de seus direitos. É indispensável a fiscalização de seu cumprimento pela comunidade, para não se tornar uma medida sem resultado.

A Liberdade assistida é aplicada ao adolescente, autor do ato infracional, sujeito à orientação e assistência social por técnicos especializados, com ampla abrangência na linha de acompanhamentos, auxílio e orientação ao adolescente visando a sua integração familiar e comunitária. Na visão de Liberati (1991), o melhor resultado para esta medida será conseguido pela especialização do pessoal ou entidade que desenvolverá o tratamento tutelar com o jovem, e que desempenhará sua missão por meio de estudo de caso, de métodos de abordagem, organização técnica da aplicação da medida e designação de agente capaz.

Segundo menciona Nogueira (1991), a liberdade assistida deve ser aplicada aos adolescentes reincidentes ou habituais na prática de atos infracionais e que demonstrem tendência para reincidir, já que os primários devem ser apenas advertidos, pois este tipo de medida não tem sido devidamente aplicado por falta de meios imprescindíveis à sua concretização, através de um trabalho de acompanhamento de pessoa capacitada e de programa de atendimento.

Inserção em regime de semi-liberdade. Trata-se de medida socioeducativa restritiva de liberdade pela qual o adolescente permanece internado no período noturno, podendo realizar atividades externas como escolarização e profissionalização durante o dia. É aplicada pela autoridade judicial como forma de transição para o meio aberto. Não há prazo de duração determinado, mas tem que haver uma avaliação a cada seis meses pelo setor técnico, e está

sujeita aos princípios da brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento.

Nos entendimentos de Liberati (1991), a semiliberdade é um dos tratamentos tutelares realizados em meio aberto, implicando, necessariamente, na possibilidade de realização de atividades externas, como a frequência à escola, às relações de emprego etc. Se não houver este tipo de atividade, a medida socioeducativa perde sua finalidade. E no período noturno, quando o adolescente recolher-se à entidade de atendimento, os técnicos sociais deverão complementar o trabalho de acompanhamento, auxílio e orientação, sempre verificando a possibilidade do término do tratamento. O espaço físico destinado a esta medida é caracterizado como uma moradia e deve reproduzir o modelo de uma residência, visando proporcionar um ambiente socioeducacional que permita, ao adolescente, desenvolver um novo código de convivência, e garanta-lhe a segurança pessoal, com limites espaciais definidos (PARANÁ, 2019).

Internação em estabelecimento educacional. Ressalta-se que, dentre as medidas socioeducativas, a internação em estabelecimento educacional (art. 112, VI, ECA) constitui medida privativa de liberdade, e está sujeita aos princípios da brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento. Portanto, a internação como medida socioeducativa de privação de liberdade, deve ser cumprida em estabelecimento que adote o regime fechado. Entretanto, o adolescente pode realizar atividades externas, e após cumprido o prazo máximo de três anos o adolescente deverá ser liberado ou colocado em regime de semiliberdade ou liberdade assistida conforme art. 121 §§ 1º a 7º do ECA (BRASIL, 1990). Vale salientar que a medida de internação será necessária somente naqueles casos em que a natureza da infração supõe que, sem um afastamento temporário do convívio social a que está habituado, ele não será atingido por nenhuma medida terapêutica ou pedagógica e poderá, além disso, representar risco para outras pessoas da comunidade (LIBERATI, 1991). Aos vinte e um anos, o adolescente internado pela prática do ato infracional, quando menor de dezoito anos, será imediatamente liberado, sendo que após essa idade não será possível a aplicação de qualquer medida socioeducatica, pela autoridade judiciária como previne o art. 121 § 5º do ECA (BRASIL, 1990).

Desse modo, o ato infracional praticado pelo adolescente estará sujeito a processo contraditório com ampla defesa, pois poderá receber uma sanção, chamada de medida socioeducativa (art. 112); no caso da criança que praticar ato infracional estará sujeita às medidas de proteção (art. 101, BRASIL, 1990). Assim, Liberati (1991, p. 48) explica que embora as crianças cometam infração penal, não são processadas e punidas como os

adolescentes e os adultos. Para as crianças autoras de infração penal o tratamento começa com a apreensão, pela polícia, que a conduz ao Conselho Tutelar ou à autoridade Judiciária, que fará juízo de valor sobre o ato praticado e aplicará uma das medidas de proteção (art. 101 do ECA).

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