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A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais garantidos por lei ou por outros meios à pessoa humana, assim como todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade (NOGUEIRA, 1991). Esses direitos estão garantidos no artigo 5º da Constituição Federal/1988 e consignados no Estatuto, tais como: o direito à vida, à saúde, à educação, à liberdade, ao respeito, à dignidade, à convivência familiar e comunitária, à cultura, ao lazer, ao esporte, à profissionalização e à proteção no trabalho (LIBERATI, 1991). Tais direitos devem ser assegurados com absoluta prioridade, justamente em se tratando da criança e do adolescente, pela família, pela comunidade, pela sociedade e pelo Poder Público, devendo todos contribuírem com sua parcela para o desenvolvimento e proteção integral da criança e do adolescente (NOGUEIRA, 1991).

Destacam-se a seguir, os principais direitos constitucionais assegurados à criança e ao adolescente: direito à vida e à saúde; direito à liberdade, ao respeito e à dignidade; direito à convivência familiar e comunitária; direito à educação, à cultura, ao esporte e ao lazer; direito à profissionalização e à proteção no trabalho, como se explana na sequência.

3.2.1 Do direito à vida e à saúde

Dentre os direitos fundamentais protegidos e assegurados pela Lei, o direito à vida e à saúde destaca-se por sua importância. Para assegurar o desenvolvimento das crianças e dos adolescentes, é dever do Estado efetivar políticas públicas voltadas ao atendimento e cuidado

desses. Nesse contexto, dispõe o artigo 7º do ECA, como segue: “Art. 7º A criança e o adolescente têm direito a proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência” (BRASIL, 1990).

Corroborando, Liberati (1991) esclarece que a criança e o adolescente, que estão em fase de desenvolvimento merecem a proteção especial da família, da sociedade e do Poder Público, devendo este criar condições e programas específicos que permitam seu nascimento e desenvolvimento de forma sadia e harmoniosa. Ainda, de acordo com os ensinamentos do autor:

O respeito que se deve dar a manutenção da vida constitui-se a pilastra central de toda a formação física e emocional da criança, O simples fato de ter sua mãe ao seu lado, no leito de um hospital, a criança mostrará rápida recuperação de sua enfermidade, pois além da ciência, o amor desempanha importante papel terapêutico (LIBERATI, 1991, p. 7).

Para Liberati, (1991), as condições dignas de atendimento à saúde são também asseguradas à gestante e à parturiente, com o acompanhamento de profissional competente e pelo Sistema Único de Saúde, como prevê o artigo 8º do ECA:

Art. 8º É assegurado a todas as mulheres o acesso aos programas e às políticas de saúde da mulher e de planejamento reprodutivo e, às gestantes, nutrição adequada, atenção humanizada à gravidez, ao parto e ao puerpério e atendimento pré-natal, perinatal e pós-natal integral no âmbito do Sistema Único de Saúde (BRASIL 1990).

Referido artigo remete à ampla proteção ao nascituro, pois a tutela do direito à saúde começa com uma saudável gestação (BRASIL, 1990).

3.2.2 Do direito à liberdade, ao respeito e à dignidade

O Estatuto da Criança e do Adolescente garante o direito à liberdade, ao respeito e à dignidade das crianças e adolescentes. Compreender o significado destas previsões legais exige entender a base ideológica sobre a qual o ECA foi edificado, pois os artigos representam as ideias que embasaram a elaboração desta Lei.

Nesse sentido, para Maçura, Cury e Garrido de Paula (199l) apud Ishida (2011), o direito à liberdade é uma faculdade que uma pessoa possui de fazer ou não fazer alguma coisa. No caso da criança e do adolescente há uma compatibilização com a doutrina da proteção integral, abrangendo o direito de estar nos logradouros públicos como espaços ao ar livre, como as praças; o direito à opinião e à expressão; o direito de crença e culto; o direito de lazer; o

direito de participação da vida familiar e da comunidade; o direito de participar da vida política; o direito de refúgio, de auxílio e de orientação. Ademais, a criança e o adolescente gozam da liberdade de locomoção, ainda que limitada, pois necessitam de autorização dos pais ou responsáveis para se locomoverem nos logradouros públicos, e dos critérios de conveniência e de educação por eles definidos. Assim, de acordo com o art. 106 do ECA, a criança não pode ser privada de sua liberdade, conforme dispõe: “Art. 106. Nenhum adolescente será privado de sua liberdade senão em flagrante de ato infracional ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente” (BRASIL, 1990; ISHIDA, 2011).

Para Cury (2005, p. 88), a lei protege a criança e o adolescente contra qualquer ofensa ilícita ou ameaça de ofensa à sua personalidade física ou moral, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, ideias e crenças, dos espaços e objetos pessoais, tendo em vista a condição peculiar da pessoa em desenvolvimento. O direito ao respeito abrange a “preservação da imagem e da identidade pessoal”; tal particularização decorre de a lei reconhecer que a criança e o adolescente “gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana”; assim, estão protegidos por um direito de personalidade peculiar.

Ademais, o art. 18 do ECA, repetindo o disposto no art. 227 da Constituição Federal/1988, reconhece o direito à dignidade da criança e do adolescente, protengendo-os de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor, sendo, por isso, um grande avanço, pois demonstra claramente a preocupação do legislador quanto à necessidade de se defender o status dignatitis do menor. Assim, dispõe referido Estatuto: “Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor” (BRASIL, 1990).

O desrespeito ao direito à dignidade da criança e do adolescente poderá dar margem às ações civis públicas que serão propostas pelo Ministério Público, órgão que tem a incumbência de zelar por esses direitos e aos crimes previstos no Estatuto. Destaca-se que é dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente. Esta função não se limita aos pais e aos responsáveis legais, entendendo-se a qualquer pessoa que tenha conhecimento de algum abuso ou desrespeito à dignidade da criança e ao adolescente, devendo comunicá-lo ao Ministério Público, que tem a obrigação legal de propor as medidas judiciais e extrajudiciais necessárias. Na verdade, a intenção foi de co-responsabilizar toda a sociedade pela garantia do direito da criança e do adolescente quando usou a expressão “é dever de todos [...]”. Desse modo, a norma legal existe e sua aplicação depende da mobilização de toda a sociedade, da

vontade política do governo e da atuação do Ministério Público, incumbido de zelar pelo efetivo cumprimento da mesma junto a Justiça da Infância e da Juventude (MARQUES, 2005 apud CURY, 2005).

3.2.3 Direito à convivência familiar e comunitária

Trata-se de direito fundamental para a criança e para o adolescente viver junto à sua família natural ou subsidiariamente à sua família extensa. Para Ishida (2011) a garantia da convivência familiar se perfaz por intermédio de dois princípios basilares: o da proteção integral e o da prioridade absoluta. A família natural é considerada prioritária, pois é a entidade na qual a criança e o adolescente devem permanecer, ressalvada a absoluta impossibilidade, devendo existir decisão judicialmente fundamentada. Para Nogueira (1991, p. 33) o ideal é que sejam criados no seio de sua família natural ainda que a família seja pobre, carente de recursos materiais. A família, quer de direito, quer de fato, não deixa de ser realmente o lugar ideal para a criação e educação da criança ou adolescente, pois será justamente em companhia de seus pais e demais membros que eles terão condições de um melhor desenvolvimento. A educação na família, desperta valores para enfrentar os desafios do cotidiano, é nela que está a base do pátrio poder. Só em casos excepcionais, mormente de abandono, é que devem ser colocados em família substituta, assegurando-lhes, no entanto, um ambiente sadio, ainda que modesto desenvolvimento (NOGUEIRA, 1991).

Nessa linha, Maçura, Cury e Garrido de Paula (199l) apud Ishida (2011) afirmam que somente na hipótese de direitos fundamentais ameaçados ou violados, permite-se a colocação da criança e do adolescente em família substituta. Ademais esses têm o direito de serem criados em ambientes saudáveis, livres de entorpecentes, podendo, no caso, serem afastados do genitor ou do responsável legal, conforme disposto no art. 130 do ECA: “Art. 130. Verificada a hipótese de maus-tratos, opressão ou abuso sexual impostos pelos pais ou responsável, a autoridade judiciária poderá determinar, como medida cautelar, o afastamento do agressor da moradia comum” (BRASIL, 1990).

Destaca-se que as atividades de prevenção do uso indevido de drogas relativas a criança e ao adolescente estabelecidas na Lei n. 11.343 (art. 19 e § único) devem ser

compatibilizadas com as diretrizes do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA)1.

Além do direito à convivência familiar, para Ishida (2011, p. 34), “a criança e o adolescente possuem o direito fundamental de conviver na comunidade, ou seja, na coletividade, abrangendo os mais variados locais, como o bairro onde residem, a escola, o clube etc”, o que é fundamental para o seu perfeito desenvolvimento.

3.2.4 Do direito à educação, à cultura, ao esporte e ao lazer

A educação é um direito subjetivo da criança e do adolescente, e deve ser garantido pelo Estado. O art. 205 da Constituição Federal/1988 vincula a educação ao preparo para o exercício da cidadania, pois existe um objetivo que é de preparar o jovem para o mercado de trabalho. Assim, quanto mais educados a criança e o adolescente, mais capacidade terão de lutar e exigir os seus direitos (FERREIRA, 2001). A educação é um direito fundamental da criança e do adolescente, visando o seu pleno desenvolvimento como pessoa. Nesse sentido, Liberati (1991) afirma que a Carta Magna (arts. 205 a 214) assegura e disciplina a distribuição e a implementação do direito à educação, extensivo a todos os brasileiros e, em especial, à criança e ao adolescente. Nesse caso, é dever do Estado e da família promover sua distribuição e implementação, visando o pleno exercício da pessoa, seu preparo para a vida, para o exercício da cidadania e à sua qualificação profissional, sendo obrigação dos pais ou responsável a matrícula de seus filhos na rede regular de ensino.

Cury (2005) defende que o processo educacional que se dá na escola, para ser de qualidade, deve ser compreendido como complementar ao que cada um traz de sua história individual e coletiva, além de respeitar e valorizar os valores culturais próprios do contexto da criança e do adolescente, pois é importante dar-lhes condições de acesso à cultura de outros grupos sociais possuidores de outras histórias diferentes, mas igualmente importantes, pois a possibilidade de conhecer e trocar experiências e idéias que enriquece a todos faz acontecer os avanços sociais. A cultura, o esporte e o lazer constituem-se, também, direitos fundamentais da formação infanto juvenil, e é nos Municípios que as programações devem ser efetivamente desenvolvidas e contarem com o apoio do Estado e da União.

1 O Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA) foi criado em 1991, pela Lei n. 8.242/1991, tendo sido previsto

pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, como o principal órgão do sistema de garantia de direitos. Por meio da gestão compartilhada, governo e sociedade civil definem, no âmbito do Conselho, as diretrizes para a Política Nacional de Promoção, Proteção e Defesa dos Direitos de Crianças e Adolescentes (BRASIL, [2017], p. 01).

3.2.5 Do direito à profissionalização e à proteção no trabalho

O trabalho é fonte de produção e geração de empregos, e o desemprego afeta a faixa etária dos quatorze aos dezoitos anos, quando apresentam desvios de condutas motivados pela ociosidade. Para Ferreira (2001), o ECA segue o que dispõe o art. 7º, XXXlll da Constituição Federal que veda o trabalho de menor de quatorze anos, eminentemente pela necessidade de escolarização. Essa proibição impõe um desgaste prematuro à pessoa em formação, logo, evidentemente, não está abrangida pela proibição legal a participação dos filhos nos afazeres domésticos.

3.3 DA PREVENÇÃO DE OCORRÊNCIA DE AMEAÇA OU VIOLAÇÃO DOS DIREITOS

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