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3.4 ÉTICA E RELACIONAMENTOS

3.4.3 Das relações com a empresa e órgãos representantes

Os executivos, as organizações e os órgãos que representam a profissão do secretário exercem poder sobre o profissional; o primeiro por ser seu gestor imediato, o segundo por ser o empregador e o terceiro por ser a entidade que rege a categoria.

Cabe ao profissional, respeitar todos os poderes, tanto de seu gestor imediato quanto da organização, bem como dos órgãos representantes da profissão. Para melhor compreensão, vejamos o conceito de poder sob algumas visões, inclusive a de Calvino, que é a que mais nos interessa no momento.

3.4.3.1 O poder

Conceituamos o poder (do latim potere) como a capacidade que um indivíduo ou grupo de indivíduos tem de provocar a aceitação e o cumprimento de uma ordem (FERREIRA, 1986; CUNHA, 1991). Para Weber e Cohn (1982, p. 31), o “poder são processos que envolvem a capacidade de certos agentes obterem obediência para seus mandatos.” Já May (1981, p. 75) entende que “poder é a capacidade de causar ou impedir mudanças” e Robbins (2002, p. 352) acredita que “[...] refere-se à uma capacidade que A tem de influenciar o comportamento de B, de modo que B haja de acordo com os desejos de A.”

Do ponto de vista da ética cristã, Nash (apud HENRY, 2007, p. 454-455) assegura que “poder é a força ou a capacidade de se produzir os resultados intencionados. [...] Todo poder deveria ser considerado em sua relação com Deus. Todo poder vem de Deus e a Ele pertence.”

No conceito apresentado de que todo poder pertence a Deus e que foi instituído por Ele, podemos entender que os órgãos e pessoas que detêm o poder, automaticamente, receberam a permissão e foram revestidos por Deus para em tal condição estarem.

Nesse contexto, Weber (1999b, p. 397), ao falar sobre as autoridades e a relação de poder, esclarece que

as relações de poder humanas que daí resultam são relações de autoridade desejadas por Deus, e rebelar-se contra elas ou reclamar por uma vida diferente daquela que corresponde à ordem estamental é um ato

de soberba da criatura que contraria a vontade divina e infringe a tradição sagrada. Dentro dessa ordem orgânica está atribuída aos virtuosos da religiosidade, sejam estes de caráter ascético ou contemplativo, sua tarefa específica: criar o tesouro das boas obras excedentes, a partir do qual é dispensada a graça institucional, do mesmo modo como são indicadas aos príncipes, guerreiros, juízes, artesãos e camponeses suas funções especiais.

Além disso, o poder é determinado de diversas maneiras e o PSE também o detém, na medida em que adquire o conhecimento e domina a rotina, os assuntos que por ele passam e os projetos desenvolvidos pela organização. Vejamos um pouco sobre esse poder, chamado “poder de perícia”, que todo PSE adquire com a experiência e o tempo.

3.4.3.2 A ética e o poder de perícia do PSE

Quando Robbins (2002) trata sobre as bases do poder, em seu livro

Comportamento organizacional, classifica cinco formas de poder, quais sejam: poder

coercitivo, poder de recompensa, poder legítimo, poder de perícia e poder de referência. Para nossa pesquisa, levando em conta o PSE, o poder de perícia é a classificação que nos interessa.

Segundo o autor, este é “[...] o poder do conhecimento, do talento, das habilidades técnicas. Portanto, quanto mais conhecimento, maior o poder.” (ROBBINS, 2002). Ainda, ao descrever esse tipo de poder, aborda as mesmas características que Dinsmore (1989) trata nos poderes de conhecimento ou experiência e competência.24

Temos, aqui, dois profissionais que se inter-relacionam e são interdependentes. O primeiro detém o poder legítimo, seu cargo e sua posição na organização; estamos nos referindo ao executivo. O segundo, na maioria das vezes, detém o poder de perícia e sabe muito sobre a forma metodológica, técnica e o desenvolvimento de projetos; trata-se do secretário, que é o profissional qualificado para uma assessoria eficaz.

Nesse sentido, encontramos, na obra de Maerker (1999, p. 63), o poder descrito da seguinte forma:

24 Paul Dinsmore (1989) informa que as organizações classificam o poder sob seis diferentes aspectos: formal, informal, propriedade, tradição, experiência ou conhecimento e competência.

Levando em conta que a secretária é uma das principais fontes do executivo, quanto mais o tempo passa, quanto mais ela se envolve com o negócio, os clientes, os fornecedores e os demais profissionais da empresa, mais ela se torna um centro vital de informações – o que realmente lhe confere um poder significativo.

Podemos dizer que o PSE conquista o poder de perícia por competência, conhecimento e experiência. No entanto, não haverá a menor possibilidade de ele exercer seu ofício se não houver um relacionamento íntegro, de confiança e fidelidade, tanto com o executivo quanto com a organização. Novamente, citamos Dinsmore (1989, p. 11): “Do ponto de vista da empresa, a atração das pessoas pelo poder deve ser vista como salutar, pois, quando bem direcionado, este ajuda impulsionar a empresa para frente.”

Sem intenção de estabelecer um prejuízo25 e voltando à visão de Lange e Domke (2001), o poder bem direcionado não é o que percebemos na vida dos “Cains”; antes, eles usam do poder para se autopromover, sem a preocupação com o próximo. Os autores relatam que Caim busca o poder e que

o poder é sua ideologia, seu amigo, sua concubina, sua amante, sua paixão. Qualquer interesse além desse, além da luta pelo poder, lhe importa muito pouco. [...] Diferentemente de Abel, que se concentra em fazer seu trabalho, Caim pensa apenas no poder- em como alcança-lo, como preservá-lo, como estendê-lo, como utilizá-lo para seus objetivos. [...] Quando conveniente, os Cains irão formar aliança de curto prazo uns com os outros. Enquanto seus interesses coincidirem, eles formarão uma equipe formidável, protegendo uns aos outros quando necessário e unindo-se para atacar rivais quando for o caso. Na maioria das vezes, entretanto, desentendimentos serão inevitáveis, pois, dada a natureza deles, não hesitarão em enganar-se uns aos outros. (LANGE; DOMKE, 2001, p. 37-41).

É importante que o PSE esteja alerta aos “Cains” espalhados pelas organizações. É necessário, ainda, que saiba como utilizar o poder de perícia e bem direcioná-lo para que tenha como consequência resultados eficazes, que impulsionem o crescimento da empresa, bem como o sucesso do executivo. Logo, o zelo e o amor para com a profissão são fundamentais na administração do poder. Além disso, segundo a ética cristã e de acordo com Nasch (apud HENRY, 2007, p. 454),

quando o homem usa mal seu poder, torna-se escravo das próprias forças que Deus concedeu para o seu controle. [...] Todo abuso de poder

25 Entender como juízo antecipado, que não exige uma comprovação dos fatos de acordo com o rigor da lógica.

constitui uma quebra de confiança, destrutiva para o abusador e injuriosa para a glória de Deus entre suas criaturas [...].

Voltemos ao pensamento de Calvino (2007) sobre a responsabilidade de quem tem ou está no poder. De acordo ele, o poder é permitido por Deus e quem o usa de forma negligente está negligenciando contra o próprio Deus, sendo que tanto servos quanto senhores prestarão contas ao mesmo Deus, que é Senhor de ambos.

Nesse contexto, o respeito será conquistado de acordo com a conduta do PSE, que deve ser correta, cumprindo sempre de forma honesta todas as suas tarefas. Dessa forma, fica mais fácil conduzir e administrar o poder de perícia, utilizando-o como facilitador do poder legítimo, que pertence somente ao executivo.

A autora da obra Secretária: uma parceira de sucesso informa-nos como o profissional de secretariado deve agir em relação ao poder:

Administrar o poder do cargo é uma tarefa difícil tanto para ela quanto para o executivo. Se a secretária se afirma por intermédio da posição que ocupa é porque deixou de ser uma boa profissional. Consiste em erro grave tomar para si a influência e o poder que o parceiro possui dentro da empresa, passando a utilizá-lo inadequadamente. (MAERKER, 1999, p. 67).

3.4.3.3 A ética e o relacionamento com a empresa

O relacionamento entre o PSE e a empresa é de troca. No caso do PSE, é a prestação de serviços de assessoria, em troca da remuneração e benefícios oferecidos pela empresa ou empregador. No Dicionário de ética cristã, em relação ao emprego, Robert P. Benjamin (apud HENRY, 2007, p. 207) faz o seguinte esclarecimento:

Chama-se de emprego a relação entre o empregador (mestre) e o empregado (servo) para um serviço voluntário, remunerado ou não, por parte do empregado para o benefício mútuo de ambas as partes. [...] O empregado tem deveres expressos e implícitos para com seu empregador. O empregador deverá cumprir os termos expressos no contrato de trabalho. As obrigações implícitas incluem a obediência (Ef 6.5-8), fazer o melhor serviço possível, evitar o roubo do tempo do empregador pela ociosidade, lerdeza ou atrasos, e, finalmente, ser leal a seu empregador (Tt 2.9-10).

Há um vínculo, um compromisso e, consequentemente, obrigações que precisam ser respeitados por ambas as partes. Nesse relacionamento, ainda há o

executivo ou superior imediato, que está entre o PSE e o órgão empregador e também exerce poder sobre o secretário, como já mencionado anteriormente, sendo o executor do poder legítimo.

Calvino (2006a), ao comentar sobre a realização do serviço, diz que o trabalho deve ser realizado independentemente da presença do “senhor”, pois as obrigações dos “servos” devem, em primeiro lugar, ser realizadas para agradar a Deus. Ele afirma que “[...] os servos sejam diligentes e prestativos para com os seus senhores, procurando agradá-los com o seu serviço – não somente quando vistos por eles, mas também de coração, como estando servindo a Deus.” (CALVINO, 2006a, p. 207). Ressalte-se que tal orientação também chega aos “senhores”, para que estes cumpram suas obrigações perante seus empregados.

3.4.4 As relações com as entidades da categoria e a obediência e aplicação do