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De 1943 a 1968 Aquisição por AMA, consequentes intervenções

PARTE I – CONTEXTO: O FUNDADOR E A SUA COLEÇÃO

CAPÍTULO 3. O EDIFÍCIO DE CASA DE FAMÍLIA A CASA-MUSEU

3.2 De 1943 a 1968 Aquisição por AMA, consequentes intervenções

Por escritura de 22 de dezembro de 1943, o casal Medeiros e Almeida compra à Sociedade Agrícola do Cassequel, pela quantia de um milhão seiscentos e setenta mil escudos, o edifício número 6 da rua Mouzinho da Silveira104, já que o palacete se situava

perto da casa dos pais de AMA, situada no nº 12 da mesma rua.

Em 1944, Medeiros e Almeida contrata o arquiteto Carlos Ramos105 (1897-1969) para

efetuar as remodelações e melhoramentos necessários à instalação definitiva do casal. Na memória “descritiva e justificativa” do projeto de CR, datado de 1945, previa-se: “…a

substituição de todos os revestimentos de paredes e tetos (…) quasi todas as divisórias interiores, construídas em madeira, serão substituídas por paredes a uma e a meia vez de tejolo (…). Toda a instalação de energia eléctrica, redes de esgotos, distribuição de aguas quentes e frias serão executadas de novo…”106. A casa foi ainda equipada com todas as

comodidades necessárias à época107 e a estrutura não foi descurada, tendo-se reforçado

102 A Sociedade Agrícola do Cassequel tinha sede em Benguela, Angola e escritórios em Lisboa. Foi fundada em

1913 por José Mª do Espírito Santo Silva, dedicando-se aos negócios do açúcar, do sisal e do algodão. DAMAS, José Alberto, José Maria do Espírito Santo Silva, De Cambista a banqueiro, p.872 [Em linha], [consult. 9 Jan.

2016]. Disponível em WWW: <URL:

http://analisesocial.ics.ul.pt/documentos/1223312713W5oVZ8ze9Zs04AU8.pdf>

103 AMA compra ainda alguns bens móveis que se encontravam no prédio por 671.000$00. Carta. Lisboa, 15 jul.

1943. Pasta VI, Espólio documental – Arquivo FMA. Devido a atraso nas obras do edifício da Avenida Luís Bivar, a Nunciatura mantém-se na casa até Agosto de 1943. Carta. Lisboa, 10 set. 1943. Pasta VI, Espólio documental – Arquivo FMA

104 Freguesia de Camões na altura, depois Freguesia do Corpo Santo (hoje de Sto. António). Escritura de

Compra. Lisboa, 22 dez. 1943. Pasta VI, Espólio documental – Arquivo FMA

105 Carlos João Chambel Ramos - adiante referido com o acrónimo CR -, arquiteto, urbanista e docente é um

dos pioneiros da arquitetura modernista portuguesa. [Em linha], [consult. 9 jan 2016]. Disponível em WWW: <URL: https://pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_Jo%C3%A3o_Chambers_Ramos>

Petição para licença de obras. Lisboa, 6 jan. 1944. Caderno de Encargos, Lisboa, 28 mai. 1944. Pasta VI, Espólio documental – Arquivo FMA.

106 Neste documento constam ainda as seguintes intervenções: abertura de quatro salas em enfilade criando

um grande salão no andar nobre que era servido por três janelas/portas de acesso à varanda e jardim, a remodelação da escadaria nobre que se construiu com três lanços e balaustrada em madeira de sicupira (substituindo os dois lanços antigos e o gradeamento em ferro) e a instalação de três casas de banho no primeiro andar de serviço aos dois quartos de dormir.

Projeto de alterações, Processo CML nº4120/945, Lisboa, 30 jan. 1945. Pasta VI, Espólio documental - Arquivo FMA. Vide Anexo II, 8

107 No piso térreo (cave) criou-se uma completa zona de serviço (o pessoal incluía um chefe, uma ajudante de

cozinha, dois criados de mesa e duas criadas de quarto) com uma moderna cozinha, uma câmara frigorífica, uma despensa, arrecadações, um elevador monta-pratos que servia a casa de jantar (situada no rés-do-chão) e o andar dos quartos, um sistema elétrico de chamada dos empregados, uma área de engomados e ainda

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diversas divisões com recurso ao uso de betão armado e procedido à colocação de vigas horizontais onde se mostrou necessário.

Criou-se assim uma moderna vivenda com garagem e jardim108, numa área

construída de cerca 1.792m², que contava com uma cave totalmente equipada para o serviço doméstico. O andar nobre integrava diversas divisões como um grande salão, um escritório/biblioteca, a casa de jantar, copa e uma pequena casa de banho de visitas, divididas por um amplo corredor central. Os apartamentos privados do primeiro andar – seguindo o mesmo tipo de distribuição axial - eram compostos pelo oratório/capela, um quarto de roupeiros, um quarto para hóspedes com casa de banho, uma salinha íntima. O quarto de casal era servido por uma divisão de descanso e duas casas de banho nos extremos. Os dois andares de mansarda (acessíveis pelo torreão) eram dedicados ao alojamento do pessoal e à arrumação.109110 (fig.s 45-46) Nesta época, o oratório privado do

sótão foi transferido para duas divisões no primeiro andar. Este espaço viria a ser consagrado em Junho de 1946 pelo Cardeal Cerejeira111, numa cerimónia que foi registada pelo fotógrafo

Mário Novais.

Ao nível da decoração arquitetónica também se identificam as intervenções do arquiteto CR, como a colocação de elaborados parquets no andar nobre, o desenho da lareira do salão (em mármore verde de Viana), o arranjo do vestíbulo de entrada forrado a mármore e da escadaria nobre onde se rasgaram três grandes janelões ladeados por colunas do mesmo mármore.112 Em dezembro de 1945, AMA envia um cheque a Carlos Ramos,

cofre-forte. No andar dos quartos de dormir, uma divisão foi inteiramente forrada com roupeiros de três metros de altura, as duas casas de banho do casal foram revestidas a mármore e equipadas com toalheiros quentes e radiadores e criou-se uma pequena copa para serviço aos quartos.

108 A. Van Bellinghen, Lisboa, foi contratado para “obras de construção” no jardim da Mouzinho da Silveira.

Recibos. Lisboa, 19 mar./ 17 jun. 1946. Pasta VI, Espólio documental – Arquivo FMA

109 Entre 1953 e 1967 existem ainda diversos pedidos de alterações submetidos à CML que não interferem nas

caraterísticas gerais do edifício. Pasta V, Espólio documental – Arquivo FMA

110 O arquiteto Carlos Ramos fez um detalhado álbum de fotografias que documenta o decorrer das obras.

Pasta VI, Espólio documental – Arquivo FMA

111 Certificado nº 50 aprovado pelo Papa Pio XII, Nunciatura Apostólica. Lisboa, 13 dez, 1946. / O privilégio de

ter uma capela privada foi concedido pela Chancelaria do Patriarcado de Lisboa e pressupunha, entre outras, a obrigação de: “Celebrar-se no Dito Oratório o Santo Sacrifício da Missa ao menos uma vez cada semana

(…).”Provisão de Concessão de licença para se conservar o Santíssimo Sacramento num Oratório pertencente aos suplicantes, Lisboa, 27 jan. 1947 (e anos seguintes). Pasta I, Espólio documental - Arquivo FMA

112 Um relatório de autoria desconhecida, datado de 1947, valoriza parte das obras efetuadas em 2.874.553$48.

“Despesas efectuadas com a transformação da moradia do Exmº Senhor António de Medeiros e Almeida, na Rua Mousinho da Silveira Nº6, segundo os elementos que possuo”, Lisboa, 9 jul. 1947. Pasta VI, Espólio

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referindo: “…Agradeço a colaboração que me deste da qual prescindo a partir deste

momento, visto as obras estarem quase concluídas…”113

Enquanto decorrem as obras, o casal, que já tinha deixado a anterior morada, muda- se para o Hotel Aviz (1944-1946), coincidindo aí com a estadia de Calouste Sarkis Gulbenkian. Não há porém qualquer registo de convivência entre o casal e o colecionador arménio que ali habitou de 1942 até à sua morte em 1955, apesar de consultarem o mesmo médico; o Dr. Fernando da Fonseca (1895-1974).

Com a mudança em 1946, o casal MA inicia a decoração da sua habitação. O programa decorativo - adiante tratado - vai acompanhar a disponibilidade financeira de AMA.