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PARTE I – CONTEXTO: O FUNDADOR E A SUA COLEÇÃO

CAPÍTULO 3. O EDIFÍCIO DE CASA DE FAMÍLIA A CASA-MUSEU

3.3 De 1968 a 2001 Transformação em espaço público

3.3.1 De 1971 a 1980 – Conclusão da obra, a museografia

A 4 fevereiro de 1971, AMA convida Alberto Cruz a dirigir as obras do seu projeto museológico no entanto, em maio desse ano, o contrato é quebrado por AMA que se queixa:

“…Não está em dúvida a sua elevada competência, mas o facto é que a organização do seu atelier é deficiente para o muito trabalho que tem…”.122 O arquiteto Frederico George (1915-

119 Processo nº 6028/OB/1970. Lisboa, 14 nov. 1970 / Processo nº1034/OB/1971, s.l. (Lisboa), s.d. (1971). Pasta

VI, Espólio documental – Arquivo FMA.

120 A compra dos tetos em madeira – nomeadamente um teto de grandes proporções em caixotão decorado

com representações dos quatro continentes (FMA 449) - condicionou a planta da chamada “sala do lago”, justificando novo projeto pela mão de Frederico George, a substituir o de Alberto Cruz. Pedido 1034/OB/1971, s.l. (Lisboa), s.d. Pasta VI, Espólio documental – Arquivo FMA

121 “Alterações ao Projecto de Alteração que o Exmo. Sr. António de Medeiros e Almeida pretende mandar

executar na sua moradia sita na Rua Rosa Araújo Nº37 – Freguesia do Coração de Jesus em Lisboa”. Plantas e

Alçados, s.l. (Lisboa), s.d. (c.1968-69). Pasta VI, Espólio documental – Arquivo FMA

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1994)123 é então contratado para finalizar a obra124. Do seu trabalho destaca-se o novo

projeto para a chamada “sala do lago” que integrou, como peça chave, um teto de caixotão em madeira, entretanto adquirido.125 (fig.50)

Paralelamente, o arquiteto Sommer Ribeiro (1924-2006)126 é convidado para

elaborar o programa museográfico da Casa-Museu sendo-lhe solicitado também um plano para a realização do inventário do acervo. A escolha de SR deve-se certamente à sua experiência e prestígio, já que era, na altura, o diretor do Serviço de Exposições e Museografia da Fundação Calouste Gulbenkian, instituição que AMA admirava e na qual se baseou para construir o seu projeto. (vide Parte II Cap. 2, 2.1) O plano de trabalho de SR que incluía a contratação de um engenheiro eletrotécnico e desenhadores-decoradores127 foi

aprovado, tendo a equipa iniciado funções de imediato, visto os trabalhos de construção civil estarem em fase de finalização.

No âmbito do projeto de museografia, entre 1971 e 1974, SR desenha os pavimentos em mármore da ala nova (capela, ante capela, átrio, galeria nova, galeria de cima, sala do lago, galeria de baixo, sala dos relógios e sala das porcelanas) bem como, os pormenores dos mármores e cantarias – em mármore de Estremoz, de Portalegre e em lioz - e demais elementos em mármore (colunas, plintos, ombreiras, aduelas, etc.). São ainda de desenho de Sommer Ribeiro as diversas vitrinas de exposição para a capela, ante capela, sala do lago, sala dos relógios e sala das porcelanas, na maioria em perfil metálico e a instalação do teto de madeira na sala do lago criando uma cobertura de quatro águas no telhado.128 Criaram-

se ainda algumas vitrinas em madeira, na sala do piano e na sala Luís XIV, bem como, sendo

123 Frederico George, arquiteto e pintor, doravante mencionado com o acrónimo FG. [Em linha], [consult. 9 jan

2016]. Disponível em WWW: <URL: https://pt.wikipedia.org/wiki/Frederico_George#cite_note-Enci-6>

124 Anos mais tarde, Frederico George escreve a Simonetta Luz Afonso: “…Suponho ter sido sugestão do

Fernando Cruz a minha intervenção nesses trabalhos. Passando-me o encargo, acrescentou aquele que já não havia desenhadores que soubessem desenhar o clássico”. Carta FG a SLA, 17 mar. 1989. Pasta VI, Espólio

documental – Arquivo FMA

125 “Procurei nestas condições interpretar os desejos do Sr. Ant. Medeiros de Almeida realizando com algum

equilíbrio, julgo eu, aquilo que fui incumbido.” Idem. Pasta VI, Espólio documental – Arquivo FMA

126 O arquiteto José Aleixo da França Sommer Ribeiro - adiante referido com o acrónimo SR - esteve envolvido

desde 1956 nos projetos arquitetónicos da sede e museu da Fundação Calouste Gulbenkian tendo ocupado, entre outros, o cargo de diretor do Serviço de Exposições e Museografia da FCG (1969-1983) e de primeiro diretor do CAMJAP – Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão (1983-1994). [Em linha], [consult. 9 jan. 2016]. Disponível em WWW: <URL: http://fasvs.pt/exposicoes/view/78>

127 Projeto “Casa-Museu de António de Medeiros e Almeida”. Lisboa, 3 fev. 1971. Pasta VI, Espólio documental

– Arquivo FMA

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esta a única intervenção registada na ala antiga da casa, na “copa” anexa à sala de jantar (hoje Sala das Pratas) cujas paredes foram inteiramente forradas com vitrinas. 129 (fig.s 51-

52)

SR foi ainda responsável pela instalação e acomodação de diversas peças que iam sendo entretanto adquiridas para a ala nova: três salas foram forradas com apainelados e tetos de madeira, na sala do lago procedeu-se à colocação das estátuas, do lago e à aplicação dos painéis de azulejos, na galeria de cima instalaram-se o teto de caixotão e azulejaria. Vários lances de escadas foram criados e na capela foi necessária a integração do altar-mor (vindo do oratório do 1º andar) de painéis de azulejos, da teia de separação e dos barrotes do teto.

Quanto aos aspetos técnicos, recorrendo aos seus conhecimentos, SR contrata os trabalhos de iluminação para a nova ala e contacta a empresa de segurança francesa que tinha equipado o Museu Calouste Gulbenkian, no sentido de orçamentar um sistema antirroubo para a Casa-Museu.130 Montado em 1972, o sistema equipa com alarmes o

circuito da Casa-Museu (incluindo portas, janelas e vitrinas).131

No que respeita à conservação preventiva, SR solicita um parecer ao Eng.º Massano de Amorim, que entrega a AMA um extenso relatório elaborado para o Museu C. Gulbenkian132, porém, o sistema de tratamento do ar não chegou a ser implementado em

vida do fundador.

Após as obras que acabaram nos inícios da década de oitenta, o espaço passou a contar com uma área bruta construída de 2.063,60m² sendo que, as dependências expositivas totalizavam 1.734m² (dois pisos da casa e dois sobre o jardim).133 (fig.s 53-54-55)

129 A Casa-Museu não possui uma memória descritiva do projeto de museografia de SR mas possui diversos

desenhos de pormenor, cortes, alçados e plantas datados de 1971 a 1974 feitos para o “Museu Particular

António Medeiros de Almeida”. Pasta VI, Espólio documental – Arquivo FMA

130 AMA tinha visto em Paris um sistema de radar que queria instalar na Casa-Museu “…cette instalation pourra

être utile, spécialment en vue d’éliminer des rondes nocturnes. Lisboa, 27 set. 1972. Pasta VI, Espólio

documental – Arquivo FMA

131 Ante-Projeto do Sistema Contra Roubo da Casa-Museu Medeiros e Almeida, certificado pela PROFABRIL,

Centro de Projectos Industriais, s.a.r.l., 10350/84/72. Lisboa, ? 1972. Pasta VI, Espólio documental – Arquivo FMA

132 O engenheiro Amorim dirige uma nota a AMA: “É um assunto maçador mas de algum interesse para o Museu

e que foi escrito e estudado para o Museu Gulbenkian. É aplicável ao seu Museu.”, Relatório Conservação

Preventiva. Lisboa, 2 set. 1972. Pasta VI, Espólio documental – Arquivo FMA

133 Em 1975, AMA encomenda um estudo de avaliação das suas propriedades que apresenta os seguintes

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Quando Medeiros e Almeida morre em 1986, o projeto de instalação da Casa-Museu estava concluído porém, a Casa-Museu não estava ainda aberta ao público…134