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PARTE II – O PROCESSO DE INSTITUCIONALIZAÇÃO: DE COLEÇÃO PRIVADA A ACERVO

CAPÍTULO 2. A FMA FUNDAÇÃO MEDEIROS E ALMEIDA

2.4 Morte do colecionador O testamento

Medeiros e Almeida morre a 19 de fevereiro de 1986. As suas últimas vontades ficaram expressas em testamento público outorgado a 21 de setembro de 1984 e parcialmente alterado a 20 de agosto do ano seguinte.

No texto introdutório do testamento, destaca a Fundação Medeiros e Almeida enquanto a sua maior obra que coroa uma longa vida de trabalho: “…Depois do falecimento

da sua muito querida mulher […] Que ele testador passou então a dedicar-se com mais amor à Fundação que criou, e que constitui a cúpula de uma longa vida de trabalho intenso e escrupulosamente honesto, onde se encontram hoje investidos quasi todos os seus haveres, resultantes desse trabalho e que teve a maior satisfação em doar ao seu País, por considerar, que ele é o maior merecedor legatário desse vultoso património…”303

Das várias disposições testamentárias destacam-se as respeitantes ao futuro da Fundação Medeiros e Almeida: “…À “Fundação Medeiros e Almeida” deixo a parte do terreno

que me pertence […] Se não tiver resolvido de outra forma, deixa a sua posição de acionista maioritário da “Sinaga – Sociedade de Indústrias Agrícolas Açoreanas SARL” à Fundação Medeiros e Almeida mas este legado fica sujeito aos encargos adiante mencionados: em primeiro lugar a Fundação deverá, o mais rapidamente possível, promover a venda, em bloco, da sua referida posição acionista maioritária da Sinaga […] promover a construção de um imóvel de rendimento no terreno atrás referido […] O rendimento desse imóvel reverterá

303 “Testamento que faz António de Medeiros e Almeida”. 17º Cartório Notarial de Lisboa, 21 set. 1984, livro de

96 para […] a Fundação fazer face, não só à sua própria manutenção, como também custear bolsas de estudo no domínio da arte […] Se, pelo contrário, o referido produto de venda, depois de pagos os legados, não chegar para a construção do imóvel, então o Conselho Administrativo da Fundação deverá tomar as medidas necessárias, nomeadamente através da contratação de um empréstimo para executar a obra de construção…”

No que respeita à Fundação o testamento não apresentou qualquer novidade pois, as disposições relacionadas com a FMA, já estavam contempladas nos seus estatutos (vide Parte II, 2.2). Destaca-se por não estar expresso nos estatutos, o legado da posição maioritária da SINAGA - Sociedade de Indústrias Agrícolas Açorianas, SARL.304 Este legado

advém do facto de AMA não ter conseguido realizar a alienação das ações em vida.

Em relação aos bens imobiliários e móveis poucas foram as disposições tomadas no testamento pois AMA já tinha doado à FMA praticamente a maioria do seu património.

Quanto a uma possível extinção da FMA, em aditamento ao testamento, realizado a 20 de agosto de 1985, AMA dispõe: “Caso a Fundação deva extinguir-se pelos motivos

previstos nos seus estatutos, todo o património a ela afecto reverterá para a Fundação Casa de Bragança, que deverá assegurar a sobrevivência do Museu com a manutenção nas actuais instalações, da unidade, de toda a colecção artística nelas existente, exposta e armazenada, bem como o cumprimento dos seus fins estatutários.”305

Para salvaguardar o cumprimento das suas últimas vontades: “…Nomeia seus

testamenteiros, primeiro Dr. Tito Castello Branco Arantes; Dr. João Manuel Santos Lima Oliveira da Silva; terceiro Dr. Carlos Pinto Basto Bobone; quarto o Sr. Adolfo de Lima Mayer, aos quais aqui deixa o seu profundo reconhecimento por terem anuído ao seu pedido e aos quais confere poderes para cumprirem os legados e mais encargos da herança…”.

Dias após a morte de AMA, o seu advogado e amigo de longa data Tito Arantes convoca – enquanto novo Presidente do Conselho Administrativo e primeiro testamenteiro

304 Legado esse condicionado à sua venda, sendo que o produto da venda se destinava a proporcionar a

construção de um prédio no terreno doado à FMA. A disposição relativa à construção do edifício já está expressa no Cap. II, art.4º, d) -1). Estatutos FMA finais. Pasta VII. Espólio documental – Arquivo FMA. Vide Anexo 16

305 “Testamento que faz António de Medeiros e Almeida”. 17º Cartório Notarial de Lisboa, 20 ago. 1985, livro

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uma reunião destinada a dar conhecimento aos herdeiros das disposições testamentárias.306

A 11 de Março reúne-se pela primeira vez o CA e o Conselho Fiscal sendo tomadas as seguintes decisões: “…Escolha dos objectos pessoais do Instituidor […] Inventário dos bens

móveis da Fundação […] O Dr. João Palma-Ferreira ficou de procurar conseguir a colaboração de técnicos dos serviços que superiormente dirige (IPPC) […] a questão da segurança tendo ficado desde já decidido activar as máquinas fotográficas instaladas no interior […] Avaliação da Sinaga […] Assembleia Geral da Sinaga.”307

Em nova reunião de 22 de agosto Tito Arantes renuncia enquanto primeiro testamenteiro, cargo que passa a ser ocupado por Oliveira da Silva. Na reunião é apresentada uma “Relação de bens para os autos de liquidação do Imposto sobre Sucessões nº2126,

instaurado por óbito de António de Medeiros e Almeida” 308; entre os ativos contam-se títulos

de crédito, dinheiro, bens móveis e bens imóveis (ações - nominativas e ao portador de empresas portuguesas e estrangeiras -, obrigações do Tesouro, valores em contas bancárias em Portugal e no estrangeiro e bens pessoais) que foram entregues de acordo com as disposições testamentárias, à Instituição, a familiares e aos colaboradores.

Em reunião de dia 1 de outubro de 1986, de modo a completar o Conselho de sete membros estabelecido estatutariamente, é eleito como administrador o sobrinho e testamenteiro Carlos Pinto Basto Bobone para ocupar a vaga deixada pela morte de AMA.309

Em janeiro de 1992 Tito Arantes que, por motivos de saúde, já se fazia representar no CA há vários anos, renuncia enquanto Presidente do Conselho Administrativo da Fundação passando a ocupar a posição, conforme disposto por AMA, o advogado João Oliveira da Silva.310 Em maio de 1993 o CA elege para o lugar deixado vago por Tito Arantes, Ana Costa

Cabral sobrinha-neta de AMA, por parte da família Almeida.311

Estava completo o presente Conselho Administrativo da Fundação Medeiros e Almeida. Restava aos testamenteiros e aos membros do CA lançar “mãos à obra” e cumprir os desejos do instituidor.

306 Ofício Tito Arantes, Lisboa 26 fev. 1986. Pasta VII. Espólio documental – Arquivo FMA

307 Livro de Actas da Fundação Medeiros e Almeida, fls 9-10. Pasta VII. Espólio documental – Arquivo FMA 308 Relação de Bens, Lisboa, 3 ago. 1986. Registada a 13 ago. 1986 - Repartição de Finanças do 9º Bairro de

Lisboa. Pasta VII. Espólio documental – Arquivo FMA

309 Livro de Actas do Conselho Administrativo, nº1, fl.18. Pasta VII. Espólio documental – Arquivo FMA 310 Lidem, fl.71

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