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3. A RÁDIO FEDERAL FM E SUAS NARRATIVAS

3.1. De Cosmos à Federal FM – As mudanças não foram só no nome

Este capítulo apresentará os resultados da pesquisa tendo como base a Rádio Federal FM, as modificações pelas quais o meio de comunicação passou e como o ofício de radialista foi impactado por essas mudanças, fazendo com que o rádio se mantenha como veículo de comunicação até hoje. A análise se dará, principalmente, a partir das narrativas dos radialistas da Rádio Federal FM, análise de fontes documentais e impressas.

Além de um breve recorte sobre a história da emissora em seu website, registros de seu patrimônio humano e produção técnica dos mesmos ainda são pouco explorados e difundidos, especialmente no que tange ao papel do ofício de seus radialistas e seus amoldamentos profissionais em busca de espaço sobrevivente em um mundo multimídia, que forçaram diversas vezes o rádio a rever sua programação para manter seus públicos.

O FM já foi um avanço em relação ao AM, o AM já é um equipamento mais poderoso, mas enfim essas diferenças técnicas que tu poderás te informar melhor, porque eu posso até te dizer alguma coisa que não seja bem verdadeira, mas em princípio o AM é um equipamento bem mais pesado que exige muito mais e ele está inclusive acabando agora, ele tem aí uma mudança de estratégia nas ondas que vai sepultar o AM e as rádios vão ser todas trocadas para FM, para Frequência Modulada. (LOPES, 2017).

A Rádio Federal FM, frequência 107,9 FM, funciona a partir da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e foi a primeira emissora de caráter educativo a funcionar em canal de FM no Rio Grande do Sul (FONSECA, 2007). Na época já existiam rádios educativas no estado, porém em Amplitude Modulada como mostra Zuculoto (2015):

A primeira foi a Rádio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, uma AM inaugurada oficialmente em 1957, em Porto Alegre,

capital gaúcha. Outra AM universitária deste período é a da Universidade Federal de Santa Maria, no município do mesmo nome, igualmente no Rio Grande do Sul (ZUCULOTO, 2015, p. 71).

Em sua narrativa, Vera Lopes também relembra das duas primeiras rádios educativas do estado, a Rádio da Universidade e a Rádio Universidade AM, respectivamente da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e da Universidade Federal de Santa Maria.

No caso aqui, por exemplo, no Rio Grande do Sul nós tínhamos as rádios Educativas, a rádio da UFRGS que é uma das mais tradicionais e das mais antigas também, e que é uma AM, a rádio de Santa Maria, da Universidade Federal de Santa Maria que era AM, e depois começaram a vir as FM’s, porque aí já havia essa modernidade, que tornou o equipamento do rádio bem mais acessível tanto no preço quanto na tecnologia (LOPES, 2017).

De acordo com Ferraretto (2007), em 1972, a Rádio Itaí FM, iniciou suas transmissões em Porto Alegre. Já em Pelotas, a primeira FM foi a Rádio Alfa, inaugurada em 1979. Em sua narrativa, o jornalista Roberto Engelbrecht destaca que em Pelotas o rádio, em Frequência Modulada, chegou tardiamente. O motivo do atraso é que, à época, os equipamentos com possibilidade de sintonizar as emissoras FM eram muito caros, embora os carros fabricados já tivessem os aparelhos com FM.

Só para veres o atraso da coisa, aqui para nós, em 1974, o pai comprou um FM para ouvir a Itaí, depois entrou a Gaúcha e a Guaíba, em 1974 se ouvia lá, já tinha FM e aqui foi entrar em 1980. [...], mas só para ter uma ideia, lá em Porto Alegre, em 1974, os caras já tinham rádio que estavam transmitindo na grande Porto Alegre ali e para nós aqui, só em 1980 foi a primeira (ENGELBRECHT, 2017).

Em Pelotas, Engelbrecht recorda, em sua narrativa, como ocorreu a chegada do rádio FM e fala sobre as primeiras transmissões que foram realizadas por pessoas curiosas que se reuniam em grupos para explorar a nova tecnologia.

A primeira FM que entrou no ar foi a Alfa, mas tinha o tal do FM Discotec que era um trailer, ficava na Dom Joaquim com Parque Tênis, naquela pracinha ali, e os caras tinham um transmissorzinho, que transmitiam as músicas que tocavam no toca-fitas deles ali e juntava de gente, porque do carro dava para ouvir e os caras

colocavam o som e ficavam transmitindo para aquele bolinho ali (ENGELBRECHT, 2017).

A Rádio Alfa FM foi inaugurada em 1º de outubro de 1979, ligada à Universidade Católica de Pelotas, atualmente chama-se Mais Nova. Logo em seguida, em 8 de janeiro de 1981, a Rádio Federal FM, na época Rádio Cosmos, é inaugurada, sendo que já estava em funcionamento em caráter experimental desde 1980.

Pela equipe gestora das duas fases passaram nomes como os dos professores José Maria Marques da Cunha (1977-1984), Sebastião Ribeiro Neto (1984-1989) e João Manuel dos Santos Cunha (1989-1993), o jornalista Roberto Gustavo Engelbrecht (1993-2013), a jornalista Vera Lopes (janeiro de 2013 – julho de 2013), os professores Leandro Maia (Julho de 2013 – abril de 2014) e Ricardo Fiegenbaum (abril de 2014 – julho de 2016), a pesquisadora deste trabalho, Silvana Moreira (julho de 2016 – setembro de 2016) e atualmente é dirigida pelo publicitário Rafael Cavalheiro.

Em seu início, a Rádio Federal FM era vinculada a Pró-Reitoria de Extensão e Cultura, entretanto, em 1993, quando recebeu a atual nomenclatura, passou a lotação para a Coordenação de Comunicação Social da Universidade, por decisão do Conselho Universitário. José Marques da Cunha relembra sobre a indicação do nome Rádio Cosmos que foi dada pelo reitor Delfim Mendes da Silveira. “Ele escolheu o nome da Rádio, com o nome de Rádio Cosmos, e depois trocaram para Federal FM”. O novo organograma da Universidade, já com a nova nomenclatura mostra a estrutura pertencendo à Reitoria, dentro da Coordenadoria de Comunicação Social.

FIGURA 1 – ORGANOGRAMA DA UFPELA EM 06 DE MAIO DE 1993

Fonte: https://wp.ufpel.edu.br/scs/consun/resolucoes/. Acesso em: 20 de janeiro de 2019

A mudança gerou uma grande rejeição por parte da comunidade acadêmica. Segundo Vaz (2017) a ideia era se igualar à Rádio Universidade ligada a Universidade Católica de Pelotas. “E então criou esse nome Federal FM, que na época criou um mal-estar muito grande, porque Federal lembrava Polícia Federal, lembrava Rádio Patrulha, Polícia Rodoviária Federal, uma coisa assim...”. Muitas confusões entre as duas emissoras já vinham ocorrendo, como revela a narrativa de Engelbrecht:

A Rádio na época, a Cosmos, recebia correspondência para a Rádio Universidade Católica, se o próprio Correio fazia confusão com a Rádio da Católica e a Rádio da Federal, porque eles não... e vamos ter as duas com praticamente o mesmo nome. Rádio Universidade Federal de Pelotas, não... (ENGELBRECHT, 2017).

Em 6 de maio de 1993, por decisão do Conselho Universitário da UFPel, a Rádio Cosmos passou a se chamar Rádio Federal FM, através da Resolução 1/1993. Esta data está incorreta no website da emissora que aponta a decisão do Conselho como sendo do dia 18 de julho de 1992.

FIGURA 2 - ATA 1/1993 DO CONSELHO UNIVERSITÁRIO

Fonte: Arquivo do Conselho Universitário da UFPel

Engelbrecht (2017) relembra como ocorreu a mudança da parte técnica, como por exemplo, as vinhetas, que segundo ele ocorreu de forma gradual.

E a mudança, não foi que nem nós, que eu queria mudar da noite para o dia, se é para mudar então vamos mudar, mudar tudo, de Cosmos para Federal, que foi uma ordem do Conselho Universitário. Não vai mudando gradual. Isso não existe. Muda da noite para o dia, a Gaúcha mudou no outro dia era Atlântida, iniciou numa segunda- feira, todo mundo ouvindo a Gaúcha e não agora é Atlântida e morreu, ao tal ponto que apagou da cabeça das pessoas a gaúcha. O que que fizeram na Federal? Claro que ela tocou muito mais tempo. Mas, ah, muda gradual, aí muda isso, muda o nome do programa, muda as vinhetas, não, mas não muda agora, espera. Como que não cara? Tem que mudar tudo. E o ideal era preparar tudo antes e mudar.

Inicialmente, a emissora atingia as cidades de Pelotas, Capão do Leão, Canguçu, Morro Redondo, São Lourenço do Sul, Piratini, Turuçu, Pedro Osório, Rio Grande, Arroio do Padre, Pinheiro Machado, Candiota, Arroio Grande, Hulha Negra, Jaguarão, Bagé, São José do Norte, Mostardas, Tavares, Santa Vitória do Palmar e Santana da Boa Vista. Engelbrecht (2017) recorda que em uma viagem para Porto Alegre conseguiu sintonizar a rádio na capital: “Atingia Porto Alegre, eu na ponte de Guaíba eu ouvi ela, no carro”, afirma o radialista.

De potência ela chegou a alcançar, entrava em Bagé, teve pessoas ligando de Dom Pedrito, aqui, Caçapava, isso aqui tudo pegava tranquilo, Porto Alegre, Camaquã, Tapes... para baixo, Santa Vitória entrava, Chuí eu não lembro. Era um bom alcance (ENGELBRECHT, 2017).

Sem manutenção adequada, mais recentemente o transmissor perdeu potência e passou a alcançar apenas algumas cidades próximas à Pelotas. A Rádio Federal FM também pode ser sintonizada via internet, no endereço do seu website e em outros aplicativos de rádio. A radialista Zari Machado rememora que em alguns momentos o transformador estragava por conta da sobrecarga. Segundo a radialista o rádio ficava fora do ar várias vezes e algumas delas, dependendo do problema, por um longo período.

Caia um temporal e a Rádio saia fora do ar. Bah quando estourava aquela, como chamavam, o tipo de uma célula (válvula), a gente já ficava triste, porque poderia ser uma semana ou um mês fora do ar. Aí o pessoal malhava: - Ah, a Rádio vive fora do ar. Agora tem transmissor novo tem tudo, agora mudou, tem tecnologias novas, e tudo informatizado (MACHADO, 2018).

Maria Alice Estrella (2017) lembra de um período de aproximadamente seis meses em que a Rádio ficou fora do ar, por um problema no transmissor. A radialista conta que a emissora retornou ainda com problemas e os radialistas eram cobrados na rua, o que também sinalizava a sua audiência: “cobravam muito isso na rua e foi aí que eu me dei conta de como nós éramos ouvidos. Foi pelas cobranças: Poxa, a Rádio que eu mais ouvia, a Rádio Federal é dez, cadê a Federal? Cadê a Federal? Isso era constante, era diário este comentário na rua”.

Os problemas persistiram por muitos anos. Mais recentemente, entre setembro de 2018 e abril de 2019, a Rádio esteve fora do ar, operando com parte da programação apenas pela internet. Em abril, a Universidade conseguiu passar o transmissor para a nova torre e reiniciar as transmissões. A nova torre foi adquirida pela UFPel em 2016, porém, com a crise nas universidades, não conseguiu finalizar as obras de infraestrutura necessárias para a instalação do transmissor. O novo endereço do Parque de transmissões é a Rua Alberto Rosa, no antigo prédio da Associação Atlética Banco do Brasil (AABB).