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Sabe-se que a história das mulheres no Brasil e no mundo é marcada por preconceito e discriminação e que com muita luta e resistência, algumas conquistas foram surgindo, como a inserção em alguns espaços que antes eram ocupados apenas por homens. Aos poucos, as mulheres foram ocupando alguns espaços. Apesar da conquista paulatina das mulheres por espaço no mundo do trabalho, ao longo da história, ainda hoje são encontrados setores profissionais atribuídos à exclusividade masculina, ou em que há disparidade de salários entre homens e mulheres desempenhando a mesma função, ou, ainda, o desafio que muitas mulheres ainda enfrentam em conciliar vida profissional e afazeres domésticos.

Perrot analisa o espaço das mulheres na história e o aumento da visibilidade e conquistas nos espaços públicos e privados. Para a autora (2005, p. 251), “as mulheres sempre trabalharam. Elas nem sempre exerceram profissões”. Perrot chama a atenção para este fato, que, muitas vezes, impossibilita a mulher de vislumbrar posições mais altas dentro das empresas.

Mas as mulheres ficam, em seguida, presas a estas atividades que as monopolizam e, além disso, lhes oferecem pouca perspectiva de promoção salarial ou social, por serem voluntariamente limitadas. "Fazer carreira" é, de qualquer maneira, uma noção pouco feminina para uma mulher, a ambição, sinal incongruente de virilidade, parece deslocada. Ela implica, em todo caso, em uma certa renúncia, sobretudo do casamento (PERROT, 2005, p. 255, grifo da autora).

Já os estudos de Scott, que trabalha com a história do movimento feminista e das mulheres, tiveram relevante contribuição para a compreensão do conceito de gênero. Para ela (1991, p. 86), “o núcleo essencial da definição baseia-se na conexão integral entre duas proposições: o gênero é um elemento constitutivo de relações sociais baseado nas diferenças percebidas entre os sexos, e o gênero é uma forma primeira de significar as relações de poder”.

No momento em que a história passou a existir como ciência, por muito tempo, os historiadores eram homens que escreveram suas pesquisas tendo como base o ponto de vista masculino e os personagens masculinos da história.

A conexão entre a história das mulheres e a política é ao mesmo tempo óbvia e complexa. Em uma das narrativas convencionais das origens deste campo, a política feminista é o ponto de partida. Esses relatos situam a origem do campo na década de 60, quando as ativistas feministas reivindicavam uma história que estabelecesse heroínas, prova da atuação das mulheres, e também explicações sobre a opressão e inspiração para a ação. [...] Mais tarde - em algum momento entre a metade e o final da década de 70 - continua o relato, a história das mulheres afastou-se da política. Ampliou seu campo de questionamentos, documentando todos os aspectos da vida das mulheres no passado, e dessa forma adquiriu uma energia própria (SCOTT, 1992, p. 64).

Perrot acentua que hoje em dia é difícil pensar em uma história sem a presença de mulheres que participaram dela. Reconhecer o valor da contribuição feminina, como cidadãs é desconstruir o preconceito e a discriminação que diminuiu e até mesmo apagou a sua presença na história.

A primeira história que gostaria de contar é a história das mulheres. Hoje em dia ela soa evidente. Uma história "sem as mulheres" parece impossível. Entretanto, isso não existia. Pelo menos no sentido coletivo do termo: não se trata de biografias, de vidas de mulheres específicas, mas das mulheres em seu conjunto, abrangendo um longo período - o que é relativamente recente, pois tem mais ou menos 30 anos (PERROT, 2008, p. 13, grifo da autora).

As mulheres permaneceram invisíveis por muito tempo, colocadas à margem dos principais acontecimentos do mundo. Esses aspectos refletiam o cotidiano hierarquizado que demonstrava a superioridade do homem em relação à mulher. Para Colling (2004, p. 28), o problema não está refletido nas diferenças e sim no modo como elas são hierarquizadas, mostrando a mulher como diferente e inferior ao homem, sendo que diferença não deve justificar a discriminação. A autora acredita que a partir dos estudos de gêneros é possível “introduzir na história global a dimensão da relação entre os sexos, com a certeza de que esta relação não é um fato natural, mas uma relação social construída e incessantemente remodelada”.

Perrot analisa as mudanças ocorridas na presença das mulheres na história, que segundo a autora passou de história das mulheres para história do gênero,

ressaltando as lutas pela igualdade de direitos e pelo fim de diversas desigualdades entre homens e mulheres.

A história das mulheres mudou. Em seus objetos, em seus pontos de vista. Partiu de uma história do corpo e dos papéis desempenhados na vida privada para chegar a uma história das mulheres no espaço público da cidade, do trabalho, da política, da guerra, da criação. Partiu de uma história das mulheres vítimas para chegar a uma história das mulheres ativas, nas múltiplas interações que provocam a mudança. Partiu de uma história das mulheres para tornar-se mais especificamente uma história do gênero, que insiste nas relações entre os sexos e integra a masculinidade. Alargou suas perspectivas espaciais, religiosas, culturais (PERROT, 2008, p. 15)

Para Scott (1992, p. 65), a história das mulheres não pode desvincular movimentos feministas e suas mudanças no decorrer do tempo, bem como a história deste campo de pesquisa que evoluiu tanto em conceito como em metodologia. “A história deste campo não requer somente uma narrativa linear, mas um relato mais complexo, que leve em conta, ao mesmo tempo, a posição variável das mulheres na história, o movimento feminista e a disciplina da história”.

Foi a partir da Segunda Guerra Mundial que os movimentos sociais se consolidaram, abrindo espaço para que as mulheres participem com mais protagonismo das esferas sociais, políticas e econômicas. Ainda assim, sempre existiram várias diferenças entre os papéis dos homens e das mulheres em um mesmo ambiente de trabalho.

No espaço público, aquele da cidade, homens e mulheres situam-se nas duas extremidades da escala de valores. Opõem-se como o dia e a noite. Investido de uma função oficial, o homem público desempenha um papel importante e reconhecido. Mais ou menos célebre, participa do poder. Talvez lhe deem um enterro com honras nacionais. É candidato em potencial ao Panteão dos Grandes Homens que a Pátria reconhecida homenageia. Depravada, debochada, lúbrica venal, a mulher – também se diz ‘rapariga’ – pública é uma ‘criatura’, mulher comum que pertence a todos (PERROT, 1998, p. 7, grifo da autora).

No Brasil, no século XIX, o magistério era uma das únicas fontes de renda pertinentes às mulheres instruídas, devido à concepção de que, para a mulher, a maternidade também as tornava responsável pela educação. Já no século XX, o trabalho da mulher era visto como uma forma de superação às crises econômicas e

sociais que assolavam o país. Contudo, o trabalho não poderia atrapalhar os afazeres domésticos das mulheres. Havia funções destinadas exclusivamente ao público feminino que jamais colocavam a mulher em uma posição de competição com o homem, muito menos de autoridade sobre eles. Era comum que as mulheres exercessem as profissões de professora, enfermeira, secretárias e telefonistas, além daquelas que se vinculavam ao mercado mais informal e, muitas vezes, reproduziam suas funções na casa, como lavadeiras, doceiras, costureiras, dentre outras.

Atualmente, o setor terciário é o que mais cresce, oferecendo emprego para todos, principalmente para as mulheres, sendo que cerca de 75% das mulheres que trabalham o fazem nesse setor. A maioria dos empregos que elas ocupam são marcados pela persistência de um caráter doméstico e feminino: importância do corpo e das aparências; função das qualidades ditas femininas, dentre as quais as mais importantes são o devotamento, a prestimosidade, o sorriso etc. Pelo menos era o que ocorria até os anos 1980-1990 (PERROT, 2008, p. 123).

Para Perrot (2008, p. 37), existe uma segregação sexual dos espaços públicos, ambientes laborais praticamente proibidos às mulheres como os “políticos, judiciários, intelectuais, e até esportivos [...]”, já outros espaços são quase que exclusivamente reservados a elas como as “lavanderias, grandes magazines, salões de chá [...]”. Perrot levanta uma questão importante sobre a representação e a participação das mulheres nos níveis de poder:

Por que as mulheres, que conquistaram a igualdade civil, a instrução, a condição de assalariadas, certas formas de criação, o esporte de alto nível etc., têm tanta dificuldade em chegar aos comandos da cidade, tanto econômicos quanto políticos? (PERROT, 2008, p. 12)

Algumas leis e normas contribuíram para diferenças entre o trabalho masculino e feminino, como o Decreto nº 21.417 de 1932, assinado por Getúlio Vargas, que regulou as condições do trabalho das mulheres nos estabelecimentos industriais e comerciais. Ao buscar igualar o salário entre homens e mulheres, o decreto vetou o trabalho de mulheres em indústrias e comércios em horários noturnos, locais subterrâneos, construção civil, funções nas quais precisassem carregar peso e atuar em empregos considerados perigosos ou insalubres.

Já a Constituição de 1946 autorizou a diferença salarial de 10% a favor dos homens. A igualdade entre homens e mulheres, como relação aos direitos e

obrigações só foi conquistada bem mais tarde, com a Constituição de 1988. Contudo, a atual realidade mostra um cenário bem diferente daquele preconizado pela legislação.

O movimento feminista no Brasil tomou corpo na década de 1960, sobretudo com a grande resistência das mulheres à ditadura da época. Tal organização buscava marcar a política e lutar pelos direitos e contra as discriminações e violências vividas por elas. Através do movimento, foi conquistada em 1988 a inserção de um artigo na Constituição que proibia a discriminação das mulheres em seus empregos. Antes disso, a Lei 6.121, de 1962, chamada de Estatuto da Mulher Casada, foi um marco na luta das mulheres pelos seus direitos, tendo em vista que, com o Marco Civil de 1916 a mulher, ao casar-se, tornava-se relativamente capaz, precisando de uma autorização do marido para trabalhar.

Deve-se, ainda, considerar que a mulher casada tinha apenas a autorização presumida para atuar em emprego formal. Caso o marido julgasse que a ocupação de suas funções desestruturava a família, poderia reivindicar o fim do seu vínculo empregatício. Tal situação só foi modificada pela Lei 4.121 de 1962, denominada de Estatuto da Mulher Casada, embora, a partir de 1932, com a criação das juntas, as mulheres que estavam no mercado de trabalho pudessem lutar por seus direitos (GILL, 2019, p. 13).

A resistência masculina contribuiu para as dificuldades encontradas na consolidação da inserção da mulher no mundo do trabalho. Outro problema é que as próprias mulheres viam o trabalho com preconceito, tendo em vista a construção cultural em que estavam inseridas. De acordo com Lipovetsky (2000), essa realidade foi superada apenas depois que a liberdade sexual deixou de ser percebida como imoralidade. Contudo, é importante destacar que, principalmente, as mulheres pobres e negras já precisavam trabalhar antes disso para prover a subsistência da família, que enfrentava dificuldades de toda ordem.

Nada obstante, a entrada das mulheres nas empresas de comunicação passou a ocorrer, prioritariamente, na década de 1970, com a regulamentação da profissão de jornalista em 1969 e com a abertura de várias graduações voltadas à formação na área de Jornalismo. Na Europa, segundo Perrot, as mulheres começam a escrever na imprensa de moda, sobretudo, na Grã-Bretanha, França e Itália.

Ao lado da moda propriamente dita abrem-se outras rubricas: conselhos, narrativas de viagem, notícias... No século XIX, Le Journal des Dames e Le Journal des Demoiselles são autênticas revistas femininas, relativamente abertas e dotadas de correios das leitoras, que esboçam uma rede (PERROT, 2008, p. 80)

Na imprensa brasileira, o ano de 1975, marcou o surgimento do primeiro jornal feminista alternativo que se tornou um espaço voltado ao despertar da mulher para as ideologias feministas. O jornal pautava questões como a luta contra a ditadura e a violência doméstica, o direito ao aborto e a manifestação da sexualidade, dentre outras.

O editorial do número zero do jornal, publicado em 9 de outubro de 1975, ao esclarecer seus objetivos, principalmente em sua primeira frase, criará muita polêmica: [...] queremos falar dos problemas que são comuns a todas as mulheres do mundo. Queremos falar também das soluções encontradas aqui e em lugares distantes; no entanto, queremos discuti-las em função de nossa realidade brasileira e latino-americana. A época do beicinho está definitivamente para trás, porque milhares de mulheres em todo o mundo fazem jornada dupla de trabalho, num esforço físico que faz com que uma jovem mãe de 30 anos pareça estar com mais de 50; mulheres que desejavam trabalhar e serem independentes economicamente de seus maridos [...] (LEITE, 2003. p. 237).

As emissoras de rádio brasileiras, desde sua consolidação, receberam muitas mulheres em sua rotina de trabalho, porém tal situação ocorreu nas radionovelas e musicais e não exatamente nas funções da radiodifusão. Nestes programas as mulheres eram retratadas de acordo com as regras de boas maneiras da época.

Em 1932, com a liberação do uso de publicidade nas emissoras de rádio, tornando-o comercial, começam a surgir vários ídolos, cantores e cantoras que passaram a influenciar o público. Contudo, conforme informa Borges em estudo em que analisa a atuação dessas mulheres nas revistas da época, a representação da vida das cantoras era pautada:

[...] muitas vezes, em valores conservadores que se queriam propagar, a partir destas artistas, para o público consumidor da revista. Cantoras representadas como donas de casa, mães de família, boas filhas e boas esposas que forneciam diversos exemplos, a partir de seus próprios discursos, sobre comportamentos ideais para suas fãs em relação à sua via pessoal (BORGES, 2017, p. 8).

Apesar do papel social de contribuir com a realização e com as lutas contra a discriminação e exclusão das mulheres, muito devido à sua linguagem acessível e alcance, a presença feminina no rádio estava restrita às artistas que encantavam o público com suas apresentações, porém as equipes de rádio eram prioritariamente masculinas.

Com as mudanças ocorridas no rádio com o advento da televisão, as figuras femininas acabaram migrando para o novo meio e o protagonismo masculino dentro do ambiente radiofônico ficou ainda mais evidente. Para Zuculoto & Mattos (2017, p. 3), “quando se percorre, mesmo que em observação breve e geral, a constituição histórica do rádio esportivo, uma das verificações que se sobressaem é a da hegemonia masculina neste fazer radiofônico, sobretudo nas funções que vão aos microfones”.

Em Pelotas, foram identificadas poucas pesquisas que trabalham com o rádio em geral e nenhuma que trata das questões de gênero. Em pesquisa sobre a presença feminina no radiojornalismo cearense, Paiva (2017) conta a história da primeira mulher a trabalhar nessa área no Ceará, na década de 1980, Adísia Sá, que inicialmente foi impedida de atuar por sua mãe pelo fato da emissora possuir apenas trabalhadores homens, depois teve o apoio de seu pai para tornar-se jornalista. Em Pelotas, uma situação semelhante ocorreu com a radialista conforme a sua narrativa:

Bom, voltei para casa do meu pai e falei para minha mãe: olha, estou começando a trabalhar, arranjei um emprego, vou trabalhar na Tupanci, com o Deogar Soares. Eu estava com 18, acho que era 74, meu pai teve um ataque: - Não, mulher trabalhando em rádio... E nessa época ele era secretário executivo do Grêmio Esportivo Brasil, do Xavante, então ele convivia com esses jornalistas esportivos, esses repórteres... - E isto não é ambiente para minha filha, não vai trabalhar coisa nenhuma. E eu: - Tudo bem, só que quando eu tiver 21 anos, eu vou trabalhar. Aí estava na época de vestibular e eu fiz vestibular para Educação Artística na Federal, passei, cursei um ano e parei, fui para Católica fiz vestibular para Assistente Social, cursei um ano e não fiz, quando eu fiz 21 anos eu voltei em casa e disse para ele: - Agora eu vou voltar lá na Tupanci e vou trabalhar. Voltei na Tupanci, fiz o Deogar se lembrar de mim e disse assim: - Agora eu quero aquela vaga (TERESA CUNHA, 2018).

Em seu Trabalho de Conclusão do Curso de Jornalismo da UFRGS, Luz (2015), ao ponderar sobre as razões que a levaram a pesquisar sobre as mulheres que trabalham no rádio e na televisão nas editorias esportivas, conta que trabalhou em dois veículos de comunicação vislumbrando um espaço nos setores que cobrem esporte. O objetivo era chegar à reportagem, contudo a jornalista não foi além da produção.

Não sou a primeira mulher que encontra barreiras no meio. A redação esportiva no rádio ainda é um ambiente pouco habitado por elas. Na televisão isso, aos poucos, está mudando. Mas as mulheres ainda precisam superar obstáculos, tanto junto às fontes, como no convívio com os colegas (LUZ, 2015, p. 8).

Verifica-se que no rádio a presença de mulheres é quase nula comparada ao homem. Esta realidade contrasta com o número de mulheres que cursam a Faculdade de Jornalismo nas Universidades, que é superior ao de homens.

A regulamentação da profissão, que permanecia até pouco tempo, e o consequente aumento na procura por cursos de Jornalismo alterou o quadro da profissão. Hoje, há inclusive mais mulheres que homens nas escolas de comunicação. No entanto, a exigência e a cobrança para as mulheres continuam sendo maiores (LUZ, 2015, p. 46).

Outro estudo que aborda a presença feminina nas rádios de Chapecó-SC, mostra a mesma realidade, confirmando que para a mulher entrar no ambiente radiofônico é uma tarefa difícil. Pagliosa & Hermes (2018), identificaram 80 homens que trabalharam nas rádios da cidade, em contrapartida, apenas 22 mulheres.

A estimativa é que os homens que atuam no rádio têm salários maiores que as mulheres, por desempenharem mais funções ou por possuírem espaços terceirizados. Já as mulheres não conseguem fixar-se em mais de uma função, por dois fatores: poucas mulheres recebem esta oportunidade e, geralmente, a conquista de mais espaço é condicionada a venda de publicidade (PAGLIOSA & HERMES, 2018, p. 14).

Em outro artigo, Schuster & Pedrazzi (2008), pesquisam a presença feminina nas rádios de Frederico Westphalen, Rio Grande do Sul. Na investigação realizada nas duas rádios do município, concluiu-se que na Rádio Comunitária, oito mulheres trabalharam desempenhando a função de locutoras. Contudo, na Rádio

Luz e Alegria, nenhuma mulher foi identificada durante os 40 anos de história da emissora. Em suas conclusões, a dificuldade de conciliar a profissão, a vida pessoal e o trabalho no rádio são algumas das razões elencadas pela autora, tendo em vista que não é possível para a mulher manter-se apenas com o trabalho de locutora, devido aos poucos rendimentos.

Em pesquisa que aborda o tema das mulheres no jornalismo esportivo de rádio e televisão, Luz (2015) pondera que os movimentos sociais feministas conseguiram importantes conquistas, porém existem barreiras ainda muito difíceis para as mulheres. É o caso do futebol que, segundo a autora, teve a participação das mulheres proibida em alguns momentos da história do país. Em 1941, o Conselho Nacional de Desportos proibiu a participação de mulheres em algumas modalidades esportivas. Já em 1965, a participação das mulheres foi proibida no futebol.

A relação com o futebol, o principal esporte praticado no Brasil, ainda é distante e repleta de preconceito. Entre os argumentos possíveis de serem aplicados para explicar a pouca visibilidade conferida às mulheres no futebol brasileiro está a masculinização da mulher e a naturalização de uma representação de feminilidade que estabelece uma relação linear e imperativa entre mulher, feminilidade e beleza (LUZ, 2015, p. 47).

Para a autora, essa proibição da participação feminina também reflete no interesse da mulher no tema e, consequentemente, na participação como profissional em coberturas futebolísticas.

Outro ponto que influencia na participação das mulheres no futebol é a beleza. A partir da década de 1970 é iniciado o processo de erotização do corpo. Assim, ginásios, estádios, academias, parques e praças são identificados como locais sociais a espetacularizar o corpo das mulheres. Isso se reflete ainda hoje através da imprensa que valoriza não só dentro dos veículos de comunicação, mas também em suas reportagens a beleza da mulher que prática ou acompanha uma partida de futebol (LUZ, 2015, p. 48).

Em um episódio ocorrido em 2017, no Rio Grande do Sul, fica claro a discriminação sofrida pelas mulheres que tentam fazer sua carreira no jornalismo esportivo. A reportagem de O Globo do dia 19 de julho de 2017, informa que a repórter Kelly Matos, da Rádio Gaúcha, ao perguntar ao técnico sobre o

desempenho ruim do time gaúcho na Segunda Divisão, teve como resposta: “Desculpe, eu não vou te responder com uma pergunta porque você é mulher e talvez não tenha jogado (futebol)”, menosprezando o conhecimento da jornalista sobre o tema.

FIGURA 17 – -NOTÍCIAOGLOBO-MACHISMO

Fonte: https://oglobo.globo.com/esportes/tecnico-do-inter-machista-ao-responder-reporter-apos-